quinta-feira, 14 de abril de 2011

Lumet e a arte de dirigir pessoas

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
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Sidney Lumet, o fantástico diretor americano que faleceu no sábado, dia 09, aos 86 anos, foi chamado certa vez de “o sonho de direção de qualquer ator”, pois buscava a colaboração de todos os envolvidos para conseguir realizar o melhor trabalho. Longe de ser um ditador por trás das câmeras, ele queria a opinião de todos. Com esse estratégia deu a chance para que brilhassem as grandes estrelas do cinema como Ralph Richardson, Marlon Brando, Richard Burton, Katharine Hepburn, James Mason, Rod Steiger, Vanessa Redgrave, Paul Newman, Sean Connery, Henry Fonda, Dustin Hoffman, Albert Finney, Simone Signoret, Anne Bancroft, Anthony Perkins, Jane Fonda, Faye Dunaway, Timothy Hutton e Ali MacGraw. Ou seja, ele não só dirigiu os melhores, como conseguiu o melhor de cada um deles.O diretor acreditava muito na espontaneidade da interpretação, longe dos padrões do Actor´s Studio de Lee Strassberg e chegou a formar um grupo de atores que não aceitavam as regras impostas por Lee e Stella Adler, só que isso não o fazia dispensar muito ensaio antes da cena ser finalmente filmada.

Lumet foi ator na juventude e isso o ajudou a entender a dificuldade em se interpretar e as complicadas relações entre atores e diretores. Partindo para a direção em peças off-broadway, foi descoberto pela TV americana  e dirigiu seriados de sucesso até surgir a chance de levar 12 Homens e uma Sentença para as telonas (falei deste filme aqui).

Apesar de ser um verdadeiro representante do neorealismo que influenciou os filmes a partir da década de 1950, Lumet acreditava piamente que o amor e a justiça prevalecerão acima de tudo e vendeu esse rigor moral e ético em seus primeiros filmes como  A Colina dos Homens Perdidos de 1965 (filmaço com Sean Connery sobre uma prisão do exército inglês na II Guerra), Serpico de 1973 (drama policial com Al Pacino – um de seus atores favoritos – sobre corrupção policial) e O Veredito de 1982 (um dos melhores filmes de Paul Newman).

Sua experiência teatral o levou a transformar grandes peças em belíssimos filmes como The Fugitive Kind de 1959 com Brando, Longa Jornada Noite Adentro de 1962 com Katherine Hepburn, Equus de 1977 com Richard Burton e Armadilha Mortal, um filmaço com grandes reviravoltas estrelando Christopher Reeves e Michael Caine. Nos anos 70 e 80, ficou mais conhecido pela crítica social em 0bras importantíssimas como Rede de Intrigas (um ácido drama sobre televisão e ja ganhou seu post aqui), Um Dia de Cão (um dos melhores trabalhos com Al Pacino sobre o assalto real a um banco) e Power, com Richard Gere sobre o mundo do marketing político. Apesar desse currículo cometeu crimes como O Mágico Inesquecível, a versão negra de O Mágico de Oz com Michael Jackson e Diana Ross.

Não dá para entender muito o porquê, mas nos últimos 20 anos Lumet dirigiu somente filmes menores e ruins ,especialmente a partir de Negócios de Família de 1989, uma tentativa de fazer uma comédia de humor negro com Sean Conney, Dustin Hoffman e Matthew Broderick. Dirigiu Uma Estranha entre Nós, que nada mais é do que uma refilmagem de A Testemunha, mas desta vez entre judeus hassídicos e não entre Amish; refilmou um ótimo filme de John Cassavetes, Gloria, colocando Sharon Stone no papel título e tentou extrair algum tipo de interpretação de Vin Diesel (com cabelo!) em Find Me Guilty de 2006.

O que alivia os fãs do grande mestre é que seu canto do cisne foi o pesadíssimos (mas interessante) Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto de 2007 onde Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke e Albert Finney dão um show de interpretação. Apesar da qualidade de seus filmes, do poder de sua direção e para sua grande decepção, ele foi nomeado para cinco Oscars e recebeu apenas um honorário; seis Globo de Ouro e só levou uma estatuteta e seus filmes concorreram a quatro Palmas de Ouro em Cannes e não levaram nada. Mas como disse Spike Lee, “Seu grande trabalho vai viver entre nós para sempre e isso é muito mais importante que um Oscar. Ya-Dig?”.

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