quinta-feira, 30 de junho de 2011

O comediante que queria ser presidente

Publicado no site da revista Alfa em junho de 2011
Link

Mel Brooks, um dos meus grandes ídolos na comédia (fica atrás somente dos Irmãos Marx no meu top 10 e seguido de Jerry Lewis), completou 85 anos ontem, 28 de junho. Sou fã incondicional de seu primeiros filmes, grandes brincadeiras em cima de gêneros do cinema e que inspirariam anos depois o trio ZAZ com Top Secret, Apertem os Cintos e Corra que a Polícia Vem Aí e os Irmãos Wayans e seus Todo Mundo em Pânico.


O legal é que pesquisando a vida de Brooks (ou Melvin Kaminsky), você acaba descobrindo que em seu álbum de formatura, o novaiorquino declarou que se tornaria presidente da república. Acabou sendo muito mais do que isso. Em 1944, aos 18 anos de idade, desarmou minas terrestres no norte da Africa, durante a II Guerra Mundial, o que dá a qualquer um um senso de humor tremendo. Atuou como comediante de stand up no início da carreira artísitca, foi para os bastidores e, junto com Sid Caeser e Carl Reiner, tornou-se um grande roteirista de programas cômicos, criando o famoso personagem Maxwell Smart, o Agente 86.

Seu primeiro grande sucesso como roteirista e diretor no cinema foi Primavera para Hitler, a amalucada história de dois produtores (Gene Wilder e o grande Zero Mostel, comediante também favorito de Woody Allen) que tentam criar uma peça louvando o líder nazista, para fracassar e ganhar o dinheiro do seguro. Já nesse primeiro sucesso estavam as marcas de Brooks: o politicamente incorreto, a zombaria em cima dos judeus e em cima dos nazistas.

Depois vieram as sátiras de gêneros, as canções, as peças de teatro na Broadway e as participações especiais em filmes e seriados. A melhor delas foi como Uncle Phill na sensacional série Mad About You, onde o comediante destilava outra de suas ótimas qualidades: o poder da improvisação. Segundo o ator, produtor e diretor do seriado, Paul Reiser, Mel conseguia pegar algo pequeno no roteiro e transformar em uma grande piada. Por exemplo, em um episódio, Reiser e John Pankow (que fazia o primo Ira) vão visitar o Tio Phill e lá pelas tantas, um deles pergunta se o velhinho tinha uma caneta para emprestar. Brooks só deveria dizer que sim mas, ao invés disso, desata a falar de todos os tipos de canetas e lápis que possui, de marcas a materiais e a câmera não foca mais Reiser. Ele estava dobrando de rir. Todo esse talento acumulado, o levou a ganhar um Oscar (roteiro de Primavera para Hitler), três Emmy (por Mad About You), três Tony (por Os Produtores na Broadway) e três Grammy, sendo um dos pouquíssimos artistas no mundo a abocanhar os maiores prêmios americanos.
Quando foi entrevistado nos anos 1980 por Roberto D´Ávila no programa Conexão Internacional da extinta TV Manchete, Brooks disse ter dois vícios. O primeiro era gelatina (e dá-lhe falar do tipos, sabores e consistências, num incrível sketch improvisado). O outro era Anne Bancroft, sua segunda esposa. Era um casal improvável. Ele, judeu e ela, católica de família italiana. Ele, comediante e ela, incrível atriz dramática. Ele se apaixonou por ela na primeira vez que a viu. Os dois se casaram em 1964 e ficaram juntos até a morte dela em 2005. Ele a chamava de meu Obi-Wan Kenobi, pois foi ela que conseguiu dar uma guinada na carreira dele, quando sugeriu que ele pegasse seu primeiro roteiro cinematográfico e o transformasse em musical. O resultado foi Os Produtores, que o tirou do ostracismo.

Se você nunca viu nada de Mel Brooks, aqui vai uma pequena lista de alguns de seus filmes:

Primavera para Hitler e Os Produtores: vale a pena ver a versão original e compará-la com o musical, que tem o chatíssimo Will Ferrell em bom papel e o genial ballet das velhinhas em andadores.

Banzé no Oeste: Brooks brinca com os clichês do faroeste e com metalinguagem no filme que John Wayne disse que não podia fazer, mas seria o primeiro na fila para assistir. Destaque para Gene Wilder como o pistoleiro mais rápido do oeste e dos índios que falam iídiche.

Jovem Frankenstein: o maravilhosa sátira dos filmes de suspense acabou usando o mesmo equipamento do clássico Frankenstein de 1931. O filme todo é bom, hilariante e tem ainda o estrábico Marty Feldman e o ótimo Peter Boyle (o rabugento pai de Everybody Loves Raymond) como o monstro.

As Últimas Loucuras de Mel Brooks: o comediante ousa fazer um filme mudo em 1976 e consegue Paul Newman, Burt Reynolds, Liza Minelli, James Caan e Anne Bancroft em participações especiais. Melhor piada: a única palavra em todo o filme (um ‘NÃO’) é dita justamente por um mímico, o famoso  Marcel Marceau.

Alta Ansiedade: Brooks emula os filmes de Alfred Hitchcock, enquanto conta a história de um homem que assume a direção de um hospital pisquiátrico. Mais uma vez, o diretor brinca com metalinguagem (a câmera, por exemplo, dá um zoom e quebra o vidro de uma janela) e consegue refilmar a famosa cena do chuveiro de Psicose com total fidelidade e resultado engraçadíssimo.

A História do Mundo – Parte 1: o filme que nunca teve em seus planos uma parte dois é cheio de altos e baixos. Vale a piada em cima de Moisés, Gregory Hines como um escravo negro na Roma antiga que, ao ser preso, alega ser judeu e pede para chamar o rabino Sammy Davis Jr e a sequencia da Revolução Francesa, além do trailer da Parte II.

SOS  – Tem um Louco no Espaço: a última grande sátira de Brooks, desta vez em cima dos filmes de ficção científica. Ele faz papel duplo, como o presidente da galáxia e o guru Yogurt (uma brincadeira em cima do Yoda) e faz uma piada genial com o final do Planeta dos Macacos original e com a famosa cena do bicho saindo das entranhas de John Hurt em Alien. Fez tanto sucesso que virou desenho animado.
 
Além destes  títulos, tivemos péssimas produções como Drácula – Morto, mas Feliz e A Louca, Louca História de Robin Hodd, além dos fracos Que Droga de Vida e Sou ou Não Sou (este último, uma refilmagem de Lubtisch). De qualquer maneira, esses fracassos não tiram a maestria, o bom humor e a importância de Brooks na história do cinema e da televisão. Seguramente, ele será eternamente conhecido como um comediante com um enorme schwanzstucker.

PS. por falar em Brooks, vale também dizer que hoje, 29 de junho, seria o aniversário de Slim Pickens, que fez o chefe dos bandidos de Banzé no Oeste e se tornou mundialmente conhecido pelo Major piloto “King” Kong que salta de um avião cavalgando uma bomba atômica em Dr. Fantástico. Um detalhe interessante, antes de ser ator, Pickens foi mesmo um cowboy.

Tchau, Columbo!

Publicado no site da revista Alfa em junho de 2011
Link



E lá se vão nossos heróis de juventude. Ontem, aos 83 anos de idade, faleceu Peter Falk, um grande ator de cinema que fez a fama e fortuna na televisão com um dos mais geniais personagens criados nesse meio, o Tenente Columbo. Sempre bem humorado, onovaiorquino Falk perdeu seu olho direito aos três anos de idade devido a uma doença e acabou transformando o fato de usar um olho de vidro em sua marca registrada, apesar do grande chefão da Columbia Pictures tê-lo desprezado alegando que “pelo mesmo preço conseguia um ator com dois olhos”.

Sucesso no teatro, ele estreou no cinema em pequenos papéis até que em 1960 foi indicado a um Oscar de Melhor Ator por Murder Inc. Foi uma virada tremenda na sua carreira e no ano seguinte o lendário Frank Capra o escala para Dama por um Dia, pelo qual foi indicado a seu segundo Oscar.

O grande sucesso mesmo veio em 1968 quando um personagem totalmente adequado a seu tipo físico caiu no seu colo. O detetive Columbo, criação genial dos roteiristas William Link e Richard Levinson, era um tenente da polícia de Los Angeles, totalmente mal ajambrado, subestimado pelos criminoso e que se fazia de idiota para pegar o assassino de repente. Falk não foi o primeiro a interpretar Columbo. Bert Freed incorporou o personagem por um episódio em 1960 e Thomas Mitchel o fez na Broadway. Mas foi Falk que o eternizou. Depois de dois pilotos com o ator, o seriado estreou sua primeira temporada em 1971 e durou até 1978 para depois ser “ressuscitado” em 1989.

A grande inovação da série era fugir do estilo ‘whodunit’ (aquele onde o espectador tenta adivinhar quem era o assassino – recurso usado em 80% das telenovelas brasileiras). Em Columbo, cada episodio começava com o assassinato. Você via quem e como matou. A grande sacada era ver como o detetive iria descobrir isso. Além disso, haviam vários elementos engraçadíssimos aliado ao personagem como seu carro, um Peugeot 403 acabado, seu cão (um Basset Hound preguiçoso), seu sobretudo amassado (substituído em um episódio, o que faz com que todos os policiais reparem e perturbem Columbo que, no final traz de volta o velho modelo) e, obviamente a misteriosa Sra Columbo, a quem o detetive cita o tempo todo sem nunca mostrá-la (a aí os produtores fizeram a grande besteira de criar uma – bem mal sucedida – série com a esposa, acabando com o mistério).

Também haviam os convidados especiais, artistas de renome como Anne Baxter, Honor Blackman, Johnny Cash, John Cassavetes, Robert Conrad, Faye Dunaway, Ruth Gordon, Laurence Harvey, Louis Jourdan, Martin Landau, Janet Leigh, Roddy McDowall, Vera Miles, Ray Milland, Sal Mineo, Ricardo Montalban, Leonard Nimoy, William Shatner, Oskar Werner, entre outros. E os roteiros não ficavam atrás. Em um episódio enfrenta um especialista em inteligência, fanático pelo filme Cidadão Kane (tinha os portões do palácio de Kane em sua casa), que programa seus cachorros a matar ao ouvir a palavra ‘Rosebud’. Em outro, tenta solucionar um assassinato onde o criminoso usou de mensagem subliminar em um filme para levar a vítima ao local do crime. Já em outro grande capítulo, o tenente tem que investigar um crime cometido pelo comissário de polícia, colocando seu emprego em risco.

Columbo deu a Peter Falk, nove indicações ao Emmy e uma estatueta. Depois dele, o ator apareceu em vários sucessos como Asas do Desejo, O Jogador, A Princesa Prometida e até dublando um velho e desdentado tubarão na animação O Espanta Tubarões. Morre com ele uma lenda da TV. Só posso esperar que nenhum luminar tente “refazer” Columbo com outro ator. Seria patético demais.

Wilza Carla e a pornochanchada

Publicado no site da revista Alfa em junho de 2011
Link


Wilza Carla, a esquecida atriz e jurada do programa Sílvio Santos, morreu na terça-feira dia 21 e achei muito interessante que uma das manchetes na internet sobre o assunto era “faleceu a musa obesa da pornochanchada”. Quem tem bem mais de 40 anos, teve a oportunidade de curtir esse gênero de filme que acabou marcando profundamente a impressão do brasileiro sobre o cinema nacional. A pornochanchada foi um filão para muitos produtores, um berço de diretores e atores e também uma maldição para quem queria um cinema brasileiro mais sério e trabalhado.


E veio bem a calhar nos anos da ditadura. Explicando melhor, tudo no Brasil tinha “reserva de mercado”, uma estratégia tacanha de fazer com que os produtos estrangeiros perdessem a competitividade frente aos nossos, ou seja, tínhamos que consumir coisas ruins porque éramos obrigados. No caso do cinema, as salas tinham a obrigatoriedade de passar uma quantidade mínima de filmes nacionais por ano. O problema era que estúdios mais sérios como o Vera Cruz haviam fechado e a saída foi buscar talentos no cinema marginal.

Aliado a isso, apesar da censura forte, o brasileiro descobriu que peito, bunda e sexo simulado atraía multidões ao cinemas e essa combinação se tornou a fórmula de sucesso para produções toscas, baratas e, mesmo assim, com boa bilheteria. Aos poucos nomes como Carlos Reichenbach, Claudio Cunha, David Cardoso, Ody Cunha, Fauzi Mansur e atores e atrizes como Helena Ramos, Matilde Mastrangi, Nicole Puzzi,  Paulo César Pereio, Sonia Braga, Nádia Lippi, Antonio Fagundes, Vera Fischer, entre outros caíram na preferência do povo.

E como a criatividade do brasileiro é algo sem concorrência no mundo, apesar da falta de sexo explícito, os títulos dos filmes tinham que puxar para uma coisa mais sexual e dá-lhe pérolas como Alucinada Pelo Desejo, Amadas e Violentadas, Roberta, a Moderna Gueixa do Sexo, Tem Piranha no Garimpo, A Ilha dos Prazeres Proibidos, A Tara das Cocotas na Ilha do Pecado, Eu Faço – Elas Sentem, A Noite das Taras e assim por diante. Os cartazes também eram sensacionais, especialmente aqueles pintados pelo genial Benício, de uma fidelidade incrível em cima do retratado.

Só que nem tudo era assim tão ruim. Algumas comédias como Histórias que Nossas Babás Não Contavam, uma genial versão de Branca de Neve, onde a princesa era a deslumbrante mulata Adele Fátima e que tinha Costinha como o caçador ou ainda O Bem Dotado – O Homem de Itú, onde Nuno Leal Maia tem problemas sérios devido ao tamanho de seu pênis ou até mesmo A Super Fêmea com Vera Fischer, se salvam nesse rol enorme de roteiros horrorosos. Também haviam as boas adaptações de Jorge Amado ou Nelson Rodrigues com Dona Flor e Seus Dois Maridos, A Dama do Lotação, Os Sete Gatinhos, entre outras. O difícil mesmo era aguentar os filmes pseudo-cabeça dessa época como Mulher Objeto ou Ariella, a Paranóica, arrastados, chatos e com interpretações de doer.
 
Em 1980, o ator Oásis Minitti protagonizou a chamada “primeira cena de sexo explícito em filme nacional” em Boneca Cobiçada, que tinha ainda Aldine Müller e Francisco di Franco no elenco. No ano seguinte veio Coisas Eróticas, o primeiro longa de sexo explícito, com três péssimas historinhas assinadas pelo produtor e roteirista Rafaelle Rossi e por Laente Calicchio e que conseguiu levar quase cinco milhões de pessoas às salas escuras, sendo a 12a maior bilheteria da história do cinema nacional. Depois disso, o público queria mesmo eram atores e atrizes fazendo sexo de verdade e aí a pornochanchada em si acabou morrendo aos poucos, mesmo que no começo, obras como Oh, Rebuceteio! de Claudio Cunha conseguissem unir um pouco das duas coisas (esse filme aliás tinha uma atriz bem mignonzinho e com cara de namoradinha que encantou todo mundo na época e desapareceu sem deixar rastro, Eleni Bandettini). E não podemos esquecer de Senta no Meu que Eu Entro na Sua de 1985, um clássico do mau gosto, com péssimas cenas de sexo, diálogos e dublagens de fazer gritar de rir, mas com a inventiva historinha do homem que tem um pênis no alto da cabeça (sim, com cenas explícitas dele usando a ferramenta).

A pornochanchada acabou fazendo com que as pessoas, por décadas, relacionassem cinema brasileiro com nudez e palavrão. Fez a minha alegria de juventude graças aos extinto programa “Sala Especial” da antiga TV Record, que fazia com que as noites de sexta-feira fossem mais engraçadas. E é interessante notar que as atuais produções nacionais , repletas de atores e atrizes globais, parecem até ter medo de mostrar alguém nu, excetuando, obviamente, Bruna Surfistinha porque aí já ia ser demais. Morreu Wilza Carla, morreu a pornochanchada e estamos mais certinhos e recatados. Se isso é bom ou ruim, só você vai me dizer.

O homem que foi um estilo de vida

Publicado no site da revista Alfa em junho de 2011
Link


É difícil imaginar que um cara que ficou famoso usando um vestidinho verde e colant tenha inspirado um termo que se referia ao homem sedutor que pega todas, mas assim foi o ator Errol Flynn, nascido em 20 de junho de 1909. O australiano de nascimento foi talvez o maior representante do gênero capa-e-espada, tão comum nas décadas de 1930 e 1940. Trabalhou em As Aventuras de Robin Hood (é esse que ele aparecia com aquela ridícula roupinha verde), Capitão Blood, O Gavião do Mar, A Carga da Brigada Ligeira, Meu Reino por Amor, entre tantos outros, onde mostrava seu domínio na esgrima e geralmente era o par romântico de Olivia de Havilland.

Acontece que a grande fama de Flynn era fora das telas. O homem era um notável “ladies´man”, que seduzia e pegava o que aparecia na frente. Além disso, adorava a noite, consumia doses industriais de álcool e tinha uma atitude desencanada da vida, a ponto do escritor inglês Benjamim S. Johnson cunhar a expressão ‘Errolesque’ em homenagem ao ator. E, naquela época, uma das gírias correntes era “in like Flynn” ou ser como Flynn.
Em 1942, o ator foi acusado de estupro de duas jovens menores de idade e os estúdios montaram todo um esquema para livrar sua cara. Até mesmo um grupo de jovens formou uma associação para defender seu ídolo, a American Boys’ Club for the Defense of Errol Flynn, ou – é sério isso – ABCDEF.

O que começou a destruir a carreira de Flynn mesmo foi sua tentativa de se alistar no exército dos EUA. O homem que fazia tantos heróis nas telas, sofria do coração (já havia tido um enfarte), tinha problemas nas costas, uma malária e uma tuberculose crônicas e uma lista enorme de doenças venéreas. Recebeu um 4-F (dispensa por não ser fisicamente apto) e a história caiu na imprensa, enterrando seus feitos nas telas de cinema. Nos anos 1950, alcoólatra e drogado, ainda fez Contra Todas as Bandeiras e E Agora Brilha o Sol.

Depois de sua morte em 1959, muitos livros foram escritos colocando-o como um simpatizante do nazismo e até mesmo como espião dos krauts nos Estados Unidos, a ponto dessa imagem ser meio que eternizada no cinema e nos quadrinhos (Timothy Dalton fez uma espécie de Flynn nazista em Rocketeer), mas isso era uma grande bobagem. Flynn, por exemplo, apoiou plenamente a revolução comunista em Cuba, chegando a voar para lá e se tornar amigo de Fidel Castro.

