sábado, 14 de fevereiro de 2009

Minha vida sem cachorro

Publicado no site Overmundo em Agosto de 2008
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Você vai me odiar. Vai escrever à minha mãe para perguntar que tipos de distúrbios eu tenho. Serei excluído de círculos sociais. Serei proibido de colaborar no Overmundo, o texto não terá votação. Nem edição terá, tamanha rejeição que há de tema tão polêmico. Mas tenho uma confissão a fazer: não gosto de cachorro.

Os grandes assustam, os pequenos me irritam. Odeio latido de cachorro. Especialmente aqueles de madrugada quando, devido ao silêncio que impera, soam como obuses numa guerra. Tonitroando sem parar e chamando outros caninos para uma disputa. O que é pior? Os outros aceitam o desafio.

Cachorro em apartamento deveria constar da Convenção de Genebra como crime contra a humanidade. Apartamento com sacada, então, é muito pior. A sacada torna-se o quintal do cachorro. Lá estão eles, pulando, latindo, correndo em um espaço minúsculo e limitado, espalhando pelos pelo ar. E ái do vizinho que reclame. Vira pária. “Não deve ser um bom ser humano” comenta-se nos corredores.

Para quem mora em casa, resta o derradeiro sadismo: o cachorro fica na garagem. E assim, tal qual um predador em uma floresta, fica na espreita esperando o pobre pedestre passar, para então matá-lo de susto com ataques ao portão. Imagino que devam voltar às suas casinhas com aquela risada do Mutley, personagem canino dos desenhos animados, e uma satisfação indescritível no peito. “Mais um”, pensa ele.

Na lista de atitudes desaprovadoras dos cachorros ainda tem aqueles que pulam em você. Outros que lambem você. Outros que tentam engravidar sua perna. Outros que tentam fortalecer as mandíbulas usando algum pedaço de carne do seu corpo. E aqueles que fazem tudo isso ao mesmo tempo.

Nesse desabafo todo porém, tenho que admitir que existe uma espécie pior que a canina: os donos dos cachorros. Porque se existisse compaixão, respeito ao próximo, cidadania, generosidade, menos egoísmo e valorização da felicidade alheia dentro de cada ser humano, acredite-me, eu amaria os cachorros.

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