segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Do que as mulheres gostam em Mel Gibson?

Publicado no site da revista Alfa em janeiro de 2011
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Afinal, quem diabos é Mel Gibson? O ator sempre fez o tipo simpático dentro e fora das telas, encantava qualquer mulher de que se tem notícia e, de repente, se torna uma figura psicótica, fanática, religiosa, machista e ainda por cima um bebum descontrolado. Mel Colm-Cille Gerard Gibson, que é americano de Peekskill no estado de Nova York e não australiano como muita gente pensa, completa 55 anos hoje como uma sombra do que era.

Quem já era adolescente anos ano 1980 e gostava de cinema até que conseguiu acompanhar a ascensão e queda do galã que chegou a ser comparado com Steve McQueen, Clark Gable e Humphrey Bogart. Morando na Austrália desde os 12 anos de idade, Mel começou sua carreira, obviamente, nas produções de lá e uma era para lá de interessante, a ficção dramática Mad Max de George Miller (que era médico, por isso entendia pacas de ferimentos e violência), um filme com uma verba ínfima e uma idéia genial. Depois veio um dos mais tocantes filmes de guerra, Gallipoli, que fazia até uma estátua chorar com seu uso abusivo da música clássica “Adágio” de Albinoni. A seguir temos o mediano Mad Max 2 (que fez um tremendo sucesso nos EUA), o ótimo O Ano em que Vivemos Perigosamente e mais uma versão da história do navio The Bounty, com Gibson como Fleter Christian e Anthony Hopkins como o capitão Bligh.  E aí foi correr para a torcida.

Super-astro em Hollywood, o bacanão Mel encantava a todos com seus papéis para lá de bacanas como na série Máquina Mortífera, nos filmes Teoria da Conspiração, O Troco, Mad Max – Além da Cúpla do Trovão (péssimo, aliás), Do que as Mulheres Gostam e até mesmo dublando desenhos animados como o péssimo Pocahontas da Disney e o ótimo A Fuga das Galinhas da Aardman. Com tudo isso, as coisas começaram a subir na cabeça do cara. Ele fundou sua produtora em 1989, Icon, e resolveu ir para trás das câmeras e em 1995 veio o épico Braveheart, onde Mel Gibson de saia, cara pintada, berrando em cima de um cavalo e incorporando o herói escocês William Wallace, ganhou cinco Oscars da Academia, inclusive de Melhor Filme e Melhor Diretor.

Mel Gibson sempre foi um católico fervoroso e nunca escondeu isso, então em 2004, o moço resolveu filmar A Paixão de Cristo, em aramaico, latim e hebreu. É o filme não falado em inglês de maior faturamento na história do cinema americano, mas gerou muita confusão e celeuma. Ao contar a história das últimas horas de Cristo, mas com todos os requintes de crueldade possível, fazendo com que O Albergue pareça um conto de fadas, Gibson deixou a comunidade judaica em polvorosa com a mensagem antissemita. Depois foi criticado por historiadores pela inexatidão histórica. Só que as comunidades cristãs aprovaram (inclusive a Igreja Católica) e o filme foi um sucesso. É engraçado notar que A Última Tentação de Cristo, que tem sua maior parte focada nas palavras de amor do Messias, foi condenado pela igreja por ousar dizer que Cristo teve uma tentação na cruz e o outro que só mostrou dor, não. Vai saber.

O ator-diretor-produtor ainda fez o elogiado Apocalypto falado na língua indígena dos maias e ainda quer fazer um filme passado na era viking com linguagem da época. Mesmo com tanta habilidades poliglotas, vemos que o problema de Mel é com o inglês mesmo. Nos anos 90, ele foi processado por homofobia graças a uma entrevista a um jornal mexicano. Acabou se desculpando, culpando a vodca da noite anterior. Depois, em 2006, o  cara é parado por um policial por dirigir bêbado e tascou um discurso culpando os judeus pelas guerras no mundo. Já em 2010 Mel Gibson descobriu que a privacidade humana desapareceu quando foi gravado num papo xingando imigrantes e negros e depois por todas as barbaridades que disse para a ex-namorada, Oksana Grigorieva, além, é óbvio, de descobrirmos que ele adorava arrebentar a cara da beldade. Com tudo isso, todo seu trabalho de filantropia com instituições de pesquisas arqueológicas, história da arte e auxílio a crianças acaba sendo ofuscado.

Mel Gibson comemora seu aniversário hoje meio que na berlinda na capital do cinema. Um dia, ele chegou a dizer: “você não pode viver de acordo com o que as pessoas esperam. Ninguém pode. Mas eu acho que é problema meu, não deles.”. Sim, meu caro, é um grande problema, mas a gente promete que se você voltar a ser um cara legal, a gente te perdoa. Feliz aniversário.

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