quinta-feira, 14 de abril de 2011

Jesse James: bandido real, herói no cinema

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
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Vi na internet que essa semana marcou o aniversário de morte de um dos bandidos do velho oeste mais celebrado pelo cinema, Jesse James. O homem que se viu falido depois da Guerra da Secessão e aterrorizou, pelo menos, seis estados norteamericanos em poucos anos,  foi morto por Robert Ford  em 3 de abril de 1882 e acabou entrando para a mitologia contemporânea como uma pessoa resoluta, firme e de ótimas intenções.

Acontece que na verdade, James matava mesmo (seu primeiro assassinato foi aos 14 anos de idade, segundo relatos), roubava muito e era tão contra a abolição da escravatura que jurou matar todo negro livre do Missouri, mas mesmo assim Hollywood sempre o retratou como um herói trágico, o homem que não teve saída a não ser cair no crime. Curiosamente, o primeiro cara a retratar Jesse James no cinema (mudo) foi justamente Jesse James Jr, seu filho. Ele era advogado, passeava por aí com pseudônimo de Tim Edwards,  justamente para não ficar relacionado com o pai, mas quando o velho foi reabilitado pela história como um produto social da America pos-Guerra Civil, pode sair do ostracismo e estrear dois filmes em 1921. Em um deles, sua irmã atuou como coadjuvante.

Em 1939, o bandido caiu nas graças do público porque o astro e símbolo sexual da época, Tyrone Power, o interpretou em Jesse James – Lenda de Uma Era sem Lei de Henry King. Henry Fonda fazia seu irmão, Frank James, e com o sucesso estrondoso do filme, os produtores tascaram uma continuação no ano seguinte, A Volta de Frank James, onde ele vai atrás dos irmãos Ford, sedento de vingança (na vida real, ele se entregou para poder enterrar o irmão, cumpriu pena e criou uma espécie de museu  sobre sua vida contraventora). Em 1941, foi o astro do faroeste limpinho, Roy Rogers, que assumiu o manto do bandido em Jesse James at the Bay. No filme, uma fantasia sem tamanho, James se junta a um grupo para lutar contra os magnatas malvados da companhia de trens. Clayton Moore, o Lone Ranger (Zorro aqui no Brasil, mas é aquele que é amigo do Tonto), também teve sua chance em The Adventures of Frank and Jesse James de 1947, assim como o rei do western B, Audie Murphy, em várias produções. Em 1957, Robert Wagner interpretou o personagem em Quem foi Jesse James?, um filme onde o diretor  Nicholas Ray cortou 17 minutos na edição, para poder retratar o fascínora de maneira mais benevolente, pois acreditava que James e seu irmão foram vítimas das circunstâncias. 

Talvez um dos filmes mais interessantes sobre James e seu bando é Cavalgada de Proscritos de 1980 (também conhecido como Cavalgada Infernal na tv à cabo e lançado como A Longa Jornada em DVD aqui no Brasil). Pouco conhecido do público, o que diferencia essa obra era seu tom “familiar”, por assim dizer. Isso porque os irmãos James eram interpretados pelos irmãos Keach (James e Stacy). Já seus comparsas, os irmãos Younger,  eram feitos pelo clã Carradine (com David, Keith e Robert) e os Millers por Dennis e Randy Quaid. Os covardes Ford ficaram a cargo dos irmãos Christopher e Nicholas Guest. O diretor George Hill, um subestimado mestre da violência nos anos 80 com grandes filmes como Warriors – Selvagens da Noite e 48 Horas, acabou ganhando uma Palma de Ouro no Festival de Cannes por esse filme.

Nos últimos 20 anos, quem brincou de Jesse James foram Stewart Copeland (o ex-baterista do The Police) em Horse Opera de 1993, Rob Lowe em Frank e Jesse de 1995, Colin Farrell em Jovens Justiceiros de 2001 e obviamente Brad Pitt em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford de 2007 (este último, muito parecido com o filme de George Hill). Até mesmo Kadu Moliterno vestiu o manto do bandido na novela Bang Bang da Globo.

O filme O Homem que Matou o Fascínora prega que quando a lenda é maior que a realidade, divulga-se a lenda. É assim com James, Billy the Kid e outros membros do panteão do faroeste, como acontece com Lampião no Brasil, que ele está longe de ser aquela figura defensora dos oprimidos que todos valorizam.

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