Sabendo fazer uma grande saída, Flynn morreu de um ataque cardíaco aos 50 anos de idade, pronto para se casar com uma atriz de 15 anos e deixando uma autobiografia devastadora a ser publicada chamada My Wicked Wicked Ways (Meu jeito muito muito malvado). E , em tempo, a ele é atribuída a frase, “eu gosto do meu whiskey frio e de minhas garotas quentes”. Way to go, Flynn!

Stan Laurel, o gênio por trás da careta

Publicado no site da revista Alfa em junho de 2011
Link


Stan Laurel foi um comediante sofisticado. Criativo ao extremo, ele foi ator, diretor, roteirista e assistente de direção, entre outros talentos e se consagrou como a parte tola e inocente da dupla O Gordo & O Magro. Laurel era inglês e era o substituto de um jovem Charles Chaplin na companhia cômica de Fred Karno ainda na Inglaterra. Foi Karno aliás, que os levou aos Estados Unidos, onde os dois resolveram ficar e trilhar seus caminhos separadamente.


Como o mundo dá voltas, em 1921 ele contracenou com um iniciante Oliver Hardy num curta chamado The Lucky Dog. Anos depois, os dois formariam uma das duplas mais famosas da história da comédia nas telas (apareceram em mais de cem filmes juntos) e uma das amizades mais fortes e fiéis fora delas. Laurel era o gênio do time. Era ele que criava piadas e gags, desenvolvia situações e dava pitacos na direção e no roteiro. Se alguém quisesse a opinião de Oliver Hardy sobre esses assuntos, ele se limitava a dizer “pergunte ao Stan”. Os dois fizeram grandes pequenos clássicos como, um dos meus favoritos, The Music Box, onde tem que levar um piano a uma casa no alto de um morro ou longas como Dois Palermas em Oxford, onde Laurel sai do papel de pateta e se torna inteligente para depois voltar à velha forma.

Ver os dois juntos em ação era um delírio. Hardy era sempre o prepotente desastrado, que metia os dois em confusão e jogava a culpa em Laurel. Laurel era de uma inocência só, fazendo você chorar de rir com suas expressões faciais, seja a cara de “não estou entendendo nada” ou chorando ou ainda com um largo sorriso no rosto. Chegou uma época onde não existia Oliver sem Stan, nem Laurel sem Hardy. Os dois fizeram um acordo verbal de nunca aparecerem sozinhos em um filme e quando Oliver morreu em 1955, Stan ficou tão devastado que não conseguiu ir ao enterro (chegou a dizer que ‘Ollie entenderia’). Caiu em uma profunda depressão e recusou todos os trabalhos que apareceram depois.

Acontece que Laurel não deixou de ser acessível. Morando em um apartamento do Oceana Hotel em Santa Mônica na Califórnia, ele fez o que hoje qualquer celebridade consideraria impossível: disponibilizou seu telefone na lista. Atendia a qualquer fã que lhe ligasse e assim “descobriu” Dick Van Dyke (que depois trabalharia em Mary Poppins, teria seu próprio programa na TV e faria a elegia de seu ídolo, quando do funeral) e também fez amizade com Jerry Lewis. Este último, aliás, queria contratar Laurel como consultor de roteiros de seus filmes por um polpudo salário, mas Stan recusou. O que fez, no máximo, foi opinar em algumas cenas de O Mensageiro Trapalhão e Lewis acabou batizando o personagem de Stanley.
Para Stan, o maior gênio da comédia foi Chaplin. Para Buster Keaton, foi Laurel. Ele faleceu em fevereiro de 1965 e escreveu seu próprio epitáfio: ‘se alguém ficar triste no meu enterro, eu nunca mais falo com ele de novo’.

E este homem, nascido em um 16 de junho, fez a minha alegria e a de muito moleque quando eu era adolescente, graças às inúmeras reprises de seus filmes na TV.

As mulheres de Woody Allen

Publicado no site da revista Alfa em junho de 2011
Link


Woody Allen, gênios para alguns (como eu), chato para outros, mas o cara que mais entende de alma feminina no mundo (é só assistir A Outra e Vicky Cristina Barcelona para notar), está com um novo filme em cartaz, Meia-Noite em Paris. Só que, além de saber escrever e contar uma boa história, Allen é ótimo para contratar atrizes belíssimas, logo chamadas (para ódio dele) de “musas de Woody Allen”. A bola da vez é a primeira dama da França, a estonteante Carla Bruni e a gracinha Rachel McAdams (Clique aqui para ver a galeria de fotos). Para comprovar essa teoria, vamos ver quem antes encantou o mítico e difícil diretor, por ordem descrescente de aparições:

Número 1: Mia Farrow
Maria de Lourdes Villiers-Farrow, a filha de Maureen O´Sullivan (a Jane do Tarzan de Johnny Weissmuller) e ex-senhora Frank Sinatra e ex-senhora André Previn (com quem adotou os seis filhos), caiu nas graças de Allen e se tornou sua companheira até surgir o escândalo do relacionamento dele com uma de suas filha,  Soon-Yi Previn. Farrow participou de nada mais, nada menos que 13 produções, entre elas Zelig, A Rosa Púrpura do Cairo, Hannah e Suas Irmãs, entre outros. É, de longe, a grande campeã em inspiração para ele.

Número 2: Diane Keaton
Keaton se tornou praticamente um símbolo sexual dos anos 1970 graças a Allen (e à sua mania de se vestir com calças masculinas, suspensórios e gravata) e ainda deve ao baixinho o único Oscar de sua carreira, ganho pelo ótimo Noivo Neurótico, Noiva Nervosa de 1977. Os dois até tiveram um caso antes de trabalhar, mas isso não impediu de fazerem seis obras juntos, como O Dorminhoco, Interiores e Manhattan.

 Número 3: Diane Wiest
Ela não pode ser chamada de símbolo sexual ou propriamente de musa (mesmo porque faz papéis maternais pacas, como em Edward Mãos-de-Tesoura), mas a sempre ótima Wiest fez cinco filmes com Woody Allen como Setembro, o nostálgico e ótimo A Era do Radio, Tiros na Broadway (este em um dos papéis principais), Hannah e Suas Irmãs, entre outros.

 Número 4: Judy Davis
Participando mais dentro de papéis coadjuvantes, Judy Davis apareceu em quatro produções de Woody Allen nos anos 1990. Foi Vicky em Simplesmente Alice, Sally em Maridos e Esposas, Lucy em Desconstruindo Harry e Robin Simon em Celebridades. Em breve será Gala, o grande amor de Salvador Dali em Dali 3D do diretor Philoppe Mora.

 Número 5: Scarlett Johansson
A louraça deve muito a Kate Winslet, já que a inglesa recusou a trabalhar em Match Point, pois a muito queria ficar mais tempo com os filhos. Johansson abocanhou o papel, caiu nas graças no baixinho e acabou aparecendo em mais duas produções: Scoop – O Grande Furo e no sensacional Vicky Cristina Barcelona (este ainda trazia Penelope Cruz e Rebecca Hall como as diferentes facetas de toda mulher).

 Número 6: Mariel Hemingway
A belíssima e problemática neta do famoso escritor e jornalista Ernest Hemingway foi a garota de 17 anos com quem Allen passa a se relacionar depois do seu divórcio problemático no belo filme Manhattan. Dezoito anos se passariam até ela ter a chance de trabalhar de novo com o diretor, desta vez em Desconstruindo Harry.

 Número 7: Louisse Lasser
Lasser já era uma comediante conhecida lá fora quandoapareceu em duas produções do início de carreira de Woody Allen, quando fazia comédias mais amalucadas: Bananas de 1971 e Tudo o que Você Queria Saner Sobre Sexo e Tinha Medo de Perguntar (se você nunca assistiu esse filme, procure pelo menos a cena do que ocorre no corpo humano quando há a ejaculação. É impagável).

Número 8: Anjelica Huston
A ex-senhora Jack Nicholson também não é o que podemos chamar de padrão de beleza, mas sim de referência na arte de interpretar, já que costuma dar shows nos filmes onde aparece (embora tenha feito uma ou outra porcaria na sua carreira). A filha do grande diretor John Huston e eterna Mortícia Addams apareceu em papéis principais em Crimes e Pecados e na ótima comédia Um Misterioso Assassinato em Manhattan.

 Número 9: Mira Sorvino
Linda, loura e gostosa, Sorvino foi a prostituta ingênua e burra como uma porta, que Allen tenta ajudar no hilariante Poderosa Afrodite. O papel lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante de 1996 e, misteriosamente, a talentosa Mira nunca mais fez nada que preste.

Número 10: todas as outras
Faça sua escolha. O velho Allan Stewart Konigsberg já arregimentou a gracinha e ex-gordinha Christina Ricci, a bela Eva Rachel Wood, a exótica Freida Pinto, a esquisita Chloe Sevigny, a deslumbrante Naomi Watts, a engraçada Debra Messing e a punk Juliette Lewis.

Veronica Lake, a loura fatal

Publicado no site da revista Alfa em junho de 2011
Link


Ontem tive a chance de assistir Constrastes Humanos de 1941, uma comédia do genial Preston Sturges sobre um diretor de cinema milionário (Joel McCrea), especialista em comédias, que quer filmar um grande drama e para isso decide viver como mendigo por um tempo. As coisas não dão muito certo no começo até ele realmente passar por grandes problemas no final. Esse foi o filme que inspirou John Lasseter, o todo poderoso chefão da Pixar (e hoje da Disney Animation) a trabalhar com desenho animado, já que, lá pelas tantas, um bando de prisioneiros, maltrapilhos e famintos, assiste um curta do Mickey e choram de rir.
E o filme tem Veronica Lake. Constance Frances Marie Ockelman, novaiorquina do Brooklin foi um a das maiores ‘femme fatales’ do cinema e teve uma carreira meteórica, indo de mais bem paga dos anos 40 ao ostracismo total nos anos 60. Ela era muito bonita, sexy, com uma voz matadora e conhecida por seu penteado, chamado na época de ‘peekaboo’, que cobria uma parte do rosto e seu olho. Durante a II Guerra, ela foi obrigada a mudar o visual já que as moças foram para as fábricas e cabelos compridos eram uma grande causa de acidentes em maquinários.

Sua estréia aconteceu em Revoada das Águias (ou Voo de Águias, dependendo da fonte), onde roubou o filme. Depois vieram Contrastes Humanos, A Chave de Vidro (sensacional thriller noir, com roteiro de Dashiell Hammet), Casei-Me Com Uma Feiticeira (que inspiraria o seriado A Feiticeira 20 anos depois), A Dália Azul, entre outros.

Ganhando US$ 4.500 por semana e fazendo par com Alan Ladd (que era um centímetro mais baixo que ela e precisava usar saltos), a menina era um grande sucesso nas telonas, mas odiada por trás das câmeras. Geniosa, arrogante, era conhecida como ‘A Cadela’ no estúdio e até mesmo o já citado McCrea recusou-se a ser par dela em um outro filme, alegando que “a vida é muito curta para se trabalhar duas vezes com Veronica Lake”. Soma-se a isso seu alcoolismo e o estrago está feito. Apesar destas características, ela tirou brevê de piloto e voava de NY para Los Angeles constantemente.

Em 1944, Lake estreou A Hora antes do Amanhecer, onde interpretava uma espiã nazista e esse foi o começo do fim de sua carreira. Não só ela atraiu a antipatia do público, como sua performance foi destruída pela crítica, especialmente graças a seu sotaque alemão ruim. Cinco anos depois, quando acabara de filmar O Furacão da Vida, seu contrato não foi renovado e a menina de ouro da Paramount acabou indo para a miséria, a ponto de, em 1959, um repórter a encontrar como barwoman de um hotel de mulheres em Manhattan.

Desse encontro, surgiram oportunidades de entrevistas e participação em alguns filmes menores, mas sua carreira nunca mais foi a mesma. Aos poucos, ela foi tendo mais e mais problemas mentais, ficou paranóica no fim de sua vida e veio a falecer, aos 50 anos de idade em 1973, ignorada pelas filhas e apoiada pelo filho.
Lake se tornou lendária como pinup dos anos áureos de Hollywood, mas nunca se considerou grande atriz. 

Disse certa vez que não era uma ‘sex symbol’ e sim uma ‘sex zombie’ e que se pegassem todo o talento dela e enfiasse no olho esquerdo de alguém, essa pessoa nem ia ter problemas de visão. E em tempo, se você assistir o ótimo Los Angeles – Cidade Proibida, verá que Kim Bassinger está emulando o estilo de Lake. E isso, lhe deu um Oscar!

O nome é Bond, Bond Girl

Publicado no site da revista Alfa em junho de 2011
Link


 Saiu hoje que a atriz Naomie Harris de Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (ela era aquela bruxa de dentes pretos que se revela algo mais) está em conversações para participar da próxima aventura de James Bond. A morena de 35 anos assume então um papel que já foi disputado por muitas e que ainda tem um certo glamour : ser a Bond Girl (digo isso porque cantar a música-tema já foi sinônimo de sucesso e hoje ninguém lembra quem o fez nas últimas peripécias do famoso 007).
As Bond Girls mudaram muito desde que o agente secreto surgiu nas telonas em 1962. Aliás, a Bond Girl no primeiro filme era a vitaminada Ursula Andress, inesquecível em um biquini branco com uma faca a tiracolo. No começo, elas eram bem tolinhas, dependentes de Jimmy e caiam que nem umas tontas nos xavecos dele. Eis que em Goldeneye, a estrutura “bondiana” sofreu uma grande revisão com o aparecimento de uma M (Judi Dench), uma vilã gostosíssima e bem cruel (Famke Janssenn) e uma Bond Girl meio sem graça, mas enfezada (Izabella Scorupco).
Como sou fã dos filmes de James Bond, tomo a liberdade de fazer uma lista muito pessoal das 10 melhores Bond Girls de todos os tempos. Fique totalmente à vontade para contestar.

 1. Daniela Bianchi como Tatiana Romanova em Moscou contra 007:
Bonita, loura, jeitinho de menina, a acanhada Tatiana tem que engolir a vergonha para se atirar na cama de Bond em nome da União Soviética (pelo menos é assim que ela pensava). Bianchi, uma atriz italiana, tinha um sotaque macarrônico tão carregado que não dava para passar por russa e acabou sendo dublada. O mesmo ocorreu com Andress em Dr. No.

 2. Honor Blackman como Pussy Galore em Goldfinger:
Essa é a grande deusa dos filmes clássicos de 007, apesar de muita gente insistir que Galore é lésbica (não é, ok?). A capanga de Goldfinger era durona, lutava karatê, chefiava um grupo de mulheres aviadoras, mas acaba caindo na ladainha do agente. Num filme em que a belíssima Shirley Eaton acaba pintada de dourado, Blackman domina.

 3. Jane Seymour como Solitaire em Viva e Deixe Morrer:
No primeiro filme de Roger Moore como 007, uma aventura juntando vodu com tráfico de drogas, perseguições fantásticas nos Everglades e trilha de Paul Maccartney com George Martin, a graciosa Seymour faz uma vidente que, se perdesse a virgindade, ficaria sem seu poder de enxergar o futuro. Bom, depois de conhecer Bond, a menina teve de procurar outro emprego.

 4. Barbara Bach como Anya Amasova em O Espião que me Amava:
A senhora Ringo Starr era linda de dar dó, com um corpinho fantástico (chegou a posar para a Playboy), mas era expressiva como uma tábua de passar roupa. Só que não faz mal. Sua agente russa que quer matar Bond para vingar a morte do marido e acaba na cama com ele, é inesquecível.

 5. Carole Bouquet como Melina Havelock em Somente para seus Olhos:
Eu arriscaria dizer que é a mais bonita Bond Girl de todas as 22 aventuras oficiais. Bouquet, uma francesa que aparecera em Esse Obscuro Objeto de Desejo de Buñel, também interpreta uma garota sedenta de vingança pela morte dos pais. Lá pelas tantas ela até salva Bond do perigo.

 6. Fiona Fullerton como Pola Ivanova em Na Mira dos Assassinos:
O filme era ruim de doer, Tanya Roberts era ruim de doer (anos depois ela faria That´s 70´s Show e em um episódio aparece com várias ex-Bond Girls), o vilão era ruim de doer, mas lá pelas tantas Bond é seduzido por uma russa na banheira e nosso queixo cai. Detalhe, a loura Fiona é nigeriana de nascimento. Exótico, né?

 7. Famke Janssen como Xenia Onatopp em Goldeneye:
A já citada Janssen teve uma das melhores personagens de toda a mitologia de Bond. Para começar pelo nome (uma brincadeira com “on top”, ou – se você não manja da língua do bardo – ela fica por cima). Depois porque sua psicótica Xenia mata os homens durante a transa, esmagando as costelas do infeliz. O cara morre sorrindo, mas parafraseando 007, não é sexo seguro.

 8. Denise Richards como Christmas Jones em O Mundo não é o Bastante:
A maior forçação de barra dos filmes de Bond foi Sean Connery se disfarçar de japonês em Só se Vive Duas Vezes. A segunda é a deliciosa Richards (ex-Sra Charlie Sheen) como cientista nuclear. E a melhor frase do filme: depois da transa, Bond solta: “I thought Christmas only came once a year” (se você não manja da língua do bardo, problema seu. É intraduzível).

 9. Halle Berry como Jinx em Um Novo Dia para Morrer:
Halle Berry repete a famosa cena de Ursula Andress em Dr. No, desta vez com um biquini laranja e entra para o rol de cenas mais marcantes, sexys e provocativas da história do cinema. A gente não pode deixar de destacar também a bela e gélida Rosamunde Pilke como Miranda Frost. Ou seja, o filme agradava a fãs de morenas e de louras.
 10. Olga Kurylenko como Camille em Quantum of Solace:
Só nos filmes de Bond, uma ucraniana pode fazer papel de boliviana. E só nos filmes de Bond, uma mulher maravilhosa, com um corpo escultural, olhos de derreter estátua e que faz questão de aparecer nua em todos os filmes que faz, passa 106 minutos vestida.

Afinal, quem foi Marilyn Monroe?

