terça-feira, 26 de abril de 2011

Os cinco filmes obrigatórios de Chaplin

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

Charles Chaplin, cujo aniversário de nascimento comemora-se nesse sábado é uma figura controversa. Como mito, ficou a imagem do humanista, pacifista e comediante, que valorizava a vida, a solidariedade  e o sentimento. Por outro lado, ele era um homem irrascível, nervoso e muito safado. Não podia ver um rabo de saia que já a levava para a cama e depois tinha que aguentar processos e mais processos de paternidade na justiça. Marlon Brando (outra figurinha difícil e que foi dirigido por Chaplin em A Condessa de Hong Kong) disse que Charlie foi provavelmente o homem mais sádico que ele conhecera.

Acontece que esse homem também tinha uma capacidade fenomenal de fazer filmes inteligentes, bonitos, estruturados, comoventes e de uma sentimentalidade que é difícil de se encontrar mesmo hoje. E como ele era um perfeccionista profundo, acabava assumindo as rédeas do roteiro, direção, produção e até mesmo da trilha sonora (o cara ganhou um Oscar de Melhor Trilha Sonora por Luzes da Cidade).  E é interessante  notar que a obra dele não ficou velha ou antiquada. Assistir seus filmes, mesmo os que beiram um século de existência, ainda é uma experiência impressionante hoje. Assim selecionei os cinco principais filmes do genial Carlitos, só colocando de fora O Garoto, que já foi comentado aqui.

1. Em busca de Ouro (1925)
Chaplin dizia que era o filme pelo qual ele queria ser lembrado, um misto delicioso de comédia, drama e romance com o vagabundo indo ao Klondike tentar achar ouro. Algumas cenas se tornaram clássicas como a da dança dos pãezinhos (que Groucho Marx, em sua autobiografia, afirma que assistiu Chaplin fazê-la, antes da fama, num teatro de vaudeville) e quando ele e seu parceiro, no auge da fome, resolvem comer uma bota (filmada em 63 takes com o comediante comendo uma bota de alcaçuz, o que lhe rendeu uma entrada num hospital por choque de insulina). Foi tão bem sucedido em sua estréia que Charlie relançou o filme nos cinemas em 1942 com uma nova trilha sonora.

2. Luzes da Cidade
Os filmes falados já estavam na moda, mas Chaplin insistiu em fazer Luzes mudo e acabou criando um clássico capaz de fazaer até mesmo fãs ardorosos do Stallone chorarem como criança. Foi considerado a melhor comédia romântica da história do cinema pelo AFI e até mesmo Orson Welles chegou a dizer que era seu filme favorito. O maltrapilho Carlitos se apaixona por uma florista cega (que o toma por um milionário) e faz de tudo, sempre de maneira a causar confusão, para conseguir dinheiro para pagar a operação pode devolver a visão à menina. A cena do ringue de boxe, com o bailado dos dois lutadores, ficou famosíssima:

3. Tempos Modernos (1936)
O último filme mudo de Chaplin, cheio de efeitos sonoros e com uma palhinha dele cantando no final, é uma tremenda crítica ao capitalismo, às massacrantes horas de trabalho na linha de produção e os maus tratos aos pobres. O comediante faz um operário que enlouquece no trabalho e acaba internado. Na saída do hospital é confundido com um ativista de esquerda (na sensacional cena da bandeira vermelha) e vai preso. Ao ser solto, conhece uma orfã (a gatíssima Paulette Goddard, que acabou se tornando sua amante na vida real) e passam a viver juntos, até que as autoridades aparecem para perturbar suas vidas. O filme seria usado contra ele anos mais tarde snas investigações dos comitês anti-comunistas de MacCarthy, mas é sem dúvida nenhuma, uma das melhores e mais belas comédias do cinema. Abaixo a famosa ‘Canção Sem Sentido’, que mostra a voz de Chaplin pela primeira vez nas telas, e onde ele não fala língua nenhuma, inventando as palavras e contando a história por expressões corporais:

4. O Grande Ditador (1940)
Hitler odiava o filme e não era para menos. Chaplin começou a produzir o filme em 1937, ou seja, bem antes do alemão ser considerado uma ameaça ao mundo e só o lançou em 1940, quando a Guerra já tinha começado. O comediante afirmou anos depois que se na época soubesse das atrocidades nazistas, não teria conseguido brincar como brincou, mas que o valor de seu filme era justamente zombar com o nacional-socialismo. A obra tem cenas memoráveis como a disputa infantil entre o teutônico Adenoyd Hinkel e o italiano Naparoni, a dança com o globo terrestre, os discursos furiosos do alemão e finalmente as belas palavras do barbeiro judeu travestido de ditador no final do filme. Foi a maior bilheteria da carreira de Chaplin com mais de cinco milhoes de dólares só nos EUA e seu valor histórico é inestimável.

5. Monsieur Verdoux (1947)
Um Chaplin diferente, que nada lembrava a figura do simpático vagabundo, agora em uma absurda comédia de humor negro. A idéia e o roteiro do filme eram de Orson Welles, que pretendia dirigir Charlie no filme, mas o segundo afirmou que nunca havia deixado ninguém o dirigir antes e não começaria com esse filme e comprou a história de Welles, alterando alguns pontos da trama. Ele é Henry Verdoux, um suave e polido bancário que, para sustentar a família, casa-se e mata fúteis senhoras ricas, até ser desmascarado. Chaplin o considerou o filme mais inteligente e brilhante de toda sua carreira, mas foi um fracasso de bilheteria no mundo todo. Numa incrível coincidência, um Henry Verdoux, bancário, acabou processando o diretor por ter usado seu nome na obra. A frase mais famosa do filme, “um assassinato lhe faz um vilão, milhões deles lhe fazem um herói”, aludindo aos soldados numa guerra, foi tirada do abolicionista Beilby Porteus, um bispo que viveu no século 17.

Nenhum comentário: