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Hoje, 16 de maio, comemora-se os 106 anos do nascimento de Henry Fonda, que junto com James Stewart, foi um dos mais famosos bons moços do cinema. Fonda sempre foi o herói, o menino desprotegido, o idealista, o cara em que todos confiam. Foi assim em Vinhas da Ira (de 1940), um belíssimo libelo contra a pobreza escrito por John Steinbeck; em Paixão dos Fortes (1943), onde viveu Wyatt Earp, Mister Roberts (ao lado de Jimmy Cagney), O Mais Longo dos Dias (1962) e chegou a retratar até mesmo o mais louvado e honesto presidente dos Estados Unidos, Abe Lincoln.
Tudo isso até surgir Sérgio Leone em sua vida. O diretor italiano, que já havia brilhado em Por um Punhado de Dólares (1964), Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966), fez o impossível. Transformou Fonda em um vilão implacável e cruel em Era uma Vez no Oeste de 1968.
Este foi o primeiro filme da trilogia dos Estados Unidos, dirigido por Leone (os outros foram Quando Explode a Vingança e Era uma vez na America) e tratava da ganância dos magnatas das ferrovias que não hesitavam em contratar matadores para eliminar famílias inteiras, cujas fazendas ficavam no caminho dos trens (era mais barato fazer isso do que comprar a propriedade ou desviar o caminho). E foi justamente para Henry Fonda que sobrou o terrível Frank (sem sobrenome mesmo). Logo na primeira cena em que ele aparece, onde um pai e seus filhos são mortos por seu bando, um dos capangas nota que sobrou uma criança viva e pergunta: “Frank, o que fazemos agora?”. E Frank responde: “Agora que você disse meu nome…” e mata o pimpolho. Assim mesmo. A sangue frio.
Ele também não respeitava muito seu chefe, o milionário Morton, que, apesar de aleijado, apanha do seu contratado, a torto e à direito (segundo Frank não dava para se fiar em um cara que usa cinto e suspensório e assim não confia nem nas próprias calças). No caminho da dupla surge Charles Bronson andando o tempo todo com uma gaita e sedento de vingança (você só descobre porquê no final do filme), Jason Robards como o divertido bandido procurado Cheyenne e a deslumbrante e vitaminada Claudia Cardinalle.
O ator não queria o papel. Leone voou aos Estados Unidos e conseguiu convencê-lo ao dizer que a platéia veria um homem matar uma criança e quando a câmera mostrasse seu rosto, seria Henry Fonda e todos ficariam chocados. Ainda assim, ele foi procurar seu amigo Eli Wallach que trabalhara em Três Homens em Conflito, que lhe disse “aceite porque você vai ter momentos ótimos”. E assim aconteceu.
Quando Fonda chegou à Itália para filmar, apareceu com um grande bigode e lentes castanho escuro para dar mais cara de vilão a Frank. Leone ficou louco da vida emandou-lhe raspar imediatamente. Frank devia ter a cara de anjo de Fonda, com olhos azuis e tudo mais. No fim, o ator gostou tanto da experiência que acabou recomendando a James Coburn que aceitasse o papel principal em Quando Explode a Vingança.
O filme foge um pouco do estilo da trilogia do Homem sem Nome. Era mais lento, mais contemplativo com poucos diálogos e pouca ação. Seus personagens são mais tristes, nada glamurosos. É como um fim para aqueles faroestes cheios de mocinhos e bandidos. Neste filme não há ninguém bom (até mesmo Cardinale é uma aproveitadora). Só há aqueles que são cruéis demais e outros de menos. Mesmo com poucos diálogos, certas linhas são fenomenais, especialmente as de Fonda. Quando Frank é indagado por seu chefe no porquê matou aquela família se a ordem era apenas assustá-los, ele dispara:”as pessoas se apavoram quando estão morrendo”. Ou o sensacional diálogo entre Bronson e Jason Robards, quando o primeiro entrega o segundo para ganhar uma recompensa:
Harmonica: acho que há uma recompensa de cinco mil dólares por esse homem, não é?
Cheyenne: Judas se contentou com 4970 dólares a menos.
Harmonica: Não existia dólares naquela época.
Cheyenne: É. Mas já existiam FDPs.
Enfim Era uma Vez no Oeste é um show para quem aprecia uma direção perfeita, grandes atores, bom roteiro e, principalmente, um dos melhores duelos finais de todos os tempos. E, em tempo, tudo regado à belíssima trilha de Ennio Morricone. Em 2008, a revista especializada Empire promoveu uma pesquisa com 10 mil pessoas, 150 diretores e 50 críticos para escolher os 100 maiores filmes da história. Era uma Vez ficou em 14o lugar, o mais alto western do ranking. Vai desprezar algo assim?
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