sábado, 14 de fevereiro de 2009

As histórias de Jack Tequila e sua filha Margarita

Publicado no Terra em janeiro de 2009
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Algumas bebidas possuem o poder da serem envolvidas por uma aura mística e nos transportar magicamente ao seu lugar de origem quando as tomamos. E nenhuma delas tem tantas histórias como a tequila. Cada gole lembra praias mexicanas, sol, calor e morenas calientes. Isso sem contar a engraçadíssima música imortalizada em 1958 pelo conjunto The Champs.

Originada da região de Jalisco, a noroeste de Guadalajara, é feita da bidestilação da pinha do Agave Azul - que apesar da idéia corrente não é um cacto, mas está na família das plantas suculentas - e é mais do que simplesmente a pinga de los hermanos mexicanos. É algo para ser apreciado demoradamente, como um bom conhaque ou um uísque.

Se você quer escolher uma boa marca de tequila atente para seu rótulo e veja se traz a marcação de 100% Agave. Se ele não tiver essa inscrição, é seguramente uma mista (com no mínimo 51% de Agave), o que não significa baixa qualidade, dependendo da marca e procedência.

Entre seus diversos tipos temos a Blanca ou Plata (engarrafada logo após a destilação e muito apreciada no país de origem, por serem as mais puras), a Joven ou Oro (suavizada com sabores como caramelo e muito usada em drinques), a "Reposada" (que fica de dois meses a um ano em barris de carvalho), a "Añejo" (com mais de um ano de envelhecimento) e finalmente a "Reserva" (mais de oito anos em barris de carvalho).

Em todo o mundo, a tequila é diretamente relacionada ao público jovem. Uma pesquisa mundial dos produtores da bebida mostrou que os apreciadores possuem entre 25 e 45 anos de idade, e até mesmo a famosa rede BBC traçou os adeptos ingleses como pessoas que tem o espírito livre, sociais por natureza e extremamente extrovertidos.

O grande problema é que, devido à sua larga utilização nas festas estudantis nos EUA, elevou-se a fama de causadora de ressacas homéricas. E para ilustrar essa notoriedade, dois famosos adesivos vendidos lá fora trazem a inscrição Tequila: fazendo as mulheres baixarem seu padrão há anos, e ainda, Tequila: já abraçou a privada hoje?

Apesar de existirem 901 marcas de 128 produtores, aqui no Brasil, a mais comercializada e conhecida é a Jose Cuervo com suas duas versões: Blanca e Especial.

O detalhe é que nenhuma das duas é 100% Agave Azul e sim mistas, assim como Salza, outra marca facilmente encontrada. Já para quem procura tequilas de primeiríssima linha, o jeito é encomendar em importadores nomes como Gran Centenario, Herradura, Chinaco, El Tesoro de Don Felipe, Corazón, Casa Noble, Cabo Wabo - essa produzida pelo ex-vocalista do Van Halen, Sammy Hagar e Frida Kahlo (a mais cara de todas, cujo valor pode chegar a US$65, a garrafa).

Lendas envolvem as maneiras mais populares de se tomar tequila. O "Tequila Shot", virar um copinho com limão e sal, teria aparecido em 1918 graças a uma epidemia mundial de gripe. Os médicos mexicanos teriam recomendado engolir a bebida desse jeito como um meio de cura. Obviamente todos alegavam estar gripados para ganhar sua dose.

Além disso, ninguém sabe ao certo quem é o verdadeiro autor do mais famoso e mais popular drinque feito com tequila, a Margarita. Mas todas as histórias envolvem uma mulher de beleza inebriante.

Uma delas diz que foi criada por um barman de Tijuana em homenagem à eterna sex symbol Rita Hayworth (cujo real nome era Margarita Cansino). Outra aponta a também atriz Marjorie King, que era alérgica a qualquer bebida alcoólica, com exceção da tequila e inspirou outro dono de bar. Até a cantora Peggy (Margaret) Lee, autora e intérprete da música mais sensual já composta, Fever, foi colocada como musa da beberagem.

A mais plausível e aceita de todas envolve uma sedenta socialite do Texas, Margaret Sames, que teria sonhado com o drinque em uma viagem a Acapulco. A receita é extremamente simples: 40ml de tequila, 20ml de cointreau (ou Triple Sec), 2 colheres de sopa de suco limão, 3 ou 4 pedras de gelo e sal na borda do copo. Todos os grandes apreciadores de Margarita abominam a versão frozen, criada em 1971 no Texas já que lembra, muito vagamente, o sabor original.

Para terminar, se for ao México, nunca peça La Tequila. O correto é El Tequila. No masculino mesmo.

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