Publicado no site da revista Alfa em junho de 2011
Link

Se estivesse viva, Marilyn Monroe completaria 85 anos de idade hoje, 01 de junho, e nos faz pensar que tipo de senhora ela se tornaria. Será que conseguiria a felicidade depois dos affairs com os Kennedy? Será que imitaria outras duas grandes musas, Greta Garbo e Marlene Dietrich e se fecharia ao mundo, nunca se deixando fotografar? Ou faria como Betty White, a comediante que desde 1953 encanta os norteamericanos e hoje, aos 89 anos, continua atuando e virou ícone da nova geração pela quantidade monumental de palavrões que solta nas piadas? Nós nunca saberemos. Nem conseguiremos definir quem foi o fenômeno Marilyn Monroe, mesmo porque ela teve muitas facetas e muitos nomes. Nasceu Norma Jean Mortenson, foi criada como Norma Jean Baker em muitos orfanatos, posou como Mona Baker e em 1947 fez seu debut no cinema em dois filmes, Sua Alteza, Secretária e Idade Perigosa, depois de uma bem sucedida carreira como modelo e se tornou Marilyn Monroe.


Seu primeiro grande sucesso dramático no cinema foi Niagara ou Torrentes de Paixões, como se chamou aqui e abriu caminho para ela crescer tanto no drama, como na comédia e encantar as platéias com Homens Preferem as Louras,  o sensacional Quanto Mais Quente Melhor, o melhor filme sobre as agruras do homem casado quando fica sozinho: O Pecado Mora ao Lado, Os Desajustados, entre muitos outros. Só que a Marilyn das telas não era a real. Foi casada três vezes, a primeira com um amor de juventude, James Dougherty; depois com o jogador de baseball Joe DiMaggio (que até o fim da vida dele, colocou flores no túmulo dela) e, algo que ninguém pode explicar, com o escritor e intelectual Arthur Miller. E não foi feliz. Cantou e seduziu o presidente e também não foi feliz. Morreu misteriosamente em 1962, bêbada e viciada em barbitúricos e virou uma lenda em si. Tanto que aquela moça ruiva, que dizia querer conquistar o mundo, “cheinha” para os padrões atuais, que usava óculos e que, segundo dizem, era temperamental e nada confiável foi escolhida como a mulher mais sexy do século XX pela revista People. Mas quem foi ela? O melhor é deixar as pessoas que a conheceram de perto definir a deusa:

“Não é difícil entender o fascínio da América com Marilyn Monroe. Ela foi a primeira garota a vestir blusas transparentes. Eu a conheci em 49 na Universal. Eu já estava sob contrato. Ela estava à procura de um contrato. Eu devia ter 23 ou 24. Nos encontramos no estúdio e começamos a sair. Ficamos juntos por seis ou sete meses. Firmes.. Na época, ninguém sabia o quão grande ela se tornaria. Eu nunca senti que seu corpo era assim tão bom. Eu achava que era um pouco irregular em alguns lugares. Ela era uma ruiva na época, e no momento ela não parecia ser diferente de todas as outras mulheres jovens gostosas que tentavam entrar em filmes. Mas então ela desenvolveu aquela mulher estúpida -- Não, eu não quero chamá-la assim -- era mais como uma menininha ingênua. No cinema, ela começou a falar devagar, como se ela estivesse pensando nas palavras que ia dizer, isso é que se tornou sua magia. Isso as blusas transparentes se encaixaram perfeitamente.”
Tony Curtis, que trabalharia com ela em Quanto Mais Quente, Melhor

“Eu tive um calafrio. Esta menina tinha algo que eu não tinha visto desde filmes mudos. Ela tinha uma beleza fantástica, como Gloria Swanson, quando uma estrela de cinema tinha que  ter um olhar lindo, e ela tinha uma sexualidade como Jean Harlow.”
Leon Shamroy, diretor de fotografia em 12o filmes, sobre o primeiro teste de Marilyn em 1946

“As inseguranças Marilyn praticamente saíam para fora dela. Se ela tivesse um encontro às oito horas, eu tinha que estar lá ao meio-dia para começar a trabalhá-la. Se eu atrasasse dois minutos, ela ficava furiosa, mas isso não a impedia de fazer as outras pessoas esperarem por horas ou dias.”
George Masters, maquiador

“Ela não era o ídolo do cinema que a gente estava acostumado. Havia algo de democrático sobre ela. Ela era do tipo que iria se juntar a você e lavar os pratos do jantar, mesmo que você não pedisse a ela.”
Carl Sandburg, escritor e poeta

“Marilyn estava a um passo do esquecimento quando a dirigi em O Segredo das Jóias. Lembro que ela me impressionou mais fora do que dentro das telas … havia algo de tocante e atraentes sobre ela.”
John Huston, o grande mestre do cinema e diretor de os Desajustados e O Segredo das Jóias

“Ela se viu afundando em Hollywood em 1955 e disse ao seu estúdio: ‘Eu não estou aqui apenas balançando meu traseiro.’ Marilyn não é uma coisa qualquer, ela é multidimensional. Como atriz, ela tem muitas imitadoras, mas só Marilyn sobrevive “
Eli Wallach, o grande ator que trabalhou com ela em Os Desajustados

Eu vi que o que ela parecia não era o que ela realmente era e o que estava acontecendo dentro dela, não era o que estava acontecendo lá fora, e isso sempre significa que pode haver algo com que se trabalhar. No caso de Marilyn, as reações foram fenomenais . Ela pode envolver-se emocionalmente, o que é necessário para uma boa cena. Seu alcance é infinito. “
Lee Strasberg, diretor e criador do Actors Studio e professor de interpretação de Marilyn (que deixou sua herança a ele)

“Seu trabalho a assustava e apesar de ter inquestionável talento, eu acho que ela tinha uma resistência subconsciente para o exercício de ser atriz, mas ela estava intrigada com sua mística e feliz como uma criança quando estava para ser fotografada. Gerenciou todos os negócios do estrelato com incrível, inteligente e aparente facilidade”.
Sir Laurence Olivier, que trabalhou com Marilyn em O Príncipe Encantado e -- dizem -- se envolveu com ela nas filmagens

Você se lembra de quando Marilyn Monroe morreu? Todo mundo parou de trabalhar, e você podia ver o dia todo,  as mesmas expressões em seus rostos, o mesmo pensamento: “Como pode uma menina com sucesso, fama, juventude, dinheiro, beleza. . . Como ela poderia se matar? Ninguém conseguia entender, porque essas são as coisas que todo mundo quer, e eles não podem acreditar que a vida não era importante para Marilyn Monroe, ou que sua vida estava em outro lugar.”
Marlon Brando, que dispensa apresentações

“Ela vale todo o problema que causar”
Joshua Logan, que foi seu par romântico em Nunca Fui Santa para Laurence Olivier

Happy B-day, Clint (you dirty rotten old man)

Publicado no site da revista Alfa em maio de 2011
Link

Hoje é um dia sagrado para homens de todo mundo. Ou deveria ser. Um dia para se sentar sozinho, lata de cerveja à mão, charuto na boca e, em um momento de reflexão profunda, pensar “quanto falta para eu ser Clint Eastwood?”. O ator, produtor, diretor, compositor e político, chega hoje aos 81 anos de idade, muito bem sucedido, deixando uma marca indelével na história do cinema e sendo ainda um dos caras que mais desenvolveu personagens que são referência de masculinidade. Nada mal para um ator que começou como extra que não era nem mencionado nos créditos, foi para a TV, assumiu trabalhar com um italiano que ninguém conhecia e ganhou o mundo.


Antes da fama, Eastwood fez de tudo na vida. No colégio era ginasta, jogava basquete, futebol americano e competia no time de natação. Depois foi salva-vidas, caddy de golfe, caixa de mercearia, professor de natação e soldado. Aliás, na Guerra da Coréia, o avião em que viajava ficou sem combustível e caiu no oceano, perto da costa norte da Califórnia. Ele e o piloto escaparam, nadando cinco kilômetros até acharem terra.

Ao se mudar para Los Angeles com mala, cuia e namorada a tiracolo, Clint trabalhou em uma série de filmes inexpressivos até surgir o seriado Rawhide em 1959, onde fazia o moleque impetuoso Rowdy Yates, que dava uma dor de cabeça danada ao líder do vaqueiros. A série durou até 1965, mas um ano antes veio a grande oportunidade de Clint, viver o “homem sem nome” em um filme do então desconhecido Sergio Leone. Era Por um Punhado de Dólares, em um papel que muita gente recusara, incluindo aí, Charles Bronson (que trabalharia com Leone anos depois em Era uma Vez no Oeste), George Reeves (O Superman dos anos 50), Henry Fonda (que também estaria em Era Uma Vez) e James Coburn (que faria Quando Explode a Vingança).  Eastwood viu a chance de se livrar de Rowdy e a oportunidade de trabalhar por 11 meses na Europa, além de ter um considerável aumento de salário e ganhar uma Mercedes no fim dos trabalhos.

O filme foi um sucesso estrondoso, fez com que ele atuasse em mais duas produções de Leone e voltasse aos EUA não só como um grande astro, mas também como o sinônimo de durão e cool nas telonas. Com o dinheiro ganho na Europa fundou a Malpaso Productions e logo em seu primeiro filme, A Marca da Forca, conseguiu ser a maior bilheteria da história da United Artists, excetuando aí os filmes de James Bond.

