quinta-feira, 14 de abril de 2011

A ascensão e a queda de Warren Beatty

Publicado no site da revista Alfa em março de 2011
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Warren Beatty completa hoje 74 anos de idade e continua um enigma. Ele foi uma das figuras mais interessantes e polêmicas de Hollywood na década de 1970, um bom ator, bom produtor e diretor, além de roteirista e, somado a tudo isso, galã, símbolo sexual e um dos maiores garanhões da indústria. Nos anos 80 afundou de tal maneira que não mais se reergueu e hoje não passa de “marido da Annette Bening”.

Beatty estudou interpretação com a lendária Stella Adler e começou na TV em papéis que ele considerava “idiotas” e por isso, correu para fazer teatro na Broadway. Seu primeiro papel de destaque nas telonas foi no drama de Elia Kazan, Clamor do Sexo de 1961. O filme fez sucesso na época, Beatty recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, mas os críticos o achavam apenas um rosto bonito.

O poder mesmo veio seis anos mais tarde com Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas. Beatty tinha sido passado para trás por Woddy Allen no projeto que gerou o filme O que é que há, Gatinha de 1965 e, para se precaver, resolveu dominar toda a produção da história do famoso casal de bandidos norteamericanos. Contratou roteiristas que podia controlar, chamou Arthur Penn para dirigir e estrelou o filme em um dos papéis principais. Bonnie e Clyde foi um grande sucesso de publico e crítica. Por mas que fosse baseado em fatos reais, o casal simbolizava os jovens que não se curvavam frente aos establishment e é lógico que a juventude que começava a se rebelar no final dos anos 1960 se identificou de cara com os criminosos. Beatty estava também quebrando o poder os estúdios e abriu caminho para o que foi chamado depois de “nova Hollywood” com pessoas como Coppolla, Spielberg, Dennis Hopper, George Lucas, entre outros.

O sucesso do filme lhe abriu as portas para fazer McCabe & Mrs Miller, ao lado de Julie Christie, sua namorada na época e dirigido pelo mítico Robert Altman. Como Beatty queria, de novo, controle total, ele e o diretor se odiaram e brigaram o tempo todo. Em 1975 veio Shampoo, onde o cara mostrou sua verdadeira faceta no papel de um cabelereiro que transa com a maioria de suas clientes. Já em 1978, Beatty refilmou um clássico menor, a ótima comédia O Céu pode Esperar, mais uma vez ao lado da bela Christie, agora ex-namorada. Três anos depois, ele produziu, dirigiu, escreveu e atuou em Reds, baseado na vida do jornalista americano John Reed e sua participação na revolução russa de 1917. Ele ganhou sua estatueta de Melhor Diretor e o filme ainda levou Melhor Fotografia e Melhor atriz Coadjuvante.

A partir deste ano, inexplicavelmente, a carreira de Beatty foi ladeira abaixo. Seu próximo filme, a comédia Ishtar, só aconteceu sete anos depois de Reds e é até hoje motivo de piada nos EUA, dado o fracasso geral, tanto na bilheteria (nacional e mundial), como nas críticas. Depois dele, Warren conseguiu transformar o detetive mais legal das HQs, Dick Tracy, num idiota apaixonado, mas o filme foi um sucesso no verão de 1990. Em 1991, ele tentou requentar a fórmula de seu sucesso passado com mais uma biografia filmada de um bandido, Bugsy, sobre o mafioso judeu que criou Las Vegas. De positivo no filme Beatty ficou apenas com a atriz principal, Annette Benning, com quem se casou e está junto até hoje. Seu próximo filme (mais uma vez ao lado dela), Segredos do Coração, também foi um desastre, assim como Ricos, Bonitos e Infiéis de 2001. O único filme de Beatty que teve realmente o sucesso merecido em 20 anos foi Politicamente Incorreto de 1998, uma ótima sátira política.

Enquanto no cinema, Warren Beatty amarga grandes perdas, na vida sentimental o cara só colecionou beldades. Para se ter uma idéia, no Oscar de 1979, sua irmã, a grande atriz Shirley MacLaine ao apresentar um dos prêmios, disse que tinha muito orgulho de seu doce e inteligente irmão e, não aguentando, arrematou “imagine o que você conseguiria se tentasse o celibato”. E não era para menos. Por suas mãos passaram as cantoras Madonna, Carly Simon e Cher; as atrizes  Natalie Wood, Lana Wood, Diane Keaton, Julie Christie, Joan Collins, Leslie Caron, Liv Ullmann, Brigitte Bardot, Goldie Hawn, Candice Bergen e Britt Ekland e as modelos Elle Macpherson e Stephanie Seymour (que o trocou por Axel Rose).

Beatty no final ficou com a maldição da nova Hollywood. Ele, como muitos de seus representantes, teve o sucesso meteórico e, aparentemente, não se adaptou aos novos tempos. Dennis Hopper nunca mais fez nada de interessante depois de Easy Rider, Copolla viu sua genialidade morrer depois da saga do Chefão, Scorcese teve que pastar muitoaté conseguir o reconhecimento que merecia dentro da indústria e Peter Bogdanovich é hoje nota de rodapé na história do cinema. O poder dos antigos estúdios morreu com pessoas como Beatty, mas deu lugar ao poder da bilheteria. Spielberg e Lucas sabem disso e enriqueceram no cinema-pipoca. Agora resta saber se, aos 74 anos, Warren Beatty ainda tem alguma carta na manga para resgatar o cinema americano da mesmice que caiu ou se temos que esperar pela ‘novíssima Hollywood’.

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