sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carnaval reforça "nossa fixação pelo traseiro"

Publicado no Terra em fevereiro de 2009
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Há algum tempo atrás, o escritor e crítico de restaurantes, A. A. Gill, escreveu uma matéria bastante preconceituosa para a revista Vanity Fair, em que dividia o mundo em dois hemisférios: o breast world (mundo dos peitos) no norte e o bottom world (mundo do traseiro) no sul.

A partir dessa idéia, ele afirmou que as mulheres brasileiras são diferentes das outras por causa da tara que temos por bundas. Nos Estados Unidos, a paixão por peitos faz com que a menina possa olhar nos olhos de quem admira seus seios (o que levou o comediante Seinfeld a dizer que decote é como eclipse, não se pode olhar diretamente). Aqui não. Como ela não sabe a reação do rapaz ao olhar suas nádegas, capricha na ginga e no modo de desfilar. E o autor arrisca que isso trouxe maior independência à mulherada brasileira.

Essa "coisa" que temos com bunda será aguçada ainda mais a partir de hoje, durante quatro dias de transmissões do Carnaval. As emissoras adoram mostrar os variados tipos, tamanhos e consistências desta protuberância tão amada.

A única explicação plausível para nossa dedicação a essa parte da anatomia feminina vem dos tempos de escravidão no Brasil - época em que negras da etnia mbunda de Angola faziam os portugueses arrepiar seus bigodes e esquecer a bacalhoada da Maria de Fátima.

A bunda é tão importante no mundo masculino tupiniquim que é capaz de definir uma mulher. Daí os termos mulher-pêra (magra de quadril largo e bunda grande), mulher-Raimunda (feia de cara e boa de bunda), mulher-nadadora (nada de frente, nada de costas - a total ausência de bunda) e assim por diante. Bundas vendem cerveja, aumentam a procura de CDs se estiverem na capa e, ainda, dão audiência em certos programas de TV. É tão forte essa ligação que nem mesmo a moda do silicone nos peitos conseguiu derrubar a bunda do primeiro lugar na lista de preferências masculina.

Em 2008, o concurso Show Me Your Sloggy em Paris, coroou a catarinense de 20 anos Melanie Fronckowiak como a melhor bunda do mundo. Ela levou para a casa o prêmio de 15 mil euros e um seguro para sua derrière e fez aquilo que a seleção brasileira de futebol não consegue mais: preservou nossa boa fama.

E como identificar a bunda perfeita? Em 2006, pesquisadores da universidade de Manchester (sempre a Inglaterra e suas pesquisas geniais) chegaram a uma fórmula matemática para calcular o índice da bunda feminina: (S+C) x (B+F) / (T-V). Explicando: S é o formato do traseiro (e quanto mais parecer com um pêssego, melhor), C é sua curvatura (redonda é a ideal), B é balanço (não pode ficar chacoalhando), F é a firmeza (os bumbuns durinhos levam vantagem) e T vai para a textura da pele (agora sim, as moçoilas podem se desesperar por causa da celulite, porque os furinhos as farão perder pontos).

Faça as contas e quanto mais próximo o índice estiver de 80, mais perfeita a bunda será. Obviamente que tudo isso é uma grande bobagem, porque, em primeiro lugar, inglês não entende nada de bunda e, depois, o melhor é a análise táctil-visual para tirar as conclusões e não uma calculadora científica.

Existe, porém, algo intrigante nessa história: por que, com todo esse amor pelas nádegas, quando queremos ofender alguém, o chamamos de bundão?

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