Do final da década de 1960 até o começo dos anos 70, Eastwood emplacou vários sucessos no cinema como Meu Nome é Coogan, Os Abutres tem Fome, Os Guerreiros Pilantras, até surgir outro personagem que mudaria sua vida: o policial mais durão do mundo, Harry Callahan ou ‘Dirty’ Harry em Perseguidor Implacável de 1971. Ele era o tira que não segue regra alguma e que tortura psicologicamente seus perseguidos com sua Magnum 44 e o famoso discurso do “você se sente sortudo hoje, punk?”. O filme custou cerca de quatro milhões de dólares  e rendeu 28 milhões só nos Estados Unidos. Dois anos depois, Harry volta em Magnum 44, desta vez enfrentando um esquadrão da morte na polícia de San Francisco. Em 1976, o policial destrói um grupo terrorista formado por ex-combatentes do Vietnã em Sem Medo da Morte, já em 1983, Harry está suspenso na força, mas investiga um caso de vingança e em 1988 o velho ‘Dirty’ se torna o alvo de um serial killer especializado em celebridades em Dirty Harry na Lista Negra.
Enquanto atirava em todo mundo, Clint fez, nesse meio tempo, produções boas e algumas bem ruinzinhas. 

Do primeiro escalão estão O Estranho sem Nome (a versão americana do personagem italiano), Josey Wales, Bronco Billy e O Cavaleiro Solitário (feito em uma época que o faroeste já tinha tido seu fim decretado e que faturou mais de 40 milhões de dólares nos EUA). Já para as produções mais furadas estão aquelas típicas da era Reagan como Firefox (onde sequestra um avião experimental soviético) e O Destemido Senhor da Guerra e coisas como Cidade Ardente, a lado de Burt Reynolds.

A década de 1990 mostrou mais uma faceta de Eastwood, a de diretor bem sucedido. Fez Coração de Caçador, baseado na história real de John Huston e sua filmagem de Uma Aventura na África; ganhou muita notoriedade com Os Imperdoáveis, sua releitura dos faroestes, mostrando que na vida real, balas e matança não tem graça; realizou o filme favorito de 90% das mulheres, As Pontes de Madison (e aí todos viram que machão também pode ser sensível) e conquistou a academia com Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro, a dobradinha A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jiwa, Invictus etc.
Sua última aparição nas telas foi , de uma certa maneira, mostrando como seria a velhice de seus personagens mais famosos e ainda fazendo uma revisão de vida em cima deles, através do Walt Kowalski do ótimo Gran Torino. O homem era preconceituoso, mal-humorado, silencioso, mas com um senso de honra e justiça sem igual.

Eastwod disse certa vez que se você quer garantia em cima de algo, que compre então uma torradeira. Mais do que um cineasta, ele é a prova de que com esforço e senso de oportunidade, auto-confiança e respeito próprio, segurança e senso de humor, você consegue chegar longe e fugir dos estereótipos.
Mais do que a qualquer um, nós realmente te desejamos hoje, muitos anos de vida!

10 motivos pelos quais John Wayne é uma lenda masculina

Publicado no site da revista Alfa em maio de 2011
Link

Ontem comemorou-se 104 anos do nascimento do grande John Wayne, o ‘Duke’, um dos maiores mitos do cinema e seguramente um dos grandes símbolos masculinos do século XX . Era um ator de um papel só, mas que preenchia a tela com seu carisma e força e se tornou um homem muito maior que seus 1,93m de altura. Mesmo com todas as polêmicas que cercaram sua vida (em especial uma entrevista à Playboy onde afirmou que os antepassados fizeram bem em tirar as terras dos índios e que os negros poderiam ter o mesmo direito dos brancos, desde que soubessem se comportar), ele ainda é tão querido pelos norteamericanos, que em 2011 ficou em terceiro lugar na pesquisa realizada anualmente pelo Harris Institute, abordando os artistas favoritas da América. Ele é o único falecido da lista a aparecer desde 1994. Aqui vão mais 10 fatos sobre ele:


1) O nome real dele era Marion e isso não o impediu de se tornar um dos maiores machões do cinema.

2) Ele foi recusado pela Academia Naval dos EUA quando jovem e anos depois se tornou um dos grandes artistas de filmes de guerra, inspirando legiões de jovens para o alistamento e não só apoiou, como participou do esforço de guerra no Vietnã.

3) Por falar em guerra, em 1975, o Imperador Hiroito do Japão visitou os Estados Unidos, seu antigo inimigo na II Guerra, e fez questão de conhecer John Wayne.

4) De todos os  filmes que participou, foi ator principal em 142 deles. Um recorde nunca batido por nenhum outro artista.

5) Seu maior “inimigo” em relação às suas posições políticas foi o radical esquerdista Abbie Hoffman que, apesar das diferenças, o admirava como ator e símbolo americano, chegando a dizer: “Eu gosto do estilo de Wayne na sua totalidade. Quanto à sua visão política, bem, suponho que mesmo os homens das cavernas sentiam um pouco de admiração pelos dinossauros que estavam tentando devorá-los”.

6) Ele gravou um disco falando como amava seu país (“America: Why I Love Her”) e vendeu tanto no lançamento que acabou concorrendo a um Grammy. Depois dos ataques de 11 de setembro, ele foi relançado em CD e acabou se tornando um best seller de novo.

7) Senso de humor único : em 1974, no meio da Guerra do Vietnã, a revista National Lampoon resolveu tirar uma do Duke e lhe convidou para uma entrega de prêmios, onde ele receberia a estátueta das “Bolas de Metal”, pelo seu machismo e inacreditável capacidade de perfurar pessoas. Wayne chegou à cerimônia em um jipe blindado pilotado pelos Black Knights do 5o regimento do exército e subiu ao palco improvisando piadas sobre destreza e agilidade. Conquistou toda a platéia e saiu como herói.

8 ) Mel Brooks o encontrou quando começara a filmar Banzé no Oeste e lhe convidou a trabalhar no filme, uma esculhambação em cima de faroestes. Wayne leu o script e respondeu através de um bilhete: “não posso trabalhar nesse filme, mas saiba que serei a primeira pessoa na fila no dia de seu lançamento”.

9) Dennis Hopper andava armado e cheio de drogas, ameaçava todo mundo nos estúdios. Um dia, John Wayne entrou em um dos escritórios, arma em punho, procurando “aquele comunistazinho de merda do Hopper”. Dennis se escondeu debaixo de uma mesa e não saiu até a situação ficar segura. Ninguém enfrenta John Wayne, nem mesmo com drogas na cabeça.

10) Capacidade única de responder perguntas indiscretas: “eu como tanto quanto sempre comi, bebo mais do que devia e minha vida sexual não é da sua maldita conta” (para a famosa entrevista da Playboy em 1971).

O retrô cult da Pixar

Publicado no site da revista Alfa em maio de 2011
Link

Steve Jobs é um visionário. Ele revolucionou nossa interação com a tecnologia e criou uma marca arrebatadora que é praticamente uma seita, já que os consumidores se portam como fiéis. Como um homem que enxerga o futuro, ele vislumbrou que a computação gráfica iria dominar o mercado de animações e comprou a Pixar de George Lucas em 1986. Steve Jobs é um cara extremamente centralizador. Na Apple, ele supervisiona tudo, da engenharia ao marketing. Só que não na Pixar. Lá, ele confia em um bando de nerds que se tornaram o grande trunfo e a grande qualidade do estúdio.


Você até pode gostar dos desenhos da Dreamworks ou da Fox Animation, mas nada bate o apuro visual, os personagens bem desenvolvidos e o roteiro marcante da Pixar. E tudo isso reside no fato de que John Lasseter e sua turma são realmente geeks de carteirinha, com uma bagagem fora do comum de cultura pop. Quer ver?

Em Toy Story 2, Buzz Lightyear encontra finalmente seu arquiinimigo Zurg, que solta uma das mais famosas frases da saga de Star Wars e do cinema: “I am your father”, para delírio dos marmanjos. No mesmo filme temos o pinguin Wheezy, que nada mais é do que uma homenagem ao Linux. Em Vida de Inseto temos P.T. Flea, o chefe da trupe de insetos de circo, uma referência a P.T. Barnum, um dos maiores donos de circo nos EUA. E que tal o fato de que Edna Mode de Os Incríveis ser baseada na mítica Edith Head, a estilista de Hollywood que vestiu Audrey em A Princesa & e Plebeu, Novak em Um Corpo de Cai, Stanwick em Pacto de Sangue e assinou o figurino de outras 426 produções? Não se convenceu? Em Monstros S.A., Mike Wazowski leva sua namorada Celia a um dos mais disputados restaurantes japoneses de Monstrópolis, o Harryhausen, só que Ray Harryhausen foi o lendário mestre dos efeitos especiais nas décadas de 50 e 60 que usava do stop motion para fazer justamente os monstros de clássicos como Jasão e os Argonautas (seu último trabalho nessa área foi a primeira versão de Fúria de Titãs). Até mesmo na escolha de dubladores há um cuidado. O Hudson Hornet do primeiro Carros, um automóvel de corridas aposentado, foi dublado por Paul Newman, que também teve uma carreira nas pistas (e declarou que o carrinho foi um dos seus dois melhores papéis).

Ou seja, existem muitas referências nos desenhos da Pixar e esse purismo acaba afetando até mesmo outras áreas e outros colaboradores. Micheal Giacchino, por exemplo, quando compôs a trilha de Os Incríveis, baseou-se no trabalho que John Barry fez nos anos 60 para os filmes de James Bond e, não contente com isso, resolveu juntar a orquestra toda em um estúdio de gravação e gravar as músicas em aparelhos analógicos para se conseguir o mesmo tipo de som.  Preciosismo? Não, esse é o modo Pixar de trabalhar. E quando você ouve a trilha (e ela vale muita a pena) sente a diferença.

Não tenho como saber se os animadores estão envolvidos no marketing do próximo filme da Pixar, Carros 2, mas a aventura que vai fazer Lightning McQueen e seu amigo Tow Mater viajarem pelo mundo e ainda se envolverem com um agente secreto inglês, Finn McMissille, uma referência ao Aston Martin DB5 de Bond e dublado por Michael Caine (por que não Connery? Será que ele não topou?)  está com uma campanha fantástica com cartazes imitando o estilo dos anos 1950 e 1960. Alguns deles lembram posteres vintage de turismo e outros, antigos cartazes de filmes de 007 (como o que ilustra esse post). A estética é impressionante, a qualidade da arte é incrível e você pode conferir em nossa galeria especial aqui.
O desenho estréia em 24 de junho e, pelo que vi em outra campanha de Carros 2, teremos um automóvel de corrida brasileiro, a “carrinha” Carla Veloso (veja aqui). É esperar para ver. E torcer!

Muito antes de ‘Velozes e Furiosos’

Publicado no site da revista Alfa em maio de 2011
Link

A série ‘Velozes e Furiosos”, agora em quinta  edição, consegue encantar o pessoal que curte altas doses de testosterona combinadas com nitro e carros potentes e ainda coloca rachas ilegais, contrabando e FBI na jogada, ou seja, com a moral: você tem que ser um criminoso para gostar de velocidade. Acontece que essa é uma fórmula antiga, que remonta aos anos 70 e 80 e que fez muito sucesso nas telonas.

Em 1971, tivemos o considerado “maior clássico de perseguição nas estradas”, Corrida Contra o Destino (Vanshing Point no original), onde o ator Barry Newman faz Kowalski, um ex-fuzileiro naval, ex-policial, ex-herói no Vietna, ou seja, um ex alguma coisa, que é contratado para levar um Dodge Chalenger 1970 de Denver para San Francisco (cerca de 2041 kilômetros de distância) e é desafiado a fazer isso em 15 horas (ou seja, tem quen manter, no mínimo 140 km/h para vencer). É óbvio que toda a polícia vai atrás dele e um DJ cego, que tem acesso às transmissões dos tiras, fica dando dicas ao neurótico corredor pela rádio. O filme é tão marcante para a cultura pop que inspirou bandas como Primal Scream, Guns N´ Roses em suas músicas, Audioslave no videoclip de ‘Show me how to live” e, obviamente, Quentin Tarantino em Á Prova de Morte. Foi refilmado com Viggo Mortensen e lançado em DVD e Blu-Ray no Brasil pela Fox.

 Cinco anos depois eis que surge The Gumball Rally, onde o recém-falecido ator Michael Sarrazin faz um empresário rico e entediado que promove uma corrida que vai de Nova York à Los Angeles em menos tempo possível e infringindo todas as leis de trânsito. É um filme de época, mas tem coisas bem sacadas. Cada competidor está em um carro, então você tem Micheal e seu parceiro em um AC Shleby Cobra 1966, Raul Julia e co-piloto em uma Ferrari 365 GTS/4 1972, dois policiais corredores em um Dodge Polara ’71, Gary Busey em um Chevrolet Camaro ’72, duas garotas em uma Porshe 911 Targa, dois velhos ingleses em uma Mercedes 300SL Roadster, um cara e sua namorada em um Rolls Royce Silver Shadow 1969 e mais uma Corvete, um Chevy Van e um Jaguar. Este último nunca sai da garagem, porque os produtores haviam pedido à Jaguar que lhes fornecessem um carro para o filme. Como o fabricante se recusou, eles acabaram fazendo com que o automóvel “quebrasse” e nunca participasse da corrida. Pelo filme ter sido dirigido e produzido por Charles Bail, um ex-dublê, prepare-se para muitos acidentes de carro e algumas cenas impressionantes como a corrida começando em NY (filmado em um domingo de manhã com as ruas fechadas) e até mesmo nos canais de Los Angeles.

 Em 1977, surge o primeiro Agarre-me se Puderes com Burt Reynolds, Sally Fields e Jackey Gleason. Mais uma vez uma aposta que exige o não cumprimento das leis de trânsito conduz a trama do filme, sem os resultados catastróficos de Vanishing Point. Reynolds é desafiado a levar cerveja de Texarcana no Texas para a Georgia, cerca de 2900 kilômetros em 28 horas. Para conseguir  isso, ele chama seu amigo Snowman para dirigir o caminhão, enquanto distrai os ‘smokeys’, gíria para polícia rodoviária nos EUA com Pontiac Firebird Trans Am 1977. É outro filme cheio de acidentes e cenas fantásticas na estrada e ainda conta com Gleason, um famoso e antigo comediante da TV norteamericana, que se divertiu no papel do ferrenho policial Buford T. Justice, improvisando falas e fazendo caretas inesquecíveis. O filme consagrou a música ‘East, Bound and Down’ de Jerry Reed, fez com que as vendas do Trans Am dobrassem em dois anos e foi um sucesso tão grande (só perdeu em bilheteria em 1977 para Star Wars), que gerou duas continuações (a terceira um caça-níqueis em Burt só aparece em uma cena). Foi lançado em DVD no Brasil pela Universal e, segundo sua filha, era um dos filmes preferidos de Alfred Hitchcock (ou como ele chamava, um prazer com culpa).

 Assim como fez Paul Newman nos anos 1960, Reynolds ficou tão ligado às corridas que em 1981 estrelou outro classicão das estradas, Quem Não Corre, Voa, acompanhado de um elenco estelar, Roger Moore (como um milionário que se acha parecido com Roger Moore e finge ser 007), Farah Fawcett no auge da beleza,o comediante  Don De Luise, os veteranos do Rat Pack Sammy Davis Jr e Dean Martin e Jackie Chan em seu segundo filme americano. Baseado em uma corrida ilegal que realmente aconteceu nos anos 70 e que atravessava todo os EUA (a Cannonball Baker Sea-To-Shining-Sea Memorial Trophy Dash), o filme tinha uma ambulância Dodge Sportsman modificada, uma Ferrari 308 GTS (que na verdade era do diretor do filme), uma Lamborghini Countach, um Subaru GL computadorizado, um Chevrolet Chevelle Laguna, um Aston martin DB5 e um Rolls Royce Silver Shadow disputando o primeiro prêmio. Rendeu mais de 70 milhões só lá no país de Obama e acabou gerando uma continuação mais sem graça em 1984 com boa parte do elenco e ainda Frank Sinatra em sua última aparição nas telonas (depois fez uma ponta na série Magnum em 1987, mas para a TV). Você ainda acha esse filme em DVD no Brasil.

O primeiro filme ‘da hora’

Publicado no site da revista Alfa em maio de 2011
Link

Vi essa semana o trailer do novo filme de Colin Farrell (agora em versão sem drogas -- e mais cheinho), Fright Night. No elenco estão Anton Yelchin (o novo Chekov de Star Trek) e aquela-que-só-faz-papel-de-mãe-desesperada-depois-que-emagreceu Toni Collete. Pois bem, esse filme é refilmagem de um pequeno clássico descartável dos anos 1980, que fez história no Brasil, A Hora do Espanto.


Em 1981, um novato Sam Raimi lançou seu ótimo Evil Dead -- A Morte do Demônio,um filme trash, produção totalmente B que unia terror e humor. Era o chamado, em português, terrir. No mesmo ano veio Um Lobisomem Americano em Londres de John Dante com a mesma fórmula e efeitos especiais incríveis para a época. Em 1985, estreou A Hora do Espanto nos cinemas, contando a história de um teen, Charley Brewster que descobre que seu novo vizinho, bonitão e sedutor, é um vampiro. Ninguém acredita no cara, especialmente sua namorada e seu melhor amigo esquisito (que acabam vítimas do sanguessuga). Para conseguir salvar a garota, Brewster busca a ajuda de um apresentador de TV que tem um programa de filmes de terror trash, Peter Vincent (homenagem a dois grandes nomes do cinema de horror, Peter Cushing e Vincent Price) e os dois enfrentam o vampirão.

De famoso no elenco, só duas pessoas decadentes: o sempre careteiro, ex-menino prodígio de Hollywood, e ex-Dr. Cornelius de Planeta dos Macacos, Roddy McDowall no papel de Peter Vincent e o primeiro marido de Susan Sarandon, cujo grande papel na vida foi o de amante de Al Pacino no ótimo Um Dia de Cão, Chris Sarandon como Jerry Dandridge (isso é nome de vampiro?). William Ragsdale (que nunca mais fez nada que preste) era Brewster, Stephen Geoffreys (quem? sim, ele só fez porcaria) era seu melhor amigo, Evil Eddie e Amanda Bearse, na época uma gatinha, era a namoradinha de Charley. Ela depois ficou bem famosa como Marcy D´Arcy, a vizinha dos Bundy na série Married with Children e depois se tornou ativista gay nos EUA.

O filme era divertidíssimo, dosava bem os efeitos de terror com boas piadas e teve uma grande identificação com o pessoal jovem, tanto nos EUA (onde faturou mais de 24 milhões de dólares) como no Brasil, já que o vampiro era um tremendo sedutor que pegava as suas vítimas em boates, se vestia na moda e dava um baile nos heróis que eram da nossa idade. O sucesso foi tanto que gerou uma continuação bem ruim (desta vez Brewster enfrenta a irmã de Dandridge) e também uma tremenda babaquice no Brasil.

Como aqui a bilheteria foi muito boa, os luminares das distribuidoras em terras tupiniquins decidiram que se colocassem “A Hora” no nome do filme, o pessoal iria relacionar  com Fright Night e o sucesso estaria garantido. Assim, Nightmare on Elm Street, aquele com Johnny Depp e com o infame Freddie Kruger se chamou…. A Hora do Pesadelo.Silver Bullet, outro bom filme de lobisomem baseado em Stephen King virou….. A Hora do Lobisomem. O rei do terror teve interferência até na literatura, já que um de seus livros, ‘Salem´s Lot’ que trata de vampiros, mas nunca usa a palavra vampiro (cita alho, crucifixo etc e você faz a relação) foi lançado como…..A Hora do Vampiro. O campeão de forçada de barra ficou com o filme Dead Zone, também inspirado em King. Aqui, eu juro, teve o surreal e estúpido nome de ….A Hora da Zona Morta.

Quando o bom moço ficou mau

Publicado no site da revista Alfa em maio de 2011
Link

Hoje, 16 de maio, comemora-se os 106 anos do nascimento de Henry Fonda, que junto com James Stewart, foi um dos mais famosos bons moços do cinema. Fonda sempre foi o herói, o menino desprotegido, o idealista, o cara em que todos confiam. Foi assim em Vinhas da Ira (de 1940), um belíssimo libelo contra a pobreza escrito por John Steinbeck; em Paixão dos  Fortes (1943), onde viveu Wyatt Earp, Mister Roberts (ao lado de Jimmy Cagney), O Mais Longo dos Dias (1962) e chegou a retratar até mesmo o mais louvado e honesto presidente dos Estados Unidos, Abe Lincoln.

Tudo isso até surgir Sérgio Leone em sua vida. O diretor italiano, que já havia brilhado em Por um Punhado de Dólares (1964), Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966), fez o impossível. Transformou Fonda em um vilão implacável e cruel em Era uma Vez no Oeste de 1968.

Este foi o primeiro filme da trilogia dos Estados Unidos, dirigido por Leone (os outros foram Quando Explode a Vingança e Era uma vez na America) e tratava da ganância dos magnatas das ferrovias que não hesitavam em contratar matadores para eliminar famílias inteiras, cujas fazendas ficavam no caminho dos trens (era mais barato fazer isso do que comprar a propriedade ou desviar o caminho). E foi justamente para Henry Fonda que sobrou o terrível Frank (sem sobrenome mesmo). Logo na primeira cena em que ele aparece, onde um pai e seus filhos são mortos por seu bando, um dos capangas nota que sobrou uma criança viva e pergunta: “Frank, o que fazemos agora?”. E Frank responde: “Agora que você disse meu nome…” e mata o pimpolho. Assim mesmo. A sangue frio.

Ele também não respeitava muito seu chefe, o milionário Morton, que, apesar de aleijado, apanha do seu contratado, a torto e à direito (segundo Frank não dava para se fiar em um cara que usa cinto e suspensório e assim não confia nem nas próprias calças). No caminho da dupla surge Charles Bronson andando o tempo todo com uma gaita e sedento de vingança (você só descobre porquê no final do filme), Jason Robards como o divertido bandido procurado Cheyenne e a deslumbrante e vitaminada Claudia Cardinalle.

O ator não queria o papel. Leone voou aos Estados Unidos e conseguiu convencê-lo ao dizer que a platéia veria um homem matar uma criança e quando a câmera mostrasse seu rosto, seria Henry Fonda e todos ficariam chocados. Ainda assim, ele foi procurar seu amigo Eli Wallach que trabalhara em Três Homens em Conflito, que lhe disse “aceite porque você vai ter momentos ótimos”. E assim aconteceu.

Quando Fonda chegou à Itália para filmar, apareceu com um grande bigode e lentes castanho escuro para dar mais cara de vilão a Frank. Leone ficou louco da vida  emandou-lhe raspar imediatamente. Frank devia ter a cara de anjo de Fonda, com olhos azuis e tudo mais. No fim, o ator gostou tanto da experiência que acabou recomendando a James Coburn que aceitasse o papel principal em Quando Explode a Vingança.

O filme foge um pouco do estilo da trilogia do Homem sem Nome. Era mais lento, mais contemplativo com poucos diálogos e pouca ação. Seus personagens são mais tristes, nada glamurosos. É como um fim para aqueles faroestes cheios de mocinhos e bandidos. Neste filme não há ninguém bom (até mesmo Cardinale é uma aproveitadora). Só há aqueles que são cruéis demais e outros de menos. Mesmo com poucos diálogos, certas linhas são fenomenais, especialmente as de Fonda. Quando Frank é indagado por seu chefe no porquê matou aquela família se a ordem era apenas assustá-los, ele dispara:”as pessoas se apavoram quando estão morrendo”. Ou o sensacional diálogo entre Bronson e Jason Robards, quando o primeiro entrega o segundo para ganhar uma recompensa:

Harmonica: acho que há uma recompensa de cinco mil dólares por esse homem, não é?
Cheyenne: Judas se contentou com 4970 dólares a menos.
Harmonica: Não existia dólares naquela época.
Cheyenne: É. Mas já existiam FDPs.

Enfim Era uma Vez no Oeste é um show para quem aprecia uma direção perfeita, grandes atores, bom roteiro e, principalmente, um dos melhores duelos finais de todos os tempos. E, em tempo, tudo regado à belíssima trilha de Ennio Morricone. Em 2008, a revista especializada Empire promoveu uma pesquisa com 10 mil pessoas, 150 diretores e 50 críticos para escolher os 100 maiores filmes da história. Era uma Vez ficou em 14o lugar, o mais alto western do ranking. Vai desprezar algo assim?

Eternas musas de Cannes

Publicado no site da revista Alfa em maio de 2011
Link

O festival de Cannes entra em sua segunda (e última) semana, com artistas e beldades desfilando para gáudio dos paparazzo e da imprensa especializada. Criado em 1939 e anulada pela II Guerra, a primeira edição do Festival aconteceu somente em 1946 e logo se tornou o lugar para ver e ser visto por amantes da sétima arte. É um misto de festival de filmes cult com espírito de revista de fofocas, mas gente como Steven Soderbergh (com Sexo, Mentiras e Videotapes), Quentin Tarantino (com Pulp Fiction),  Bahz Luhrman (com Vem Dançar Comigo) e Lars Von Trier, devem muito de suas carreiras a ele. E uma das características mais legais é que sempre tem a “musa” informal da festa.

Em 1953, quem dominou Cannes foi a belíssima Brigitte Bardot, então com apenas 19 aninhos. A menina, modelo da revista Elle e aspirante a dançarina, encantou todo mundo com seu belíssimo corpo e sorriso matador e, três anos depois, voltou triunfante ao festival, já famosa, com o filme E Deus Criou a Mulher de Roger Vadin, então seu marido. Loira e ainda bonita, é um dos grandes símbolos da era clássica do balneário francês.
A italiana Sophia Loren era outra figurinha constante do festival nos anos 1950 até que em 1961 ganhou o prêmio de melhor atriz por sua performance como uma mãe que tenta proteger a filha na II Guerra na Itália no belíssimo drama, dirigido por Vittorio de Sicca, Duas Mulheres.
A peituda Jayne Mansfield, ex-playmate e primeira atriz premiada (com Globo de Ouro) a aparecer nua em um filme, causou furor em 1964, quando resolveu brincar só de biquini em uma fonte de Cannes. Obviamente que uma legião de fotógrafos estava lá para registrar o momento. Uma curiosidade: a atriz Mariska Hargetay do seriado Law and Order – Special Victims Unit é filha de Mansfield, mas não herdou em as formas abundantes, nem a sensualidade da mãe.
Você pode nunca ter ouvido falar nela, mas com certeza já ouviu Jane Birkin, uma das atrizes e cantoras mais lindas do mundo, meio que cantar. Ela encantou Cannes ao lado de seu mentor e segundo marido,  o feião Serge Gainsbourg em 1969. Birkin, que já havia sido casada com John Barry, o cara que musicou os filmes de James Bond de 60 a 80, se apaixonou por Gainsbourg e os dois presentearam o mundo com a nauseabunda canção Je t’aime…moi non plus. Sim, era ela que sussurava e tinha orgasmos na canção.
A ciência ainda vai explicar como a atriz Nastassja Kinski pode ser filha de um dos caras mais horrorosos do mundo, o polonês Klaus Kinski (de Fitzcarraldo). Com apenas 18 anos, a gatíssima atriz levou um Globo de Ouro e encantou o pessoal de Cannes, com seu trabalho em Tess de Roman Polanksi (outro carinha feio pacas e de muito bom gosto para mulheres). Kinski, a menina, voltou depois em 1984, com o mega cult e emblemático Paris Texas de Wim Wenders.]
E não podemos esquecer da bela Natalie Portman, que provou ser deslumbrante até mesmo sem cabelo, quando desfilou pelo tapete vermelho em 2005, careca, graças à sua (ótima, diga-se de passagem) performance em V de Vingança.

Agora de todas as musas que Cannes já teve (e olha que até Madonna já passou por lá), nada mais interessante que a “modelo” Simone Silva. Em 1954, ela foi escolhida “Miss Festival” e fez questão de posar para uma foto junto do ator norteamericano Robert Mitchum. Na hora de posar, a moça quis mostrar dois de seus maiores atributos para surpresa de Mitchum (que não quis por a mão) e do fotógrafo que, no afã de não perder a cena, caiu e quebrou o pulso e uma perna. Ela foi expulsa de Cannes.