segunda-feira, 14 de março de 2011

Quem pode mais: Stallone ou Robert Rodriguez?

Publicado no site da revista Alfa em março de 2011
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O cinema teve, desde seu início, o gênero apelidado “filme para macho”, obras onde a testosterona dá o tom. Eram os filmes de cavaleiros medievais lá no comecinho, seguidos pelos faroestes B, com um intervalo para as aventuras de soldados durante a II Guerra, os detetives e policiais da década de 1970 até chegar aos anos de 1980 com uma penca de produções da produtora Cannon/ Golan&Globus com tipos como Dolph Lundgreen, Chuck Norris, entre outros, além obviamente do maior de todos os representantes dos durões, o irregular Sylvester Stallone.


Assisti nesta semana dois exemplares recentes deste tipo de filme que faz a alegria dos adolescentes e do pessoal que acha que cinema não é feito para se pensar: Machete de Robert Rodriguez e Os Mercenários de Sylvester Stallone e deu para ver porque o primeiro é uma ótima diversão e o segundo, um monte de porcaria. Stallone se leva a sério demais e Rodriguez de menos.

O velho Sylvester parece procurar ser motivo de piada sempre. Começou com um bom Rocky, Um Lutador, escrito e protagonizado por ele mesmo e vencedor de vários Oscars, inclusive de Melhor Filme, ganhou força com o primeiro filme da série Rambo (que não era ruim, diga-se de passagem) e depois caiu de cabeça como garoto-propaganda da era Reagan, com seu herói americano que destrói os inimigos dos EUA. O cara até tentou flertar com comédias (Pare Senão Minha Mãe Atira) e com o drama (no bom Cop Land), além de ficção científica (O Demolidor), mas sempre voltou para os tipos que falam através das armas.

Fazer uma obra com os símbolos dos machos da década de 1980 e 1990 parecia ser uma ótima idéia. Estão lá Mickey Rourke, Jet Li, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger em pontinhas e um dos piores careteiros do cinema, Eric Roberts, irmão da Julia Roberts. Existe até um pôster (que reproduzo aqui) que brinca com o número de mortes atribuídas a cada ator do filme em sua carreira cinematográfica (Lundgreen é o campeão com 632). O lance é que o filme, com um background desses, quer ser sério. Sly é, para variar, o salvador da pátria, cheio de honra e princípios e com senso de humor duvidoso. Diálogos ruins, interpretações horrorosas e história péssima completam o cardápio.

Aí vem Robert Rodriguez, que assim como seu amigo Quentin Tarantino, adora brincar com os chavões do cinema de ação. Foi assim com a saga mexicana do mariachi em três filmes (el Mariachi, A Balada do Pistoleiro e Era uma Vez no México), com Sin City e até mesmo com a aventura juvenil As Aventuras de SharkBoy e Lava Girl. Quando ele e Tarantino realizaram Grindhouse, uma sessão dupla baseada em filmes dos anos 70,  desenvolveram uma série de trailers falsos de filmes e eis que surgiu a idéia de Machete com o mexicano mais feio do planeta, Danny Trejo.

Trejo, um ex-presidiário tatuadíssimo, é figura constante nos filmes de Rodriguez e merecia seu lugar ao sol. Sua carranca feia não é compatível com sua simpatia em entrevistas (já chegou a dizer, fazendo piada, que seu maior trauma foi ter trabalhar entre Antonio Banderas e Johnny Depp, dois caras belíssimos). Assim como no filme de Stallone, Rodriguez recuperou alguns artistas ruins dos anos 1980 (no caso Steven Seagal e Don Johnson), chamou amigos de sempre (Cheech Marin e Michele Rodriguez) e ainda colocou duas musas da interpretação ruim (Jessica Alba e Lindsay Lohan) ao lado de Robert De Niro, que entrou de cabeça na atuação caricata. A história é totalmente previsível, os diálogos são horríveis, mas a grande diferença é que em Machete as coisas foram feitas deliberadamente para serem trash. Em que outro filme o herói é feio pacas, pega todas as mulheres e ainda usa o intestino de um inimigo como corda para escapar de um hospital? Só que antes desse absurdo, temos um médico explicando a duas enfermeiras que o intestino humano pode ser seis vezes mais longo que a altura da pessoa, num diálogo completamente deslocado no enredo.

Stallone promete um novo filme com seus mercenários. Rodriguez brinca no final do filme que seu personagem voltará em Machete Mata e Machete Mata de Novo. Seria muito bacana se o Sly aprendesse com o mexicano. Melhor ainda se deixasse Rodriguez dirigir seu filme com toda a liberdade do mundo. Aí sim teríamos um legítimo filme de macho muito bem feito.

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