terça-feira, 26 de abril de 2011

11 fatos sobre Al Pacino

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

Al Pacino é, sem dúvida, um dos maiores monstros do cinema, que conseguiu sobreviver sem virar uma caricatura de si mesmo. Explico, Bob De Niro hoje só faz papel de Robert De Niro. Dustin Hoffman ficou simpático demais. Warren Beaty sumiu, mas Pacino arrisca e tem hoje a mesma força de interpretação do seu início de carreira. Ele completa hoje 71 anos de idade e, pesquisando sobre ele, descobri queo cara tem uma das biografias mais interessantes de Holywood, portanto aqui vão algumas curiosidades sobre ele, um dos meus atores favoritos:

1. O cara é solteiro até hoje. Tem um par de gêmeos com Beverly D´Angelo (a esposa da cinessérie Férias Frustradas) e uma filha com a professora de interpretação Jan Tarrant, mas sempre se recusou a casar. Bom menino.

2. Seu pai e avós eram de Corleone na Sicília, terra de Vito Andolini, o Don Corleone de O Poderoso Chefão, filme que o consagrou.

3. Recusou o papel de Han Solo em Guerra nas Estrelas e sinceramente, não dá para imaginar Pacino como o anti-herói de Lucas. Ainda nessa linha do “nada a ver com ele”, também dispensou Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Uma Linda Mulher.

4. Estudou no Actor´s Studio e é um dos maiores representantes do “método” de Lee Strassberg (que reza, entre outras coisas, que você deve viver o papel e trazer emoções reais de sua vida para compor uma cena). O ator Alec Badwin chegou a escrever uma tese de 65 páginas para seu curso na NCU só sobre a forma como Pacino atua.

5. Ninguém o queria para ser Michale Corleone, o filho hesitante de Don Corleone em O Poderoso Chefão, embora muitos atores consagrados na época quisessem o papel (Robert Redford, Warren Beatty, Jack Nicholson, Ryan O’Neal, Robert De Niro e outros brigaram por ele). Copolla insistiu em manter o ítalo-americano baixinho no filme e fez com que sua carreira deslanchasse. Anos mais tarde, Pacino pediu sete milhões para repetir o papel no Chefão III e Copolla ficou tão louco da vida que ameaçou começar o filme no enterro de Michael Corleone. Fecharam por cinco milhões.

6. Pacino não quis trabalhar em Apocalypse Now, pois, segundo ele, faria qualquer coisa por Copolla, menos lutar numa guerra. Também não pegou o papel do detetive David Kujan no fantástico Os Suspeitos de Brian Singer e diz que é seu maior arrependimento (o subestimado Chazz Palminteri acabou ficando com ele).

7. Não lhe faltam prêmios. Já ganhou um Oscar de Melhor Ator por Perfume de Mulher, dois Tonys (o prêmio dado ao teatro) por Does a Tiger Wear a Necktie? e The Basic Training of Pavlo Hummel, um
Emmy por Angels in America e ainda tem um prêmio Cecil B De Mille, dado pela imprensa estrangeira de Hollywood (a que organiza o Globo de Ouro) por sua contribuição ao cinema.

8. Além disso, a força de sua interpretação o faz figura constante em qualquer lista de cinema. Quando a revista especializada Premiere escolheu as 100 maiores performances de todos os tempos no cinema, Pacino apareceu e quarto lugar por seu Sonny Wortzik do fantástico Um Dia de Cão e em 20o. lugar por Michael Corleone. A mesma publicação colocou Tony Montana do sanguinário Scarface como o 74o. maior personagem do cinema, e o American Film Institute deu a seu Serpico, o policial que desafiou a corrupção na polícia de NY, o 40o. lugar entre os 100 Maiores Heróis e Vilões.

9. Geralmente quando um ator vai interpretar um cego, usa uma lente especial para lhe tirar a visão. Isso se o ator não é Al Pacino. Para Perfume de Mulher, ele interpretou o militar deficiente visual, simplesmente acostumando os olhos a não focar em nada. Parece fácil? Tente aí. Já em Insônia a coisa foi mais fácil, já que ele é um insone crônico.

10. A voz original do barman Moe de Os Simpsons é inspirada na de Pacino em Um Dia de Cão.

11. Ficou de 1985 a 1990 afastado dos cinemas depois do fracasso do drama épico Revolução dedicando-se ao teatro, sua maior paixão. Voltou com Vítimas de uma Paixão, um bom filme policial que eternizou a música Sea of Love.

O cinema do ponto de vista de um artista

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

Na semana passada coloquei aqui alguns links de sites dedicados ao cinema e um dos mais interessantes é o de Massimo Carnevale e seu sketchesnatched (uma brincadeira com rascunhos e fragmentos ). Ele é um artista de Roma que está ganhando notoriedade no mundo inteiro graças a um hobby: desenhar cenas de seus filmes marcantes. Ligado aos quadrinhos italianos, especialmente ao famoso estúdio Sergio Bonelli (de Dylan Dog, em breve em um cinema perto de você), Carnevale ganhou a America quando passou a desenhar as capas da ótima série de quadrinhos Y-O Último Homem e posteriormente, Vikings, ambos da Vertigo (linha adulta da DC Comics) e também Terminator 2029 da Dark Horse.

Extremamente reservado (é difícil conseguir informações sobre ele na internet), o romano de 43 anos topou responder a duas perguntas para a ALFA (mesmo porque, segundo ele, seu inglês é péssimo):

Por que um blog com cenas de filmes pintadas? É um hobby ou o plano para um trabalho maior como uma exposição ou um livro?
Massimo: eu não tenho planos para ele, é simplesmente aquilo que se propõe, rascunhos feitos rapidamente, com as cenas de acordo com meu estilo de pintura. Sketchesnathed nasceu para eu brincar e veio de uma paixão que tenho por cinema, nada mais do que isso. Só que eu notei que existe um interesse enorme em cima dele, por isso se algo de bom acontecer a partir dele, ótimo.


Uma das melhores coisas do site é que você coloca uma cena que representa um filme, mas não obrigatoriamente o elemento mais óbvio. Por exemplo de O Grande Lebowski você traz o Jesus de Tutturro ao invés de Jeff Bridges. Como é esse seu critério de escolha de uma imagem de um filme?
Massimo: Não há uma regra em si. Às vezes eu foco na cor de uma cena em particular, outras vezes na atmosfera. o resultado dessa composição não é sempre pesado. O que é certo é que eu assisti todos esses filmes e eles, em sua grande maioria, são parte da minha vida.

Veja a galeria especial da Alfa aqui.

Roberto Carlos era uma brasa nas telas, mora?

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link

Roberto Carlos cantou para muita gente, fez música para todo tipo de mulher e é até hoje o soberano das rádios populares, mas não apareceu muito nas telas de cinema, como seria de esperar de um ídolo desse porte.Por mais que fosse chamado de “Elvis Presley brasileiro” por Carlos Imperial no programa Clube do Rock, o Rei não seguiu os mesmos passos do monarca americano e trabalhou como ator apenas cinco vezes entre as décadas de 50 e 70, além de compor nove trilhas sonoras.

A primeira vez dele no cinema foi justamente quando o Brasil estava descobrindo o endiabrado Rock´n´Roll . O filme era Minha Sogra é da Polícia de 1958 com Costinha, Wilza Carla e a comediante Violeta Ferraz, onde Roberto e Erasmo eram para lá de coadjuvantes. Infelizmente, a única cena do filme que achei disponível na internet, não consta o filho de Lady Laura, mas vale a pena conferir Cauby Peixoto (sim, ele!) cantando ‘That´s Rock’, composta por Imperial:

Em 1958 ainda, o Rei apareceu numa pontinha do filme Alegria de Viver com Eliana (não é a dos dedinhos), Yoná Magalhães, John Herbert, roteiro de Chico Anysio e direção de Watson Macedo. Em 1965, já famoso, Roberto, ao lado de Erasmo e Wandeléia, passou a apresentar o programa Jovem Guarda e os três se tornaram ídolos da juventude pós-revolução. O diretor e produtor Roberto Farias quis capitalizar em cima do sucesso estrondoso do trio e os colocou em duas aventuras no cinema em 1968: Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa e Roberto Carlos em Ritmo de Aventura.

No primeiro, o trio está no Japão quando a ternurinha compra uma estatueta e logo todos passam a ser perseguidos pelo cruel Pierre (o sempre vilão José Lewgoy) e seu bando de lutadores orientais. A cantora cai prisioneira e a intrépida dupla de astros descobre que a estatueta é guardada por um gênio chamado Eugênio. Assim, entre altos e baixos, a aventura vai parar no Rio de Janeiro, onde estaria escondido um tesouro fenício. Aqui está o momento onde eles descobrem onde está a fortuna:

Em Ritmo de Aventuras, brinca com metalinguagem e traz Roberto Carlos como ele mesmo, sendo perseguido por vilões que querem levá-lo aos EUA, para que possam produzir músicas em massa com a ajuda de um (até então chamado de) cérebro eletrônico. O cantor, no melhor estilo James Bond brazuca, dirige carros, aviões, tanques, helicópteros e até foguete nesse filme que tinha ainda Reginaldo Farias no elenco, roteiro de Paulo Mendes Campos e que consagrou, entre outras, as músicas ‘Eu Sou Terrível’ e ‘Quando’, esta num clipe genial filmado no alto do Copan, em São Paulo:

Em 1971 o cantor deu as caras nas telas de cinema  com Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora, mais uma vez sob a batuta de Roberto Farias. No filme, é um mecânico de carros apaixonado pela namorada do patrão, o piloto de corridas Rodolfo (Raul Cortez). Quando este desiste de correr e vai para a Europa, Roberto com a ajuda de seu parceiro Pedro Navalha (o indefectível Erasmo) corre o grande prêmio Brasil em Interlagos em seu lugar e o Rei mostra que também domina as pistas. Aqui a abertura do filme:

Depois desse sucesso, o Rei abandonou o cinema e só se mostrou de novo em Uma Noite em 1967, o ótimo documentário de Ricardo Cali e Renato Terra sobre o famoso festival da TV Record na década de 60. É de se pensar o que teria sido se Roberto Carlos tivesse continuado sua carreira cinematográfica. Será que teríamos Roberto Carlos e a Mulher de 40?   Ao Rei, parabéns por 70 anos de muito sucesso e carisma.

‘Planeta dos Macacos’ ganha prequel

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

Planeta dos Macacos, o clássico de 1968, é um dos meus filmes favoritos e uma das ficções científicas mais inteligentes que já foram filmadas. É ácido, crítico e muito mais uma fábula sobre as mazelas dos seres humanos do que um filme sobre macacos que dominam a Terra (eu particularmente vibro com um dos líderes dizendo que “o grande símio fez o macaco à sua imagem e semelhança”). Baseado no livro do Pierre Boulle, o roteiro passou primeiro pelas mãos de Rod Serling, criador do seriado Twilight Zone que colocou humanos e macacos como amigos, para depois ficar com Michael Wilson, que também escrevera Um Lugar ao Sol e A Ponte do Rio Kwai, e que, por ter sido perseguido pela comissão de atividades antiamericanas de MacCarthy, deu um ar mais soturno e pesado na história, que gira em cima de astronautas que caem em um planeta onde símios são inteligentes e não só escravizam, como abominam humanos (estes regredidos a uma condição animal, vivendo em bandos e sem capacidade de fala).

Planeta dos Macacos redefiniu duas coisas na arte cinematográfica: maquiagem e merchadising. Explicando melhor, a técnica de dar expressão aos atores mesmo de máscara era baseada em tratamentos que foram feitos com mutilados de guerra e inédita até então.  Ao invés de horrendas máscaras de borracha, os atores tinham próteses aplicadas diretamente sobre sua pele. Roddy McDowall, que fazia um dos macacos principais, Cornelius, curtia tanto suas feições símias que, só para zoar, saía para andar pela cidade ou dirigia para casa, sem tirar a maquiagem. O filme também foi o primeiro a investir pesadamente em merchandising e no seu lançamento dá-lhe lancheiras, camisetas, brinquedos etc.

Quando você tem um ótimo roteiro, uma direção segura (de Franklin J. Shaeffner, que faria anos depois Patton e Papillon), um final arrebatador (que é para ser surpresa, mas a capa do DVD entrega) e um elenco afinado com Charlton Heston, Roddy, Kim Hunter (de Uma Rua Chamada Pecado como a macaca Zira) e Maurice Evans (o pai da Feiticeira e aqui como o sarcástico e perigoso Dr. Zaius), o resultado é sucesso na certa. O filme rendeu, só nos Estados Unidos, cinco vezes mais que o budget e gerou uma série de continuações:

De Volta ao Planeta dos Macacos (1970): uma nova missão sai à procura dos astronautas que sumiram e apenas um astronauta sobrevive. Ele encontra Charlton Heston e descobrem um grupo de humanos inteligentes que louvam a bomba atômica e temem uma ação militar dos macacos. No final, a Terra explode e sua paciência com o filme também.

A Fuga do Planeta dos Macacos (1971): antes da Terra acabar, três macacos acabam fugindo em uma nave e voltam no tempo chegando à São Francisco dos anos 1970. Depois que os humanos descobrem que os macacos vão dominar o planeta, eles passam a ser perseguidos, tem um filho (César) e acabam sendo mortos. O filhote é criado então pelo dono de um circo. É o mais divertido e bem bolado de todos na sequência.

A Conquista do Planeta dos Macacos (1973): péssimo filme, com roteiro furadíssimo onde, no futuro, símios são usados como empregados e escravos até que César promove uma revolução.
Planeta dos Macacos -- A série de TV (1974): seriado que fez sucesso aqui no Brasil, consagrou um gorila (o general Urko, feito por Mark Lenard, este uma lenda na série Jornada nas Estrelas por ter sido o pai de Spock) e teve só uma temporada.

Return to the Planet of Apes (1975-76): desenho animado com humanos e macacos em guerra, mas os bichos agora andam de carro. Chegou a passar no Brasil.

Em 2001, Tim Burton “reimaginou” (em suas palavras), o universo de Planeta dos Macacos, para a decepção de todos e surpresa de alguns que até hoje não entendem a última cena -- esta mais próxima do final do livro francês original. Agora a Fox soltou o primeiro trailer de Rise of the Planet of the Apes (A Ascenção do Planeta dos Macacos), que vai mostrar mesmo como os bichos dominaram o planeta e deve estrear em agosto. Pelo que se pode notar, James Franco faz um cientista que desenvolve uma fórmula para combater doenças degenerativas no cérebro e as testa em macacos, que ganham inteligência, em especial, um chipanzé chamado César. A direção é do desconhecido inglês Rupert Wyatt e os efeitos especiais ficam com a Weta de Peter Jackson (e assim Andy Serkins, que já foi o Gollum e Kink Kong, está no filme, ok?). Veja o trailer e tema. Se esse for um recomeço para a série, então a coisa vai ser bem ruim.

Os cinco filmes obrigatórios de Chaplin

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

Charles Chaplin, cujo aniversário de nascimento comemora-se nesse sábado é uma figura controversa. Como mito, ficou a imagem do humanista, pacifista e comediante, que valorizava a vida, a solidariedade  e o sentimento. Por outro lado, ele era um homem irrascível, nervoso e muito safado. Não podia ver um rabo de saia que já a levava para a cama e depois tinha que aguentar processos e mais processos de paternidade na justiça. Marlon Brando (outra figurinha difícil e que foi dirigido por Chaplin em A Condessa de Hong Kong) disse que Charlie foi provavelmente o homem mais sádico que ele conhecera.

Acontece que esse homem também tinha uma capacidade fenomenal de fazer filmes inteligentes, bonitos, estruturados, comoventes e de uma sentimentalidade que é difícil de se encontrar mesmo hoje. E como ele era um perfeccionista profundo, acabava assumindo as rédeas do roteiro, direção, produção e até mesmo da trilha sonora (o cara ganhou um Oscar de Melhor Trilha Sonora por Luzes da Cidade).  E é interessante  notar que a obra dele não ficou velha ou antiquada. Assistir seus filmes, mesmo os que beiram um século de existência, ainda é uma experiência impressionante hoje. Assim selecionei os cinco principais filmes do genial Carlitos, só colocando de fora O Garoto, que já foi comentado aqui.

1. Em busca de Ouro (1925)
Chaplin dizia que era o filme pelo qual ele queria ser lembrado, um misto delicioso de comédia, drama e romance com o vagabundo indo ao Klondike tentar achar ouro. Algumas cenas se tornaram clássicas como a da dança dos pãezinhos (que Groucho Marx, em sua autobiografia, afirma que assistiu Chaplin fazê-la, antes da fama, num teatro de vaudeville) e quando ele e seu parceiro, no auge da fome, resolvem comer uma bota (filmada em 63 takes com o comediante comendo uma bota de alcaçuz, o que lhe rendeu uma entrada num hospital por choque de insulina). Foi tão bem sucedido em sua estréia que Charlie relançou o filme nos cinemas em 1942 com uma nova trilha sonora.

2. Luzes da Cidade
Os filmes falados já estavam na moda, mas Chaplin insistiu em fazer Luzes mudo e acabou criando um clássico capaz de fazaer até mesmo fãs ardorosos do Stallone chorarem como criança. Foi considerado a melhor comédia romântica da história do cinema pelo AFI e até mesmo Orson Welles chegou a dizer que era seu filme favorito. O maltrapilho Carlitos se apaixona por uma florista cega (que o toma por um milionário) e faz de tudo, sempre de maneira a causar confusão, para conseguir dinheiro para pagar a operação pode devolver a visão à menina. A cena do ringue de boxe, com o bailado dos dois lutadores, ficou famosíssima:

3. Tempos Modernos (1936)
O último filme mudo de Chaplin, cheio de efeitos sonoros e com uma palhinha dele cantando no final, é uma tremenda crítica ao capitalismo, às massacrantes horas de trabalho na linha de produção e os maus tratos aos pobres. O comediante faz um operário que enlouquece no trabalho e acaba internado. Na saída do hospital é confundido com um ativista de esquerda (na sensacional cena da bandeira vermelha) e vai preso. Ao ser solto, conhece uma orfã (a gatíssima Paulette Goddard, que acabou se tornando sua amante na vida real) e passam a viver juntos, até que as autoridades aparecem para perturbar suas vidas. O filme seria usado contra ele anos mais tarde snas investigações dos comitês anti-comunistas de MacCarthy, mas é sem dúvida nenhuma, uma das melhores e mais belas comédias do cinema. Abaixo a famosa ‘Canção Sem Sentido’, que mostra a voz de Chaplin pela primeira vez nas telas, e onde ele não fala língua nenhuma, inventando as palavras e contando a história por expressões corporais:

4. O Grande Ditador (1940)
Hitler odiava o filme e não era para menos. Chaplin começou a produzir o filme em 1937, ou seja, bem antes do alemão ser considerado uma ameaça ao mundo e só o lançou em 1940, quando a Guerra já tinha começado. O comediante afirmou anos depois que se na época soubesse das atrocidades nazistas, não teria conseguido brincar como brincou, mas que o valor de seu filme era justamente zombar com o nacional-socialismo. A obra tem cenas memoráveis como a disputa infantil entre o teutônico Adenoyd Hinkel e o italiano Naparoni, a dança com o globo terrestre, os discursos furiosos do alemão e finalmente as belas palavras do barbeiro judeu travestido de ditador no final do filme. Foi a maior bilheteria da carreira de Chaplin com mais de cinco milhoes de dólares só nos EUA e seu valor histórico é inestimável.

5. Monsieur Verdoux (1947)
Um Chaplin diferente, que nada lembrava a figura do simpático vagabundo, agora em uma absurda comédia de humor negro. A idéia e o roteiro do filme eram de Orson Welles, que pretendia dirigir Charlie no filme, mas o segundo afirmou que nunca havia deixado ninguém o dirigir antes e não começaria com esse filme e comprou a história de Welles, alterando alguns pontos da trama. Ele é Henry Verdoux, um suave e polido bancário que, para sustentar a família, casa-se e mata fúteis senhoras ricas, até ser desmascarado. Chaplin o considerou o filme mais inteligente e brilhante de toda sua carreira, mas foi um fracasso de bilheteria no mundo todo. Numa incrível coincidência, um Henry Verdoux, bancário, acabou processando o diretor por ter usado seu nome na obra. A frase mais famosa do filme, “um assassinato lhe faz um vilão, milhões deles lhe fazem um herói”, aludindo aos soldados numa guerra, foi tirada do abolicionista Beilby Porteus, um bispo que viveu no século 17.

Cinco sites para curtir cinema de um jeito diferente

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link

Com mais de 100 anos de idade, o cinema continua atraindo mais e mais legiões de fãs, apesar de seu fim já ter sido decretado com o aparecimento da TV, depois a TV a Cabo, o videocassete e agora com os downloads ilegais. Fim mesmo? Ok, existem aí algumas produções que só dá para se assistir quando é reprise na TV aberta, dublada e com intervalos, mas tem muitas outras que, para curtir, somente dentro do aconchego da sala de cinema.

Por essa razão, e por ter tantos fanáticos pela coisa (assim como eu), é que existem alguns sites bem legais para se consultar  e que não falam exatamente dos filmes, mas sim de elementos que cercam a magia da sétima arte. Confira  cada um deles, mas só lembro que eles estão em inglês:

1. Internet movie CAR database (IMCDB)
Pois é. É exatamente o que você leu: um banco de dados das  máquinas que já apareceram nas telonas e telinhas, inclusive em animações (por exemplo, o Relâmpago McQueen do desenho Carros é um Chevrolet Monte Carlo 1997 e o carro de Bob Parr em Os Incríveis é um Nash Metropolitan, que já apareceu até em Grease 2. Divertido, né?). E os caras que colaboram não se atem apenas aos carros dos personagens principais. Tem doido que marca até mesmo os automóveis que estão estacionados na rua em uma determinada cena. No ranking de montadoras, a Ford fica na pole position, com mais de 42 mil citações, seguida pela Chevrolet, Mercedes, Volkswagen e Renault, só para citar os cinco primeiros lugares. Aliás, o Ford Crown Victoria é o modelo que mais aparece em filmes (ele é o carro usado pela polícia americana em muitas cidades), com o Mustang em segundo lugar e o Impala em terceiro.   Para conferir essa e muitas outras estatísticas, acesse www.imcdb.org. O site permite comentários. 2. Internet Movie Firearms Database
Um pouco menos organizado que os dos carros e sem as estatísticas prontas, o IMFDB se especializou nas armas de fogo mostradas em filmes, seriados, anime e video-games. Brincando, dá para saber que o grande Humphrey Bogart portou muitos Colts nos filmes que atuou, independente se era bandido ou mocinho, tendo particular interesse no modelo M 1911, ou que Eastwood usava uma Winchester 1866, vulgo “Yellow Boy”, para livrar Eli Wallach da forca em Três Homens em Conflito ou ainda que o DR. House teria sido baleado com uma Glock 21, como mostrado no episódio ‘Sem Razão’ da segunda temporada. Se seu negócio for tiroteio, entre em www.imfdb.org.

3. Internet Movie Posters Awards
Um site só dedicado a posteres de filmes do mundo todo, em todas as versões possíveis e imagináveis. Ou seja, o paraíso para marqueteiros. O IMPA é atualizado constantemente, tem material que dificilmente a gente veria aqui no Brasil (como os  cartazes para seriados de TV, por exemplo) e ainda faz uma votação para ser decidido os bambambam do ano, em categorias como Melhor e Pior Poster, Melhor Teaser Poster, Poster Mais Engraçado, Poster Mais Assustador, Melhor e Pior Frase de Poster, Melhor Motion Poster, Prêmio ‘Não muito sério’, Pior Poster de Blockbuster, Poster Mais Corajoso, Melhor Poster de Personagem, Melhor frase séria de Poster, Melhor Poster para TV, e os Destaques para posteres Internacionais.  Confira em www.impawards.com.

4. 100 Things I learned
Totalmente colaborativo, é o site perfeito para você brincar de crítico e desfilar humor e muito sarcasmo, comentando o que você aprendeu com determinado filme. A idéia é que cada filme exposto tenha 100 lições “educativas” e o pessoal aproveita para escancarar as bobagens e os clichês que desfilam nas telonas. Por exemplo, para Avatar aprendemos que “quando alienígenas disparam flechas de seis pés de comprimento, por mais que elas viajem a mais de 60 quilômetros por hora, é a neurotoxina que mata, não a seta em si” ou que, de acordo com Tron – O Legado, “dentro do seu PC, os programas vão a clubes, beber e dançar, e também frequentam arenas de jogo. Por isso, não é de se admira r que os usuários tenham de esperar tanto tempo para cada programa iniciar”. Você participa da brincadeira no www.100thingsilearned.com e pode ainda comentar as postagens alheias.

5. Sketches Snatched
Este é o blog do artista italiano Massimo Carnevale, responsável pelas capas de Y-O Último Homem e Vikings, gibis da Vertigo (o ramo adulto da DC Comics). Totalmente descompromissado, o cara desenha uma cena que possa representar um filme em questão, mas nunca caindo na obviedade. Para clássico descolado O Grande Lebowski, ele pinta o ‘Jesus’ de John Turturro e não o personagem título de Jeff Bridges. Em 2001 – Uma Odisséia no Espaço, o retratado é o Dr. Dave Bowman velho, jantando, lá pelo final do filme. Para curtir e babar (porque eu aposto que você VAI querer ter uma ilustração dessas na parede da sua sala de TV), entre em http://sketchesnatched.blogspot.com.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

‘Rio’ é para se ver dublado

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

Recebi um release bem legal falando que o Brasil está em segundo lugar no número de pessoas que assistiram Rio em sua estréia (*). A Rússia ficou na primeira colocação e é lógico que a gente começa imaginar – com todos os pré-conceitos, caricaturas e arquétipos do mundo – o que deve ser para um russo, recém saído de um inverno congelante, ver um desenho sobre o lado mais bonito do Rio de Janeiro. Aliás, a animação é isso mesmo: o que o Rio tem de bom, de uma maneira que acho que não víamos no cinema desde o belo Bossa Nova (2000) de Bruno Barreto. É o Rio da alegria do carnaval, das praias, das bundas, da asa delta, do samba e foca principalmente no Rio de Janeiro histórico com a Lapa e Santa Teresa.

Obviamente que, como todo desenho animado existem os vilões e aí o outro lado da cidade se apresenta, mas de maneira bem suave. Assim, o contrabandista de pássaros e sua cacatua sádica (ótima, diga-se de passagem) moram na favela (uma comunidade alegre com ruas tortuosas) e não dá para negar que o diretor Carlos Saldanha foi corajoso pacas ao colocar micos batedores de carteira no Cristo Redentor, talvez aludindo ao fato que alguns turistas penam um pouco na Cidade Maravilhosa.

No fundo, é um filme legal, com boa história, bons personagens e uma trilha muito legal assinada por Carlinhos Brown e Sergio Mendes. E pela primeira vez na vida, eu me arrependi de assistir um desenho legendado. Explicando melhor e abrindo um parênteses, desde os anos 1960, a Disney passou a integrar grandes nomes na dublagem de suas animações, muitas vezes incorporando uma característica física do dublador em seu personagem. Eu, por exemplo, sou fanático pelo tigre Shere Kahn de Mowgli justamente porque foi o ator inglês George Sanders que o dublou, impondo um indefectível sotaque britânico carregado no felino e dando um ar de calma  e autoconfiança em uma máquina natural de matar. Não dá para se assistir Alladin sem escutar Robin Williams se divertindo como o gênio ou ver A Bela e a Fera sem se emocionar com a decana Angela Lansbury cantando a música-tema.

No caso de Rio, porém, as vozes em inglês é que soam falsas no meio do cenário carioca, por mais que sejam feitas por atores de calibre como Anne Hathaway ou Jamie Foxx (que, aliás, manda bem cantando). Aí sim, o Rio de Janeiro aparece ser mais caricato, coisa para inglês ver (cheio de Pedros, Luizes, Nicos e outros nomes mais “chicanizados”). O melhor mesmo é aguentar aquela sessão cheia de crianças gritando e curtir o desenho em bom e claro português. E, desta vez, nem o sotaque carioca carregado vai incomodar!

(*) Somos segundo lugar no mundo em platéia para a estréia do desenho, mas primeiro em bilheteria, o que prova que pagamos mesmo mais caro pela sessão de cinema, não é?

