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E lá se vão nossos heróis de juventude. Ontem, aos 83 anos de idade, faleceu Peter Falk, um grande ator de cinema que fez a fama e fortuna na televisão com um dos mais geniais personagens criados nesse meio, o Tenente Columbo. Sempre bem humorado, onovaiorquino Falk perdeu seu olho direito aos três anos de idade devido a uma doença e acabou transformando o fato de usar um olho de vidro em sua marca registrada, apesar do grande chefão da Columbia Pictures tê-lo desprezado alegando que “pelo mesmo preço conseguia um ator com dois olhos”.
Sucesso no teatro, ele estreou no cinema em pequenos papéis até que em 1960 foi indicado a um Oscar de Melhor Ator por Murder Inc. Foi uma virada tremenda na sua carreira e no ano seguinte o lendário Frank Capra o escala para Dama por um Dia, pelo qual foi indicado a seu segundo Oscar.
O grande sucesso mesmo veio em 1968 quando um personagem totalmente adequado a seu tipo físico caiu no seu colo. O detetive Columbo, criação genial dos roteiristas William Link e Richard Levinson, era um tenente da polícia de Los Angeles, totalmente mal ajambrado, subestimado pelos criminoso e que se fazia de idiota para pegar o assassino de repente. Falk não foi o primeiro a interpretar Columbo. Bert Freed incorporou o personagem por um episódio em 1960 e Thomas Mitchel o fez na Broadway. Mas foi Falk que o eternizou. Depois de dois pilotos com o ator, o seriado estreou sua primeira temporada em 1971 e durou até 1978 para depois ser “ressuscitado” em 1989.
A grande inovação da série era fugir do estilo ‘whodunit’ (aquele onde o espectador tenta adivinhar quem era o assassino – recurso usado em 80% das telenovelas brasileiras). Em Columbo, cada episodio começava com o assassinato. Você via quem e como matou. A grande sacada era ver como o detetive iria descobrir isso. Além disso, haviam vários elementos engraçadíssimos aliado ao personagem como seu carro, um Peugeot 403 acabado, seu cão (um Basset Hound preguiçoso), seu sobretudo amassado (substituído em um episódio, o que faz com que todos os policiais reparem e perturbem Columbo que, no final traz de volta o velho modelo) e, obviamente a misteriosa Sra Columbo, a quem o detetive cita o tempo todo sem nunca mostrá-la (a aí os produtores fizeram a grande besteira de criar uma – bem mal sucedida – série com a esposa, acabando com o mistério).
Também haviam os convidados especiais, artistas de renome como Anne Baxter, Honor Blackman, Johnny Cash, John Cassavetes, Robert Conrad, Faye Dunaway, Ruth Gordon, Laurence Harvey, Louis Jourdan, Martin Landau, Janet Leigh, Roddy McDowall, Vera Miles, Ray Milland, Sal Mineo, Ricardo Montalban, Leonard Nimoy, William Shatner, Oskar Werner, entre outros. E os roteiros não ficavam atrás. Em um episódio enfrenta um especialista em inteligência, fanático pelo filme Cidadão Kane (tinha os portões do palácio de Kane em sua casa), que programa seus cachorros a matar ao ouvir a palavra ‘Rosebud’. Em outro, tenta solucionar um assassinato onde o criminoso usou de mensagem subliminar em um filme para levar a vítima ao local do crime. Já em outro grande capítulo, o tenente tem que investigar um crime cometido pelo comissário de polícia, colocando seu emprego em risco.
Columbo deu a Peter Falk, nove indicações ao Emmy e uma estatueta. Depois dele, o ator apareceu em vários sucessos como Asas do Desejo, O Jogador, A Princesa Prometida e até dublando um velho e desdentado tubarão na animação O Espanta Tubarões. Morre com ele uma lenda da TV. Só posso esperar que nenhum luminar tente “refazer” Columbo com outro ator. Seria patético demais.
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