domingo, 30 de janeiro de 2011

As injustiças do Oscar

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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O Oscar, ou prêmio da academia, é uma dessas cerimônias que eu e muita gente não perdemos por nada nesse mundo e que adoramos criticar no dia seguinte, mesmo porque, por mais que eles tentem inovar,  sempre vai haver uma injustiça, uma gafe, meia dúzia de mulheres que recebem o “prêmio Cher” de pior vestuário, alguma cena marcante e discursos cortados pela orquestra. O que dói mesmo, porém, é quando o prêmio cheira a política, ou seja, dá para se ver que aquela ou aquela artista que ganhou ou o filme premiado não merecia a estatueta e nota-se que alguém queria agradar a outrem. Confira alguns exemplos:

I – Los Olvidados
O problema é que existem grandes nomes do cinema que nunca foram premiados ou indicados. Aí, a academia deixa a pessoa completar 90 anos e dão um Oscar pelo conjunto de sua obra, ou o famoso, “te ignorei a vida toda e aqui está seu prêmio de consolação”. Entre as lendas que nunca receberam uma indicação estão Joseph Cotten, Glenn Ford, Tyrone Power, Fred MacMurray, John Barrymore,  e as atrizes Lucille Ball, Jean Harlow, Rita Hayworth, Kim Novak e Mia Farrow. Richard Burton concorreu sete vezes e nunca ganhou, assim como Montgomery Clift (4), Albert Finney (5), Deborah Kerr (6), Greta Garbo (4), Thelma Ritter (6), James Mason (3) e Peter O’Toole (8 e só recebeu o “de consolação”). Entre os diretores Alfred Hitchcock (5), Robert Altman (5), Federico Felini (4), Stanley Kubrick (4), King Vidor (5) e Sidney Lumet (4).

Quem só recebeu Oscar Honorário foram Fred Astaire, Gene Kelly, Charles Chaplin, Groucho Marx, Kirk Douglas, Bob Hope, Jerry Lewis (como você pode ver, o Oscar odeia humoristas), Orson Welles, Eli Wallach, Mickey Rooney, Greta Garbo, Judy Garland, Lauren Bacall, Shirley Temple e Barbara Stanwyck.

II – Este é o melhor do ano?
Se você, assim como eu, ainda não se conforma com o Globo de Ouro para A Rede Social, então não viu o que o Oscar já aprontou. Em 1941 concorriam ao prêmio os clássicões Cidadão Kane e Relíquia Macabra e quem levou foi o insosso Como era Verde Meu Vale. O melhor filme de 1944 foi O Bom Pastor, um “água com açucar” com Bing Crosby, ignorando Pacto de Sangue, À Meia Luz e Laura (este fantástico thriller nem foi indicado). Em 1952, o bonzinho O Maior Espetáculo da Terra, um drama sobre circo, bateu Matar ou Morrer, Depois do vendaval e Cantando na Chuva (que nem concorreu).

Em 1976, num ano com Rede de Intrigas, Todos os Homens do Presidente e Taxi Driver – todos ácidos em relação aos EUA, quem ganhou mesmo foi a tragetória de um campeão, Rocky, o Lutador. Três anos depois, um drama sobre divórcio, Kramer x Kramer conquistou a estatueta em cima de Apocalypse Now e mais, outros dois grandes filmes de 75, Manhattan e Muito Além do Jardim nem apareceram na lista de concorrentes. Em 1995, Coração Valente de Mel Gibson, bateu os outros candidatos, mas isso porque Os Últimos Passos de um Homem, Despedida em Las Vegas, OS Suspeitos e Se7ev, todos superiores, não estavam concorrendo. E o que dizer de Sheakespeare Apaixonado de 2000? Não dá para aceitar que esse filme é melhor que O Resgate do Soldado Ryan, Além da Linha Vermelha ou O Grande Lebowski, não é? Aguardemos este ano.

Paul Newman, o ator mais generoso do mundo

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Paul Newman nasceu e morreu em um dia 26, mais especificamente em janeiro de 1925 e em setembro de 2008. O segundo “olhos azuis” mais famoso do entretenimento americano foi uma lenda no cinema, um dos maiores atores de sua geração e deixou marcas indeléveis dentro e fora das telas. Newman trabalhou em 82 filmes, concorreu nove vezes ao Oscar e ganhou apenas uma vez, justamente quando revisitou um de seus personagens mais famosos, o Fast Eddie Felson de Desafio à Corrupção de 1961, no filme A Cor do Dinheiro de 1986, dirigido por Martin Scorcese.

Em 1969, ao atuar no filme Winning, interpretando um corredor às vésperas do Indianapolis 500, Newman tomou gosto pelas corridas de carro. Acabou virando um profissional no esporte, ganhando algumas corridas importantes do Sports Cars Club of America e em 1979 chegou em segundo lugar nas 24 horas de Les Mans. Além disso, foi garoto propaganda dos automóveis Datsun, teve sua equipe de corrida e, em 1995, aos 70 anos de idade, foi o mais velho motorista a participar das 24 horas de Daytona, ganhando em sua categoria. Por essa mania, o cinema o homenageou por duas vezes. Mel Brooks brincou com o lado corredor de Newman em As Últimas Loucuras de Mel Brooks, uma comédia muda (feita em 1976), onde o comediante e o ator disputam uma corrida de cadeira de rodas num hospital e trinta anos depois foi o Doc Hudson em Carros da Pixar, seu último trabalho.
 Newman tinha uma força e uma presença nas telas que poucos atores conseguiam, seja em dramas como Gata em Teto de Zinco Quente de 1958, O Doce Pássaro da Juventude de 1962, Cortina Rasgada de Alfred Hitchcock, Rebeldia Indomável de 1967, O Veredito de 1982 ou em aventuras divertidas tais quais Butch Cassidy e Sundance Kid de 1969 e Golpe de Mestre de 1973 (ambos com Robert Redford),  Roy Bean – O Homem da Lei de 1972, Inferno na Torre de 1974 e Na Roda da Fortuna de 1994.
Apesar de interpretar personagens rebeldes, era avesso ao estrelismo, diferenciando-se de grandes colegas da época como James Dean e Marlon Brando. Sobre seu jeito resrvado disse uma vez, “dizem que sou indiferente. Não sou. Sou desconfiado”. Na vida pessoal, foi casado duas vezes, a primeira com Jackie White e em 1958 casou-se com a atriz Joanne Woodward com quem permaneceu até o fim de sua vida. 

Quando indagado se ele não se sentia tentado a ter casos com as belas atrizes com quem contracenava, simplesmente disparou, “para que se enrolar com o hamburguer se tem o filé em casa?”. Liberal politicamente, constava na lista de inimigos de Richard Nixon (que considerou a maior honra que teve na vida). E além de todas essas características, fez o mundo ficar de queixo caído quando fundou a companhia de alimentos Newman´s Own, cujo lucro total era repassado para instituições e caridade. Até 2006, a empresa já havia distribuído mais de 250 milhões de dólares.

Newman morreu aos 83 anos de idade, vítima de um câncer de pulmão, mas sem ser da maneira como imaginava seu epitáfio seria: “Aqui jaz Paul Newman, que morreu fracassado porque seus olhos se tornaram castanhos”. Ele se foi como um sucesso. E os olhos continuavam a ser azuis.

“Network” e o lado podre da TV

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Já foram feitos muitos filmes sobre a televisão e seus males. Tivemos Nos Bastidores da Notícia (1987), Quiz Show (1994), O Show de Truman (1998 – embora esse é mais sobre a vida do que a TV) e a série queridinha dos americanos, 30 Rock. Só que nenhum destes chegou aos pés de Network, chamado no Brasil de Rede de Intrigas, que completa 25 anos em 2011. Assistir esse filme hoje é uma experiencia arrepiante, porque um quarto de século depois, tudo o que o filme mostra ainda é atual.

Na trama, um jornalista, apresentador de um jornal com baixíssima audiência em uma rede fictícia, a UBS, vai ser demitido e simplesmente enlouquece no ar,  tornando-se uma espécie de profeta do tubo de raios catódicos. Enquanto isso, executivos buscam, de qualquer forma, enriquecer e aumentar a audiência da emissora juntando a catarse do apreentador com programas absurdos como The Mao Tse Tung Hour, onde dramatizam ataques de grupos de terroristas aos Estados Unidos (como os Panteras Negras), com tramas escritas pelos próprios guerrilheiros e ainda levando uma vidente ao jornal para prever as notícias e a metereologia.

O brilhantismo do filme dá-se justamente pela fórmula que alia grande direção (de Sidney Lumet), roteiro e diálogos brilhantes (escrito por Paddy Chayesfsky) e atuações soberbas. Para se ter uma idéia, o ator australiano Peter Finch, que interpreta o jornalista louco Howard Beale, foi o primeiro a ganhar um Oscar póstumo (feito só repetido por Heath Ledger em 2010). Faye Dunaway que faz Diana Christensen, a personagem mais ambiciosa do cinema desde a Eve Harrington de A Malvada, levou o Oscar de Melhor Atriz. Beatrice Straight ganhou o Oscar de Melhor Atriz coadjuvante e ela só aparece em duas cenas, mas sua força de interpretação como a esposa traída de William Holden faz com que a premiação seja mais do que merecida. Até mesmo Ned Beatty, que dá um show em apenas uma cena, concorreu à estatueta. O filme também levou o Oscar de Melhor Roteiro.

A atualidade da trama se reflete nos discursos de Beale e posteriormente do dono da corporação que possui a emissora, o Sr. , que acabaram se tornando proféticos mesmo. Veja o primeiro deles, por exemplo:
Eu não tenho que lhe dizer as coisas estão ruins. Todo mundo sabe que as coisas estão ruins. É a depressão. Todos estão fora do mercado de trabalho ou com medo de perder o emprego. O dólar vale um níquel, os bancos estão falindo, os lojistas mantém uma arma sob o balcão. Punks estão à solta na rua e não há ninguém em qualquer lugar que parece saber o que fazer, e não há fim para isso. Sabemos que o ar está impróprio para respirar e a comida imprópria para comer, e ficamos sentados vendo nossa TV, enquanto alguns noticiário local diz que hoje tivemos homicídios quinze e sessenta e três crimes violentos, como se essa fosse a maneira que é suposto ser. (…) É como se tudo, em todo lugar, está ficando louco, por isso não saímos mais. Sentamo-nos em casa, e lentamente o mundo em que vivemos é cada vez menor, e tudo o que dizemos é: “Por favor, pelo menos nos deixem sozinhos nas nossas salas de estar. Deixe-me ter minha torradeira e minha TV e meu radiais com cinta de aço e não vou dizer nada.” (…)  Tudo que sei é que primeiro você tem que ficar bravo. Você tem que dizer, ‘Eu sou um ser humano, droga! Minha vida tem valor!” (…) Eu quero que você se levante agora e vá para a janela. Abra-a, e enfie a cabeça para fora e grite: “Eu estou louco da vida e eu não vou mais agüentar isso!

Ou ainda uma que reflete muito bem os brasileiros hoje, sobre o poder da televisão:
Porque menos de três por cento das pessoas lêem livros! Porque menos de quinze por cento de vocês lêem os jornais! Porque a verdade é que vocês só sabem o que acontece através deste tubo. Agora, há toda uma geração que nunca soube de qualquer coisa que não tenha saído deste tubo! Este tubo é o Evangelho, a revelação final. Este tubo pode fazer ou destruir presidentes, papas, primeiros-ministros. Este tubo é o Deus mais impressionante, deste mundo sem Deus, e ai de nós se, algum dia, ele cair na mãos de pessoas erradas

Rede de Intrigas ficou em 66o lugar entre os 100 maiores filmes da história do cinema eleito pelos membros do American Film Institute. A frase “I’m as mad as hell, and I’m not going to take this anymore” está em 19a posição entre as 100 mais famosas da sétima arte. O roteiro é considerado um dos 10 melhores do mundo pela Associação dos Escritores da America. E em 2000, uma cópia restaurada entrou para o Registro Nacional de Filmes da Biblioteca do Congresso Americano, por ser culturalmente, historicamente e esteticamente relevante aos Estados Unidos.

Só que em tempos de BBB, de eleições ganhas na TV, de desastres e assassinatos explorados em nome dos índices de audiência e de celebridades instantâneas, Network pode ser muito relevante também ao Brasil.

Ricky Gervais é um babaca?

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Eu adoro o humor inglês. Acho que os caras da terra da Rainha tem a capacidade de serem cínicos além da medida, mas nunca perder a classe. Veja o grupo Monty Python, por exemplo. Eles zombaram do Novo Testamento em A Vida de Brian, mas em momento algum conseguiram ser realmente ofensivos. Só engraçados. Na semana passada, assisti Chumbo Grosso com a dupla Simon Pegg e Nick Frost (que fizeram também Todo Mundo Quase Morto e agora estão em Paul).  O filme brinca com todos os clichês das produções policiais de Jerry Bruckheimer como Bad Boys, por exemplo e consegue ser sensacional por justamente fazer piada e você não notar.

Os ingleses nos deram as duas únicas comédias românticas feitas para homens: Cashback e Simplesmente Amor. A primeira fala de um cara que tomou um pé da namorada e vai trabalhar no turno da madrugada de um supermercado e a produção consegue ser um verdadeiro ode ao corpo feminino, ao mesmo tempo que mostra como , de vez em quando, homens sofrem com relacionamentos. O segundo filme aborda os vários tipos de amor, desde amizade até o carnal. Em que ele é feito para homem? Você tem tipos como um roqueiro velho, bêbado e drogado que só fala besteira, uma cara e uma menina muito tímidos que são dublê de corpo em cenas de sexo no cinema (com o ótimo Martin Freeman) e Hugh Grant em seu segundo papel realmente legal (o primeiro é em Um Grande Garoto, cujo livro, é óbvio, é inglês ou você não teria frases como “se todo homem é uma ilha, eu sou Ibiza”). Ingleses sabem fazer filmes de amor sem serem piegas.

Quer mais exemplos? Morte no Funeral (brilhante comédia que, infelizmente, ganhou uma versão americana), Driblando o Destino, Quatro Casamentos e um Funeral, Os Piratas do Rock, A Fuga das Galinhas, As Garotas do Calendário, Por Água Abaixo e Para o Resto de Nossas Vidas (que reuniu uma turma que fazia teatro em Cambridge  formada por Kenneth Branagh, Emma Thompson, Hugh Laurie e Stephen Fry). Pois é, o Dr. House já foi um dos grandes comediantes ingleses. E o que não dizer de Peter Sellers? Ou dos filmes do Guy Ritchie, os únicos sanguinolentos em que você morre de rir?

E eis que surge Ricky Gervais, o inglês consagrado pela série The Office. Pela segunda vez, ele foi chamado para apresentar o Globo de Ouro e conseguiu ofuscar a cerimônia com piadas de baixo nível, bem mais pesadas que as do ano passado. Ganhou as manchetes de todo o mundo e se tornou persona non grata em Hollywood. Como Tom Hanks bem o definiu ao apresentar um dos prêmios, “Nós nos lembramos quando Ricky Gervais era um comediante um pouco mais gordinho, mas muito gentil” e Tim Allen, seu parceiro de Toy Story 3, arrematou “duas coisas que ele não é mais”.

Qualquer prêmio precisa de humor e piadas e nem sempre elas vão agradar (em um Oscar, Sean Penn se ofendeu quando Billy Cristal fez uma piada com Jude Law e nem por isso Crystal deixou de apresentar o prêmio de novo). Só que questionar a masculinidade das pessoas, lembrar que alguém já teve problemas com as drogas e polícia, ou dizer que  os membros da associação que o contratou como apresentador são corruptos é passar dos limites do bom senso. Não é ironia, nem sarcasmo. É estupidez mesmo. E nisso, Ricky Gervais traiu o estilo inglês de fazer rir.

Obviamente ele conseguiu agradar a alguns como Christian Bale e até mesmo Bruce Willis, uma de suas vítimas (ele disse que Willis é o pai de Ashton Kutcher, segundo marido de Demi Moore). Na internet, existem os que o defendem dizendo que a Associação de Jornalistas Estrangeiros não poderiam esperar menos por ter convidado um comediante como apresentador. O Oscar já fez isso com Whoopy Goldberg, Steve Martin, Johnny Carson, Ellen Degeneres e o referido Billy Crystal. E nem por isso as cerimônias foram constrangedoras.

Enfim, mesmo uma premiação que coloca Burlesque como um dos melhores filmes de comédia ou musical do ano não merecia um tratamento desse. E assim, respondendo a pergunta do título, na minha opinião, ele é um grande babaca.

Um “telefilme” é o melhor filme do ano?

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Não sei se você se lembra, mas nas décadas de 1970 e 1980 haviam muitos telefilmes, ou “os filmes feitos para TV”, a maioria “baseado em fatos reais” com histórias tocantes e comoventes de superação, dor e vitória. Eram os tempos de O Menino na Bolha de Plástico (que deu ao mundo John Travolta), The Karen Carpenter Story, The Texas Cheerleader Story ou The Amy Fisher Story. Este ano, uma espécie de telefilme feito para o cinema ganhou o Globo de Ouro de Melhor Drama de 2010.

OK, A Rede Social é divertido, instrutivo e bem feito. Só que o filme é só isso. Não é memorável, não revoluciona a estética do cinema, nem muda a maneira de narração de uma história “baseada em fatos reais”. É somente The Mark Zuckerberg Story ou How I Learned to Stop Worrying and Love the Social Network besides Orkut. A única coisa boa mesmo é o truque em cima de um ator, Armie Hammer , interpretando os gêmeos Winklevoss, só que Jeremy Irons já fez isso em 1988, de maneira muito superior, com Gêmeos – Mórbida Semelhança. O lance é alguém acreditar piamente no que é narrado no filme, cheio de detalhes que parecem ser completamente inverossíveis, com “heróis” e “vilões” tão bem definidos que quase caem na caricatura e mais, se era para se fazer um final na linha do “se a lenda é maior que a realidade, divulga-se a lenda”, então deixe isso com John Ford e seu O Homem que Matou o Fascínora de 1962.

Os jornalistas da imprensa estrangeira que votam no Globo de Ouro já premiaram filmes por serem revolucionários no visual como Titanic e Avatar, ambos de James Cameron. Por que então não eleger A Origem? Também contemplaram dramas fortes como Crepúsculo dos Deuses, Um Lugar ao Sol, O Estranho no Ninho e Laços de Ternura. Por que desprezar Cisne Negro? A história da realeza inglesa e de seus nobres mais famosos já foi agraciada com o prêmio em O Homem que Não Vendeu sua Alma, O Leão no Inverno e Ana dos 1000 Dias. Por que não votar em O Discurso do Rei? Mesmo biografias já tiveram seu quinhão, mas eram projetos mais audaciosos como O Aviador, A Lista de Schindler, Bugsy, Uma Mente Brilhante e Amadeus. Que mensagem tentaram passar com A Rede Social? Talvez uma maneira de se antenar com o público mais jovem e os novos tempos? Ou a idade média dos jornalistas está descrescendo, então o assunto lhes diz mais respeito do que a gagueira de George VI?
Se você consultar o IMDB, maior site de cinema no mundo, vai ver que os filmes  com maiores notas de 2010, votados pelos internautas e com um mínimo de mil votos, são, em ordem decrescente, A Origem, Tropa de Elite 2, Toy Story 3, Cisne Negro e O Discurso do Rei. Os cinco com maior bilheteria (só EUA) são Toy Story 3, Alice no País das Maravilhas, Homem de Ferro 2, Crepúsculo: Eclipse e A Origem.  Nada de Rede Social.

Não quero detonar o filme, nem nada disso. Até vale a pena ser assistido. Mas se o nível de qualidade do cinema americano for definido por essa obra em particular, então podemos dizer que Hollywood, a mágica capital da sétima arte no mundo, refletiu com precisão as condições da maior economia do planeta. Ou seja, está uma porcaria. Que venha o Oscar!

Charlie Sheen e as mulheres

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Charlie Sheen, ou Carlos Irwin Esteves, poderia ser o cara mais legal e sortudo do mundo. Para começar ele é regiamente pago para ser ele mesmo em uma série de TV, Two and a Half Men. Isso mesmo, Charlie Harper e Charlie Sheen tem a mesma personalidade e o mesmo tipo de irmão. Ele é porraloca pacas e Emilio Estevez é bem bonzinho. Só que Charlie faz mais sucesso e ganha rios de dinheiro ao contrário do outro que ainda luta para ter seu lugar ao sol. E mais, Charlie Sheen é um daqueles atores que consegue transitar do drama (protagonizou Platoon e Wall Street) para  comédia (os dois Top Gang, por exemplo) com uma facilidade absurda.

Além disso, sua maior fama vem mesmo das mulheres com quem se relaciona. Na semana passada, foi noticiado que o ator atrasou (e muito) as gravações de um episódio de Two and a Half Men, porque ficou em uma suíte em Las Vegas com nada mais, nada menos, que Bombshell McGee (aquela que era amante do marido de Sandra Bullock), a atriz pornô Bree Olson e mais uma moça não identificada. Em 2006, a revista Maxim americana fez uma lista das maiores lendas vivas do sexo e ele pegou o segundo lugar, com uma quantidade declarada de cinco mil moças seduzidas .

O legal é ver alguns nomes desta lista. Tem gente do gabarito de Kelly Preston (hoje a Sra John Travolta), a socialite inglesa Tamara Beckwith, Robin Wright Penn (hoje ex-esposa de Sean Penn), Winona Ryder (quando ela era uma gatinha), as modelo Summer Altice e Tara Phillips, as playmates Cathy St. George e Stacy Fuson, e finalmente uma das mulheres mais gatas do planeta, Denise Richards, com quem foi casado e teve duas filhas. Agora, por outro lado o homem em questão namorou por dois anos a musa pornô dos anos 1980, Gynger Lynn Allen (quem tem 40 anos hoje deve muitas fantasias a esta mulher), as também atrizes do entretenimento adulto Dominique Simone, Heather Hunter, Chloe Jones, Teri Starr, além da garota de programa de luxo, Ashley Dupré, aquela que derrubou o governador de Nova York em 2008. Sobre elas, ele afirmou certa vez: “Se eu aprendi alguma coisa, é que nada sei sobre mulheres. Elas permanecem um mistério. Mas eu aprendi a parar de tentar entendê-las. Não há fim para a jornada, e é isso que torna tão atraente”

O que não faz de Charlie Sheen o cara mais legal do mundo é a quantidade industrial de drogas e bebidas que injere diariamente, mesmo depois de dezenas de internações em clínicas de reabilitação. Ele chegou a dizer que o guitarrista Slash, aquele do Guns and Roses, chegou a alertá-lo sobre isso e disse: “Você sabe que você foi longe demais quando é o Slash que está dizendo que você tem que parar com as drogas”. Só que ele não parou e com isso, tona-se violento e arrebenta a cara daquelas mulheres que conquistou. É sabido que foi assim com Denise Richards, com sua terceira esposa, Brooke Mueller, e com a atriz pornô Capri Anderson, com quem estava quando destruiu um quarto de hotel em outubro do ano passado em Nova York.

Charlie Sheen poderia ser o cara mais legal e sortudo do mundo. Só que ele não é. Só é sortudo.

Humphrey Bogart: de homem a mito

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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É muito difícil escrever sobre Humphrey Bogart, que faleceu em 14 de janeiro de 1957. Isso porque ele deixou de ser um ser humano comum e passou a ser um ícone da cultura pop ou como instituiu o AFI, o maior lenda masculina do cinema de todos os tempos. Bogart é sinônimo do homem durão, mas gentil. Amargo, mas com senso de humor. Forte e ao mesmo tempo, sensível. Um homem com vários aspectos, todos surpreendentes.
Como ator, ele foi o profissional que, desde sua estréia no cinema em 1928 até sua morte, não parou de trabalhar em nenhum momento, mas fama e fortuna só vieram mesmo na segunda metade de sua carreira. Foi em 1941 que Bogie deixou de ser o coadjuvante gangster, personagem que o marcou desde A Floresta Petrificada de 1936, para entrar como artista principal de dois grandes filmes: Seu Último Refúgio e Relíquia Macabra

Os dois marcaram o começo da parceria do ator com um velho amigo de bebedeiras, John Huston (ele escreveu o scritp do primeiro e dirigiu o segundo). Depois vieram Casablanca, o filme que ninguém queria fazer e que até hoje encanta platéias com seus diálogos cortantes e final surpreendente; À Beira do Abismo, onde teve a chance de fazer mais um detetive durão, Phillip Marlowe; O Tesouro de Sierra Madre onde dá um show de interpretação com seu Dodds, um homem obcecado pela possibilidade de enriquecer; Uma Aventura na África, que o coloca ao lado da grande Katherine Hepburn e lhe deu um Oscar; Sabrina, onde o homem duro encontra o amor por Audrey Hepburn e Horas de Desespero, onde volta a fazer um bandido, desta vez com uma carga dramática insuperável. Em todos esses clássicos, Bogart passava a idéia de um homem firme, de princípios rígidos, mente aguçada e daqueles tipos que qualquer um respeitaria.

Bogart também era um sedutor e fez muito homem morrer de inveja. Aos 45 anos de idade, ele conquistou Lauren Bacall de apenas 19. Bacall, aliás, nunca negou que na primeira vez em que se encontraram, ela não viu nada nele, mas ao fazerem juntos Uma Aventura em Martinica (uma péssima adaptação de Hemingway e uma tentativa de se fazer outro Casablanca), ele foi tão gentil e agradável, estabelecendo uma relação de tutor e pupila, que a moça se encantou. Sua primeira frase para ela, “vamos nos divertir muito juntos”, acabou sendo profética. Ele, que estava em um casamento infernal com Mayo Method, acabou se divorciando em 1945 e casando com Lauren. Ela foi sua quarta e última esposa.

Mais do que simplesmente um ator, ele era um democrata liberal. Organizou um grupo de profissionais do cinema, o “Comitê da Primeira Emenda”, para ir a Washington protestar contra o Comitê de Atividades Anti-Americanas do senador McCarthy, aquele que via comunistas em toda esquina dos EUA. Seu esforço não só não deu resultado, como fez com que muitas pessoas do grupo acabassem também sendo acusadas de serem simpatizantes da União Soviética. O próprio Bogart teve de se retratar em um artigo chamado “I´m Not a Comunist” publicado na revista Photoplay de 1948 (você pode lê-lo aqui), dizendo que era capitalista nato e que seu ato não foi em defesa dos “10 de Hollywood”  (dez profissionais da indústria cinematográfica que se recusaram a dar qualquer depoimento nas audiências do Congresso e foram banidos de Hollywood por terem sido considerados comunistas).

Bogart, o homem, sabia fazer amigos. Seu Rat Pack, o primeiro e original, tinha ótimos membros, todos com um cargo pré-definido. Ele era o rato responsável pelas relações públicas e Bacall a “Den Mother” (Mãe do Covil); Frank Sinatra era o “pack master”  (ou mestre da quadrilha, em uma tradução livre);  Judy Garland era a primeira vice-presidente; seu marido, Sidney Luft era o “cage master” (mestre da gaiola);  o agente de atores Swift Lazar, o tesoureiro e o escritor  Nathaniel Benchley foi denominado o historiador. O objetivo do grupo era mesmo se reunir para se divertir e beber muito, tanto que David Niven, Katharine Hepburn, Spencer Tracy, George Cukor, Cary Grant e Rex Harrison sempre apareciam por lá.

Essa boa vida, regada a quantidades industriais de bebida e cigarro, levaram embora o astro aos 57 anos de idade.  Reza a lenda que suas últimas palavras foram “eu nunca devia ter trocado o whiskey por Martinis”. Assim como um ex-presidente brasileiro, Bogie saiu da vida para entrar na história e se tornou, parafraseando uma das mais famosas frases de um de seu filmes, a coisa com a qual os sonhos são feitos.
E, se você realmente curte o ator, seu filho, Stephen Bogart (que é a cara da mãe, diga-se de passagem), mantém um belo website sobre o legado de seu pai (www.humphreybogart.com) e lançou recentemente uma página do ator no facebook, recheada de fotos familiares (esta ao lado é uma delas) e já com 54 mil fãs. Vale a pena dar uma conferida no material.

Agatha Christie no cinema

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Hoje faz 35 anos que a grande dama do crime, Agatha Christie faleceu aos 85 anos de idade. Christie detém alguns recordes. As traduções de seus 80 livros e 19 peças de teatro faz com que seja a autora mais vendida do mundo, depois de William Sheakespeare (isso, tirando a Bíblia da conta). Além disso a peça A Ratoeira ficou décadas em cartaz em Londres, depois da grande estréia em 25 de novembro de 1952. Estranhamente, com toda essa bagagem, histórias incríveis e  personagens interessantes como Hercule Poirot, Miss Marple, Detetive Parker Pyne e o casal Tommy e Tuppence Beresford, Christie não é uma campeã de filmagens nas telonas e sim para a TV. Das 125 produções listadas no site IMDB, 92 foram produzidas para a telinha.
 
A estréia de uma história de Dame Agatha no cinema foi em 1928, com o filme The Passassing of Mr Quinn. Dez anos depois era a vez da televisão descobrir o mistério com Love from a Stranger que tinha Bernard Lee, o M do 007 de Sean Connery. Em 1945, a melhor e mais copiada história de Christie, aqui conhecida como O Caso dos 10 Negrinhos, chega às telas com And Then There Were None. Se você nunca leu o livro, não sabe o que está perdendo. Dez pessoas desconhecidas umas das outras, são convidadas para um fim-de-semana em uma ilha incomunicável e uma a uma vão sendo mortas, enquanto a cada morte desaparace uma figura de um negro africano que enfeita o topo de uma lareira. O enredo foi refilmado várias vezes, uma em uma casa de campo, outra em um safári na África e teve até versão de Bollywood chamada Gumnaam. O ótimo thriller Identidade de 2003, com John Cusack, foi inspirado nos 10 Negrinhos.
 
Outra obra de Christie que ganhou uma belissima versão cinematográfica foi Testemunha de Acusação
dirigida por Billy Wilder em 1957 com um elenco de primeira classe: Marlene Dietrich, Charles Laughton, Tyrone Power e Elsa Lanchester (então esposa de Laughton). Um homem acusado de matar uma senhora rica vai a julgamento e escolhe um arrogante e ótimo advogado para não ir para a forca, num enredo cheio de surpresas e reviravoltas. Para se ter uma idéia, a pré-estréia foi realizada a família real britânica, desde que eles se comprometessem a não revelar o final a ninguém. Para quem curte um drama de tribunal, este é um prato-cheio.
 
Jane Marple era uma bondosa velhinha que  vivia em St Mary Mead e, entre uma xícara de chá e outra, resolvia casos escabrosos. Criada em 1930 no livro Assassinato na Casa do Pastor, Miss Marple apareceu em 12 romances. No cinema, a mais famosa atriz a personificá-la foi, sem dúvida, a decana Margareth Rutheford. Vinda do teatro onde foi dirigida até pelo grande Noel Coward, Rutheford ficou marcada pelo papel da gentil senhora detetive depois que estrelou seis filmes nesse papel entre 1961 (com Quem Viu quem Matou?) e 1965 (c0m Os Crimes Alfabeto). Em 1980, é feito A Maldição do Espelho, com a versátil Angela Lansbury como Marple e direção de Guy Hamilton, o cara por trás de quatro filmes de James Bond, destacando Goldfinger. O elenco estelar tinha ainda Elisabeth Taylor, Rock Hudson, Tony Curtis, Kim Novak, Edward Fox e Geraldine Chaplin, além de Pierce Brosnan em início de carreira ,em um papel não creditado.
 
O mais famoso personagem de Agatha Christie é, sem dúvida, Hercule Poirot, o detetive belga baixinho e com cabeça de ovo. Quase uma releitura de Sherlock Holmes, Poirot também usa de intuição e dedução para resolver seus crimes, sempre irritando os suspeitos, que o xingam de francês metido (ao qual ele responde “Não, é belga metido”). Em 1974, o diretor Sidney Lumet dirigiu o ótimo Assassinato no Orient Express, onde em um cenário extremamente restrito (um vagão de trem ilhado pela neve) apoiou-se em intrepretações precisas e marcantes de grandes nomes do cinema como  Ingrid Bergman, John Gielgud, Sean Connery, Lauren Bacall, Jacqueline Bisset, Jean-Pierre Cassel, Anthony Perkins, Richard Widmark e um impecável Albert Finney como Poirot. Apesar da maestria da direção, entre sete indicações para o Oscar, somente Bergman acabou levando o de melhor atriz coadjuvante.
 
Depois foi a vez de Peter Ustinov assumir o manto do famoso detetive. Fisicamente alheio à figura de Poirot por seu grande, gordo e definitivamente, sem a cabeça em formato de ovo, o ótimo Ustinov acabou surpreendendo por manter-se fiel à essência do personagem e seu uso das “células cinzentas” do cérebro, imprimindo também um leve humor ao personagem. O ator apareceu em três filmes como o belga Hercule, sempre acompanhado de grandes astros. No ótimo Morte sobre o Nilo de 1978, temos Bette Davies, Mia Farrow, David Niven, Angela Lansbury, Maggie Smith e Jack Warden na história de um assassinato em um barco de turistas no Egito dos anos 20. Em 1982 surge Assassinato num Dia de Sol, com Maggie Smith, Roddy Mcdowall e James Mason e finalmente em 1988, Ustinov interpreta Poirot pela última vez em Appointment with Death com Lauren Bacall, Carrie Fisher e John Gielgud no elenco. Também é preciso destacar a série de TV Poirot que é produzida desde 1989 como o impecável David Suchet na interpretação mais literal do detetive belga.

Por fim, vale mais dois detalhes interessantes sobre Agatha Christie. Em 1926 a escritora desapareceu por 11 dias, levando todos a crer que ela tivesse sido sequestrada. Ela nunca explicou o que aconteceu nesses dias e muitas especulações foram feitas, de tentativa de suicídio pela separação com o primeiro marido a um caso de amor. Uma dessas versões para o fato inspirou o filme O Mistério de Agatha de 1979 com Vanessa Redgrave como a escritora e Dustin Hoffman e Timothy Dalton no elenco. Além disso, a sensacional comédia Assassinato por Morte, escrita por Neil Simon, e levada às telas em 1976, zomba justamente dos detetives da literatura que na última hora tiram da manga alguma pista misteriosa e prendem o assassino, não dando chance ao leitor de descobrir sozinho. Entre os muitos personagens clássicos mostrados no filme estão os dois mais famosos da grande dama do crime, Miss Marple como Jessica Marbles (que leva a enfermeira na cadeira de rodas) e Poirot como Milo Perrier.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

15 coisas bizarras sobre nomes em filmes

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Você já notou como os escritores de livros e roteiristas de filmes conseguem criar nomes simplesmente sensacionais e estapafúrdios para seus personagens? Pegue o Eric Von Zipper, por exemplo, que apareceu no meu último post. É o próprio nome de motociclista metido, e se você for analisar, ele não é o único na sétima arte batizado de maneira tão original:

1. Existem nomes que viraram sinônimo de algo. Lolita, o polêmico livro de Nabokov, filmado em 1962 e em 1997, se tornou a definição de qualquer menina menor de idade que seja extremamente sedutora e também traz um campeão de nome esquisito, o professor Humbert Humbert. Já o personagem Paparazzo de La Dolce Vita, acabou virando denominação de  fotógrafo de celebridades, enquanto Tony Manero, aquele do John Travolta que gingava em Os Embalos de Sábado à Noite, inspirou a tradicional gíria carioca, maneiro. Não é maneiro?
2. Filmes fantasiosos, passados em terras encantadas, também são campeões em nomes bizarros como Frodo, Caspian ou Severo Snape, mas o que dizer do terrível monstro de O Dragão e a Feiticeira de 1981 que se chamava Vermithrax Pejorative? De onde tiram isso? De nome de remédio?

3. A ficção científica exige nomes complicados ou não tem graça, mas George Lucas,  sem querer, criou em Star Wars uma piada incrível quando batizou o personagem de Christopher Lee de Conde Dooku. No Brasil, o nome foi alterado para Dookan por razões muito óbvias. E  Luke Skywalker quase teve um nome digno de filme B, Luke Starkiller, mas o famoso diretor mudou de idéia.

4. O nome James Bond não foi criado do nada por Ian Fleming. Na verdade, o autor possuía um livro sobre pássaros escrito por um James Bond, ornitólogo americano, e achou que o nome casava  muito bem com um agente de sua majestade. Fleming e o especialista em pássaros acabaram se conhecendo pessoalmente e o segundo ganhou o livro “Só se Vive Duas Vezes” com a  dedicatória: “para o verdadeiro James Bond, do ladrão de sua identidade”.

5. Os filmes de James Bond, aliás, conseguem levar medalha de ouro nos criativos nomes femininos, tanto que já foi zombado na série Austin Powers com tipos como a  gêmeas Fook Mi e Fook Yu. Veja a lista de 007:  Miss Moneypenny,  Honey Ryder, Pussy Galore, Domino, Kissy Suzuki, Plenty O’Toole, Solitaire,Mary Goodnight, Dra Holly Goodhead, Octopussy, May Day, Kara Milovy, Xenia Onnatop, Paris Carver, Dra Christmas Jones, Jinx Johnson e finalmente Vesper Lynd.
6. Mas se o assunto é mulher com nome  estranho, quem ganha mesmo é Salma Hayek e sua stripper vampira de Um Drink no Inferno chamada  Satanica Pandemonium. Menção honrosa para O-Ren Ishii de Kill Bill, que é bem legal de se pronunciar, especialmente depois de várias doses de whiskey.

7. Os irmãos Coen gostam de batizar seus personagens com alcunhas interessantes como Barton Fink, Jeffrey Lebowski, e até Marge Gunderson,só que complicado mesmo era o nome de  Tim Robbins em Na Roda da Fortuna: Waring Hudsucker.

8. O sensacional Groucho Marx (cujo nome real era Julius Henry Marx) também tinha personagens interessantes:  Prof. Quincy Adams Wagstaff em Os Gênios da Pelota, Rufus T. Firefly de Diabo a Quatro, Otis B. Driftwood em Uma Noite na Ópera e Dr. Hugo Z. Hackenbush em Um Dia nas Corridas.
9. Falando em comédias, Mel Brooks adora criar piadas com nomes nas suas produções. Em sua sátira aos filmes de terror, O Jovem Frankesntein, existe Frau Blücher, a tétrica e horrorosa ama do castelo. O lance é que toda a vez que alguém pronunciava o nome dela, seja lá onde fosse (dentro ou fora do castelo, na vila, na estrada etc), cavalos relinchavam de desespero, mesmo que não estivessem em cena.

10. Outro filme que é sensacional na escolha dos nomes dos personagens é Dr. Fantástico de Stanley Kubrick. A comédia pacifista trazia o presidente Merkin Muffley, o capitão Lionel Mandrake, o general Buck Turgidson, o coronel Bat Guano, o tenente Lothar Zogg e finalmente, o Dr. Strangelove ou Dr. Fantástico na versão brasileira.
11. Existem nomes que transmitem força e masculinidade, como Rocky Balboa (que enfrentou criativas alcunhas: Apollo Creed, Clubber Lang e Ivan Drago), Snake Plissken (de Fuga de Nova York e de Los Angeles), Sam Spade (o detetive de Relíquia Macabra) e, obviamente, Indiana Jones. Bacana também é o vingativo espadachim de A Princesa Prometida que passa o filme todo repetindo “Olá. Meu nome é Inigo Montoya. Você matou meu pai. Prepare-se para morrer”.

12. Na linha dos bandidos, nada consegue bater Keyser Soze de Os Suspeitos, mesmo porque o nome do misterioso homem já soa como sinônimo de morte. O mais criativo porém é Harry Lime, o personagem sem moral de Orson Welles no maravilhoso O Terceiro Homem. Isso porque uma das traduções de Lime é visco, o que dá um aspecto bem nojento ao cara.

13. Ainda do outro lado da lei, parabéns a Guy Ritchie. Seus deliquentes tem apelidos como One Two, Franky Four-Fingers, Bullet Tooth Tony, Handsome Bob, Barry the Baptist, Hatchet Harry, Boris The Blade, Brick Top e Fred the Head. Nem nos gibis de Dick Tracy, a coisa era tão criativa.

14. Se é de crime que estamos falando, então os sobrenomes da saga do Poderoso Chefão são tão clássicos quanto os filmes: Corleone, Tattaglia, Barzini, Sollozzo, Stracci, Bocchiccio, Zasa, Clemenza, Neri, Tessio, Rizzi, Pentangeli, Fanucci, Lampone, Abbandando, Mancini, Andolini, Lamberto, Altobello e Tommazino. E antes que eu me esqueça, Luca Brasi está dormindo com os peixes.

15. Para encerrar temos que lembrar de Clint Eastwood, que ficou famoso por interpretar “o homem sem nome” nos filmes de Sergio Leone (leia aqui), mas nas três produções, seu personagem tinha sim, algum nome. Vai entender.

Vamos a La Playa – 12 filmes passados na areia

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Ah, o verão! O tempo em que antigamente íamos para a praia com a certeza de que seriam dias de sol e mar, ao invés dos fenômenos naturais que fazem chover torrencialmente na hora do rush diariamente ou que diminuem a temperatura de uma maneira que parece que estamos no outono. Tudo bem, pelo menos o encanto da estação mais festiva do ano está registrada em diversos filmes como se deve, um bando de jovens fazendo estrepulias na areia e garotas com biquinis desfilando na frente das câmeras (e o interessante é ver como eles vão diminuindo com o tempo). Aqui vai uma lista ideal para ser assistida com algum drinque que tenha guarda-chuva pendurado.

As Férias de Monsieur Hulot (1953): este foi o segundo filme do francês Jacques Tati, um ex-jogador de rugby que se tornou um dos principais (e melhores) comediantes da França. Seu personagem,  Hulot, recuperou a arte  do humor silencioso, já que ele não falava em filme algum. Passado num hotel à beira-mar, era uma crítica às quase obrigatórias férias de verão, onde os franceses se deslocavam em massa para as praias (mais ou menos como os brasileiros hoje). Depois dessa obra, veio o emblemático Meu Tio (1958), Playtime (1967) e As Aventuras de M. Hulot no Tráfego Louco (1972). O Mr. Bean de Rowan Atkinson é uma clara homenagem (ou cópia?) do personagem de Tati.
Maldosamente Ingênua (1959): este clássico B com Sandra Dee é considerado o precursor dos “beach party movies”, com a atriz e cantora fazendo uma garota que descobre os encantos do surf  e depois o do amor. O filme tinha coisas geniais como os nomes dos surfistas (“Moondog” e “Big Kahuna”) e ainda Ivone Craig, a futura Batgirl do famoso seriado de TV, como uma extra. A personagem de Dee, Gigdet, acabou aparecendo em outros filmes como Gigdet goes Hawaiian e Roma, Convite ao Amor e virou série de TV com uma Sally Fields de 21 anos de idade no papel-título.

Feitiço Havaiano (1961): sim, o Rei surfando naquelas pranchas enormes e cantando nas areias havaianas para desgosto do pai, que o quer trabalhando na Great Southern Hawaiian Fruit Company. Foi o primeiro de uma série de filmes de Presley passados na praia, já que depois tivemos Seresteiro do Acapulco (1963), Garotas, Garotas, Garotas! (1962) e No Paraíso do Havaí (1966).
A Praia dos Amores (1963): o primeiro da série de cinco filmes praianos com a famosa dupla Frankie Avalon e Annete Funicello, com muito surf de estúdio, pouco sexo, nada de drogas e música de grupos como Dick Dale and The Del Tones. Obviamente que em todo filme da época havia os vilões, no caso um bando de motociclistas liderados por, – esse nome é incrível – Eric Von Zipper. Criado para ser uma versão B dos filmes de Elvis, acabou se tornando mania nos EUA. Uma das sequenciasse tornou nome de peça de Miguel Falabella, Como Rechear um Biquini Selvagem.

Tubarão (1975): nunca mais, depois desse filme, entrar no mar se tornou uma experiência segura. O filme de Steven Spielberg é um grande exemplo de quando tudo que dá errado pode render algo muito certo, já que o tubarão mecânico, apelidado de Bruce, explodiu na primeira cena em que foi posto debaixo d’água. Sem verba nem tempo para esperar consertarem o bicho, Steven refez o filme onde a câmera se torna o peixe assassino e conseguiu, em suas próprias palavras, que quando o tubarão aparece a primeira vez, a platéia jogue a pipoca para cima no susto. Esqueça as sequencias porque são péssimas.

A Lagoa Azul (1980): já falamos desse filme aqui no blog (você pode ler aqui), um classicão trash sobre o casal de crianças que cresce numa ilha paradisíaca e descobre o amor e o sexo. O filme pode ser ruim e o cabelo de Chris Atkins parecer o de Harpo Marx, mas tem Brooke Shields semi-nua, portanto nota 10 para ele.

Menino do Rio (1981): música de Caetano, direção de Antônio Calmon, na história já contada mais de três mil vezes no cinema (mas que fugiu do esquema pornochanchada do cinema brazuca) sobre o menino pobre, o surfista e shaper de pranchas Ricardo Valente (André de Biase, o Lula da fantástica série Armação Ilimitada) que se apaixona pela modelo rica (a saudosa Claudia Magno), para ódio da família da moça. Apesar de cenas como o herói aparecer de asa delta no Country Club do Rio de Janeiro para salvar sua amada de uma casamento arranjado com o pomposo Adolfinho, o filme até que fez sucesso e gerou uma continuação, Garota Dourada de 1984.

Local Hero (1983): filme britânico bacana, um dos primeiros a mostrar um problema crucial nos dias de hoje, a poluição nas praias causada por grandes companhias. Na história, uma grande companhia de petróleo quer comprar uma área praiana na Escócia para montar uma refinaria. A população local topa com avidez o negócio mirando na grana, mas um ermitão se recusa a vender seu lote, até que o dono da empresa, o sempre legal Burt Lancaster, aparece para um bate-papo com o recluso. A trilha de Mark Knopfler fez mais sucesso que o filme.

Surf no Havaí (1987): o “karate kid” do surf, com um rapaz passando uma temporada no Havaí e sendo barbarizado pelos surfistas locais por não conhecer os hábitos da região. Hospedando-se na casa do guru Chandler aprende a ser um “surfista de alma”, contrastando com aqueles que só querem grana. O filme mostrava grandes nomes do surf da época como Derek Ho, Shaun Tompson e Corky Carrol e algumas revistas especializadas o consideram um dos grandes filmes ruins já feitos sobre o esporte sobre pranchas.
Caçadores de Emoção (1991): pode me xingar,mas acho Keanu Reeves um dos piores atores que já surgiu no cinema, mas nesse filme, até que ele não está tão mal. Reeves é um agente do FBI que tem que se infiltrar em uma gangue de surfistas zen que, nas horas vagas, assaltam bancos vestidos de presidentes americanos. Ele e o chefe do bando, Patrick Swayze, se tornam amigos, para assim chegarem ao final meloso da morte nas ondas. Se você não levar a sério, pode ser divertido.

A Praia (2000): a adaptação do best seller de Alex Garland, uma espécie de O Senhor das Moscas para a nova geração, com direção de Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário) e Leonardo Di Caprio,  conta a história de um rapaz que recebe um mapa para chegar a  uma  praia paradisíaca e secreta na Tailância e lá encontra um grupo de plantadores de maconha com uma estranha filosofia de vida. A mistura de aventura, drama e morte não agradou nem ao público, nem aos críticos e o filme acabou não se pagando e ainda mexendo com a estrutura de uma praia de Pukhet para a revolta da população local.
Tá Dando Onda (2007): Pinguins viraram moda com MadagascarHappy Feet, mas essa animação dá de dez a zero nas outras por três detalhes. Primeiramente a hilariante história é toda contada como se fosse um documentário e os diretores conseguiram colocar detalhes bárbaros como bichos acenando no fundo,só para aparecerem, depoimentos toscos e filmagens desfocadas. Depois tem personagens fantásticos como o galo surfista que, seguramente, é chegado em substâncias ilícitas. E ainda tem Jeff Bridges dublando um pinguim baseado em seu personagem mais mítico, o grande Jeffrey Lebowski. Os surfistas Kelly Slater e Rob Machado dão uma canja na dublagem.

