quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Hollywood amarga de “Crepúsculo dos Deuses”

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010
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Quando Crepúsculo dos Deuses foi apresentado para a nata do cinema em 1950, Louis B. Mayer, o grande e poderoso chefão da MGM voou para cima de Billy Wilder, o diretor e gritou “Seu miserável, você desgraçou a indústria que o fez e sustentou. Você devia ser coberto com alcatrão e penas e ser expulso de Hollywood”.  Wilder, o polonês baixinho e estourado, conseguira mais uma vez chocar todo mundo com uma obra lúgubre, macabra e sensacional.

O diretor revolucionou os filmes americanos repetidamente por toda a década de 1950. Pupilo de Ernst Lubitsch, mas sem seu romantismo, Wilder era fascinado pelos personagens fortes e cínicos e flertava com a crueldade humana na maioria dos seus filmes. Foi assim com Pacto Sinistro onde Fred MacMurray é um agente de seguros que se envolve com uma sedutora mulher (Barbara Stanwick) para juntos assassinarem seu marido e ficarem com o dinheiro. Depois veio Farrapo Humano, um retrato contundente e pesado sobre o alcoolismo, estrelado por Ray Miland, que acabou engavetado por seis meses depois que a Paramount recebeu os piores comentários nas sessões-testes. Finalmente liberado para exibição nos cinemas, conquistou a crítica e acabou dando dois Oscars ao diretor.

Foi aí que, em busca de uma idéia boa, ele e o roteirista Charles Brackett começaram a esboçar uma comédia sobre uma atriz do cinema mudo, decadente, que faz de tudo para recuperar a sua carreira e em um papo com o jornalista da Time-Life D.M. Marshman ouviram a sugestão de acrescentar um relacionamento entre ela e um rapaz bem mais novo.  A isso, Wilder acrescentou: “imagine que ela dá um tiro nele”. O caminho estava aberto para um dos dramas mais contundentes sobre a decadência na terra do cinema.
Crepúsculo dos Deuses é, em parte, autobiográfico, já que Wilder agiu como um gigolô e dançarino de aluguel em sua juventude em Berlim. É também sobre como a indústria do cinema trabalha entre o poder e a fantasia, vivendo do passado e admirando os mais novos. É sobre vergonha, obsessão, oportunismo e a recusa de se aceitar as coisas como elas são. O jovem rapaz transformado em aprendiz de roteirista vê na velha atriz uma chance de ser sustentado enquanto o sucesso não aparece, enquanto ela enxerga nele a única oportunidade de voltar ao estrelato e à atenção dos bons diretores. É óbvio que com uma combinação assim, as coisas não poderiam dar muito certo.

Wilder era fascinado por detalhes e alugou uma mansão decadente na esquina da Crenshaw com Wilshire Boulevard construída em 1924 e como pagamento construiu uma piscina. Colocou vitrais na sala, pesadas e antiquadas cortinas de veludo nas janelas e palmeiras em uma estufa. Cenário pronto, era a vez de escolher atores e como todo grande filme clássico, as alternativas iniciais correram do projeto. Para a atriz, Wilder queria Mae West que, aos 55 anos de idade, achava-se muito nova para interpretar uma representante do cinema mudo. Depois, a veterana Mary Pickford foi escolhida, mas exigiu que seu papel crescesse mais e aí o diretor a vetou. Finalmente Pola Negri, outra grande atriz dos tempos áureos do cinema, também recusou o papel pois se achava jovem pata interpretar uma cinquentona (ela estava com 53 anos na época). Foi aí que o diretor George Cukor indicou Gloria Swanson. Ela também conheceu o estrelato no cinema mudo e, assim como a personagem, estava num ostracismo cinematográfico, há nove anos afastada das telonas. Apesar de uma recusa inicial por não querer fazer um teste, Gloria acabou pegando o papel e ganhou um Globo de Ouro por sua performance e uma indicação ao Oscar.

Dificuldades também apareceram para o principal papel masculino. O talentoso Montgomery Clift havia dado o sinal verde para viver Joe Gillis, mas a duas semanas do início das filmagens caiu fora porque achava que não ia cair bem ele ser visto amando uma mulher mais velha. Acontece que o ator na época estava mesmo envolvido com a cantora Libby Holman, 16 anos mais velha que ele, e tinha medo de ligação uma relação entre fantasia e realidade.  Fred MacMurray gongou o projeto pois não queria interpretar um gigolô. Marlon Brando era um desconhecido e os produtres o vetaram. Gene Kelly não foi liberado pela MGM. Wilder então teve que pegar alguém da lista de atores contratados da Paramount e ficou com o jovem William Holden. Existe, aliás, uma história ótima e real envolvendo o diretor e o ator. Holden começou a criar confusão porque queria conhecer melhor o personagem. Wilder, famoso por sua dureza, respondeu-lhe: “você conhece Billy Holden?”. E quando o ator disse-lhe que sim, ele respondeu “então você conhece Joe Gillis”. Para completar o time foi chamado Erich Von Stroheim, ator e diretor alemão radicado em Los Angeles,  para fazer o papel do mordomo e motorista da personagem com um passado misterioso envolvendo os dois.

A cena inicial foi filmada num necrotério com os cadáveres contando como haviam parado lá (um deles ainda perguntava se alguém sabia qual tinha sido o resultado do jogo dos Dodgers) e é aí que Gillis passa a narrar a sua história. O grande problema é que nas exibições-teste, o público odiou, vaiando, assobiando e arrasando o filme em seus cartões com opiniões. Seis meses depois, Crepúsculo dos Deuses chega às telonas com um novo começo, o corpo de Gillis boiando na piscina da casa e contando como foi parar ali.
Para quem gosta de diálogos marcantes e frases de efeito, o filme é um prato cheio. Quando Holden diz a Swanson, “Você é Norma Desmond. Você trabalhava em filmes mudos. E você costumava ser grande”, ela dispara “Eu SOU grande. Os filmes é que ficaram pequenos” e este diálogo entrou no 24 lugar das 100 melhores frases do cinema do American Film Institute, enquanto “All right, Mr. DeMille, I’m ready for my close-up” ficou em sétimo. Além disso, a revista Premiere considerou a fala “Nós não precisávamos de diálogos. Tínhamos rostos” como a 13a. melhor fala da sétima arte.

Apesar dos percalços, a produção é considerada o 16o. melhor filme de todos os tempos pelo AFI e é um dos 25 escolhidos pela Biblioteca do Congresso americano como “marco cinematográfico”. Graças a ele, Swanson voltou a fazer filmes, Holden se tornou um galã e Wilder continuou reinando em Hollywood, dirindo ainda naquela década A Montanha dos Sete Abutres, Inferno Nº 17,  Sabrina, O Pecado Mora ao Lado, Amor na Tarde, Testemunha de Acusação e Quanto Mais Quente Melhor. Todos excelentes. Holden e Wilder, aliás, fizeram muitos filmes juntos e  foram amigos íntimos até a morte do primeiro em 1981.

Crepúsculo dos Deuses completa 60 anos em 2010. E pode apostar que está mais novo e atual do que nunca. Não assisti-lo é motivo o bastante para ser coberto de piche e penas e ser expulso da cidade.

Cinco grandes filmes de Frank Sinatra (sem o Rat Pack)

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010
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Ontem seria aniversário do “velho olhos azuis”. Sim, Francis Albert Sinatra nasceu em Hoboken, Nova Jersey, em 12 de dezembro de 1915 e de lá se tornou no mais conhecido e popular cantor de todos os tempos. Como símbolo sexual que era, Sinatra teve uma carreira razoável em Hollywood. Quando ainda era crooner da banda de Tommy Dorsey apareceu em duas produções sem o devido crédito, Las Vegas Nights (1941) e Ships Ahoy (1942) e depois de famoso passou a atuar em vários musicais de sucesso como Marujos do Amor, A Bela Ditadora (ambos com Gene Kelly) e Can Can e logo quis se aventurar no drama. Sinatra era um inferno para os diretores porque não aceitava fazer dois takes de uma cena. Ele acreditava que ela devia ficar boa na primeira tomada, mas esquecia-se que não era um Marlon Brando (que aliás, trabalhou com ele em Gatinhas e Gatões). A música de Sinatra entrou para a trilha sonora de 233 produções. Em toda sua carreira, o cantor produziu nove filmes, dirigiu dois e atuou em 60 produções. Sua última aparição nas telonas foi no policial O Primeiro Pecado Mortal de 1980 e nas telinhas, participou de um episódio da série Magnum de 1987. Assim, para comemorar os 95 anos do nascimento da “Voz”, apresento cinco filmes que se destacam pela força de sua interpretação e/ou pelas lendas que cercaram a produção.

A um Passo da Eternidade (1953): Sinatra fez tanto lobby para conseguir atuar nesse filme que anos depois Mario Puzzo criou a lenda de que foi a Máfia que fez com que o contratassem na sua obra O Poderoso Chefão (e cena do cavalo, capicci?). Na verdade o papel era de Eli Wallach, que o abandonou para atuar numa produção de Elia Kazan para a Broadway e Frank queria muito reerguer sua carreira que estava meio em baixa na época. Deu certo. O cantor levou o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua interpretação contundente do Cabo Angelo Maggio, um descendente de italianos, esquentado pacas, que se envolve em uma briga com um sargento da PE (Ernest Borgnine) e apanhar até morrer. Tudo isso nos dias que antecedem o ataque a Pearl Harbor. O clássicão tem ainda Burt Lancaster, Montgomery Cliff, Deborah Kerr e a imortal cena do casal de beijando à beira-mar.

Suddenly (1954): o filme mais controverso da carreira do cantor é cercado de mitos. A história em si já era pesada: uma cidadezinha do interior vai receber a visita do presidente dos EUA e um assassino psicótico (Sinatra) se aloja na casa de uma família, mantendo-os reféns, para assim conseguir assassinar o líder da nação. Obviamente que quando Kennedy foi assassinado, dois dias depois desse filme passar na TV, todos diziam que Lee Harvey Oswald havia se inspirado na obra ficcional para conseguir matar o presidente. Depois, criou-se um boato de que o próprio Sinatra havia proibido a distribuição do filme, pois se arrependera de tê-lo feito quando viu o fato acontecer na vida real. Tudo balela. Na verdade, Harvey assistiu Resgate de sangue de John Huston sobre a revolução em Cuba e até hoje a família de Frank tem que explicar que ele não dava a mínima pela repercussão do filme. A única história verdadeira é que quando foram colorizar o filme nos aos 80, o velho “olhos azuis” se tornou o velho “olhos castanhos” por erro dos técnicos.

O Homem do Braço de Ouro (1955): filmaço sobre um carteador que é viciado em heroína injetável e sua luta para se livrar do vício e do traficante que sempre o seduz para uma nova dose. Sinatra concorreu ao Oscar mais uma vez por sua atuação impecável (especialmente nas cenas de abstinência), mas perdeu para Ernest Borgnine em Marty. O filme consagrou também a música-título, composta por Elmer Berstein, que se tornaria trilha de muito strip-tease e recentemente de uma marca de cerveja carioca. E mais o cartaz e a abertura foram copiados depois por muitos designers.

Alta Sociedade (1956): delicioso musical com um elenco fantástico. Para começar tinha Louis Armstrong tocando,  trilha composta por Cole Porter, Sinatra e Bing Crosby lado a lado e Grace Kelly enfeitando a tela. Refilmagem de Núpcias de Escândalo com Cary Grant e Katherine Hepburn, mostra um cantor (Crosby) tentando recuperar a ex-esposa quando do segundo casamento dela e Sinatra fazia um jornalista, contratado para cobrir o evento. Crosby era o cantor mais popular do mundo até Frank Sinatra surgir e na época espalhou-se na imprensa que os dois eram rivais ferrenhos. Puro marketing. Os dois não só se respeitavam como era grandes amigos. Na sequencia “Did You Evah”, onde os dois cantam juntos, deram espaço para muitas improvisações e, é lógico que os dois não perderam a chance de brincarem um com o outro. A combinação de tantos talentos fez com que fosse um dos 10 filmes de maior bilheteria de 1956.

Sob o Domínio do Mal (1962): esqueça já a dispensável refilmagem com Denzel Washington, em 2004, porque o bom era quando os inimigos eram os comunas vermelhos e não as grandes corporações. Nesse sensacional thriller político dirigido por John Frankenheimer, um bando de veteranos da Guerra da Coréia passa por lavagem cerebral feita pelos comunistas e se envolvem com um assassinato político. Tem Sinatra como o Major Marco, que tenta desesperadamente entender o que está acontecendo à sua volta e Laurence Harvey  como Raymond Shaw, o filho de um congressista de direita e de uma manipuladora senhora, vivida magistralmente por Angela Lansbury. A mensagem do filme era tão pesada que a United Artists relutou em produzi-lo e só aceitou depois que o presidente JF Kennedy telefonou para o manda-chuva do estúdio, Arthur Krim, e pediu para que o filmasse. Depois de seu lançamento, acabou sendo proibido em vários países da então chamada “cortina de ferro” como Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária e até mesmo em países neutros como Finlândia e Suécia.

Os 20 anos da mais bela fábula para adultos

Publicado no site da revista Alfa em desembro de 2010
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Parece que foi ontem, mas Edward Mãos de Tesoura, o filme que transformou Tim Burton no contador oficial de fábulas para adultos dos novos tempos e Johnny Depp em um dos maiores ícones masculinos da nova geração, completa 20 anos no próximo dia 14 de dezembro. É, de longe, o mais delicado filme do diretor, com a figura do homem puro e amoroso que é impedido de dar carinho por possuir mãos letais, tendo que enfrentar a falta de sensibilidade da classe média fútil que invade os subúrbios americanos (embora isso não seja exclusividade deles, aqui é a mesma coisa).
É também sua produção mais pessoal. Edward era Burton e vice-versa, o homem deslocado e esquisito no meio de tanta gente dita normal e Tim nunca negou que foi sua infância na California que o inspirou a fazer esse filme.  É dessa catarse pessoal do diretor que surgem momentos brilhantes na história como o ser sintético ser descoberto por uma representante da Avon (algo consumista pacas) ou ter que usar seu talento e imaginação para fazer coisas totalmente fúteis como penteados e cortes em pelos de cachorro, para assim conquistar a simpatia de pessoas de mente tão limitada.

No fundo é um belo e triste conto, com muitos significados e muita história envolvendo a produção e os atores. Para começar, a Warner, sabe-se lá porque, vendeu os direitos da história à Fox que deu liberdade total ao diretor para desenvolver a produção. Burton inicialmente queria fazer dele um musical, mas desistiu depois de considerar que seria grande e trabalhoso demais. Outra curiosidade interessante é que  aquele bairro suburbano no filme existe de verdade e fica na região de Tampa Bay em Lutz na Flórida. A produção só precisou precisou pintar as casas em tons pastéis e pronto. O cenário estava feito.

Entre as homenagens da história está Vincent Price como “o inventor”. O decano ator ficou marcado pelos papéis que interpretou no cinema de horror, em especial nos filmes da Hammer, geralmente como alguém sedento de vingança como em Dr Phibes e As Sete Máscaras da Morte e já havia sido louvado pelo diretor no curta Vincent, onde narrou a história . Em Edward, porém, ele é um cientista de bom coração que desenvolve um “filho” sintético, mas na hora de substituir suas tesouras por mãos de verdade, acaba morrendo. Price já estava com as condições de saúde muito debilitadas graças a um câncer de pulmão e um edema, mas aceitou o papel que Burton desenvolveu especialmente para ele e esta acabou sendo sua última aparição no cinema.

O filme marcou a primeira parceira de Tim Burton com Johnny Depp. O último começou sua carreira como uma das vítimas de Freddy Kruger no primeiro filme da cinessérie A Hora do Pesadelo e participava do seriado Anjos da Lei. Depois de uma experiência com o independente e louco diretor John Waters em Cry-Baby, veio a oportunidade de fazer o personagem-título de Burton, já que Tom Cruise (que queria um final feliz), Robert Downey Jr e -- pasmem -- Michael Jackson, foram descartados. É notável que a interpretação de Depp se assemelhe muito à de Conrad Veidt em O Gabinete do Dr. Caligari, classição do expressionismo alemão, que, diga-se de passagem, inspira e muito o diretor Tim Burton e com os trejeitos e maneirismos de Chaplin no auge do cinema mudo. Foi o bastante para transformar Depp em um astro e o sucesso do filme contruiu uma sólida parceria entre ele e Burton e os dois acabaram trabalhando juntos depois em Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, A Fantástica Fábrica de Chocolate, A Noiva Cadáver, Sweeney Todd -- O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet e Alice no País das Maravilhas e, para 2012,  a dupla volta com Dark Shadows.

Outro colaborador constante de Burton é o compositor Danny Elfman, ex-líder e vocalista do grupo Oingo Boingo. Os dois já haviam trabalhado juntos em Pee-wee’s Big Adventure , Os Fantasmas se Divertem e Batman até aparecer a chance de fazer a belíssima trilha de Edward, depois que Robert Smith do grupo The Cure recusou por estar encerrando a produção de um disco. Elfman diria em entrevistas posteriores que, de todos os filmes que musicou, a trilha de Edward Mãos de Tesoura é a sua favorita.

Edward Mãos de Tesoura acabou sendo um sucesso de público e crítica. Apesar da história mais gótica e densa, a química entre Depp e Winona Ryder, então noivos na vida real, encantou as pessoas e fez com que o filme faturasse, globalmente, US$ 86 milhões (contra uma produção de US$ 20 milhões). Foi largamente louvado pela mídia, (só massacrado pelo famoso crítico Roger Ebbert), e o New York Times conseguiu achar a  ótima definição desta obra obrigatória: “Edward Mãos de Tesoura é um conto de gentileza incompreendida e criatividade sufocada, do poder da civilização para corromper a inocência, da beleza descuidada e de um monstro de bom coração. O filme, se arranhado com algo muito menos acentuado do que os dedos de Edward, revela com orgulho adolescente, lições para todos nós”. Sendo assim, o melhor é assisti-lo de novo e achar as suas lições, agora 20 anos depois.

Premakes: os clássicos que nunca existiram

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010

Em 1982, o diretor Carl Reiner produziu uma grande comédia dirigida a cinéfilos chamada Cliente Morto Não Paga onde através de “uma colcha de retalhos” de filmes antigos, fazia Steve Martin e Rachel Ward contracenarem com grandes nomes do cinema clássicocomo Humphrey Bogart, Jimmy Cagney, Barbara Stanwick, entre outros. Tudo isso sem efeitos especiais e somente na edição de cenas.

Agora, quase 20 anos depois, um homem foi além. Imagine se Forest Gump tivesse sido filmado nos anos de 1940 com James Stewart no papel principal e a direção fosse de Frank Capra. E se Os Caça-Fantasmas tivesse aparecido nas telas nos anos de 1950 com Bob Hope, Fred MacMurray e Dean Martin nos papéis principais? E O Império Contra-Ataca como um obscuro filme B em preto e branco?  O auto-entitulado escritor/diretor/editor/designer Ivan Guerreiro dos Estados Unidos resolveu brincar com tudo isso, criando trailers fictícios para filmes modernos, como se tivessem sido produzidos na era clássica de Holywood.
Segundo uma estrevista dada por ele ao site francês Street Press.com, a idéia surgiu quando uns primos apareceram em sua casa para uma maratona de filmes e exigiram que os “clássicos” não fossem nem em P&B, nem anteriores a 1980. Guerreiro resolveu então fazer a brincadeira como uma forma de mostrar às novas gerações que muito de Hollywood hoje foi influenciado pelo passado. Ou como ele mesmo diz, é um “tributo reflexivo ao cinema”.
Para cada trailer ou “premake” como ele mesmo batizou, Guerreiro leva cerca de três semanas pesquisando acervos de filmes clássicos e mais duas montando o material. Para Star Wars, foram cinco meses de trabalho, mesmo porque além de assistir muitas produções antigas, ele pesquisa ainda as influências que moldaram a direção do filme atual. Outra característica de Guerreiro é postar o “making-of” de cada um de seus trailers com todas as referências usadas na produção. É uma forma, segundo ele, de fazer com que as pessoas descubram os filmes antigos.

O produto final é tão perfeito que ele conseguiu inserir uma propaganda antiga dos pneus Michelin no trailer de Caça-Fantasmas para emular o boneco de marshmellow e ainda Dean Martin dizendo num filme: “I am a Ghostbuster”. E dá para se notar que houve um trabalho extenso e cuidadoso para selecionar cenas antigas que se refiram a momentos dos filmes modernos.

A última produção disponível no Youtube é o trailer de The Avengers (Os Vingadores) com os heróis da Marvel Comics e Guerreiro desafia os fãs a identificarem uma série de personagens dos quadrinhos fazendo “cameo appearances” no meio do trailer como Sr Fantástico, o Vigia, Professor Xavier entre muitos outros (até Stan Lee aparece por lá).

Fique agora com alguns premakes de filmes famosos e depois pesquise no Youtube para ver cada um deles passo-a-passo. É criatividade em nome da diversão, num dos trabalhos mais fascinantes e impressionantes que já lançaram na internet!

10 grandes musas do cinema italiano

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010

Na semana passada, o blog Gatas aqui da Alfa trouxe, para gáudio e prazer dos leitores, a sensacional italiana Martina Stella, estrela do filme “Nine”, e obviamente que fiquei inspirado a pensar em outras grandes atrizes da terra da bota que aliavam beleza e talento e fazem a alegria dos marmanjos até hoje.

Claudia Cardinale
Em 1957, aos 19 anos de idade, Claudia, nascida de uma família de sicilianos em Tunis,  ganhou o incrível título de “Garota Italiana Mais Bonita da Tunísia” num concurso promovido pela embaixada da Itália naquele país. O prêmio era uma passagem para o Festival de cinema de Veneza e de lá, ela foi para as telonas do mundo inteiro. Dona de uma beleza ímpar e um corpo de fazer Berlusconi renunciar no ato, Cardinale trabalhou com grandes diretores europeus como Fellini em 8 e 1/2 e Sergio Leone em Era uma Vez no Oeste e também em produções americanas como A Pantera Cor-de-Roda e o faroeste Os Profissionais. Desde 1999, atua também como embaixadora da boa vontade para a Defesa dos Direitos das Mulheres da Unesco e em sua carreira, apareceu mais de 900 vezes como capa de revistas de 25 países.

Gina Lollobrigida
Nascida em 1927, Gina era chamada de A Mulher Mais Bonita do Mundo depois que estreou a obra La Donna più bella del mondo de  1955, mas essa romana apareceu  pela primeira vez ao público em 1947 quando disputou o título de Miss Itália e ficou em terceiro lugar. É interessante notar que os dois primeiros lugares do concurso, Lucia Bose e Gianna Maria Canale, também se tornaram atrizes, mas quem se lembra delas? Lollobrigida também fez grande sucesso nos EUA onde trabalhou com Burt Lancaster em Trapézio, com Frank Sinatra em Quando Explodem as Paixões e fez par com Yul Brynner em  Salomão e a Rainha de Sabá . Fora das telas, a atriz se tornou uma fotógrafa de sucesso, escultora conhecida e uma bem-sucedida empresário de moda e cosméticos.

Isabella Rossellini
Filha de uma das atrizes mais bonitas da história do cinema, Ingrid Bergman, com o diretor italiano Roberto Rosselini, Isabella foi musa do controverso David Lynch e seu Veludo Azul em 1986 e chegou a estar casada com Martin Scorcese entre 1979 e 1982. Belíssima, foi por 14 anos o rosto da Lancôme e hoje, aos 58 anos, atua como diretora, roteirista e filantropa e membro da Wildlife Conservation Network.

Laura Antonelli
Nascida em 1941, Antonelli, professora de educação física começou sua carreira em propagandas da Coca-Cola italiana, para depois trabalhar em uma série de TV, Carrossello e finalmente o cinema onde realizou 45 filmes entre 1965 e 1991. Seus maiores destaques foram em Malícia de 1973, dirigido por Salvatori Sampere, O Inocente de LuchinoVisconti de 1976 e Esposamante de 1977, todos obviamente destacando sua beleza e o corpo malhado e esculpido. Sua carreira terminou na década de 1990 depois que de ser condenada à prisão domiciliar por posse de cocaína.

Maria Grazia Cucinotta
A ragazza aí do lado é da Sicília e foi descoberta por todos os homens heterosexuais do planeta em 1994 quando estrelou o belíssimo filme O Carteiro e o Poeta, fazendo o papel de Beatrice, o grande amor da vida do carteiro Mario. Depois fez uma breve aparição na abertura de O Mundo Não é o Bastante de James Bond e ainda foi a mulher dos sonhos de Tony Soprano em um episódio da primeira temporada de Família Soprano. Atuando hoje entre o cinema americano e o italiano e também em séries de TV, ela possui somente um grande defeito: se recusa a fazer cenas de nu.

Monica Bellucci
Em Malena, ela era o objeto de desejo de um grupo de meninos na Itália dos anos de 1940; em Irreversível ela é violentada e vira motivo de uma vingança; em Paixão de Cristo, ela é Madalena, aquela mexe com a cabeça do Messias e em L’uomo che ama, ela atua no íntimo de um homem abandonado. Mônica Bellucci é uma das coisas mais sensuais que já foi dentro ou fora das telas e, ao contrário de Cucinotta, não hesita em mostrar muitos de seus dotes físicos e fazer com que seu marido, o ator Vincent Casell seja um dos homens mais invejados no mundo.

Monica Vitti
Maria Luisa Ceciarelli era de uma sensualidade fria que enlouquecia os homens na década de 1960. Foi a grande musa e amante) do cultuado diretor Michelangelo Antonioni que a dirigiu em A Aventura, A Noite, Il Deserto Rosso entre outros. Trabalhou com os grandes nomes do cinema italiano como Ettore Scola, Marcelo Mastroiani, Alberto Sordi e, dada a sua beleza blasé,  viveu a espiã das histórias em quadrinhos Modesty Blaise nas telonas ao lado de Terence Stamp. Desde os anos de 1980, ela está afastada do cinema, aparecendo muito esporadicamente em pequenas produções de sua terra natal.

Sophia Loren
Talvez a mais conhecida de todas as musas clássicas do cinema italiano e seguramente a que mais recebeu prêmios, Loren e seu olhar felino, começou sua carreira em 1953, aos 19 anos de idade e cinco anos depois já aparecia em produções americanas. Foi a primeira atriz a ganhar um Oscar em um filme não falado em inglês, Duas Mulheres, uma produção de 1960 dirigida pelo mestre Vittoria De Sica. Na escolha do American Film Institute, 100 Years 100 Stars ficou entre as 25 lendas femininas do cinema de todos os tempos. Sua última aparição nas telonas foi justamente em Nine.

Ornella Muti
Ornella Muti é um desenho do Milo Manara tornado real. Lindíssima, com deslumbrantes olhos verdes, nascida Francesca Romana Rivelli, estreou nos cinemas em 1970 no filme La moglie più bella (A esposa mais bonita). Depois foi a Princesa Aura de Flash Gordon, trabalhou ao lado de Stallone em Oscar e em 1994 foi escolhida a mulher mais bonita do mundo pelos leitores da revista Class. Em 2008 lançou uma linha de jóias com seu nome e, casada com um cirurgião plástico, colocou seus belos peitos no seguro por US$ 350.000.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Parabéns, Woody Allen!

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010
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Woody Allen completa 75 anos hoje e temos que tirar o chapéu para ele. Ele é o homem que mais entende da alma feminina. Duvida? Ele conseguiu retratar os anseios da mulher de cinquenta anos com perfeição em A Outra de 1988 e vinte anos depois realizou o filme mais feminino já produzido, Vicky Cristina Barcelona, e ainda mostrou que toda mulher tem um pouco de Vicky, um pouco de Cristina e  um pouco de Maria Elena, sempre em diferentes proporções. Sem contar que ele escolhe a dedo a beldade que vai colocar em seus filmes. Foi assim com Mariel Hemingway em Manhattan, a charmosíssma Diane Keaton em muitas de suas obras, Barbara Hershey em Hannah e suas Irmãs e recentemente Mira Sorvino (Poderosa Afrodite), Charlize Theron (O Escorpião de Jade), Scarlet Johansson (Match Point, entre outros) e Evan Rachel Wood (Tudo Pode Dar Certo).


Aos moldes de seu ídolo, Groucho Marx, Allen consegue dar tiradas ótimas e cínicas e com seu humor, aproveita para zombar do mundo em que vivemos, dos tipos ridículos que muitas vezes temos que aguentar e, obviamente, de nós mesmos. Nesse processo, não perdoa as manias dos judeus norteamericanos, o viver em Nova York, o mundo do cinema e das celebridades, as manias das mulheres, a meia-idade, entre tantos outros assuntos. Até mesmo seu estilo de fazer piada já passou por várias etapas, como o gênero mais escrachado de Bananas e O Assaltante Trapalhão, a fase mais “neurótica” com Annie Hall, as reminicências de infância com A Era do Rádio e a crítica social com Match Point e Tudo Pode Dar Certo.
Em homenagem a 3/4 de século bem aproveitados, entre genialidade e escândalo, aqui vão 25 frases do genial cineasta:
  1. 80% do sucesso depende de você aparecer.
  2. Como posso acreditar em Deus se na semana passada minha língua se prendeu ao rolo de uma máquina de escrever elétrica?
  3. Eu não quero conseguir a imortalidade pelo meu trabalho e sim por não morrer.
  4. Eu não tenho medo da morte. Só não quero estar lá quando ela chegar.
  5. Eu fico impressionado pelas pessoas quererem conhecer o universo quando você mal consegue se achar em Chinatown.
  6. Basicamente minha ex-mulher era imatura. Toda vez que eu estava na banheira, ela vinha e afundava meus barquinhos.
  7. Eu acredito que exista algo lá fora nos observando. Infelizmente é o governo!
  8. Eu não acho que meus pais gostavam de mim. Eles puseram um ursinho de verdade no meu berço.
  9. Sua falta de educação é mais do que compensada por uma desenvolvida falência moral.
  10. Se você não está falhando de vez em quando, é um sinal de que você não está fazendo nada de muito inovador.
  11. Estou muito orgulhoso do meu relógio de bolso de ouro. Meu avô, em seu leito de morte, me vendeu este relógio.
  12. Na minha casa, eu sou o chefe. Minha mulher só toma as decisões.
  13. Parece que o mundo foi dividido em pessoas boas e más. As boas dormem melhor, enquanto os maus parecem aproveitar muito mais os momentos despertos.
  14. Sexo sem amor é uma experiência de sentido, mas na medida em que sentido vai, a experiências pode ser muito boa.
  15. Há coisas piores na vida que a morte. Você já passou uma noite com um vendedor de seguros?
  16. E se tudo é uma ilusão e nada existe? Nesse caso, eu definitivamente paguei demais pelo meu tapete.
  17. Por que o homem mata? Ele mata por comida. E não apenas por alimentos: freqüentemente, deve haver uma bebida.
  18. Sexo é sujo? Somente se for bem feito.
  19. Não fale mal de masturbação. É sexo com alguém que eu amo.
  20. Minha vida amorosa é terrível. A última vez que estive dentro de uma mulher foi quando visitei a Estátua da Liberdade.
  21. Eu sou um amante tão bom, porque pratico muito comigo mesmo.
  22. O principal problema da morte é o medo que pode não haver vida após a morte – um pensamento deprimente, sobretudo para aqueles que se preocuparam em fazer a barba.  No lado positivo, a morte é uma das poucas coisas que pode ser feito facilmente, somente se deitando.
  23. Um cara bateu no meu pára-choque no outro dia, e eu lhe disse: “Sede fecundo e multiplicai”. Mas não exatamente com essas palavras.
  24. Meu cérebro é meu segundo órgão favorito.
  25. Por que arruinar uma boa história com a verdade?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O triste fim de Monicelli

Publicado no site da revista Alfa em novembro de 2010
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Não é de se estranhar que Mario Monicelli, um dos maiores cineastas da Itália, tenha escolhido morrer se atirando da janela do hospital onde estava internado graças a um câncer de próstata, aos 95 anos. O homem que nos fez chorar de rir em 68 filmes, sempre dava um jeito de colocar alguma amargura ou tristeza em suas obras. Foi assim com o final trágico de Parente é Serpente, umas de suas obras mais populares no Brasil, focando no natal de uma típica família italiana, que se choca e desestabiliza quando os pais dizem que querem morar com um dos filhos. Brancaleone, um de seus personagens mais famosos, interpretado pelo sempre excelente Vittorio Gassman, que apareceu O Incrível Exército de Brancaleone e Brancaleone nas Cruzadas era pobre e louco de dar dó. E mesmo suas duas obras que mais gosto, os sarcásticos Meus Caros Amigos e Quinteto Irreverente tem conclusões tristes.

Monicelli trabalhou com os grandes nomes do cinema da terra da bota. Fez vários filmes com Totó, o chamado príncipe do riso das comédias dos anos de 1950 na Europa, trabalhou com Marcello Mastroianni em obras como Casanova 70 (a história de um sedutor que gosta de viver perigosamente) e As Duas Vidas de Mattia Pascal, com Renato Salvatori em Os Eternos Desconhecidos, Alberto Sordi em A Grande Guerra, e ainda com Monica Vitti, Anna Magnani, Giancarlo Giannini, Stefania Sandrelli, Vittorio De Sica, Sophia Loren, Gian Maria Volonté e Nino Manfredi, mas o creme de la creme é mesmo o grupo formado para os filmes do quinteto de amigos cinquentões cujo objetivo de vida é perturbar os outros e a si mesmo: Ugo Tognazzi, Adolfo Celi, Phillippe Noiret, Duilio Del Prete e Gastone Moschin (este fez o Don Fanucchi, de O Poderoso Chefão II).

Meus Caros Amigos de 1975 e Quinteto Irreverente de 1982 são talvez os dois filmes mais sacanas e de maior humor negro que alguém poderia produzir e são irresistíveis para homens que já aprontaram em turma. As coisas que esse bando de irresponsáveis aprontam, como ficar nas plataformas da estação de trem apenas para dar tapas na cara de quem pusesse a cabeça para fora do vagão ou fingir que são engenheiros para assustar turistas na Torre de Pisa, afirmando que ela vai cair são impagáveis.

Seu último filme foi Le Rose del Deserto de 2006, que dirigiu aos 91 anos de idade. Em 2003 gfez uma aparição simpática no filme Sob o Sol de Toscana, interpretando um velhinho que todos os dias colocava flores em uma imagem de Nossa Senhora. Injustamente foi nomeado duas vezes ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e cinco à Palma de Ouro do Festival de Cannes e e não ganhou nenhum desses prêmios, mas foi um vencedor recorrente nos Festivais de Veneza e de Berlim.

Ao mestre Mario Monicelli deixo minha homenagem através de uma frase de um de seus filmes: La supercazzula brematurata con scappellamento a destra come fosse antani. E grazie tanti!

O engraçado homem sério

Publicado no site da revista Alfa em novembro de 2010
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Quando Leslie Nielsen, que morreu hoje aos 84 anos de idade, foi convidado para participar do filme Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu de 1980, ele perguntou aos três produtores/diretores Zucker, Abrahams e Zucker “querem que eu faça caretas ou fique vesgo?” e eles responderam, “não, fique sério que só isso faz a gente rir”. Nielsen, com sua voz grave e expressão de preocupação era realmente hilário, especialmente se a isso ele fosse somada alguma frase surreal como a do diálogo mais famoso do filme em questão:

Nielsen: Can you fly this plane, and land it?

Robert Hays: Surely, you can´t be serious

Nielsen: I am serious and don´t call me Shirley.

Nielsen nasceu no Canadá, filho de um polícia montada. Seu pai, aliás, era severo demais e o jovem Leslie fez cursos de interpretação, inspirado pelo tio, escondido com medo de apanhar. Nos anos de 1950 trabalhou em mais de 50 programas “ao vivo” na TV e estreou no cinema em 1956 no filme O Rei Vagabundo de Michael Curtis (o mesmo diretor de Casablanca). Ainda nas telonas, seu maior sucesso foi em O Planeta Proibido, uma ficção científica inspirada na obra A Tempestade de Sheakespeare e que, para muitos trekkers, é o procursor de Jornada nas Estrelas e para outros nerds, o inspirador do robô de Perdidos no Espaço.

Nielsen também ficou famoso por quase ter sido Messala, o rival de Charlton Heston em Ben-Hur, perdendo o papel para o chatíssimo Stephen Boyd. Participou do piloto da série Havaí 5-0, fez uma série de sucesso para a Disney e foi o capitão do navio que fica de cabeça para baixo na primeira versão de O Destino do Posseidon. Na década de 1980 veio a chance de trabalhar com o trio ZAZ em Apertem os Cintos (quando recebeu um Emmy de melhor ator em filme ou seriado de comédia) e depois na tentativa de uma série de TV totalmente surreal chamada Police Squad onde interpretava o tenente Frank Drebin. O seriado não deu certo nas telinhas, mas virou uma cinessérie de muito sucesso chamada aqui de Corra que a Polícia Vem Aí. Esse tipo de comédia o levou a ser considerado por Roger Ebert, um dos mais respeitados críticos norteamericanos como “o Lawrence Olivier da gozação”.

O ator não se considerava um comediante e tentou continuar a fazer papéis dramáticos, mas não dava mais para levá-lo a sério. Em Querem me Enlouquecer de 1986, Barbra Streisand interpreta uma prostituta de luxo que mata seu cliente quando este tenta espancá-la. O cliente em questão é Leslie Nielsen e não dá para segurar o riso com as expressões e voz do cara, mesmo quando há a cena pesadíssima dele metendo a mão na cara dela. Nos últimos anos, ele se dedicou a comédias para vez mais fracas e apelativas. Com sua morte, ele deixa um legado de mais de 100 filmes, 1500 programas de televisão, 220 personagens, quatro esposas e dois filhos.

Os 8 magníficos

Publicado no site da revista Alfa em novembro de 2010
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Ainda na esteira da comemoração em cima dos 50 anos de Sete Homens e um Destino no Brasil, vale a pena conhecer um pouco mais dos oito atores que fizeram do filme um grande clássico e que, seguramente, devem muito de suas carreiras à exposição que o ele lhes deu. Excetuando Yul Brynner, os outros ainda eram desconhecidos do público de cinema. Alguns eram famosos no teatro, outros na TV. Depois do faroeste, a grande maioria se tornou lendas da 7a. arte.

Yul Brynner (Chris Adams): nascido em Vladivostok na Rússia em 1915, Yuli Borisovich Bryner foi modelo nos anos de 1930 até parar nas telas de cinema. Em 1951 (e pelos próximos 30 anos), interpretou o rei Mongkut na Broadway no espetáculo O Rei e Eu, daí sua cabeça raspada em maioria de seus filmes. Ganhou apenas um Oscar, em 1956, justamente pela versão cinematográfica do famoso musical que fez al lado de Deborah Kerr. No cinema, ficou famoso por tipos másculos, rigorosos e líderes como o faraó de Os 10 Mandamentos, o expatriado russo que tenta fazer Ingrid Bergman se passar pela filha perdida do Czar Nicolau II em Anastasia, A Princesa Esquecida e ainda o rei Salomão em Salomão e a Rainha de Sabá. Fumante inveterado, morreu em decorrência de um câncer nos pulmões em 1985 no mesmo dia que Orson Welles. Uma entrevista sua para o programa Good Morning America, onde dizia desejar fazer uma campanha anti-tabaco, foi usada pela American Cancer Society como propaganda contra o cigarro.

Steve Mcqueen (Vin): o chamado “rei do cool” foi um dos mais populares atores nas décadas de 1960 e 1970, sempre portando tipos rebeldes e anti-heróis, bem dentro do estilo da contracultura. Louco por velocidade, adorava carros e motos velozes, nos quais competia fervorosamente e ficou famoso por fazer a maioria de suas cenas de ação, sem ajuda de dublês. Nas telonas encantou o público em filmes como Bullit, Papillon, Fugindo do Inferno e Inferno na Torre. Também ficou notória sua mania de desprezar papéis que consagraram outras pessoas. Foi assim em Butch Cassidy e Sundance Kid (Robert Redford acabou pegando o papel), Apocalypse Now (foi para Martin Sheen), Dirty Harry (fez a glória de Clint Eastwood), Operação França (não queria ser mais um policial nas telas e deu o Oscar a Gene Hackman) e finalmente Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Richard Dreyfuss acabou pegando). Em compensação acabou roubando a gracinha Ali MacGraw (de Love Story) do poderoso produtor Robert Evans, então seu marido. Ele faleceu em decorrência de um câncer no abdomem e no pescoço causado por farta exposição a amianto (que recobria os uniformes de corredores na época) em novembro de 1980. Além do legado de filmes, deixou uma marca na moda masculina com as calças de sarja, a jaqueta aviador, os óculos Ray-Ban e os cardigans de gola alta.

Charles Bronson (Bernardo O´Reilly): muita gente só lembra dele na cinessérie Desejo de Matar onde assumiu o papel do neurótico homem que sai em busca de uma vingança sem fim, mas a carreira de Charles Dennis Buchinski, um americano filho de lituanos, sempre foi marcada por tipos durões, mas muito corretos. Foi assim em Os 12 Condenados (seu personagem é o único não psicótico e obviamente o único sobrevivente), em Fugindo do Inferno e como o “Homem da gaita” no classicão de Sergio Leone, Era uma Vez no Oeste. Trabalhou na França, estrelando o filme Le Passager de la pluie de René Clement, que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1970. Por causa de seus tipos másculos ganhou, na década de 1970, o prêmio “World Film Favorite – Male” junto com Sean Connery e sempre afirmou que este foi a maior premiação que recebeu na vida. Em 1975, era o quarto ator de maior bilheteria nos EUA, perdendo apenas para Robert Redford, Barbra Streisand e Al Pacino. Bronson morreu de pneumonia, aos 81 anos de idade, em 30 de agosto de 2003.

James Coburn (Britt): em 45 anos de carreira, James Harrison Coburn Jr trabalhou em aproximadamente 70 filmes para o cinema e teve mais de uma centena de aparições em programas de televisão. Depois de surgir em Sete Homens e trabalhar em Fugindo do Inferno e Charada, protagonizou a resposta americana a James Bond, interpretando o agente secreto Flint em dois filmes, Flint Contra o Gênio do Mal e Flint: Perigo Supremo. Trabalhou com Leone em Quando Explode a Vingança, com Peckinpah em Pat Garret e Billy The Kid e foi uma das celebridades a aparecer na capa do disco Band on the Run de Paul McCarney & the Wings. Depois de uma temporada em papéis para a TV, Coburn voltou às telonas na década de 1990 em filmes como Jovens Demais para Morrer, Maverick e O Troco (estes dois com Mel Gibson), mesmo sofrendo de uma artrite que o impedia de mexer os dedos de uma mão. Seu papel em Temporada de Caça de 1997 lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Aficcionado por carros, era conhecido por dirigir, por 20 anos, uma rara Ferrari 250 GT SWB Spyder California. Ele faleceu de ataque cardíaco aos 74 anos em 18 de novembro de 2002.

Eli Wallach (Calvera): aos 95 anos (a serem completados em 7 de dezembro), Eli ainda está na ativa e é um dos atores mais completos que já apareceu nas telonas. Com farta experiência no teatro e formação pelo consagrado Actors Studio, sua estréia no cinema foi no controverso e escandaloso Boneca de Carne de Elia Kazan e fez depois de Os Desajustados ao lado de Marilyn e Clark Gable até aparecer a chance de fazer Calvera, que abriu caminho para sua participação memorável em Três Homens em Conflito. Wallach também é parte de uma das mais propagadas lendas no show business americano. Ele seria o Angelo Maggio de A um Passo da Eternidade, mas o papel acabou indo para Frank Sinatra, que acabou ganhando um Oscar e viu sua carreira reviver. A lenda que correu na época (e que inspirou uma famosa sequencia de O Poderoso Chefão) é que o cantor usou seus contatos com a máfia para conseguir o papel, mas na verdade, Eli havia desistido do filme para trabalhar em uma peça de Tenessee Williams (anos depois contou que toda a vez que encontrava Sinatra, este o cumpimentava com um “olá, ator louco”). Na década de 1960, Wallach ainda teve a chance de se tornar muito popular, fazendo o Sr. Frio da série Batman de Adam West e em sua biografia disse que nunca recebeu tantas cartas como naquele papel. Nos últimos anos apareceu em O Amor não Tira Férias, New York – Eu te Amo e Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme.

Robert Vaughn (Lee): o único dos sete “heróis” do filme a estar ainda vivo, Vaughn ficou extremamente conhecido nos EUA e Europa por seu papel na telessérie O Agente da UNCLE onde fazia o espião Napoleon Solo, que vivia aventuras ao lado de seu parceiro, o russo Illya Kuryakin, interpretado pelo inglês David McCallum. Depois de atuar com Steve McQueen em Bullit, o ator só trabalhou em filmes B para o cinema e TV, só voltando a um relativo sucesso com a série inglesa Hustle e hoje é famoso por fazer ser garoto-propaganda de grandes escritórios de advocacia. Democrata de carteirinha, não apoiou Barack Obama na última eleição pois considera que o homem não está à altura do cargo.

Horst Buschholz (Chico): ninguém entendeu quando um ator alemão, natural de Berlim, foi chamado para um faroeste, para interpretar um pistoleiro mexicano – nem mesmo ele, que se considerava “muito do leste para ser do oeste” – mas sua participação irritou profundamente Steve McQueen, que não queria que alguém nublasse seu sex appeal. Buschhloz apareceu em mais de 60 filmes em sua carreira, atuando em produções americanas, alemãs, inglesas, italianas e francesas. Depois de ter que recusar o papel do sheik Ali em Lawrence da Arábia, fez Cupido não Tem Bandeira de Billy Wilder ao lado de Jimmy Cagney, Fanny com Maurice Chevalier e Leslie Caron e ainda teve uma ponta no filme ganhador do Oscar A Vida é Bela de Roberto Begnini. Em 2000, o ator confessou ser bissexual para o jornal alemão Die Bunte e faleceu em 2003, de pneumonia, com 69 anos de idade.

Brad Dexter (Harry Luck): o pistoleiro que ninguém lembra o nome começou como ator em Hollywood para depois se tornar produtor de filmes. Nascido Boris Michel Soso, ficou famoso por ser sempre o coadjuvante durão em filmes e séries de TV. Além de Sete Homens e um Destino, destacam-se na sua carreira o papel de vilão em O Segredo das Jóias de John Huston e O Expresso de Von Ryan que trabalhou ao lado de Frank Sinatra. O cantor tinha uma relação muito próxima com o ator, desde que Dexter o salvou de um afogamento nas filmagens de Os Bravos Morrem Lutando. Além disso, Brad foi casado com a cantora e compositora Peggy Lee, aquela que deu ao mundo a música mais sensual de todos os tempos, “Fever”. Ele morreu aos 85 anos de idade de enfisema em 12 de dezembro de 2002.

Os 50 anos de “Sete Homens e um Destino”

Publicado no site da Revista Alfa em novembro de 2010
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Hoje deveria ser feriado nacional, mas somente homens teriam o direito de comemorar. Em 24 de novembro de 1960, estreava em terras brasileiras o mais masculino de todos os filmes, Sete Homens e Um Destino de John Sturges, baseado na obra de Akira Kurusawa, Os Sete Samurais. Foi um divisor de águas no gênero faroeste, já enfraquecido com o advento da televisão e decretou o fim do pistoleiro romântico, abrindo caminho para o western spaghetti de Sergio Leone , com seus personagens de moral duvidosa ou o oeste mais selvagem de Sam Peckinpah. Foi também o filme que transformou Steve McQueen num astro do cinema, que colocou Charles Bronson na mira dos bons diretores e marcou a primeira aparição de James Coburn nas telonas. Gerou três continuações ruins e, 20 anos depois, uma série de TV.

O engraçado é que o filme é tão marcante que todo mundo quer ser o “pai da criança”, mas a história mais conhecida é que Yull Brynner, na época em ator conhecidíssimo pela sua atuação em clássicos como O Rei e Eu e Os 10 Mandamentos, havia assistido a obra japonesa, sobre uma vila atacada por bandidos, que contrata sete ronins para defendê-la e saiu com a total certeza que aquele era o melhor faroeste que ele já havia visto, só que passado no Japão e falado em japonês. Chegando em casa, correu atrás dos direitos da história, que acabou sendo adquirida por US$ 250 pelo produtor Lou Morheim. Na época a idéia era que Anthony Quinn ficasse com o papel principal e Brinner dirigisse. O roteiro, que estava sendo escrito por Walter Bernstein que colocava o bando salvador como parceiros da Guerra da Secessão, com um tipo mais velho, mais na linha de Spencer Tracy, liderando e a ação se passando em um vilarejo mexicano. A produção, porém, acabou indo para a então independente Mirish Corporation, que colocou Sturges na direção e encomendou um novo script a Walter Newman. Este baixou a idade do pessoal e fez com que fossem desconhecidos que se uniam por uma causa comum, cada um representando um tipo: o líder, o cool, o tolo, o ganancioso, o problemático, o silencioso e o herói das crianças.

O casting começou com Brynner como o líder e, como o ator podia dar pitaco nas contratações, escolheu o jovem Steve McQueen para seu parceiro em cena. O idéia depois se mostraria um erro. McQueen trabalhava na época no seriado de TV Wanted: Dead or Alive e para conseguir liberação para fazer o filme, simulou um acidente de carro e conseguiu uma dispensa. O alemão Horst Buscholz foi o segundo contratado, seguido por Robert Vaughn, que já havia trabalhado com o diretor, Brad Dexter e Charles Bronson. Para vilão, Sturges chamou um ator vindo do Actors Studio, muito famoso na Broadway, Eli Wallach. Este também havia visto o filme oriental e estava louco para participar, mas achou seu papel pequeno. Depois, considerou que nos 35 minutos em que ficaria sem aparecer na tela, ele seria o assunto, principal, por isso aceitou participar. Por último, veio James Coburn, amigo de infância de Vaughan, que ficou justamente com o papel que ele mais queria. O ator havia assistido Os Sete Samurais 12 vezes em 12 dias e relembrou anos depois que a oportunidade de estar no faroeste foi como se Natal, aniversário e dia dos namorados tivessem caído no mesmo dia.

As filmagens não transcorreram às mil maravilhas. Para começar, o filme seria rodado no México e o pessoal de lá estava revoltadíssimo com a maneira com que o país havia sido retratado em Vera Cruz com Gary Cooper e Burt Lancaster, por isso colocaram censores nas locações. Duas grandes mudanças foram feitas por causa disso. Para começar, os lavradores da vila mexicana não poderiam nunca aparecer com roupas sujas, por isso, todos vestiam improváveis trajes impecavelmente brancos. A segunda acabou gerando um momento brilhante na história, já que foi exigido que os mexicanos não cruzariam a fronteira para contratar pistoleiros e sim, para comprar armas. E é nessa transação que Yull Brynner resume a reduzida condição moral do pistoleiro: contratar homens era mais barato que comprar armamento.

Além disso, havia um clima pesado de competição no set, com todo mundo querendo tirar a coroa de Yull Brynner. Segundo Robert Vaughn, os outros atores encrencavam porque achavam que o cavalo de Brynner era melhor, que sua arma era maior e assim por diante. Quem mais deu dor de cabeça ao líder do grupo, porém, foi McQueen. Revoltado porque seu papel era secundário e porque o galã do filme era o alemão Buscholz, Steve exagerava nos trejeitos de seu personagem, mexendo muito os braços, balançando tudo o que tinha à mão (de chapéus a armas) e tentando chamar a atenção o máximo possível. Quando Brynner se enfezou com isso, fez uma ameaça pura e simples: ou Steve parava ou ele apareceria sem chapéu em todas as cenas em que estavam juntos. Sem um fio de cabelo na cabeça, Yull, seguramente, iria eclipsar qualquer um que estivesse ao seu lado. McQueen prontamente obedeceu, mas a relação entre os dois foi péssima durante todo o mês de gravação.

Enquanto os “mocinhos” do filme brigavam, o bandido se dava bem. Os 35 mexicanos contratados para o grupo do terrível bandoleiro Calvera tratavam Eli Wallach como um legítimo líder. Todas as manhãs, eles saiam para cavalgar por uma hora pelas planícies mexicanas e ensinavam o ator a como controlar o cavalo corretamente. O bicho, aliás, não podia ser entregue diretamente a Eli. Um dos homens do bando recebia o equino, conferia se estava tudo OK e depois passava ao seu “jefe”. O mesmo acontecia com as armas. Para um ator acostumado com o método de Lee Strassberg, que reza que você deve viver o papel a ser interpretado, aquilo era um sonho, mas ele afirmou depois que na época parecia bastante assustador.

Uma vez acabada a filmagem, Sturges chamou um jovem Elmer Berstein para cuidar da música, depois que seu compositor preferido, Dimitri Tiomkin caiu fora e acabou com um dos temas de filme mais conhecidos do público no mundo todo. Wallach chegou a dizer ao maestro que se a música tivesse tocado enquanto era filmado, ele teria conseguido cavalgar melhor, tamanha a inspiração. E quando eu digo que o filme é pura testosterona, sua trilha não fica atrás e serviu de fundo para chamar os homens para a terra de Marlboro na propaganda do cigarro.

Sete Homens e um Destino foi um fracasso em seu lançamento nos EUA em outubro de 1960, ficando poucos dias em cartaz. Os próprios atores não achavam que seria um grande sucesso devido aos problemas nas filmagens. Acontece que o filme estourou na Europa e acabou voltando aos cinemas americanos em 1961 e hoje ostenta o título de segundo filme mais reprisado nas TVs da terra de Tio Sam, só perdendo para A Felicidade Não Se Compra.

Meio século depois, a obra não perdeu sua força, sendo ainda atual e extremamente divertida. Conseguiu um status próprio, totalmente desatrelada do filme de Kurosawa e é, até hoje, copiada por muitos diretores . Sua história, focando na moralidade do caubói, na decisão em se fazer o bem ou se entregar ao mal, na luta por aquilo que queremos e nas oportunidades que a vida dá para uma revisão de valores certamente nunca envelhecerá.

E por fim, uma curiosidade: em 1973, Brynner apareceu no filme de ficção científica Westworld -- Onde Ninguém Tem Alma, que mostrava um parque de diversões para adultos onde as pessoas podiam optar pelo velho oeste, os tempos medievais ou o império romano e interagiam com robôs. O ator fazia justamente um andróide baseado no seu Chris Adams de Sete Homens e Um Destino.