quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Woody Allen pode "ensinar" a discutir a relação

Publicado no Terra em fevereiro de 2009
Link

Talvez não exista e nunca existirá um cineasta que mais entenda de relacionamentos complicados como Woody Allen. Seus filmes mais clássicos, como Noivo Neurótico Noiva Nervosa, Manhattan, Sonhos de um Sedutor, Poderosa Afrodite, e até os mais recentes, como Vicky Cristina Barcelona, envolvem romances confusos, até bem mais realistas que os mostrados em comédias românticas. Existem dois pontos, porém, que são marcas nos filmes de Allen: um profundo entendimento do que é a cabeça feminina (a ponto de fazer A Outra, abordando com propriedade o que é uma mulher aos 50 anos de idade) e o fato dos relacionamentos mostrados na tela serem pautados por diálogos e desabafos, nem sempre carinhosos, mas muito esclarecedores.

Allen aqui nos serve como antítese do velho chavão corrente: homens não sabem e não querem discutir a relação. E as mulheres ficam extremamente irritadas com isso. A especialista em relacionamentos, diretora da Consulte Brasil e autora do livro Vamos Discutir a Relação? (Editora Planeta), Regina Vaz, acredita que isso acontece porque homens e mulheres lidam com seus problemas de maneira diferente.

Segundo ela, a mulher tem uma grande necessidade de contar sua má situação a todo mundo, da pessoa que nunca viu na vida e que está sentada ao seu lado na manicure ao garagista do estacionamento. Isso funciona bem no mundo feminino, porque é assim que as idéias são organizadas e a solução aparece. Já os marmanjos guardam o problema para si, preservando sua condição de macho alfa e de pessoa viril, potente e auto-suficiente.

As discussões de relação (famosas DRs), então, podem não funcionar, porque é uma tentativa frustrada de juntar dois lados antagônicos, que insistem em manter seu modus operandi: ela escancarada e ele fechado. E, nas palavras de Regina, o que temos são duas pessoas gritando e nenhuma escutando. E aí, voltamos a Woody Allen e aprendemos que temos que entender as sutilezas do sexo oposto.

No livro Homens, Amor e Sexo, de David Zinczenko e Ted Spiker (Editora Sextante), os autores partem da teoria de que homens pensam, enquanto mulheres sentem. Então, quando a mulher insiste em saber o que ele sente em relação ao namoro ou casamento, a coisa complica. O ideal é perguntar o que ele pensa a respeito disso. E ainda dão dicas interessantes sobre como a mulher pode mudar seu discurso e substituir frases como "você não me entende" por "gostaria de conseguir me fazer mais clara para você" ou ainda ao invés de convidar para sentar e conversar propor passearem de carro e aí falar. Até porque o homem fica menos tenso quando está realizando alguma atividade física, como dirigir por exemplo.

Muitos relacionamentos hoje estão padecendo pela falta de sinceridade e do verdadeiro diálogo: franco, maduro e enriquecedor. E, para que isso aconteça, Regina Vaz recomenda que a relação esteja pautada nos três "A": Admiração (sem ela não haverá respeito), Atração (é o que faz os momentos a dois mais interessantes) e Amizade (que permite justamente essa troca de idéias).

Além disso, é muito importante que tanto o homem quanto a mulher preservem e mantenham sua auto-estima elevada. Isolar-se dentro da relação, deixando de lado amigos, família, profissão e tudo mais, seguramente vai dar pano para manga para longos e terríveis duelos de egos.

Também é recomendável que na relação os dois dividam as responsabilidades e saiam de papéis predeterminados como "pai provedor" ou "mulher submissa", por exemplo. Caso contrário, você pode cair na situação de Woody Allen no filme Poderosa Afrodite, quando seu filho lhe pergunta quem é o chefe da casa e ele responde: "Você ainda pergunta? Eu sou o chefe. Sua mãe só toma as decisões".

Nenhum comentário: