quinta-feira, 30 de junho de 2011

Muito antes de ‘Velozes e Furiosos’

Publicado no site da revista Alfa em maio de 2011
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A série ‘Velozes e Furiosos”, agora em quinta  edição, consegue encantar o pessoal que curte altas doses de testosterona combinadas com nitro e carros potentes e ainda coloca rachas ilegais, contrabando e FBI na jogada, ou seja, com a moral: você tem que ser um criminoso para gostar de velocidade. Acontece que essa é uma fórmula antiga, que remonta aos anos 70 e 80 e que fez muito sucesso nas telonas.

Em 1971, tivemos o considerado “maior clássico de perseguição nas estradas”, Corrida Contra o Destino (Vanshing Point no original), onde o ator Barry Newman faz Kowalski, um ex-fuzileiro naval, ex-policial, ex-herói no Vietna, ou seja, um ex alguma coisa, que é contratado para levar um Dodge Chalenger 1970 de Denver para San Francisco (cerca de 2041 kilômetros de distância) e é desafiado a fazer isso em 15 horas (ou seja, tem quen manter, no mínimo 140 km/h para vencer). É óbvio que toda a polícia vai atrás dele e um DJ cego, que tem acesso às transmissões dos tiras, fica dando dicas ao neurótico corredor pela rádio. O filme é tão marcante para a cultura pop que inspirou bandas como Primal Scream, Guns N´ Roses em suas músicas, Audioslave no videoclip de ‘Show me how to live” e, obviamente, Quentin Tarantino em Á Prova de Morte. Foi refilmado com Viggo Mortensen e lançado em DVD e Blu-Ray no Brasil pela Fox.

 Cinco anos depois eis que surge The Gumball Rally, onde o recém-falecido ator Michael Sarrazin faz um empresário rico e entediado que promove uma corrida que vai de Nova York à Los Angeles em menos tempo possível e infringindo todas as leis de trânsito. É um filme de época, mas tem coisas bem sacadas. Cada competidor está em um carro, então você tem Micheal e seu parceiro em um AC Shleby Cobra 1966, Raul Julia e co-piloto em uma Ferrari 365 GTS/4 1972, dois policiais corredores em um Dodge Polara ’71, Gary Busey em um Chevrolet Camaro ’72, duas garotas em uma Porshe 911 Targa, dois velhos ingleses em uma Mercedes 300SL Roadster, um cara e sua namorada em um Rolls Royce Silver Shadow 1969 e mais uma Corvete, um Chevy Van e um Jaguar. Este último nunca sai da garagem, porque os produtores haviam pedido à Jaguar que lhes fornecessem um carro para o filme. Como o fabricante se recusou, eles acabaram fazendo com que o automóvel “quebrasse” e nunca participasse da corrida. Pelo filme ter sido dirigido e produzido por Charles Bail, um ex-dublê, prepare-se para muitos acidentes de carro e algumas cenas impressionantes como a corrida começando em NY (filmado em um domingo de manhã com as ruas fechadas) e até mesmo nos canais de Los Angeles.

 Em 1977, surge o primeiro Agarre-me se Puderes com Burt Reynolds, Sally Fields e Jackey Gleason. Mais uma vez uma aposta que exige o não cumprimento das leis de trânsito conduz a trama do filme, sem os resultados catastróficos de Vanishing Point. Reynolds é desafiado a levar cerveja de Texarcana no Texas para a Georgia, cerca de 2900 kilômetros em 28 horas. Para conseguir  isso, ele chama seu amigo Snowman para dirigir o caminhão, enquanto distrai os ‘smokeys’, gíria para polícia rodoviária nos EUA com Pontiac Firebird Trans Am 1977. É outro filme cheio de acidentes e cenas fantásticas na estrada e ainda conta com Gleason, um famoso e antigo comediante da TV norteamericana, que se divertiu no papel do ferrenho policial Buford T. Justice, improvisando falas e fazendo caretas inesquecíveis. O filme consagrou a música ‘East, Bound and Down’ de Jerry Reed, fez com que as vendas do Trans Am dobrassem em dois anos e foi um sucesso tão grande (só perdeu em bilheteria em 1977 para Star Wars), que gerou duas continuações (a terceira um caça-níqueis em Burt só aparece em uma cena). Foi lançado em DVD no Brasil pela Universal e, segundo sua filha, era um dos filmes preferidos de Alfred Hitchcock (ou como ele chamava, um prazer com culpa).

 Assim como fez Paul Newman nos anos 1960, Reynolds ficou tão ligado às corridas que em 1981 estrelou outro classicão das estradas, Quem Não Corre, Voa, acompanhado de um elenco estelar, Roger Moore (como um milionário que se acha parecido com Roger Moore e finge ser 007), Farah Fawcett no auge da beleza,o comediante  Don De Luise, os veteranos do Rat Pack Sammy Davis Jr e Dean Martin e Jackie Chan em seu segundo filme americano. Baseado em uma corrida ilegal que realmente aconteceu nos anos 70 e que atravessava todo os EUA (a Cannonball Baker Sea-To-Shining-Sea Memorial Trophy Dash), o filme tinha uma ambulância Dodge Sportsman modificada, uma Ferrari 308 GTS (que na verdade era do diretor do filme), uma Lamborghini Countach, um Subaru GL computadorizado, um Chevrolet Chevelle Laguna, um Aston martin DB5 e um Rolls Royce Silver Shadow disputando o primeiro prêmio. Rendeu mais de 70 milhões só lá no país de Obama e acabou gerando uma continuação mais sem graça em 1984 com boa parte do elenco e ainda Frank Sinatra em sua última aparição nas telonas (depois fez uma ponta na série Magnum em 1987, mas para a TV). Você ainda acha esse filme em DVD no Brasil.

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