quinta-feira, 30 de junho de 2011

Happy B-day, Clint (you dirty rotten old man)

Publicado no site da revista Alfa em maio de 2011
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Hoje é um dia sagrado para homens de todo mundo. Ou deveria ser. Um dia para se sentar sozinho, lata de cerveja à mão, charuto na boca e, em um momento de reflexão profunda, pensar “quanto falta para eu ser Clint Eastwood?”. O ator, produtor, diretor, compositor e político, chega hoje aos 81 anos de idade, muito bem sucedido, deixando uma marca indelével na história do cinema e sendo ainda um dos caras que mais desenvolveu personagens que são referência de masculinidade. Nada mal para um ator que começou como extra que não era nem mencionado nos créditos, foi para a TV, assumiu trabalhar com um italiano que ninguém conhecia e ganhou o mundo.


Antes da fama, Eastwood fez de tudo na vida. No colégio era ginasta, jogava basquete, futebol americano e competia no time de natação. Depois foi salva-vidas, caddy de golfe, caixa de mercearia, professor de natação e soldado. Aliás, na Guerra da Coréia, o avião em que viajava ficou sem combustível e caiu no oceano, perto da costa norte da Califórnia. Ele e o piloto escaparam, nadando cinco kilômetros até acharem terra.

Ao se mudar para Los Angeles com mala, cuia e namorada a tiracolo, Clint trabalhou em uma série de filmes inexpressivos até surgir o seriado Rawhide em 1959, onde fazia o moleque impetuoso Rowdy Yates, que dava uma dor de cabeça danada ao líder do vaqueiros. A série durou até 1965, mas um ano antes veio a grande oportunidade de Clint, viver o “homem sem nome” em um filme do então desconhecido Sergio Leone. Era Por um Punhado de Dólares, em um papel que muita gente recusara, incluindo aí, Charles Bronson (que trabalharia com Leone anos depois em Era uma Vez no Oeste), George Reeves (O Superman dos anos 50), Henry Fonda (que também estaria em Era Uma Vez) e James Coburn (que faria Quando Explode a Vingança).  Eastwood viu a chance de se livrar de Rowdy e a oportunidade de trabalhar por 11 meses na Europa, além de ter um considerável aumento de salário e ganhar uma Mercedes no fim dos trabalhos.

O filme foi um sucesso estrondoso, fez com que ele atuasse em mais duas produções de Leone e voltasse aos EUA não só como um grande astro, mas também como o sinônimo de durão e cool nas telonas. Com o dinheiro ganho na Europa fundou a Malpaso Productions e logo em seu primeiro filme, A Marca da Forca, conseguiu ser a maior bilheteria da história da United Artists, excetuando aí os filmes de James Bond.

Do final da década de 1960 até o começo dos anos 70, Eastwood emplacou vários sucessos no cinema como Meu Nome é Coogan, Os Abutres tem Fome, Os Guerreiros Pilantras, até surgir outro personagem que mudaria sua vida: o policial mais durão do mundo, Harry Callahan ou ‘Dirty’ Harry em Perseguidor Implacável de 1971. Ele era o tira que não segue regra alguma e que tortura psicologicamente seus perseguidos com sua Magnum 44 e o famoso discurso do “você se sente sortudo hoje, punk?”. O filme custou cerca de quatro milhões de dólares  e rendeu 28 milhões só nos Estados Unidos. Dois anos depois, Harry volta em Magnum 44, desta vez enfrentando um esquadrão da morte na polícia de San Francisco. Em 1976, o policial destrói um grupo terrorista formado por ex-combatentes do Vietnã em Sem Medo da Morte, já em 1983, Harry está suspenso na força, mas investiga um caso de vingança e em 1988 o velho ‘Dirty’ se torna o alvo de um serial killer especializado em celebridades em Dirty Harry na Lista Negra.
Enquanto atirava em todo mundo, Clint fez, nesse meio tempo, produções boas e algumas bem ruinzinhas. 

Do primeiro escalão estão O Estranho sem Nome (a versão americana do personagem italiano), Josey Wales, Bronco Billy e O Cavaleiro Solitário (feito em uma época que o faroeste já tinha tido seu fim decretado e que faturou mais de 40 milhões de dólares nos EUA). Já para as produções mais furadas estão aquelas típicas da era Reagan como Firefox (onde sequestra um avião experimental soviético) e O Destemido Senhor da Guerra e coisas como Cidade Ardente, a lado de Burt Reynolds.

A década de 1990 mostrou mais uma faceta de Eastwood, a de diretor bem sucedido. Fez Coração de Caçador, baseado na história real de John Huston e sua filmagem de Uma Aventura na África; ganhou muita notoriedade com Os Imperdoáveis, sua releitura dos faroestes, mostrando que na vida real, balas e matança não tem graça; realizou o filme favorito de 90% das mulheres, As Pontes de Madison (e aí todos viram que machão também pode ser sensível) e conquistou a academia com Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro, a dobradinha A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jiwa, Invictus etc.
Sua última aparição nas telas foi , de uma certa maneira, mostrando como seria a velhice de seus personagens mais famosos e ainda fazendo uma revisão de vida em cima deles, através do Walt Kowalski do ótimo Gran Torino. O homem era preconceituoso, mal-humorado, silencioso, mas com um senso de honra e justiça sem igual.

Eastwod disse certa vez que se você quer garantia em cima de algo, que compre então uma torradeira. Mais do que um cineasta, ele é a prova de que com esforço e senso de oportunidade, auto-confiança e respeito próprio, segurança e senso de humor, você consegue chegar longe e fugir dos estereótipos.
Mais do que a qualquer um, nós realmente te desejamos hoje, muitos anos de vida!

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