terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Por debaixo do pano, peças íntimas fazem história

Publicado no Terra em fevereiro de 2009.
Link

Brasília comemorou nesta terça-feira o Dia Nacional da Roupa de Baixo. Modelos desfilaram peças de 20 marcas de lingerie nos corredores do Conjunto Nacional e na Rodoviária do Plano Piloto. É a segunda edição do projeto, criado pelo site de moda brasiliense Finíssimo. A iniciativa foi inspirada em um evento parecido, que acontece desde 2003 em Nova York, nos Estados Unidos, e tem apoio dos fabricantes de lingerie.

Mas não é de hoje que a peça íntima desperta interesse. Uma lingerie pode ser uma ótima arma de sedução ou destruir um momento romântico. Uma cueca pode lhe dar ares de homem sedutor ou lhe mostrar como um ser abjeto. As roupas de baixo acompanham as pessoas desde o início da humanidade e dizem muito sobre suas personalidades.

No começo era o saiote, usado por homens e mulheres, que consistia em um pedaço de pano ou couro amarrado na cintura para esconder as partes proibidas. Um desses saiotes foi encontrado por arqueólogos e datava de 7 mil anos atrás. Na Roma antiga era comum ver escravos usando a peça, enquanto os ricos desfilavam em suas togas sem nada por baixo. Já as mulheres romanas usavam uma versão primitiva do sutiã e calcinha, em duas peças separadas. Mesmo no Japão, o fundoshi, aquela tira de tecido usada hoje por lutadores de sumo, já era obrigatório há milênios.

A idade média inovou com a adição do legging para homens, muitas vezes usado como roupa exposta e não escondida e algumas ainda permitiam aos marmanjos urinar sem ter que tirar toda a peça. Aliás, naquela época, tantos homens e mulheres usavam camisetas sob a roupa, as chemises francesas. Os corsets também apareceram nesse mesmo tempo para apertar os peitos femininos. Nunca se provou a existência dos cintos de castidade para evitar que as mulheres traíssem. Na realidade, muitos historiadores acreditam que era uma arma contra estupros já que os homens estavam em cruzadas e guerras e que próprias mulheres possuíam as chaves.

A revolução industrial trouxe a possibilidade da produção em massa. Foi aí que lançou-se a moda das cinturas de vespas e as moçoilas corriam para colocar seu espartilho. O grande problema é que para ficar bom, tinha-se que apertar muito e não era raro ver moças desmaiando por falta de ar.

Nos idos de 1880 apareceu o corpete saudável, uma versão mais light do espartilho, que não provocava quebra dos ossos ou prejudicava os músculos. Para os homens, além da mais que obrigatória ceroula, a novidade foi o aparecimentos do jockstraps em 1874, muito usado por esportistas, especialmente ciclistas, porque protegia aquela parte mais sensível da anatomia masculina. Hoje faz um sucesso tremendo no mundo gay.

A tecnologia têxtil do início do século 20, permitiu um relaxamento nos corpetes e espartilhos femininos e tecidos mais confortáveis aos marmanjos. Foi na virada do século que o americano Benjamin Joseph Clark criou a cueca boxer, mais firme, justa e curta, muito parecida com as atuais.

Também foi nessa época que se começou a separar as roupas femininas em parte superiores e inferiores. Em 1913, uma invenção que mudaria o mundo. Mary Phelps Jacob cria o sutiã, livrando as moças do aperto. Homens já usavam cuecas curtas com botões na frente, no modelo conhecido no Brasil atualmente como samba-canção.

Com as separações das roupas de baixo, as calcinhas também diminuíram e agora as pernas eram cobertas por meias de tecido, substituídas depois pelo nylon. E também é aí que, inspiradas pelas dançarinas francesas de can-can, as mulheres começaram a usar a liga, tanto nas pernas como na cintura.

Os anos 30 deram aos homens a cueca slip (ainda maior que as atuais) e um cavalheiro sempre usava regata sobre o peito, até que Clark Gable, o grande referencial masculino de Hollywood na época, tira sua camisa no filme Aconteceu Aquela Noite e estava sem nada por baixo. A moda acabou ali mesmo.

O elástico sanfonado e a mistura do corset com o sutiã aparecem no período da segunda grande guerra, enquanto nos anos 60 as mulheres saem às ruas para queimar sutiãs como símbolo da opressão masculina (como se nós as obrigássemos a usar).

E assim, nos últimos 40 anos vimos as roupas de baixo crescerem e diminuírem. Algumas vezes a moda é mais retrô, outras mais ousadas. Até mesmo o não uso de calcinha virou moda! Mesmo porque segundo alguns médicos, os tecidos sintéticos ou muito grossos dificultam a ventilação, proporcionando o aparecimento de bactérias e fungos. O que rege a indústria seguramente é que, além de conforto, o importante é a mensagem de sensualidade que a calcinha, sutiã e cueca vão passar.

Nesse processo da sedução, as mulheres contam com a tanga (bem mais curtinha), a fio-dental (que necessita de muita parcimônia por parte da moça para usar porque pode chocar e passar a mensagem "hoje estou fácil") e a cinta-liga (muito sensual, matadora, mas também tem hora certa).

Branco e preto são recomendáveis, vermelha precisa de muito conhecimento para não parecer vulgar, calcinha e/ou sutiã bege estão completamente descartadas da equação, por mais que "combine com a roupa", pois passam a idéia clara que o homem está para transar com sua avó. E as com mensagens e bichinhos são ótimas quando se tem de 8 a 12 anos, mas depois fica meio estranho, a menos, obviamente, que faça parte da fantasia do casal.

Já os homens tem a slip com ou sem abertura, as samba-canção (de seda está muito fora de moda hoje em dia), as boxer (muito indicadas, bonitas e confortáveis) e as joks (ótimas para luta greco-romana, se é que você me entende). Branca e preta são ideais. Azul, somente se for beirando o preto. Vermelha só se você quer parecer ator de antigos filmes de pornochanchada brasileiros.

De qualquer maneira, seja homem ou mulher, o importante é não descuidar desta peça do vestuário. Vestir qualquer coisa porque ninguém vai ver é uma tremenda roubada. Nada mais agradável a um homem que despir uma mulher e vê-la com uma lingerie bonita, nova e sensual. O mesmo para a mulher, quando seu homem tira a roupa e mostra que sua cueca condiz com seu tipo físico. Ou seja, gordo de slip larga ou o cara com uma cueca com uma marca indelével na parte traseira, não dá.

Nenhum comentário: