domingo, 30 de janeiro de 2011

Humphrey Bogart: de homem a mito

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
Link 

É muito difícil escrever sobre Humphrey Bogart, que faleceu em 14 de janeiro de 1957. Isso porque ele deixou de ser um ser humano comum e passou a ser um ícone da cultura pop ou como instituiu o AFI, o maior lenda masculina do cinema de todos os tempos. Bogart é sinônimo do homem durão, mas gentil. Amargo, mas com senso de humor. Forte e ao mesmo tempo, sensível. Um homem com vários aspectos, todos surpreendentes.
Como ator, ele foi o profissional que, desde sua estréia no cinema em 1928 até sua morte, não parou de trabalhar em nenhum momento, mas fama e fortuna só vieram mesmo na segunda metade de sua carreira. Foi em 1941 que Bogie deixou de ser o coadjuvante gangster, personagem que o marcou desde A Floresta Petrificada de 1936, para entrar como artista principal de dois grandes filmes: Seu Último Refúgio e Relíquia Macabra

Os dois marcaram o começo da parceria do ator com um velho amigo de bebedeiras, John Huston (ele escreveu o scritp do primeiro e dirigiu o segundo). Depois vieram Casablanca, o filme que ninguém queria fazer e que até hoje encanta platéias com seus diálogos cortantes e final surpreendente; À Beira do Abismo, onde teve a chance de fazer mais um detetive durão, Phillip Marlowe; O Tesouro de Sierra Madre onde dá um show de interpretação com seu Dodds, um homem obcecado pela possibilidade de enriquecer; Uma Aventura na África, que o coloca ao lado da grande Katherine Hepburn e lhe deu um Oscar; Sabrina, onde o homem duro encontra o amor por Audrey Hepburn e Horas de Desespero, onde volta a fazer um bandido, desta vez com uma carga dramática insuperável. Em todos esses clássicos, Bogart passava a idéia de um homem firme, de princípios rígidos, mente aguçada e daqueles tipos que qualquer um respeitaria.

Bogart também era um sedutor e fez muito homem morrer de inveja. Aos 45 anos de idade, ele conquistou Lauren Bacall de apenas 19. Bacall, aliás, nunca negou que na primeira vez em que se encontraram, ela não viu nada nele, mas ao fazerem juntos Uma Aventura em Martinica (uma péssima adaptação de Hemingway e uma tentativa de se fazer outro Casablanca), ele foi tão gentil e agradável, estabelecendo uma relação de tutor e pupila, que a moça se encantou. Sua primeira frase para ela, “vamos nos divertir muito juntos”, acabou sendo profética. Ele, que estava em um casamento infernal com Mayo Method, acabou se divorciando em 1945 e casando com Lauren. Ela foi sua quarta e última esposa.

Mais do que simplesmente um ator, ele era um democrata liberal. Organizou um grupo de profissionais do cinema, o “Comitê da Primeira Emenda”, para ir a Washington protestar contra o Comitê de Atividades Anti-Americanas do senador McCarthy, aquele que via comunistas em toda esquina dos EUA. Seu esforço não só não deu resultado, como fez com que muitas pessoas do grupo acabassem também sendo acusadas de serem simpatizantes da União Soviética. O próprio Bogart teve de se retratar em um artigo chamado “I´m Not a Comunist” publicado na revista Photoplay de 1948 (você pode lê-lo aqui), dizendo que era capitalista nato e que seu ato não foi em defesa dos “10 de Hollywood”  (dez profissionais da indústria cinematográfica que se recusaram a dar qualquer depoimento nas audiências do Congresso e foram banidos de Hollywood por terem sido considerados comunistas).

Bogart, o homem, sabia fazer amigos. Seu Rat Pack, o primeiro e original, tinha ótimos membros, todos com um cargo pré-definido. Ele era o rato responsável pelas relações públicas e Bacall a “Den Mother” (Mãe do Covil); Frank Sinatra era o “pack master”  (ou mestre da quadrilha, em uma tradução livre);  Judy Garland era a primeira vice-presidente; seu marido, Sidney Luft era o “cage master” (mestre da gaiola);  o agente de atores Swift Lazar, o tesoureiro e o escritor  Nathaniel Benchley foi denominado o historiador. O objetivo do grupo era mesmo se reunir para se divertir e beber muito, tanto que David Niven, Katharine Hepburn, Spencer Tracy, George Cukor, Cary Grant e Rex Harrison sempre apareciam por lá.

Essa boa vida, regada a quantidades industriais de bebida e cigarro, levaram embora o astro aos 57 anos de idade.  Reza a lenda que suas últimas palavras foram “eu nunca devia ter trocado o whiskey por Martinis”. Assim como um ex-presidente brasileiro, Bogie saiu da vida para entrar na história e se tornou, parafraseando uma das mais famosas frases de um de seu filmes, a coisa com a qual os sonhos são feitos.
E, se você realmente curte o ator, seu filho, Stephen Bogart (que é a cara da mãe, diga-se de passagem), mantém um belo website sobre o legado de seu pai (www.humphreybogart.com) e lançou recentemente uma página do ator no facebook, recheada de fotos familiares (esta ao lado é uma delas) e já com 54 mil fãs. Vale a pena dar uma conferida no material.

Nenhum comentário: