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Charles Spencer Chpalin era um cara genial. Teve uma vida pessoal recheada de escândalos, barbarizou Hollywood, zombou do puritanismo norte-americano e traçou tudo que usasse saia, mas não fosse escocês. Por outro lado, criou obras incríveis, revolucionou o cinema e ao levar o humor de vaudeville para as telas, abriu caminho para Harold Lloyd, Irmãos Marx e Oliver Hardy & Stan Laurel (era amigo deste último desde a Inglaterra). “O Garoto”, que completa 90 anos este ano, é uma de suas obras mais conhecidas e aclamadas e a figura do vagabundo e do menino de costas acabou se tornando clássica em qualquer feirinha de artesanato no Brasil.
Em 1920, a vida de Chaplin estava um verdadeiro caos. Primeiramente havia o processo de divórcio com Mildred Harris com quem havia casado em 1918, quando a menina tinha apenas 16 anos. O casamento não durou à morte do seu primeiro filho, Norman Spencer, falecido com três dias de idade. Com tudo isso na cabeça, surgiu “O Garoto”.
O vagabundo criado por Chaplin em 1915, aqui chamado de Carlitos, ainda era um grande sucesso e o ator-diretor-roteirista desenvolveu a história onde seu maior personagem encontra um bebê abandonado em um beco e o cria como um filho. Anos mais tarde, o serviço social quer tirar a criança de seu padrasto, criando situações dramáticas e sequencias absurdas na fuga dos dois. O mestre não hesita em retratar a miséria dos cortiços e da falta de humanidade das autoridades, reflexo de sua infância paupérrima em Londres.
Foi o primeiro filme a unir comédia e drama na mesma história, ou como diz um dos textos de abertura ,”um filme para um sorriso e quem sabe uma lágrima”. (na verdade, a platéia jorrava, chorando de emoção pela sorte da dupla) e ainda uma das primeiras tentativas de Chaplin em fugir dos curta-metragens (as diversas versões do filme variam de 54 a 68 minutos). Como o processo de divórcio corria a solto e Mildred queria, além da mansão dos dois, cerca de 100 mil dólares, Chaplin teve que se esconder em um hotel para montar o filme e assim não perdê-lo para a moça. Em 1921, processo encerrado, “O Garoto” estreou nos EUA.
Jackie Coogan, o menino que dá um show de interpretação no filme, foi descoberto por Chaplin em um espetáculo de vaudeville no Orpheum Teather em Los Angeles. O garoto conseguia ser doce, travesso e extremamente convincente nas cenas mais dramáticas e obviamente se tornou um dos grandes astros infantis daquela época. Um ano depois fez o papel-título de Oliver Twist nas telonas e foi um dos primeiros atores a ter uma grande quantidade de produtos com seu rosto estampado como manteiga de amendoim, bonecos, discos etc.
Estima-se que Coogan ganhou de três a quatro milhões de dólares, uma fortuna na época e todo o dinheiro foi torrado pela sua mãe e pelo padrastro. Em 1938, os 23 anos de idade, o ator processou os dois e conseguiu de volta apenas US$ 123.000. A batalha legal trouxe ao mundo as condições dos atores-mirins e a California votou uma lei, batizada de Lei Coogan, que reza que 15% dos ganhos da criança devem ser colocados em uma poupança e também regula questões como escolaridade, jornada de trabalho e tempo livre.
Jackie Coogan lutou na segunda guerra, casou-se quatro vezes (uma delas com a beldade mais amada dos pracinhas americanos Betty Grable) e acabou fazendo sucesso na televisão, especialmente como o Tio Funéreo em A Família Adams. Já Chaplin refez a trilha do filme e o remontou em 1971 com 50 minutos de duração. Ele ajudou Coogan em seus momentos de penúria financeira e a última vez que se viram foi em 1972, quando o mestre recebeu seu Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra. Chaplin faleceu em 1977 e Coogan em 1984.
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