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Mel Brooks, um dos meus grandes ídolos na comédia (fica atrás somente dos Irmãos Marx no meu top 10 e seguido de Jerry Lewis), completou 85 anos ontem, 28 de junho. Sou fã incondicional de seu primeiros filmes, grandes brincadeiras em cima de gêneros do cinema e que inspirariam anos depois o trio ZAZ com Top Secret, Apertem os Cintos e Corra que a Polícia Vem Aí e os Irmãos Wayans e seus Todo Mundo em Pânico.
O legal é que pesquisando a vida de Brooks (ou Melvin Kaminsky), você acaba descobrindo que em seu álbum de formatura, o novaiorquino declarou que se tornaria presidente da república. Acabou sendo muito mais do que isso. Em 1944, aos 18 anos de idade, desarmou minas terrestres no norte da Africa, durante a II Guerra Mundial, o que dá a qualquer um um senso de humor tremendo. Atuou como comediante de stand up no início da carreira artísitca, foi para os bastidores e, junto com Sid Caeser e Carl Reiner, tornou-se um grande roteirista de programas cômicos, criando o famoso personagem Maxwell Smart, o Agente 86.
Seu primeiro grande sucesso como roteirista e diretor no cinema foi Primavera para Hitler, a amalucada história de dois produtores (Gene Wilder e o grande Zero Mostel, comediante também favorito de Woody Allen) que tentam criar uma peça louvando o líder nazista, para fracassar e ganhar o dinheiro do seguro. Já nesse primeiro sucesso estavam as marcas de Brooks: o politicamente incorreto, a zombaria em cima dos judeus e em cima dos nazistas.
Depois vieram as sátiras de gêneros, as canções, as peças de teatro na Broadway e as participações especiais em filmes e seriados. A melhor delas foi como Uncle Phill na sensacional série Mad About You, onde o comediante destilava outra de suas ótimas qualidades: o poder da improvisação. Segundo o ator, produtor e diretor do seriado, Paul Reiser, Mel conseguia pegar algo pequeno no roteiro e transformar em uma grande piada. Por exemplo, em um episódio, Reiser e John Pankow (que fazia o primo Ira) vão visitar o Tio Phill e lá pelas tantas, um deles pergunta se o velhinho tinha uma caneta para emprestar. Brooks só deveria dizer que sim mas, ao invés disso, desata a falar de todos os tipos de canetas e lápis que possui, de marcas a materiais e a câmera não foca mais Reiser. Ele estava dobrando de rir. Todo esse talento acumulado, o levou a ganhar um Oscar (roteiro de Primavera para Hitler), três Emmy (por Mad About You), três Tony (por Os Produtores na Broadway) e três Grammy, sendo um dos pouquíssimos artistas no mundo a abocanhar os maiores prêmios americanos.
Quando foi entrevistado nos anos 1980 por Roberto D´Ávila no programa Conexão Internacional da extinta TV Manchete, Brooks disse ter dois vícios. O primeiro era gelatina (e dá-lhe falar do tipos, sabores e consistências, num incrível sketch improvisado). O outro era Anne Bancroft, sua segunda esposa. Era um casal improvável. Ele, judeu e ela, católica de família italiana. Ele, comediante e ela, incrível atriz dramática. Ele se apaixonou por ela na primeira vez que a viu. Os dois se casaram em 1964 e ficaram juntos até a morte dela em 2005. Ele a chamava de meu Obi-Wan Kenobi, pois foi ela que conseguiu dar uma guinada na carreira dele, quando sugeriu que ele pegasse seu primeiro roteiro cinematográfico e o transformasse em musical. O resultado foi Os Produtores, que o tirou do ostracismo.
Se você nunca viu nada de Mel Brooks, aqui vai uma pequena lista de alguns de seus filmes:
Primavera para Hitler e Os Produtores: vale a pena ver a versão original e compará-la com o musical, que tem o chatíssimo Will Ferrell em bom papel e o genial ballet das velhinhas em andadores.
Banzé no Oeste: Brooks brinca com os clichês do faroeste e com metalinguagem no filme que John Wayne disse que não podia fazer, mas seria o primeiro na fila para assistir. Destaque para Gene Wilder como o pistoleiro mais rápido do oeste e dos índios que falam iídiche.
Jovem Frankenstein: o maravilhosa sátira dos filmes de suspense acabou usando o mesmo equipamento do clássico Frankenstein de 1931. O filme todo é bom, hilariante e tem ainda o estrábico Marty Feldman e o ótimo Peter Boyle (o rabugento pai de Everybody Loves Raymond) como o monstro.
As Últimas Loucuras de Mel Brooks: o comediante ousa fazer um filme mudo em 1976 e consegue Paul Newman, Burt Reynolds, Liza Minelli, James Caan e Anne Bancroft em participações especiais. Melhor piada: a única palavra em todo o filme (um ‘NÃO’) é dita justamente por um mímico, o famoso Marcel Marceau.
Alta Ansiedade: Brooks emula os filmes de Alfred Hitchcock, enquanto conta a história de um homem que assume a direção de um hospital pisquiátrico. Mais uma vez, o diretor brinca com metalinguagem (a câmera, por exemplo, dá um zoom e quebra o vidro de uma janela) e consegue refilmar a famosa cena do chuveiro de Psicose com total fidelidade e resultado engraçadíssimo.
A História do Mundo – Parte 1: o filme que nunca teve em seus planos uma parte dois é cheio de altos e baixos. Vale a piada em cima de Moisés, Gregory Hines como um escravo negro na Roma antiga que, ao ser preso, alega ser judeu e pede para chamar o rabino Sammy Davis Jr e a sequencia da Revolução Francesa, além do trailer da Parte II.
SOS – Tem um Louco no Espaço: a última grande sátira de Brooks, desta vez em cima dos filmes de ficção científica. Ele faz papel duplo, como o presidente da galáxia e o guru Yogurt (uma brincadeira em cima do Yoda) e faz uma piada genial com o final do Planeta dos Macacos original e com a famosa cena do bicho saindo das entranhas de John Hurt em Alien. Fez tanto sucesso que virou desenho animado.
Além destes títulos, tivemos péssimas produções como Drácula – Morto, mas Feliz e A Louca, Louca História de Robin Hodd, além dos fracos Que Droga de Vida e Sou ou Não Sou (este último, uma refilmagem de Lubtisch). De qualquer maneira, esses fracassos não tiram a maestria, o bom humor e a importância de Brooks na história do cinema e da televisão. Seguramente, ele será eternamente conhecido como um comediante com um enorme schwanzstucker.
PS. por falar em Brooks, vale também dizer que hoje, 29 de junho, seria o aniversário de Slim Pickens, que fez o chefe dos bandidos de Banzé no Oeste e se tornou mundialmente conhecido pelo Major piloto “King” Kong que salta de um avião cavalgando uma bomba atômica em Dr. Fantástico. Um detalhe interessante, antes de ser ator, Pickens foi mesmo um cowboy.
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