segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ava, o mais belo animal do mundo

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010
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Ela fez com que o milionário excêntrico Howard Hughes ficasse loucamente apaixonado, Frank Sinatra sofreu como um cão por sua causa, namorou um toureiro, casou-se três vezes e faria 88 anos em 24 de dezembro. Ava Gardner era tão deslumbrante que o poeta Jean Cocteau a definiu como o mais belo animal do mundo.


Ava Lavinia Gardner foi criada em uma pequena fazenda de algodão e tabaco na Carolina do Norte, com ascendência irlandesa, inglesa e indígena. Ela foi descoberta aos 19 anos de idade quando seu cunhado, o fotógrafo Larry Tahr, resolveu fazer um ensaio amador e, contente com o resultado, expôs na vitrine de sua loja na 5a. Avenida em Nova York. Foi o bastante para um olheiro da MGM se encantar e contratá-la, com uma condição: ela devia fazer curso de dicção para perder o sotaque caipira sulino que carregava. Sua primeira aparição foi em A Sombra dos Acusados de 1941, mas só ganhou um papel de destaque com Os Assassinos de 1946. Conseguindo um lugar ao sol em Hollywood, acabou candidata ao Oscar de melhor atriz em 1956 com Mogambo, onde contracenou com o galã Clark Gable, que, segundo suas memórias, tirou uma casquinha da beldade. Entre as décadas de 1950 e 1970 apareceu em grandes filmes, sempre ao lado de símbolos sexuais masculinos como A Condessa Descalça (com Humphrey Bogart), E agora Brilha o Sol (com Tyrone Power), A Hora Final (com Gregory Peck) e no filme-catástrofe Terremoto de 1974 (com Charlton Heston), onde dispensou dublês .
O forte de sua biografia, porém foi sua turbulenta vida amorosa. Aos 19 anos de idade, casou-se com o ator “quase mirim” Mickey Rooney, então com 21. Rooney era, na época, um dos maiores astros da MGM graças aos seus filmes bobos que fazia ao lado de Judy Garland na cinessérie Andy Hardy e obviamente encantou a jovem Ava. O casório durou apenas um ano porque os dois brigavam demais. Anos depois, quando Rooney contou com bastante entusiasmo sobre sua vida sexual com Gardner, ela se limitou a dizer “bom, querido, você pode ter aproveitado o sexo, mas Deus sabe como eu não”.

Em meados dos anos de 1940 ela conheceu o multimilionário Howard Hughes e começou uma amizade que durou até 1955, ano que ele se escondeu do mundo. Muito se especula se os dois tiveram ou não um tórrido romance. Ela sempre negou e afirmou que  máximo que chegaram foi num beijo no rosto, mas é sabido que ele era louco por ela e morria de ciúmes, chegando a socá-la em uma ocasião e deixá-la com o rosto marcado. Tempos depois, a atriz acabou perdoando Hughes e se tornou seu “ombro amigo” para os momentos em que ele precisava desabafar.

Seu outro casamento de curta duração foi com o band leader Artie Shaw, que conheceu nas filmagens de Os Assassinos. Culto, bonito e talentoso, Shaw a conquistou pela sua inteligência e durante os oito meses de namoro, ela , durona pacas, proibiu sexo (imagine o que isso era para ele). Casaram-se em 1945, mas a coisa deu muito errado. O jazzista era extremamente possessivo e se irritava com a cultura limitada de Ava, forçando-a a estudar música, literatura, política etc. Depois de um ano, ele pediu o divórcio.
Seu terceiro casamento, o mais famoso de todos, foi com Frank Sinatra. O cantor a conheceu quando ela ainda estava casada com Mickey Rooney e anos depois, mais especificamente em 1949, os dois começaram uma amizade. Sinatra estava em franca decadência, artística, emocional e financeira, enquanto Gardner subia nos degraus da fama. Mesmo assim, os dois se apaixonaram e tiveram um caso. Logo, o cantor se separou da esposa, Nancy, para se casar com a atriz em 1951, sendo massacrado pelas duas maiores colunistas de fofocas da época, Hedda Hopper e Louella Parsons e pela Igreja Católica. O divórcio faliu Sinatra e ele passou a depender mais e mais de Gardner. O grande problema era seu ciúme exagerado (brigava por causa de Hugues e Shaw) e, como todo bom italiano, queria mais uma mulher que lavasse e cozinhasse e isso foi o bastante para Gardner o abandonar, mudar para a Espanha e se separar definitivamente em 1957. Sinatra passou um ano bebendo quantidades industriais de bebida alcoólica e chorando frente ao retrato dela e o fato acabou inspirando uma sequencia de  O Poderoso Chefão quando o cantor Johnny Fontaine vai choramingar nos ombros do Don Corleone. O cantor chegou a dar um murro na cara de Mario Puzzo por ter sido “citado” no livro e no filme, mas ressurgiu do fim deste casamento muito mais maduro e melancólico, longe do garoto desprotegido do início de sua carreira.

Ava Garder nunca mais se casou. Namorou o toureiro espanhol Luis Miguel Dominguín enquanto morou em Madri e depois se mudou para Londres. Na década de 1980 fez poucos filmes e duas minisséries para a televisão.  Dois derrames em 1986 a deformaram. Quando soube que ela não podia pagar o tratamento, Sinatra bancou médicos, hospitais e até mesmo um jato para levá-la da Inglaterra para os EUA. Especula-se que gastou mais de um milhão de dólares para  tentar salvar o grande amor de sua vida. Ava faleceu em 25 de janeiro de 1990. Suas últimas palavras foram as mais apropriadas para alguém que tinha vivido tão intensamente: “estou cansada”.

 Em tempo, Ava visitou o Rio de Janeiro em 1954 para o lançamento de A Condessa Descalça e deu no que falar. Irritou-se com o hotel que haviam lhe reservado (chegou a quebrar móveis no quarto) e mudou-se para o Copacabana Palace. Impressionou a todos com a quantidade de bebida que consumia, a ponto de um jornal publicar uma charge onde havia um copo com as medidas “para mulheres”, “para homens”, “para cavalos” e a máxima, “para Ava”. No fim, ficou trancada no quarto o tempo todo, encurtou sua visita, mas dizem que saiu na última madrugada aqui para conhecer a Cidade Maravilhosa. Veja agora  o trailer de A Condessa Descalça:

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