Um garoto de 90 anos de idade

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Charles Spencer Chpalin era um cara genial. Teve uma vida pessoal recheada de escândalos, barbarizou Hollywood, zombou do puritanismo norte-americano e traçou tudo que usasse saia, mas não fosse escocês. Por outro lado, criou obras incríveis, revolucionou o cinema  e ao levar o humor de vaudeville para as telas, abriu caminho para Harold Lloyd, Irmãos Marx e Oliver Hardy & Stan Laurel (era amigo deste último desde a Inglaterra). “O Garoto”, que completa 90 anos este ano, é uma de suas obras mais conhecidas e aclamadas e a figura do vagabundo e do menino de costas acabou se tornando clássica em qualquer feirinha de artesanato no Brasil.

Em 1920, a vida de Chaplin estava um verdadeiro caos. Primeiramente havia o processo de divórcio com Mildred Harris com quem havia casado em 1918, quando a menina tinha apenas 16 anos. O casamento não durou à morte do seu primeiro filho, Norman Spencer, falecido com três dias de idade.  Com tudo isso na cabeça, surgiu “O Garoto”.

O vagabundo criado por Chaplin em 1915, aqui chamado de Carlitos, ainda era um grande sucesso e o ator-diretor-roteirista desenvolveu a história onde seu maior personagem encontra um bebê abandonado em um beco e o cria como um filho. Anos mais tarde, o serviço social quer tirar a criança de seu padrasto, criando situações dramáticas e sequencias absurdas na fuga dos dois. O mestre não hesita em retratar a miséria dos cortiços e da falta de humanidade das autoridades, reflexo de sua infância paupérrima em Londres.
Foi o primeiro filme a unir comédia e drama na mesma história, ou como diz um dos textos de abertura ,”um filme para um sorriso e quem sabe uma lágrima”. (na verdade, a platéia jorrava, chorando de emoção pela sorte da dupla) e ainda uma das primeiras tentativas de Chaplin em fugir dos curta-metragens (as diversas versões do filme variam de 54 a 68 minutos). Como o processo de divórcio corria a solto e Mildred queria, além da mansão dos dois, cerca de 100 mil dólares, Chaplin teve que se esconder em um hotel para montar o filme e assim não perdê-lo para a moça. Em 1921, processo encerrado, “O Garoto” estreou nos EUA.

Jackie Coogan, o menino que dá um show de interpretação no filme, foi descoberto por Chaplin em um espetáculo de vaudeville no Orpheum Teather em Los Angeles. O garoto conseguia ser doce, travesso e extremamente convincente nas cenas mais dramáticas e obviamente se tornou um dos grandes astros infantis daquela época. Um ano depois fez o papel-título de Oliver Twist nas telonas e foi um dos primeiros atores a ter uma grande quantidade de produtos com seu rosto estampado como manteiga de amendoim, bonecos, discos etc.
Estima-se que Coogan ganhou de três a quatro milhões de dólares, uma fortuna na época e todo o dinheiro foi torrado pela sua mãe e pelo padrastro. Em 1938, os 23 anos de idade, o ator processou os dois  e conseguiu de volta apenas US$ 123.000.  A batalha legal trouxe ao mundo as condições dos atores-mirins e a California votou uma lei, batizada de Lei Coogan, que reza que 15% dos ganhos da criança devem ser colocados em uma poupança e também regula questões como escolaridade, jornada de trabalho e tempo livre.

Jackie Coogan lutou na segunda guerra, casou-se quatro vezes (uma delas com a beldade mais amada dos pracinhas americanos Betty Grable) e acabou fazendo sucesso na televisão, especialmente como o Tio Funéreo em A Família Adams. Já Chaplin refez a trilha do filme e o remontou em 1971 com 50 minutos de duração. Ele ajudou Coogan em seus momentos de penúria financeira e a última vez que se viram foi em 1972, quando o mestre recebeu seu Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra. Chaplin faleceu em 1977 e Coogan em 1984.

Do que as mulheres gostam em Mel Gibson?

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Afinal, quem diabos é Mel Gibson? O ator sempre fez o tipo simpático dentro e fora das telas, encantava qualquer mulher de que se tem notícia e, de repente, se torna uma figura psicótica, fanática, religiosa, machista e ainda por cima um bebum descontrolado. Mel Colm-Cille Gerard Gibson, que é americano de Peekskill no estado de Nova York e não australiano como muita gente pensa, completa 55 anos hoje como uma sombra do que era.

Quem já era adolescente anos ano 1980 e gostava de cinema até que conseguiu acompanhar a ascensão e queda do galã que chegou a ser comparado com Steve McQueen, Clark Gable e Humphrey Bogart. Morando na Austrália desde os 12 anos de idade, Mel começou sua carreira, obviamente, nas produções de lá e uma era para lá de interessante, a ficção dramática Mad Max de George Miller (que era médico, por isso entendia pacas de ferimentos e violência), um filme com uma verba ínfima e uma idéia genial. Depois veio um dos mais tocantes filmes de guerra, Gallipoli, que fazia até uma estátua chorar com seu uso abusivo da música clássica “Adágio” de Albinoni. A seguir temos o mediano Mad Max 2 (que fez um tremendo sucesso nos EUA), o ótimo O Ano em que Vivemos Perigosamente e mais uma versão da história do navio The Bounty, com Gibson como Fleter Christian e Anthony Hopkins como o capitão Bligh.  E aí foi correr para a torcida.

Super-astro em Hollywood, o bacanão Mel encantava a todos com seus papéis para lá de bacanas como na série Máquina Mortífera, nos filmes Teoria da Conspiração, O Troco, Mad Max – Além da Cúpla do Trovão (péssimo, aliás), Do que as Mulheres Gostam e até mesmo dublando desenhos animados como o péssimo Pocahontas da Disney e o ótimo A Fuga das Galinhas da Aardman. Com tudo isso, as coisas começaram a subir na cabeça do cara. Ele fundou sua produtora em 1989, Icon, e resolveu ir para trás das câmeras e em 1995 veio o épico Braveheart, onde Mel Gibson de saia, cara pintada, berrando em cima de um cavalo e incorporando o herói escocês William Wallace, ganhou cinco Oscars da Academia, inclusive de Melhor Filme e Melhor Diretor.

Mel Gibson sempre foi um católico fervoroso e nunca escondeu isso, então em 2004, o moço resolveu filmar A Paixão de Cristo, em aramaico, latim e hebreu. É o filme não falado em inglês de maior faturamento na história do cinema americano, mas gerou muita confusão e celeuma. Ao contar a história das últimas horas de Cristo, mas com todos os requintes de crueldade possível, fazendo com que O Albergue pareça um conto de fadas, Gibson deixou a comunidade judaica em polvorosa com a mensagem antissemita. Depois foi criticado por historiadores pela inexatidão histórica. Só que as comunidades cristãs aprovaram (inclusive a Igreja Católica) e o filme foi um sucesso. É engraçado notar que A Última Tentação de Cristo, que tem sua maior parte focada nas palavras de amor do Messias, foi condenado pela igreja por ousar dizer que Cristo teve uma tentação na cruz e o outro que só mostrou dor, não. Vai saber.

O ator-diretor-produtor ainda fez o elogiado Apocalypto falado na língua indígena dos maias e ainda quer fazer um filme passado na era viking com linguagem da época. Mesmo com tanta habilidades poliglotas, vemos que o problema de Mel é com o inglês mesmo. Nos anos 90, ele foi processado por homofobia graças a uma entrevista a um jornal mexicano. Acabou se desculpando, culpando a vodca da noite anterior. Depois, em 2006, o  cara é parado por um policial por dirigir bêbado e tascou um discurso culpando os judeus pelas guerras no mundo. Já em 2010 Mel Gibson descobriu que a privacidade humana desapareceu quando foi gravado num papo xingando imigrantes e negros e depois por todas as barbaridades que disse para a ex-namorada, Oksana Grigorieva, além, é óbvio, de descobrirmos que ele adorava arrebentar a cara da beldade. Com tudo isso, todo seu trabalho de filantropia com instituições de pesquisas arqueológicas, história da arte e auxílio a crianças acaba sendo ofuscado.

Mel Gibson comemora seu aniversário hoje meio que na berlinda na capital do cinema. Um dia, ele chegou a dizer: “você não pode viver de acordo com o que as pessoas esperam. Ninguém pode. Mas eu acho que é problema meu, não deles.”. Sim, meu caro, é um grande problema, mas a gente promete que se você voltar a ser um cara legal, a gente te perdoa. Feliz aniversário.

10 coisas para se comemorar em 2011

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010

2011 vem aí!  O ano das continuações com Piratas do Caribe IV, Velozes e Furiosos 5, Transformers 3, Crepúsculo 4, Harry Potter 7, Se Beber Não Case II, Pânico IV e muito mais. É o ano das HQs, já que teremos Thor, Capitão América, Cowboys & Aliens, Besouro Verde, X-Men First Class, Lanterna Verde e talvez, muito difícil dizer, mais um filme de Wolverine, agora no Japão. Acontece que para os amantes dos filmes clássicos e da história do cinema, 2011 é um ano com muita coisa para se comemorar e falarmos aqui nesse blog, confira:

100 anos de Winsor McCay e seus “desenhos que se mexem”: este foi o cartunista que resolveu investir o que tinha para criar uma indústria, a do desenho animado. Seus trabalhos com Gertie, o dinossauro e Little Nemo, se movendo, inspiraram, anos mais tarde, um rapazinho chamado Walt Disney.

90 anos de O Garoto: o filme genial de Chaplin, que fez platéias se debulharem em lágrimas e cuja consequência com o ator mirim Jackie Cougan gerou uma lei nos Estados Unidos.

