sábado, 14 de fevereiro de 2009

O Consigliere recomenda filmes para quem quer justiça

Publicado em abril 2007 na revista VIP

Ciao, belo! Apesar da minha famiglia ter, por assim dizer, “ótimas” relações com o sistema judiciário, já estou ficando cansado de tanto ouvir sobre impunidade neste paese! É tanta máfia para cá, máfia para lá, que estamos pensando em cobrar royalties! E aí, para ver justiça ser feita de verdade, nada como uma vecchia peliccola americana de julgamento onde juízes são imparciais, bandidos são presos e os advogados são idealistas. Confira a lista e quero ver você gritar “Objeção”!


Testemunha de acusação (1957): Uma receita melhor que o raviolli que meu nono fazia. Junte texto de Agatha Christie com a direção de Billy Wilder e adicione atuações soberbas de Charles Laughton, Tyrone Power e Marlene Dietrich e se delicie. Quer mais? Uma das melhores frases de todos os tempos está no finalzinho do filme! Só não posso contar porque estraga o desfecho da pelicolla. Assista e confira!


Doze Homens e uma Sentença (1957): uma verdadeira obra-prima mostrando o confronto dos jurados em um julgamento de assassinato. Um clássico que ensina a enxergar uma situação por fora da caixa e não aceitar fatos simplesmente da maneira que são postos na nossa frente. Todas as provas contra o acusado vão sendo minuciosamente analisadas por um insistente Henry Fonda para desgosto dos outros jurados, cada um representando um extrato social (o publicitário, o racista, o velho, o imigrante, o operário etc.), num jogo fabuloso. Destaque também para a interpretação de Lee J. Cobb como o grande antagonista de Fonda. Júris podem ser considerados como entidades impessoais. Cada jurado, porém, é uma PESSOA, cheia de preconceitos. Teve uma (boa) refilmagem em 1997 com atualização do roteiro feita pelo próprio autor do original.


Anatomia de um crime (1959): O sempre genial e polêmico Otto Premminger dirige James Stewart, Ben Gazzarra, Lee Remick (ragazza belíssima) e George C. Scott, no caso de um militar acusado de matar o estuprador de sua mulher. A questão é até que ponto tudo aquilo era verdade? A trilha sonora, de Duke Ellington, ganhou o Grammy naquele ano e é considerado, por muitos, como o melhor filme de julgamento já feito.


Julgamento em Nuremberg (1961): Stanley Kramer teve a coragem de discutir nazismo e suas repercussões contando a história do julgamento de juízes boches que condenavam judeus a torto e a direito. O processo, entretanto, se torna uma batalha entre a retórica nazista do avvocato de defesa e o discurso americanófilo da acusação. O discurso sobre culpa do Presidente da Suprema Corte alemã, interpretado por Burt Lancaster (“Onde nós estávamos quando nossos vizinhos eram levados á noite?) e as considerações finais do juiz americano magistralmente feito por Spencer Tracy (“Um país não é um pedaço de rocha. É uma extensão de nós mesmos. Daquilo que acreditamos e sustetamos”) são perfeitas aulas de cidadania. E explicam muito o que acontece neste caótico paese que vivemos e no mundo de hoje.


O Sol é para Todos (1962): Harper Lee, aquela que acompanhou Truman Capote na investigação dos assassinatos de uma família do meio-oeste americano (e gerou o grande livro A Sangue Frio) é a autora de uma das maiores obras da literatura estaduniense. A transposição para as telas não ficou nada a dever para o livro. Um julgamento envolvendo racismo e intolerância, do ponto de vista de três bambini é um daqueles clássicos para se ver mais de uma vez. E mais, Atticus Finch, o avvocato interpretado por Gregory Peck, foi escolhido o maior herói do cinema de todos os tempos pelo American Film Institute. E é o primeiro filme de um dos meus grandes ídolos (e eterno consiglieri dos Corleone), Robert Duvall.


Ecco! Mas se aquele amigo seu, que adora a série Todo Mundo em Pânico, reclamar que os filmes são todos em preto-e-branco, me avise. Meus associados vão acrescentar mais uma cor: vermelho-sangue. Arrivederci!


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