quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma entrevista exclusiva com Alfred Hitchcock

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
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Alfred Hitchcock faleceu há exatos 31 anos e além de nos legar 67 filmes maravilhosos, ele tinha uma capacidade incrível de soltar frases desconcertantes, regadas ao fino humor inglês, sempre cheio de ironia. Pesquisando algumas dessas citações, dá para se brincar e imaginar como seria uma entrevista com o grande mestre do suspense aqui na Alfa para os amantes do cinema hoje:


O senhor adora nos assustar e fazer com que fiquemos grudados na poltrona ao ver um de seus filmes. O que o assusta?
Eu me assusto facilmente. Aqui está minha lista pessoal de produção de adrenalina: 1. crianças, 2. policiais, 3. lugares altos e 4. que meu próximo filme não será tão bom quanto o anterior. Eu também tenho medo de ovos, mais que medo, eles me revoltam. Aquela coisa redonda branca, sem buracos… você já viu coisa mais revoltante que a gema de ovo quebrando e saindo aquele líquido amarelo?  Sangue é alegre, vermelho, mas a gema do ovo é amarela, nojenta. Nunca provei.

Como o senhor explica essa necessidade das pessoas de sentir medo no cinema?
Medo não é tão difícil de se entender. Afinal, não éramos todos assustados quando crianças? Nada mudou desde que Chapeuzinho Vermelho enfrentou o lobo mau. O que nos assusta hoje é exatamente igual ao que nos assustava antes. É só um lobo diferente. Este complexo de medo está enraizado em cada indivíduo. O único meio que achei de se livrar dos meus medos foi fazer filmes sobre eles.

A televisão explora muito a violência, o suspense e o terror. O senhor acha isso bom?
A televisão colocou o asassinato de volta a onde ele pertencia: dentro das residências. Alguns de nossos mais requintados assassinatos foram domésticos, realizado com ternura em lugares simples, acolhedores como a mesa da cozinha. A televisão tem feito muito pela psiquiatria, difundindo informações sobre ela, bem como contribuindo para a sua necessidade.

Falando de cinema, qual é o segredo para se fazer um bom filme?
Um bom filme é aquele quando o preço do jantar, dos ingressos e da babá valeram a pena. Se um filme é bom, o som pode ser cortado e a platéia continua a entender o que está acontecendo. O segredo de um bom filme reside em três coisas: script, script, script.

E o segredo de um bom suspense?
Não existe terror no estrondo, apenas na antecipação dele. E dê prazer à plateia. O mesmo prazer que têm quando acordam de um pesadelo.

A direção não influencia um bom filme?
Em um filme ficcional, o diretor é Deus. Em um documentário, Deus é o diretor.

Alguns críticos dizem que seus filmes são quase um auto-plágio, como Frenesi que lembra muito The Lodger. Como o senhor vê isso?
Auto-plágio é o mesmo que estilo. Eu sou diretor de um tipo de filme. Se eu dirigisse Cinderela, as pessoas iriam ficar procurando um corpo na carruagem. Nos filmes, assassinatos são muito limpos e eu mostro como é confuso matar um homem.

O senhor tem fama de não gostar de atores, mas sempre consegue atuações soberbas deles…
Há uma história terrível que eu odeio atores. Imagine alguém odiando James Stewart. . . . Eu não posso imaginar como o boato começou. Claro que pode, eventualmente, ser porque eu fui uma vez citado como dizendo que os atores são gado. Meus amigos atores sabem que eu nunca seria capaz de tal observação impensada, rude e insensível, que eu nunca iria chamá-los de gado. . . O que eu disse foi que, provavelmente, os atores devem ser tratados como gado.

O senhor discute o personagem com eles?
Quando o ator vem até mim e quer discutir seu personagem, eu digo: “Está no script”. Se ele diz: “Mas qual é a minha motivação?”, eu respondo: “Seu salário”. Walt Disney tem o melhor elenco. Se ele não gosta de um ator, é só rasgá-lo.

Existe algum ator que o senhor realmente gostou de trabalhar?
Cary Grant foi o único ator que amei em minha vida inteira.

E a obsessão por louras?
Loiras fazem as melhores vítimas. Eles são como a neve virgem onde aparecem as pegadas sangrentas.

Para terminar, como o senhor resumiria o sucesso de sua carreira?
Sorte é tudo … Minha sorte na vida foi ser uma pessoa realmente assustada. Tenho sorte de ser um covarde, de ter um baixo limiar para o medo, porque um herói não poderia fazer um bom filme de suspense.

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