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Não sou de acompanhar desfile de escola de samba, nem em São Paulo, nem no Rio, mas desta vez vi com sofrimento o ótimo desempenho da Salgueiro ir por água abaixo, quando seus enormes carros alegóricos deram pane na avenida. Acontece que o tema da escola, a história do Rio de Janeiro no cinema, era para lá de interessante e os caras conseguiram fazer até uma bateria com uniforme do BOPE, emulando um dos maiores sucessos nacionais, o famoso Tropa de Elite. De resto estavam lá, a Atlântida, Carlota Joaquina – Princesa do Brasil, Carmem Miranda e até mesmo a nova animação Rio com o seu diretor Carlos Saldanha.
O Rio no cinema estrangeiro é realmente louco porque aparentemente é um lugar mais místico e lendário do que se anuncia em propaganda oficial. Explicando melhor, para o cinema gringo, a cidade maravilhosa é um misto de bacanal sensual com paraíso de malfeitores (e não culpem Ronald Biggs, os nazistas já tinham descoberto o Brasil antes dele). E parece existir uma regra nesses filmes: brasileiro não pode fazer papel de carioca em filme estrangeiro. Aparentemente a moda começou em 1933 no filme Voando para o Rio com Fred Astaire, onde a mocinha brasileira, com o singelo nome de Belinha de Rezende, era interpretada pela mexicana Dolores del Rio. Essa moda aparece até no já citado Rio de Saldanha. O único dublador brasileiro na versão original da animação é Rodrigo Santoro.
Outro ponto a se destacar em filmes gringos é a imagem do brasileiro lá fora. Zé Carioca (ou Joe Carioca por lá) , que Pato Donald conheceu em Alô, Amigos, é um tipo simpático e folgazão no cinema, mas sua versão nos quadrinhos, desde os anos de 1940, é de um cara que não trabalha e só vive se aproveitado dos outros. A maior representante do Rio clássico (e do Brasil), é, sem dúvida, Carmen Miranda. Sucesso nas rádios e no cinema nacional, a portuguesa de nascimento se tornou a quintessência do gingado brasileiro lá fora, com suas roupas exageradas, chapéu de frutas e balagandãs e por um tempo foi o salário feminino mais alto de Hollywood, desde sua estréia nas telonas de lá com Serenata Tropical de 1940. O problema é que tem muito americano que acha até hoje que a mulher carioca anda desse jeito por aí.
Com o fim da guerra, vieram os criminosos alemães. Em 1946, por exemplo, Hitchcock colocou Ingrid Bergman e Cary Grant vigiando nazistas na então capital federal brasileira em Interlúdio. Em Os Meninos do Brasil, Gregory Peck interpreta Joseph Mengele e sua tentativa de clonar Hitler, mas o filme começa mesmo com uma reunião nazista no Paraguai e não no Rio, só que o nome do nosso país estava aí e pronto, a confusão estava feita. Anos depois é que foi se saber que o criminoso realmente estava refugiado aqui e que teria morrido perto de São Paulo.
Quando Ronald Biggs assaltou o trem pagador em 1963 e se refugiou no Rio de Janeiro, a cidade passou a ser sinônimo de esconderijo para golpistas, especialmente em comédias como Um Peixe Chamado Wanda (sim, John Cleese e Jamie Lee Curtiss fogem para o Rio onde tem 11 filhos e fundam um leprosário) e Os Produtores. Interessantemente, no fantástico filme Alpha Dog de Nick Cassavetes, Emile Hirsch se refugia no Paraguai, mas o jovem traficante que inspirou a história do filme, Jesse James Hollywood, veio mesmo para Rio, tendo sido recomendado a ele que engravidasse uma menina para nunca ser deportado (como aconteceu com Biggs). Acontece que, com o tempo ,as leis mudaram e o rapaz foi preso em Saquarema em 2005. Em Velozes Cinco, Vin Diesel retoma personagem Dom Toretto que o consagrou em Velozes e Furiosos e desta vez o simpático criminoso está escondido no Rio de Janeiro, onde mais? Até mesmo o monstro verde mais famoso da Marvel, O Incrível Hulk, já se escondeu em uma favela carioca, um lugar extremamente tranquilo para alguém que não pode ficar nervoso. Temos que lembrar também que James Bond veio ao Rio de Janeiro apenas uma vez, no péssimo 007 contra o Foguete da Morte, com direito a perseguição no bondinho do Pão de Açucar, carnaval com ares de Nova Orleans e erros geográficos incríveis, como a Foz do Iguaçu ser no meio do Brasil.
Para finalizar, a talvez maior bobagem difamatória em cima do Rio de Janeiro tenha sido Feitiço do Rio, uma péssima comédia romântica de 1984 com Michael Caine. No filme, nós falamos castelhano e casamentos celebrados por mãe de santos são feitos nas praias. O filme de Stanley Donen é praticamente um incidente diplomático e nem a peituda Michelle Johnson, então com 17 anos, e Demi Moore aos 22 anos fazendo topless em Copacabana salvam esse desastre.
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