segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Marlene Dietrich, a musa que se reinventava

Publicado no site da revista Alfa em dezembro de 2010
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“Eu não sou uma atriz – sou uma personalidade”. Era assim que Marie Magdelene Dietrich von Losch, a Marlene Dietrich se definia. A sex symbol dos anos 30 a 50 não gostava de trabalhar em filmes, mas foi graças a eles que sua persona foi construída e ela passou a ser um mito.


Nascida a 27 de dezembro de 1901 em Berlin-Schöneberg, na Alemanha, Marlene estudou violino, teatro e poesia quando adolescente. Ainda no meio artístico, estreou nas telas, ainda no cinema mudo, com So Sind Männer de 1922, mas a fama mesmo só viria oito anos depois com O Anjo Azul, que a tornou um símbolo sexual e o sinônimo de mulher fatal. No filme, Marlene interpreta Lola-Lola, uma cantora de cabaré causa a decadência de um sério e respeitado professor.
O sucesso do filme levou ela e seu diretor, Josef von Sternberg, para Hollywood, onde acabou contratada pela Paramount, que queria ter sua européia sensual para combater Greta Garbo da MGM. A dupla (que se tornou amantes) realizou uma série de filmes de sucesso juntos. E Sternberg usava recursos de luz e tomadas de câmera para tornar sua atriz favorita cada vez mais próxima da imagem da femme fatale. Quando o diretor foi dispensado pelo estúdio a carreira de Dietrich entrou em decadência e em 1937 ela, junto a outros atores e atrizes, entraram na chamada lista de envenenadores de bilheterias. Acontece que Marlene não era de desistir.

Foi em 1939 que ela resolveu sair dos papéis de prostitutas e mulheres sexy para encarar um western, Atire a Primeira Pedra e com isso conseguiu voltar ao topo e se reinventar pela primeira vez. Neste mesmo ano, ganhou a cidadania americana e começou uma forte campanha anti-nazismo que imperava na sua terra natal. Ela foi uma das primeiras atrizes a vender bônus de guerra e foi a que mais viajou para o front de batalha para animar os soldados. Isso levou-a a receber Medalha Presidencial da Liberdade dos EUA e a Legião de Honra da França.

Acabada a II Guerra, a atriz resolveu investir em sua carreira de cantora. Contratada pela Columbia Records tornou-se um sucesso com suas gravações solo ou em dupla com Rosemary Clooney (a tia de George Clooney). Isso fez com que trabalhasse em poucos filmes nos anos 50 e 60, mas estrelou produções dirigidas por grandes mestres como Stanley Kramer (no ótimo Julgamento em Nuremberg), Orson Welles (no clássico A Marca da Maldade), com Hitchcock em Pavor nos Bastidores e Billy Wilder em Testemunha de Acusação. Por este filme, Dietrich iria receber sua segunda indicação ao Oscar e provavelmente ganharia já que no meio da obra ela se “disfarça” como uma inglesa pobre, mudando voz e sotaque. O problema é que rolou um boato na época que na cena em questão, ela havia sido substituída por outra atriz e acabaram tirando-a da nomeação.

Entre os anos 50 e 70, Marlene foi uma rainha dos palcos sempre ao lado do compositor Burt Bacharach. Este sabia criar arranjos que ocultavam algumas limitações vocais de Dietrich. O grande sucesso levou-a a contratos milionários em Las Vegas e a quebrar um tabu e cantar em alemão em Israel, sendo ovacionado por isso. Acontece que foi essa carreira musical que trouxe a ela o abuso do álcool e o vício em analgésicos. Sua carreira terminou em 1975, depois de quebrar a perna em uma apresentação em Sidney. Ela passou os próximos anos de sua vida em seu apartamento em Paris, fazendo raríssimas aparições, mas conversava constantemente com o presidente americano Ronald Reagan e com o russo Gorbatchev. Faleceu em 1992 de falência renal.

Marlene Dietrich foi um símbolo sexual imbatível. Graças à sua mania de se vestir com roupas masculinas foi taxada de bissexual e chegou a afirmar que sexo é muito melhor com uma mulher, mas ninguém consegue conviver com uma. Teve casos com várias personalidades como James Stewart (ela chegou a afirmar que ele a engravidou), Yul Brinner, Jean Gabin, George Bernard Shaw e se gabava por ter transado com três Kennedys: o patriarca Joseph P. Kennedy e os filhos Joseph Kennedy Jr. e o mais famoso deles JFK. E tudo isso casada no papel com o mesmo homem a vida toda e sustentando a ele e à sua amante. Na cultura pop, é uma das pessoas que aparece na montagem da capa “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, é citada por Madonna em “Vogue”, virou um documentário nas mãos do ator Maximilliam Shell e foi homenageada pela famosíssima marca de canetas Mont Blanc com uma edição especial com a presilha em forma de gravata e uma safira azul incrustada no corpo. Por essas e outras que Marlene Dietrich é o nono lugar na lista de 50 lendas do cinema, eleita pelo American Film Institute.

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