80 anos do terror: em 1931 tivemos o genial filme alemão M, O Vampiro de Düsseldorf de Fritz Lang (que depois fugiria para os Estados Unidos), Frankenstein (com Boris Karloff), Drácula (aquele que estreou o fraque no personagem, com Bela Lugosi) e O Médico e o Monstro com Frederick March. Também foi o ano em que James Cagney iniciou sua carreira como o maior personificador de gângsteres do cinema no filme Inimigo Público.

70 anos de cinismo: foi em 1941 que Orson Welles criou o considerado melhor filme da história do cinema, Cidadão Kane, e se tornou o inimigo número 1 do magnata William Randolph Heart. Além disso, temos Relíquia Macabra, o melhor policial noir já produzido, que mostrava um detetive para lá de durão, Sam Spade, interpretado por Humphrey Bogart.

60 anos do drama: Marlon Brando grita “Stella!” e impressiona as platéias de todo o mundo com sua interpretação visceral de Kowalski em Uma Rua Chamada Pecado. Enquanto isso, uma ficção científica, O Dia em que a Terra Parou, se torna um tocante libelo anti-guerra e o diretor George Stevens nos dá o drama Um Lugar ao Sol, com Montgomery Cliff e Liz Taylor, sobre um homem que não mede esforços para se tornar rico e bem-sucedido.

50 anos de amor e ódio: em 1961, Audrey encanta a todos com sua Holly Golightly, a garota de programa boazinha, em Bonequinha de Luxo e vemos um Romeu americano e uma Julieta portoriquenha no Bronx com Amor, Sublime Amor. Por outro lado, a Segunda Guerra ganha visões distintas em duas produções, a aventura heróica de Os Canhões de Navarone e o drama com os horrores do nazismo em Julgamento em Nuremberg.

40 anos da psicodelia: dois filmes, completamente distintos em temática, mas igualmente loucos no visual, fazem aniversário, Laranja Mecânica de Kubrik e a primeira versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate. 1971 também marca o aparecimento de dois policiais durões, o Dirty Harry de Clint Eastwood em Perseguidor Implacável e o “Popeye” Doyle de Gene Hackman em Operação França.

30 anos de aventura: em 1981, George Lucas e Steven Spielberg se inspiraram nos cinesseriados que viam quando criança para nos dar Os Caçadores da Arca Perdida. Já Sam Raimi cria o genial A Morte do Demônio, o mestre dos efeitos especiais dos anos 50 e 60, Ray Harryhausen, enche a tela de bichos mitológicos com Fúria de Titãs, John Carpenter transforma Manhattan em uma prisão em Fuga de Nova York e John Boorman faz a mais hippie das adaptações da lenda do Rei Arthur com Excalibur.

20 anos de maldades fascinantes: como não se encantar com um psicopata interpretado magistralmente por Anthony Hopkins em O Silêncio dos Inocentes? Ou ainda ver uma fera de coração se tornar um cara gentil com a primeira animação a concorrer no Oscar como Melhor Filme, o genial A Bela e a Fera? E ainda rir muito com o humor negro de A Família Adams? Ou ver Arnold Schwarzenegger enfrentar um robô mais terrível que ele em O Exterminador do Futuro II? Foi o ano em que vilões se tornaram heróis.

10 anos de épicos: 2001 foi o ano que duas coisas ditas impossíveis de acontecer, aconteceram: os EUA foram atacados e Peter Jackson conseguiu filmar O Senhor dos Anéis com perfeição. Além disso, fomos apresentados para um bruxo que se tornaria uma febre e deixaria a Warner sorrindo de orelha em orelha, com Harry Potter e a Pedra Filosofal. Foi nesse ano também que conhecemos o macho perfeito em Shrek e a dupla perfeita em Monstros S.A.

Tem muito mais em 2011!

A todos, uma grande passagem de ano.

Marlene Dietrich, a musa que se reinventava

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010
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“Eu não sou uma atriz – sou uma personalidade”. Era assim que Marie Magdelene Dietrich von Losch, a Marlene Dietrich se definia. A sex symbol dos anos 30 a 50 não gostava de trabalhar em filmes, mas foi graças a eles que sua persona foi construída e ela passou a ser um mito.


Nascida a 27 de dezembro de 1901 em Berlin-Schöneberg, na Alemanha, Marlene estudou violino, teatro e poesia quando adolescente. Ainda no meio artístico, estreou nas telas, ainda no cinema mudo, com So Sind Männer de 1922, mas a fama mesmo só viria oito anos depois com O Anjo Azul, que a tornou um símbolo sexual e o sinônimo de mulher fatal. No filme, Marlene interpreta Lola-Lola, uma cantora de cabaré causa a decadência de um sério e respeitado professor.
O sucesso do filme levou ela e seu diretor, Josef von Sternberg, para Hollywood, onde acabou contratada pela Paramount, que queria ter sua européia sensual para combater Greta Garbo da MGM. A dupla (que se tornou amantes) realizou uma série de filmes de sucesso juntos. E Sternberg usava recursos de luz e tomadas de câmera para tornar sua atriz favorita cada vez mais próxima da imagem da femme fatale. Quando o diretor foi dispensado pelo estúdio a carreira de Dietrich entrou em decadência e em 1937 ela, junto a outros atores e atrizes, entraram na chamada lista de envenenadores de bilheterias. Acontece que Marlene não era de desistir.

Foi em 1939 que ela resolveu sair dos papéis de prostitutas e mulheres sexy para encarar um western, Atire a Primeira Pedra e com isso conseguiu voltar ao topo e se reinventar pela primeira vez. Neste mesmo ano, ganhou a cidadania americana e começou uma forte campanha anti-nazismo que imperava na sua terra natal. Ela foi uma das primeiras atrizes a vender bônus de guerra e foi a que mais viajou para o front de batalha para animar os soldados. Isso levou-a a receber Medalha Presidencial da Liberdade dos EUA e a Legião de Honra da França.

Acabada a II Guerra, a atriz resolveu investir em sua carreira de cantora. Contratada pela Columbia Records tornou-se um sucesso com suas gravações solo ou em dupla com Rosemary Clooney (a tia de George Clooney). Isso fez com que trabalhasse em poucos filmes nos anos 50 e 60, mas estrelou produções dirigidas por grandes mestres como Stanley Kramer (no ótimo Julgamento em Nuremberg), Orson Welles (no clássico A Marca da Maldade), com Hitchcock em Pavor nos Bastidores e Billy Wilder em Testemunha de Acusação. Por este filme, Dietrich iria receber sua segunda indicação ao Oscar e provavelmente ganharia já que no meio da obra ela se “disfarça” como uma inglesa pobre, mudando voz e sotaque. O problema é que rolou um boato na época que na cena em questão, ela havia sido substituída por outra atriz e acabaram tirando-a da nomeação.

Entre os anos 50 e 70, Marlene foi uma rainha dos palcos sempre ao lado do compositor Burt Bacharach. Este sabia criar arranjos que ocultavam algumas limitações vocais de Dietrich. O grande sucesso levou-a a contratos milionários em Las Vegas e a quebrar um tabu e cantar em alemão em Israel, sendo ovacionado por isso. Acontece que foi essa carreira musical que trouxe a ela o abuso do álcool e o vício em analgésicos. Sua carreira terminou em 1975, depois de quebrar a perna em uma apresentação em Sidney. Ela passou os próximos anos de sua vida em seu apartamento em Paris, fazendo raríssimas aparições, mas conversava constantemente com o presidente americano Ronald Reagan e com o russo Gorbatchev. Faleceu em 1992 de falência renal.

Marlene Dietrich foi um símbolo sexual imbatível. Graças à sua mania de se vestir com roupas masculinas foi taxada de bissexual e chegou a afirmar que sexo é muito melhor com uma mulher, mas ninguém consegue conviver com uma. Teve casos com várias personalidades como James Stewart (ela chegou a afirmar que ele a engravidou), Yul Brinner, Jean Gabin, George Bernard Shaw e se gabava por ter transado com três Kennedys: o patriarca Joseph P. Kennedy e os filhos Joseph Kennedy Jr. e o mais famoso deles JFK. E tudo isso casada no papel com o mesmo homem a vida toda e sustentando a ele e à sua amante. Na cultura pop, é uma das pessoas que aparece na montagem da capa “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, é citada por Madonna em “Vogue”, virou um documentário nas mãos do ator Maximilliam Shell e foi homenageada pela famosíssima marca de canetas Mont Blanc com uma edição especial com a presilha em forma de gravata e uma safira azul incrustada no corpo. Por essas e outras que Marlene Dietrich é o nono lugar na lista de 50 lendas do cinema, eleita pelo American Film Institute.

O pior filme de natal de todos os tempos

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010
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Sabe aquele filme que é tão ruim, mas tão ruim, que fica divertido? Santa Claus Conquers the Martians (Papai Noel Conquista os Marcianos) consta em todas as listas dos piores filmes já realizados e se tornou um clássico cult. Ele pode ser uma saída para você fugir dos filmes natalinos melosos que passarão neste fim-de-semana e tentar dar boas risadas.

A epopéia da produção deste filme começa em 1964 quando o Los Angeles Times já prenunciava o que vinha por aí com a seguinte nota: “Santa Claus Conquers the Martians! Não Ria. Alguém está fazendo um filme com esse nome”. Este alguém era Paul Jacobson, um cara que trabalhou nos bastidores de apenas um episódio do programa de TV Howdy Doody e queria trilhar um caminho em Hollywood.  Para isso, pensou que um filme com Papai Noel no título e ainda por cima ficção científica seria um sucesso absoluto e conseguiu convencer uma série de investidores particulares, levantando a boa soma de US$ 200.000 (o mesmo budget do sensacional Por um Punhado de Dólares, feito no mesmo ano, e que hoje seria o equivalente a 1,4 milhão de dólares). Jacobson alugou um hangar abandonado em Long Island, contratou alguns atores que atuavam como extras em uma produção de Oliver! na Broadway, vários técnicos de emissoras de TV e pôs-se a redigir o criativo roteiro, que ainda passou para as mãos do “escritor” Glenville Mareth para ser “melhorado”.


Na história, Marte é um planeta onde não há alegria e as crianças tem mente de adultos, e ficam assistindo programas de TV terráqueos. Para tentar alegrar a meninada, os marcianos decidem sequestrar Papai Noel no Polo Norte, e ainda levam duas crianças da Terra junto, para não deixar testemunhas. No planeta vermelho, Santa ganha uma fábrica de brinquedos automatizada e tem que enfrentar um marciano  do mal. 

Obviamente que juntar um bando de gente inexperiente, tanto na frente como atrás das câmeras, não conseguiria fazer nada tão bom, mas o filme é um primor em interpretações horrorosas, diálogos constrangedores,  personagens caricatos, cenários que fazem com que os do programa Chaves possam ser considerados obras de arte e efeitos especiais que você pode fazer na sua própria casa (e muito mais bem feito). Os destaques nesse quesito, aliás, vão para o terrível robô Torg utilizado pelos marcianos para conseguir capturar Papai Noel e para o cara vestido de urso polar atacando as crianças, tão tosco que só falta a etiqueta da fantasia ficar visível.
Filme feito, Jacobson conseguiu o apoio do filantropo Joseph E. Levine para distribuir o filme através de sua Levine´s Embassy Pictures.  O filme estreou em 100 salas de cinema em Chicago e Milwaukee em novembro de 1964, mas somente nas matinês de sábado e domingo. Para atrair a criançada eram oferecidos balões e brinquedinhos espaciais. Além disso, foram feitas divulgação maciça na mídia e até mesmo a canção tema, a horrenda “Hooray for Santa Claus” , virou disquinho. Inacreditavelmente o filme deu lucro e a Levine´s Embassy Pictures (que mudou o nome para Avco Embassy) acabou relançando o filme anualmente, sempre na época do Natal.

No mundo da cultura pop, o filme é um marco. Foi a primeira aparição da  quase atriz/cantora/sex symbol Pia Zadora, então com 10 anos de idade. Se você não sabe quem é ela, Pia foi a única pessoa no mundo que conseguiu ganhar um Globo de Ouro e um Razzie (o prêmio para a pior interpretação do ano) por sua participação em Butterfly de 1982. Isso causou um tremendo constrangimento para o pessoal  que organiza o Globo de Ouro, inclusive com questionamentos sobre a seriedade da premiação. Para completar, no ano seguinte, ela ganhou outro Razzie por The Lonely Ladie. Como cantora, concorreu a um Grammy em 1984 pela música “Rock it Out” (perdeu para Tina Turner) e nos anos 1990 abriu shows em Las Vegas para Frank Sinatra e Tony Bennet. O ator Victor Stiles, que interpreta o menino Billy (sempre tem um Billy, não se esqueça), nunca mais apareceu nas telas de cinema de novo. Deve ser de vergonha.
O filme foi resgatado nos anos 1990 e, inacreditavelmente, acabou virando peça de teatro, um musical, um livro (com o DVD)e foi ridicularizado até mesmo no programa Hermes e Renato da MTV, onde o bom velhinho se torna um traficante. E agora meu presente de Natal para você: Santa Claus Conquers the Martians é considerado de domínio público nos Estados Unidos e portanto o download do filme é permitido. Você consegue encontrá-lo aqui. Assim não perca tempo e prepare já a sua cópia para encantar a família na noite feliz.

Bom Natal e bom divertimento!

Ava, o mais belo animal do mundo

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010
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Ela fez com que o milionário excêntrico Howard Hughes ficasse loucamente apaixonado, Frank Sinatra sofreu como um cão por sua causa, namorou um toureiro, casou-se três vezes e faria 88 anos em 24 de dezembro. Ava Gardner era tão deslumbrante que o poeta Jean Cocteau a definiu como o mais belo animal do mundo.


Ava Lavinia Gardner foi criada em uma pequena fazenda de algodão e tabaco na Carolina do Norte, com ascendência irlandesa, inglesa e indígena. Ela foi descoberta aos 19 anos de idade quando seu cunhado, o fotógrafo Larry Tahr, resolveu fazer um ensaio amador e, contente com o resultado, expôs na vitrine de sua loja na 5a. Avenida em Nova York. Foi o bastante para um olheiro da MGM se encantar e contratá-la, com uma condição: ela devia fazer curso de dicção para perder o sotaque caipira sulino que carregava. Sua primeira aparição foi em A Sombra dos Acusados de 1941, mas só ganhou um papel de destaque com Os Assassinos de 1946. Conseguindo um lugar ao sol em Hollywood, acabou candidata ao Oscar de melhor atriz em 1956 com Mogambo, onde contracenou com o galã Clark Gable, que, segundo suas memórias, tirou uma casquinha da beldade. Entre as décadas de 1950 e 1970 apareceu em grandes filmes, sempre ao lado de símbolos sexuais masculinos como A Condessa Descalça (com Humphrey Bogart), E agora Brilha o Sol (com Tyrone Power), A Hora Final (com Gregory Peck) e no filme-catástrofe Terremoto de 1974 (com Charlton Heston), onde dispensou dublês .
O forte de sua biografia, porém foi sua turbulenta vida amorosa. Aos 19 anos de idade, casou-se com o ator “quase mirim” Mickey Rooney, então com 21. Rooney era, na época, um dos maiores astros da MGM graças aos seus filmes bobos que fazia ao lado de Judy Garland na cinessérie Andy Hardy e obviamente encantou a jovem Ava. O casório durou apenas um ano porque os dois brigavam demais. Anos depois, quando Rooney contou com bastante entusiasmo sobre sua vida sexual com Gardner, ela se limitou a dizer “bom, querido, você pode ter aproveitado o sexo, mas Deus sabe como eu não”.

Em meados dos anos de 1940 ela conheceu o multimilionário Howard Hughes e começou uma amizade que durou até 1955, ano que ele se escondeu do mundo. Muito se especula se os dois tiveram ou não um tórrido romance. Ela sempre negou e afirmou que  máximo que chegaram foi num beijo no rosto, mas é sabido que ele era louco por ela e morria de ciúmes, chegando a socá-la em uma ocasião e deixá-la com o rosto marcado. Tempos depois, a atriz acabou perdoando Hughes e se tornou seu “ombro amigo” para os momentos em que ele precisava desabafar.

Seu outro casamento de curta duração foi com o band leader Artie Shaw, que conheceu nas filmagens de Os Assassinos. Culto, bonito e talentoso, Shaw a conquistou pela sua inteligência e durante os oito meses de namoro, ela , durona pacas, proibiu sexo (imagine o que isso era para ele). Casaram-se em 1945, mas a coisa deu muito errado. O jazzista era extremamente possessivo e se irritava com a cultura limitada de Ava, forçando-a a estudar música, literatura, política etc. Depois de um ano, ele pediu o divórcio.
Seu terceiro casamento, o mais famoso de todos, foi com Frank Sinatra. O cantor a conheceu quando ela ainda estava casada com Mickey Rooney e anos depois, mais especificamente em 1949, os dois começaram uma amizade. Sinatra estava em franca decadência, artística, emocional e financeira, enquanto Gardner subia nos degraus da fama. Mesmo assim, os dois se apaixonaram e tiveram um caso. Logo, o cantor se separou da esposa, Nancy, para se casar com a atriz em 1951, sendo massacrado pelas duas maiores colunistas de fofocas da época, Hedda Hopper e Louella Parsons e pela Igreja Católica. O divórcio faliu Sinatra e ele passou a depender mais e mais de Gardner. O grande problema era seu ciúme exagerado (brigava por causa de Hugues e Shaw) e, como todo bom italiano, queria mais uma mulher que lavasse e cozinhasse e isso foi o bastante para Gardner o abandonar, mudar para a Espanha e se separar definitivamente em 1957. Sinatra passou um ano bebendo quantidades industriais de bebida alcoólica e chorando frente ao retrato dela e o fato acabou inspirando uma sequencia de  O Poderoso Chefão quando o cantor Johnny Fontaine vai choramingar nos ombros do Don Corleone. O cantor chegou a dar um murro na cara de Mario Puzzo por ter sido “citado” no livro e no filme, mas ressurgiu do fim deste casamento muito mais maduro e melancólico, longe do garoto desprotegido do início de sua carreira.

Ava Garder nunca mais se casou. Namorou o toureiro espanhol Luis Miguel Dominguín enquanto morou em Madri e depois se mudou para Londres. Na década de 1980 fez poucos filmes e duas minisséries para a televisão.  Dois derrames em 1986 a deformaram. Quando soube que ela não podia pagar o tratamento, Sinatra bancou médicos, hospitais e até mesmo um jato para levá-la da Inglaterra para os EUA. Especula-se que gastou mais de um milhão de dólares para  tentar salvar o grande amor de sua vida. Ava faleceu em 25 de janeiro de 1990. Suas últimas palavras foram as mais apropriadas para alguém que tinha vivido tão intensamente: “estou cansada”.

 Em tempo, Ava visitou o Rio de Janeiro em 1954 para o lançamento de A Condessa Descalça e deu no que falar. Irritou-se com o hotel que haviam lhe reservado (chegou a quebrar móveis no quarto) e mudou-se para o Copacabana Palace. Impressionou a todos com a quantidade de bebida que consumia, a ponto de um jornal publicar uma charge onde havia um copo com as medidas “para mulheres”, “para homens”, “para cavalos” e a máxima, “para Ava”. No fim, ficou trancada no quarto o tempo todo, encurtou sua visita, mas dizem que saiu na última madrugada aqui para conhecer a Cidade Maravilhosa. Veja agora  o trailer de A Condessa Descalça: