domingo, 30 de janeiro de 2011

Um “telefilme” é o melhor filme do ano?

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Não sei se você se lembra, mas nas décadas de 1970 e 1980 haviam muitos telefilmes, ou “os filmes feitos para TV”, a maioria “baseado em fatos reais” com histórias tocantes e comoventes de superação, dor e vitória. Eram os tempos de O Menino na Bolha de Plástico (que deu ao mundo John Travolta), The Karen Carpenter Story, The Texas Cheerleader Story ou The Amy Fisher Story. Este ano, uma espécie de telefilme feito para o cinema ganhou o Globo de Ouro de Melhor Drama de 2010.

OK, A Rede Social é divertido, instrutivo e bem feito. Só que o filme é só isso. Não é memorável, não revoluciona a estética do cinema, nem muda a maneira de narração de uma história “baseada em fatos reais”. É somente The Mark Zuckerberg Story ou How I Learned to Stop Worrying and Love the Social Network besides Orkut. A única coisa boa mesmo é o truque em cima de um ator, Armie Hammer , interpretando os gêmeos Winklevoss, só que Jeremy Irons já fez isso em 1988, de maneira muito superior, com Gêmeos – Mórbida Semelhança. O lance é alguém acreditar piamente no que é narrado no filme, cheio de detalhes que parecem ser completamente inverossíveis, com “heróis” e “vilões” tão bem definidos que quase caem na caricatura e mais, se era para se fazer um final na linha do “se a lenda é maior que a realidade, divulga-se a lenda”, então deixe isso com John Ford e seu O Homem que Matou o Fascínora de 1962.

Os jornalistas da imprensa estrangeira que votam no Globo de Ouro já premiaram filmes por serem revolucionários no visual como Titanic e Avatar, ambos de James Cameron. Por que então não eleger A Origem? Também contemplaram dramas fortes como Crepúsculo dos Deuses, Um Lugar ao Sol, O Estranho no Ninho e Laços de Ternura. Por que desprezar Cisne Negro? A história da realeza inglesa e de seus nobres mais famosos já foi agraciada com o prêmio em O Homem que Não Vendeu sua Alma, O Leão no Inverno e Ana dos 1000 Dias. Por que não votar em O Discurso do Rei? Mesmo biografias já tiveram seu quinhão, mas eram projetos mais audaciosos como O Aviador, A Lista de Schindler, Bugsy, Uma Mente Brilhante e Amadeus. Que mensagem tentaram passar com A Rede Social? Talvez uma maneira de se antenar com o público mais jovem e os novos tempos? Ou a idade média dos jornalistas está descrescendo, então o assunto lhes diz mais respeito do que a gagueira de George VI?
Se você consultar o IMDB, maior site de cinema no mundo, vai ver que os filmes  com maiores notas de 2010, votados pelos internautas e com um mínimo de mil votos, são, em ordem decrescente, A Origem, Tropa de Elite 2, Toy Story 3, Cisne Negro e O Discurso do Rei. Os cinco com maior bilheteria (só EUA) são Toy Story 3, Alice no País das Maravilhas, Homem de Ferro 2, Crepúsculo: Eclipse e A Origem.  Nada de Rede Social.

Não quero detonar o filme, nem nada disso. Até vale a pena ser assistido. Mas se o nível de qualidade do cinema americano for definido por essa obra em particular, então podemos dizer que Hollywood, a mágica capital da sétima arte no mundo, refletiu com precisão as condições da maior economia do planeta. Ou seja, está uma porcaria. Que venha o Oscar!

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