terça-feira, 1 de março de 2011

Kirk Douglas, o Último Durão

Publicado no site da revista Alfa em fevereiro de 2011
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Não é difícil imaginar por que Kirk Douglas roubou a noite de ontem na entrega do Oscar. Se você for ler a história da vida desse ator, que se tornou um dois maiores e mais respeitados mitos de Hollywood, vai entender que ele também faz parte de uma espécie de homem que já não se fazem mais. Douglas é um lutador (e um vencedor), desde a mais tenra infância. Um cara que passou por pobreza extrema, pela segunda guerra, por um divórcio em 1951, por um acidente de helicóptero em 1991, um derrame em 1994, pela morte de um filho (Eric Douglas) por overdose em 2004 e, no ano passado, quase viu seu sucessor nas telas, Michael Douglas, sucumbir a um câncer. E mesmo assim, lá estava ele, com 94 anos de idade, brincando com as mulheres do Oscar.


Veja fotos da carreira de Kirk Douglas

O alterego de Kirk Douglas é um tal de Issur Danielovitch que nasceu na cidade de Amsterdam no estado de Nova York em dezembro de 1916, filho de imigrantes da Bielorússia. Esse Issur, ou Izzy como também era chamado, desapareceu quando se alistou na marinha em 1941, logo no comecinho da participação dos EUA na II Guerra Mundial. No lugar dele, surgiu Kirk Douglas, um cara que havia pago a faculdade sendo faxineiro e jardineiro, um homem que fazia parte do time de luta da universidade e nas férias se apresentava em circo e um marinheiro que, ao reconhecer uma antiga colega, Diana Dill, na capa da revista Life, disse a seus parceiros de navio, “vou voltar vivo e casar com a garota”. E assim o fez.

Sua estréia no cinema se deu por causa de outra colega de classe, a estonteante Lauren Bacall. Foi ela que o apresentou para o produtor Hall B. Wallis em 1946 quando ele procurava por um ator para trabalhar com Barbara Stanwick em O Tempo não Apaga. A partir daí, o homem se tornou um dos maiores sucessos de bilheteria nos anos 1950 e 1960, fazendo tipos durões, de olhar duro, queixo proeminente e voz grave e com um estilo de vida baseado em uma ética própria. Foi o tempo de clássicos como Assim Estava Escrito de 1952 (Douglas era um inescrupuloso produtor de filmes), faroestes como Sua Última Façanha (de 1962, onde ele é um cowboy que se deixa ser preso para ajudar um amigo a escapar da penitenciária) e Duelo de Titãs (com outro grande machão das telas, Anthony Quinn), militares cheios de honra como em Glória Feita de Sangue (1957) ou Spartacus (1960), ambos dirigidos por Stanley Kubrick e ainda em Sede de Viver onde interpretou Vincent Van Gogh com uma tamanha força que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Ator em 1957. Mais para o lado cômico, Kirk se destacou no filme live-action de maior bilheteria dos Estúdios Disney até hoje, 20.000 Léguas Submarinas, onde trabalhava ao lado de monstros do cinema como James Mason e Peter Lorre.

Apesar de nunca terem sido realmente amigos, seu grande parceiro no cinema foi sem dúvida nenhuma Burt Lancaster, já que atuaram em sete filmes juntos. No último deles, Os Últimos Durões de 1986, Douglas, aos 70 anos, aparece malhando, com um corpo de garotão, tendo um caso com uma menina 40 anos mais nova e ainda assistindo um show do Red Hot Chilli Peppers (estes bem antes de estourarem no cenário musical). É a imagem perfeita de um cara que nunca se deixou abater pela idade, nem pelo descrédito da Academia. Ama o cinema mais do que tudo, mesmo nunca tendo ganhado um Oscar competitivo (concorreu três vezes). A única estatueta que recebeu na cerimônia foi em 1995, um prêmio especial pelos 50 anos de sua carreira. E pode apostar que além dos 91 filmes que atuou, os oito que produziu e os dois com sua direção, a Academia vai sempre ficar lhe devendo pela cena realmente interessante do 83º Oscar.

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