Lumet e a arte de dirigir pessoas

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link

Sidney Lumet, o fantástico diretor americano que faleceu no sábado, dia 09, aos 86 anos, foi chamado certa vez de “o sonho de direção de qualquer ator”, pois buscava a colaboração de todos os envolvidos para conseguir realizar o melhor trabalho. Longe de ser um ditador por trás das câmeras, ele queria a opinião de todos. Com esse estratégia deu a chance para que brilhassem as grandes estrelas do cinema como Ralph Richardson, Marlon Brando, Richard Burton, Katharine Hepburn, James Mason, Rod Steiger, Vanessa Redgrave, Paul Newman, Sean Connery, Henry Fonda, Dustin Hoffman, Albert Finney, Simone Signoret, Anne Bancroft, Anthony Perkins, Jane Fonda, Faye Dunaway, Timothy Hutton e Ali MacGraw. Ou seja, ele não só dirigiu os melhores, como conseguiu o melhor de cada um deles.O diretor acreditava muito na espontaneidade da interpretação, longe dos padrões do Actor´s Studio de Lee Strassberg e chegou a formar um grupo de atores que não aceitavam as regras impostas por Lee e Stella Adler, só que isso não o fazia dispensar muito ensaio antes da cena ser finalmente filmada.

Lumet foi ator na juventude e isso o ajudou a entender a dificuldade em se interpretar e as complicadas relações entre atores e diretores. Partindo para a direção em peças off-broadway, foi descoberto pela TV americana  e dirigiu seriados de sucesso até surgir a chance de levar 12 Homens e uma Sentença para as telonas (falei deste filme aqui).

Apesar de ser um verdadeiro representante do neorealismo que influenciou os filmes a partir da década de 1950, Lumet acreditava piamente que o amor e a justiça prevalecerão acima de tudo e vendeu esse rigor moral e ético em seus primeiros filmes como  A Colina dos Homens Perdidos de 1965 (filmaço com Sean Connery sobre uma prisão do exército inglês na II Guerra), Serpico de 1973 (drama policial com Al Pacino – um de seus atores favoritos – sobre corrupção policial) e O Veredito de 1982 (um dos melhores filmes de Paul Newman).

Sua experiência teatral o levou a transformar grandes peças em belíssimos filmes como The Fugitive Kind de 1959 com Brando, Longa Jornada Noite Adentro de 1962 com Katherine Hepburn, Equus de 1977 com Richard Burton e Armadilha Mortal, um filmaço com grandes reviravoltas estrelando Christopher Reeves e Michael Caine. Nos anos 70 e 80, ficou mais conhecido pela crítica social em 0bras importantíssimas como Rede de Intrigas (um ácido drama sobre televisão e ja ganhou seu post aqui), Um Dia de Cão (um dos melhores trabalhos com Al Pacino sobre o assalto real a um banco) e Power, com Richard Gere sobre o mundo do marketing político. Apesar desse currículo cometeu crimes como O Mágico Inesquecível, a versão negra de O Mágico de Oz com Michael Jackson e Diana Ross.

Não dá para entender muito o porquê, mas nos últimos 20 anos Lumet dirigiu somente filmes menores e ruins ,especialmente a partir de Negócios de Família de 1989, uma tentativa de fazer uma comédia de humor negro com Sean Conney, Dustin Hoffman e Matthew Broderick. Dirigiu Uma Estranha entre Nós, que nada mais é do que uma refilmagem de A Testemunha, mas desta vez entre judeus hassídicos e não entre Amish; refilmou um ótimo filme de John Cassavetes, Gloria, colocando Sharon Stone no papel título e tentou extrair algum tipo de interpretação de Vin Diesel (com cabelo!) em Find Me Guilty de 2006.

O que alivia os fãs do grande mestre é que seu canto do cisne foi o pesadíssimos (mas interessante) Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto de 2007 onde Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke e Albert Finney dão um show de interpretação. Apesar da qualidade de seus filmes, do poder de sua direção e para sua grande decepção, ele foi nomeado para cinco Oscars e recebeu apenas um honorário; seis Globo de Ouro e só levou uma estatuteta e seus filmes concorreram a quatro Palmas de Ouro em Cannes e não levaram nada. Mas como disse Spike Lee, “Seu grande trabalho vai viver entre nós para sempre e isso é muito mais importante que um Oscar. Ya-Dig?”.

Jesse James: bandido real, herói no cinema

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

Vi na internet que essa semana marcou o aniversário de morte de um dos bandidos do velho oeste mais celebrado pelo cinema, Jesse James. O homem que se viu falido depois da Guerra da Secessão e aterrorizou, pelo menos, seis estados norteamericanos em poucos anos,  foi morto por Robert Ford  em 3 de abril de 1882 e acabou entrando para a mitologia contemporânea como uma pessoa resoluta, firme e de ótimas intenções.

Acontece que na verdade, James matava mesmo (seu primeiro assassinato foi aos 14 anos de idade, segundo relatos), roubava muito e era tão contra a abolição da escravatura que jurou matar todo negro livre do Missouri, mas mesmo assim Hollywood sempre o retratou como um herói trágico, o homem que não teve saída a não ser cair no crime. Curiosamente, o primeiro cara a retratar Jesse James no cinema (mudo) foi justamente Jesse James Jr, seu filho. Ele era advogado, passeava por aí com pseudônimo de Tim Edwards,  justamente para não ficar relacionado com o pai, mas quando o velho foi reabilitado pela história como um produto social da America pos-Guerra Civil, pode sair do ostracismo e estrear dois filmes em 1921. Em um deles, sua irmã atuou como coadjuvante.

Em 1939, o bandido caiu nas graças do público porque o astro e símbolo sexual da época, Tyrone Power, o interpretou em Jesse James – Lenda de Uma Era sem Lei de Henry King. Henry Fonda fazia seu irmão, Frank James, e com o sucesso estrondoso do filme, os produtores tascaram uma continuação no ano seguinte, A Volta de Frank James, onde ele vai atrás dos irmãos Ford, sedento de vingança (na vida real, ele se entregou para poder enterrar o irmão, cumpriu pena e criou uma espécie de museu  sobre sua vida contraventora). Em 1941, foi o astro do faroeste limpinho, Roy Rogers, que assumiu o manto do bandido em Jesse James at the Bay. No filme, uma fantasia sem tamanho, James se junta a um grupo para lutar contra os magnatas malvados da companhia de trens. Clayton Moore, o Lone Ranger (Zorro aqui no Brasil, mas é aquele que é amigo do Tonto), também teve sua chance em The Adventures of Frank and Jesse James de 1947, assim como o rei do western B, Audie Murphy, em várias produções. Em 1957, Robert Wagner interpretou o personagem em Quem foi Jesse James?, um filme onde o diretor  Nicholas Ray cortou 17 minutos na edição, para poder retratar o fascínora de maneira mais benevolente, pois acreditava que James e seu irmão foram vítimas das circunstâncias. 

Talvez um dos filmes mais interessantes sobre James e seu bando é Cavalgada de Proscritos de 1980 (também conhecido como Cavalgada Infernal na tv à cabo e lançado como A Longa Jornada em DVD aqui no Brasil). Pouco conhecido do público, o que diferencia essa obra era seu tom “familiar”, por assim dizer. Isso porque os irmãos James eram interpretados pelos irmãos Keach (James e Stacy). Já seus comparsas, os irmãos Younger,  eram feitos pelo clã Carradine (com David, Keith e Robert) e os Millers por Dennis e Randy Quaid. Os covardes Ford ficaram a cargo dos irmãos Christopher e Nicholas Guest. O diretor George Hill, um subestimado mestre da violência nos anos 80 com grandes filmes como Warriors – Selvagens da Noite e 48 Horas, acabou ganhando uma Palma de Ouro no Festival de Cannes por esse filme.

Nos últimos 20 anos, quem brincou de Jesse James foram Stewart Copeland (o ex-baterista do The Police) em Horse Opera de 1993, Rob Lowe em Frank e Jesse de 1995, Colin Farrell em Jovens Justiceiros de 2001 e obviamente Brad Pitt em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford de 2007 (este último, muito parecido com o filme de George Hill). Até mesmo Kadu Moliterno vestiu o manto do bandido na novela Bang Bang da Globo.

O filme O Homem que Matou o Fascínora prega que quando a lenda é maior que a realidade, divulga-se a lenda. É assim com James, Billy the Kid e outros membros do panteão do faroeste, como acontece com Lampião no Brasil, que ele está longe de ser aquela figura defensora dos oprimidos que todos valorizam.

Gregory Peck era o cara

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

Há 95 anos nascia Eldred Gregory Peck, filho de um farmacêutico em San Diego. Quando faleceu em 2003, vítima de uma broncopneumonia, já tinha se tornado uma lenda cinematográfica e um dos maiores modelos de comportamento para homens de todos os tempos. Peck é uma espécie de role-model meu desde que assisti Da Terra Nascem os Homens (que comentei aqui) e na vida real não se distanciou muito de seus personagens.

Se formos analisar os grandes homens do cinema, cada um representava uma faceta masculina diferente. Humphrey Bogart era o durão; Cary Grant, o charmoso; Clark Gable, o masculino; Marlon Brando, o selvagem; Monty Cliff, o problemático; James Dean, o revoltado e Gregory Peck era o bom moço. Só que a diferença era que ele nunca era o bom moço bundão. Era um bom moço graças à força do caráter, de um homem que não entrega sua ética e que tem orgulho das decisões que tomou na vida.

Essas caracteríticas acabaram sendo elevadas quando interpretou o advogado Atticus Finch em O Sol é Para Todos de 1962. O filme é todo do ponto de vista de três crianças (uma delas, na vida real, seria Truman Capote), então aquele homem que se dispõe a defender um negro acusado injustamente de ter estuprado uma menina acaba ganhando um ar de mito, de super-herói. Talvez por essa razão é que o personagem foi escolhido o maior herói do cinema pelo American Film Institute e Peck tenha ganho seu único Oscar, além de ter se tornado amigo pessoal de Harper Lee, a autora da obra.

O bom rapaz de Peck era um sedutor. Mesmo amnésico, conquista Ingrid Bergman no ótimo Quando Fala o Coração de 1945 , dirigido por Hitchcock. Em As Neves do Kilimanjaro de 1952, é a vez de Ava Gardner  ser sua grande paixão.Como o Rei Davi em Davi e Betsabá (1951) tem como par romântico, Susan Hayward. E, obviamente, não podemos deixar de lado aquela que o tornou metade da dupla mais charmosa das telonas, Audrey Hepburn, com quem contracenou no delicioso A Princesa  e o Plebeu de 1953 (foi ele quem apresentou Mel Ferrer a Audrey, com que ela se casaria).

O bom rapaz podia ser heróico, explodindo bases nazistas na ótima aventura Os Canhões de Navarone de 1961, como um jornalista que finge ser judeu para mostrar o antisemitismo americano em A Luz é Para Todos (1947), defendendo sua família de um psicopata na primeira versão de Círculo do Medo (1962) ou ainda mostrando que a terceira idade pode ser herói na guerra com Espionagem em Goa (1980).
E, por fim, o bom rapaz podia ser assustador também, tentando livrar o mundo do anticristo com A Profecia de 1976, sendo o mais vingativo e revoltado dos personagens da literatura, Capitão Ahab, em Moby Dick (1956) ou incorporando um dos mais conhecidos e sádicos nazistas, Dr. Joseph Mengele em Os Meninos do Brasil de 1978.

Fora das telas, Peck foi um dos que brigou com o comitê do Senador MacCarthy que perseguia os esquerdistas que atuavam no cinema, se tornou inimigo de Richard Nixon e foi um dos que protestaram abertamente contra a Guerra do Vietnã.  Ganhou uma Medalha Presidencial da Liberdada, a maior honraria civil nos EUA, entregue pelo ´residente Lyndon Johnson. Foi casado duas vezes e teve cinco filhos.
Muita gente gente diz que George Clooney é “o novo Cary Grant”. Brad Pitt é “o novo Steve McQueen”. Dificilmente aparecerá um novo Gregory Peck. Ao ‘gringo velho’, minhas eternas saudações.

Doris Day, a eterna virgem

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

“Conheci Doris Day quando ela ainda não era virgem” teria dito o sempre genial Groucho Marx (ou foi Oscar Levant? Existem as duas teorias) sobre a atriz que desfilava um ar angelical pelos estúdios Hollywoodianos. Doris Mary Ann Kappelhoff, ou Doris Day, completou incríveis 89 anos de idade ontem, é um dos ícones mais famosos da primeira metade dos anos de 1960 e até 2009, era a atriz de maior bilheteria de todos os tempos (e sexto lugar, se somar homens e mulheres).

Day começou como cantora e fazia turnês com a banda de Les Brown e com Bob Hope e já era um sucesso nas rádios quando despontou nas telonas em Romance em Alto Mar de 1948. O fato de cantar muito bem foi muito explorado em filmes musicais como Ardida como Pimenta de 1953 (a fantasiosa cinebiografia de Jane Calamidade), em dramas como Ama-me ou Esquece-me de 55 (c0m James Cagney, ele um gangster que se casa com uma cantora de jazz e lhe inferniza a vida) e até mesmo no ótimo mistério O Homem que Sabia Demais de Alfred Hitchcock, onde canta ‘Que Sera, Sera’, que se tornou sua música mais famosa e ganhou um Oscar de Melhor Canção.

Dos 34 filmes que atuou, os melhores, e ainda muito divertidos, foram aqueles feitos ao lado de Rock Hudson e Tony Randall. Em Confidências à Meia Noite de 1959, Hudson e Day dividem uma linha telefônica e ela fica irritadíssima porque ele fica falando com as várias namoradas o dia todo. Obviamente que os dois se odeiam, ms quando ele a vê, ao vivo e em cores, passa a querer conquistá-la e finge ser um rapaz texano ingênuo. Randall é o amigo e patrocinador de Hudson e Thelma Ritter é, para variar, a sarcástica empregada.  Volta, Meu Amor de 1961, põe os dois, mais uma vez, em papéis antagônicos, desta vez como publicitários. Já em Não me Mandem Flores de 1964, Hudson é um hipocondríaco que acha que vai morrer e quer arrumar um bom marido para sua esposa, Day. Ela, por sua vez, acha que ele está com segunda intenções para que ele possa cair na farra e a confusão está armada.

A atriz e Rock Hudson se tornaram amigos íntimos. Foi nela que ele se apoiou quando descobriu estar com AIDS (ela sempre afirmou que nunca soube ou desconfiou, que ele fosse homossexual). Doris Day se casou quatro vezes, com o tromponista Al Jorden (com quem teve um filho), com o saxofonista George Weidler (que a levou ao cristianismo científico), com o produtor Martin Melcher (que faleceu em 1968) e, finalmente, com Barry Condem, o maitre de um de seus restaurantes favoritos. Teve também um affair com Ronald Reagan, quando ele se divorciou de Jane Wyman e que se referiu como “o único homem que realmente gostava de dançar”.
Day está afastada das telas desde 1973, quando seu seriado de TV se encerrou após cinco temporadas.

Depois de recusar o papel de Mrs Robinson em A Primeira Noite de um Homem, amargar uma falência (quando descobriu que Melcher e um parceiro haviam acabado com suas finanças) e assistir seu filho perder uma batalha contra o câncer, se retirou da vida pública e não apareceu nem para receber uma medalha presidencial em 2004, por ter um medo terrível de voar.

Sobre sua imagem de virgenzinha disse: ” tenho a péssima reputação de ser a ’senhorita boazinha’,  a virgem da America,  por isso estou com medo de chocar algumas pessoas ao dizer isso, mas eu firmemente acredito que duas pessoas não devem se casar antes de terem vivido juntos. Os jovens estão certos. Que tragédia é para um casal se casar, ter um filho, e no processo descobrir que eles não são adequados para o outro”.

Ali MacGraw, apenas um rostinho bonito

Publicado no site da revista Alfa em abril de 2011
Link 

Se você não sabe quem é Ali MacGraw, não se preocupe. Pouco gente se lembra dessa atriz que foi um dos rostos mais bonitos do mundo na dévada de 1970 e que estrelou o chatíssimo Love Story ao lado de Ryan O´Neil. Também ficou famosa quando protagonizou um escândalo envolvendo o então seu marido, Robert Evans e seu futuro marido, Steve McQueen.

A moça era deslumbrante e de uma beleza selvagem. Em 1957 trabalhando de garçonete em Atlantic City ganhou o prêmio de mais bonita da cidade. Depois começou a trabalhar como assistente da lendária fotógrafa de moda, Diana Vreeland, mas com uma face dessas colocaram-na para frente das câmeras e logo estava nas capas da Vogue. Ela também foi estilista de moda para revistas até ser descoberta pela cinema.
Seu maior sucesso foi mesmo Love Story de 1970, a aguada história do rapaz milionário que se apaixona pela estudante proletária, é deserdado e ela morre de leucemia. Além de rios de lágrimas, o filme eternizou a frase “amar é nunca ter que pedir perdão” e deu uma indicação ao Oscar para a menina.

Desde 1969, ela estava casada com o produtor Robert Evans, que corria como desesperado para arrumar papéis de destaque à sua amada, enquanto nos intervalos, enfiava a cara em montanhas de cocaína. Acontece que Ali foi gravar Os Implacáveis com McQueen e os dois se apaixonaram. Ela voltou, entrou com o divórcio e arrasou a vida de Evans. Anos depois, ele, que produziu Chinatown, Maratona da Morte e, seu canto do cisne, Cotton Club declarou no documentário The Kid Stays in the Picture que fez por merecer o desprezo da moça, pois não lhe dava a devida atenção.

Depois disso, MacGraw trabalhou em Comboio, um dos filmes realmente ruins de Sam Peckinpah e apareceu esporadicamente em papéis em séries de TV como Dinastia e propagandas para as lojas Macys ou para o PETA (a ONG contra abusos em cima dos animais). Depois de lutar contra a dependência do álcool e sozinha desde que se separou de McQueen em 1978, Ali MacGraw, que foi escolhida uma das 25 mulheres mais sexy do cinema, completa hoje 72 anos de idade.

A ascensão e a queda de Warren Beatty

Publicado no site da revista Alfa em março de 2011
Link 

Warren Beatty completa hoje 74 anos de idade e continua um enigma. Ele foi uma das figuras mais interessantes e polêmicas de Hollywood na década de 1970, um bom ator, bom produtor e diretor, além de roteirista e, somado a tudo isso, galã, símbolo sexual e um dos maiores garanhões da indústria. Nos anos 80 afundou de tal maneira que não mais se reergueu e hoje não passa de “marido da Annette Bening”.

Beatty estudou interpretação com a lendária Stella Adler e começou na TV em papéis que ele considerava “idiotas” e por isso, correu para fazer teatro na Broadway. Seu primeiro papel de destaque nas telonas foi no drama de Elia Kazan, Clamor do Sexo de 1961. O filme fez sucesso na época, Beatty recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, mas os críticos o achavam apenas um rosto bonito.

O poder mesmo veio seis anos mais tarde com Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas. Beatty tinha sido passado para trás por Woddy Allen no projeto que gerou o filme O que é que há, Gatinha de 1965 e, para se precaver, resolveu dominar toda a produção da história do famoso casal de bandidos norteamericanos. Contratou roteiristas que podia controlar, chamou Arthur Penn para dirigir e estrelou o filme em um dos papéis principais. Bonnie e Clyde foi um grande sucesso de publico e crítica. Por mas que fosse baseado em fatos reais, o casal simbolizava os jovens que não se curvavam frente aos establishment e é lógico que a juventude que começava a se rebelar no final dos anos 1960 se identificou de cara com os criminosos. Beatty estava também quebrando o poder os estúdios e abriu caminho para o que foi chamado depois de “nova Hollywood” com pessoas como Coppolla, Spielberg, Dennis Hopper, George Lucas, entre outros.

O sucesso do filme lhe abriu as portas para fazer McCabe & Mrs Miller, ao lado de Julie Christie, sua namorada na época e dirigido pelo mítico Robert Altman. Como Beatty queria, de novo, controle total, ele e o diretor se odiaram e brigaram o tempo todo. Em 1975 veio Shampoo, onde o cara mostrou sua verdadeira faceta no papel de um cabelereiro que transa com a maioria de suas clientes. Já em 1978, Beatty refilmou um clássico menor, a ótima comédia O Céu pode Esperar, mais uma vez ao lado da bela Christie, agora ex-namorada. Três anos depois, ele produziu, dirigiu, escreveu e atuou em Reds, baseado na vida do jornalista americano John Reed e sua participação na revolução russa de 1917. Ele ganhou sua estatueta de Melhor Diretor e o filme ainda levou Melhor Fotografia e Melhor atriz Coadjuvante.

A partir deste ano, inexplicavelmente, a carreira de Beatty foi ladeira abaixo. Seu próximo filme, a comédia Ishtar, só aconteceu sete anos depois de Reds e é até hoje motivo de piada nos EUA, dado o fracasso geral, tanto na bilheteria (nacional e mundial), como nas críticas. Depois dele, Warren conseguiu transformar o detetive mais legal das HQs, Dick Tracy, num idiota apaixonado, mas o filme foi um sucesso no verão de 1990. Em 1991, ele tentou requentar a fórmula de seu sucesso passado com mais uma biografia filmada de um bandido, Bugsy, sobre o mafioso judeu que criou Las Vegas. De positivo no filme Beatty ficou apenas com a atriz principal, Annette Benning, com quem se casou e está junto até hoje. Seu próximo filme (mais uma vez ao lado dela), Segredos do Coração, também foi um desastre, assim como Ricos, Bonitos e Infiéis de 2001. O único filme de Beatty que teve realmente o sucesso merecido em 20 anos foi Politicamente Incorreto de 1998, uma ótima sátira política.

Enquanto no cinema, Warren Beatty amarga grandes perdas, na vida sentimental o cara só colecionou beldades. Para se ter uma idéia, no Oscar de 1979, sua irmã, a grande atriz Shirley MacLaine ao apresentar um dos prêmios, disse que tinha muito orgulho de seu doce e inteligente irmão e, não aguentando, arrematou “imagine o que você conseguiria se tentasse o celibato”. E não era para menos. Por suas mãos passaram as cantoras Madonna, Carly Simon e Cher; as atrizes  Natalie Wood, Lana Wood, Diane Keaton, Julie Christie, Joan Collins, Leslie Caron, Liv Ullmann, Brigitte Bardot, Goldie Hawn, Candice Bergen e Britt Ekland e as modelos Elle Macpherson e Stephanie Seymour (que o trocou por Axel Rose).

Beatty no final ficou com a maldição da nova Hollywood. Ele, como muitos de seus representantes, teve o sucesso meteórico e, aparentemente, não se adaptou aos novos tempos. Dennis Hopper nunca mais fez nada de interessante depois de Easy Rider, Copolla viu sua genialidade morrer depois da saga do Chefão, Scorcese teve que pastar muitoaté conseguir o reconhecimento que merecia dentro da indústria e Peter Bogdanovich é hoje nota de rodapé na história do cinema. O poder dos antigos estúdios morreu com pessoas como Beatty, mas deu lugar ao poder da bilheteria. Spielberg e Lucas sabem disso e enriqueceram no cinema-pipoca. Agora resta saber se, aos 74 anos, Warren Beatty ainda tem alguma carta na manga para resgatar o cinema americano da mesmice que caiu ou se temos que esperar pela ‘novíssima Hollywood’.

50 anos de ‘Julgamento em Nuremberg’

Publicado no site da revista Alfa em março de 2011
Link 

Julgamento em Nuremberg de Stanley Kramer é um desses clássicos perdidos, que pouca gente conhece, mas quem viu não esquece e não deixa de ser fã. Eu mesmo fui arrebatado pela força deste filme na década de 1980, quando a TV Globo nos brindava com obras geniais do cinema, LEGENDADAS, nas madrugadas de sexta para sábado. É um desses filme que reúne ingredientes perfeitos: uma constelação de estrelas de Hollywood com um roteiro brilhante e um tema polêmico, no caso, o julgamento de juízes nazistas que condenavam judeus à torto e à direito.

O que encanta nesse filme é justamente o tratamento que o roteiro de Abby Mann deu ao grande conflito entre aliados e nazistas, transportando-o para dentro de um tribunal. O ator alemão Maximillian Shell, que faz o advogado de defesa dos juízes e que acabou levando o Oscar por seu trabalho, vai reproduzir toda a retórica e discurso de ódio dos partidários de Hitler para salvar seus clientes, enquanto os americanos ficam divididos em cumprir um papel de “vingadores do mundo” (no caso, o promotor Richard Widmark) ou tentar contentar os alemães para terem apoio contra os comunistas.

As vozes da razão nessa questão toda sairão também de um alemão e de um americano. Burt Lancaster, talvez no maior e melhor papel de sua vida, faz o ex-chefe do STF nazista, Ernst Jannings e passa calado a maior parte dos 186 minutos de filme, até o momento em que resolve falar e é nesse discursso que surge a culpa de um povo e o que acontece quando resolvemos olhar para o outro lado enquanto as coisas acontecem no país:

Qual a diferença se alguns extremistas políticos perdessem seus direitos? Que diferença fazia se algumas minorias raciais perdessem seus direitos? Era só uma fase passageira, um estágio pelo qual passávamos. Chegaria ao fim, cedo ou tarde. O próprio Hitler chegaria ao fim, mais cedo, ou mais tarde. (…) E um dia nós olhamos em volta e vimos que corríamos um perigo ainda maior. O que iria ser uma fase passageira havia se tornado o modo de vida. (…) Meu advogado tentará faze-los acreditar que não sabíamos dos campos de concentração. Não sabíamos? Onde estávamos? Onde estávamos quando Hitler instilou seu ódio nos palanques? Onde estávamos quando nossos vizinhos foram levados de madrugada para Dachau? Onde estávamos quando cada vilarejo na Alemanha tinha um terminal de trem onde vagões de gado eram lotados de crianças a serem exterminadas? (…) Estávamos surdos? Mudos? Cegos? Ele diz que não sabíamos do extermínio de milhões. Ele dará a desculpa de que só sabíamos do extermínio de centenas. Isso nos faz menos culpados? Talvez não sabíamos dos detalhes. Mas não sabíamos porque não queríamos saber.

Do outro lado está a figura do juiz americano Haywood, interpretado por Spencer Tracy. Mais do que simplesmente sentar em um palanque e julgar, ele quer entender o que aconteceu na Alemanha, compreender o povo alemão e passa a se envolver com uma viúva alemã, Marlene Dietrich. Dietrich aliás, que fez um trabalho intenso na II Guerra junto aos soldados americanos, chegou a passar mal em uma das cenas quando justificava que o povo alemão nada sabia das atrocidades cometidas por seu governo. Por mais que a personagem exigisse que ela dissesse isso, a atriz não conseguia conceber tamanha falta de cidadania.  Só que é nas conclusões finais do juiz, ao fim do julgamento, que teremos a grande lição:

O destino de Janning ilumina a verdade mais cruel que emergiu deste julgamento. Se ele e todos os outros réus fossem pervertidos degenerados, se todos os líderes do III Reich fossem monstros sádicos e maníacos, então esses eventos não teriam mais implicações morais do que um terremoto ou outra catástrofe natural qualquer. Mas este julgamento mostrou  que sob uma crise nacional, homens comuns, até homens capazes e extraordinários podem se iludir e perpetrar crimes tão vastos e hediondos que excedem nossa imaginação. (…)  Uma decisão deve ser tomada na vida de qualquer nação no momento em que o inimigo lhe agarra o pescoço e parece que a única forma de sobreviver é usar os meios do inimigo. Deturpar a sobrevivência de forma mais convincente e olhar para o outro lado! Porém a resposta a isso é: “Sobreviver como o que?”! Um país não é uma rocha, é a extensão de nós mesmos. É o que ele defende, quando defender algo é o mais dificil!

Julgamento em Nuremberg tem no elenco ainda William Shatner (que anos depois seria o Capitão Kirk de Star Trek), Werner Klemperer (o Comandante Klink de Guerra, Sombra e Água Fresca), Judy Garland (seu primeiro filme em sete anos, depois de Nasce uma Estrela) e Montgomery Cliff. Cinquenta anos depois de seu lançamento,  ainda é um filme atual e uma lição de cidadania, obrigatório para nós brasileiros que tanto nos assustamos com os absurdos vistos no noticiário politico nacional.