quinta-feira, 24 de março de 2011

10 coisas que aprendi assistindo ‘Bruna Surfistinha’

Publicado no site da revista Alfa em março de 2011
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Depois da chamada “retomada” do cinema brasileiro, ou seja, quando a gente aprendeu que toda história tem começo, meio e fim, podemos notar que passamos a experimentar uma série de formas diferentes de encontar o público. O boom agora é o cinema biográfico, que teve em Chico Xavier, uma tremenda bilheteria. Que tal usar esse recurso e aliar à uma atriz de telenovela pelada, fazendo sexo à torto e à direito, porque se trata da vida de uma garota de programa descrita em um livro best seller? Aí sim, a gente tem uma das maiores bilheterias do ano para um filme ruim, com roteiro que nunca se aprofunda em nada a não ser em transas coreografadas com trilha de softporn, interpretações de doer e um câmeraman que quer inovar com planos que cortam a cabeça dos atores. E depois de assistir essa importante obra do cancioneiro cinematográfico nacional, dá para se tirar lições valiosas para a vida:

1) Ser garota de programa deve ser legal pacas. Você ganha dinheiro, conhece gente muito interessante e não tem que dar satisfação a ninguém.

2) Ser garota de programa é legal pacas DESDE QUE você não use cocaína. Aparentemente, esse é UNICO problema dessa profissão (violência, exploração etc ficam de fora). A droga vai consumir todo o dinheiro que você ganhou e te botar em um ‘vintinho’ (não sabe o que é? Assista o filme).

3) Aparentemente com 800 programas em seis meses (cerca de 5 programas por dia, a R$ 300 – descansando aos domingos), você tem grana o suficiente para deixar essa vida de lado (ué, não é legal pacas?) e começar a ser uma nova pessoa, de preferência, com um ex-cliente.

4) Se seu irmão te humilha muito, os meninos da escola te acham uma vadia, sua mãe gosta de você, e seu pai é rigoroso, você pode se vingar virando garota de programa, mesmo porque é raríssimo uma garota passar por uma situação dessas, não é?

5) Homem gosta de achar que dá prazer à mulher, por isso ela pode fingir que está tudo bem. O importante são as aparências e ele ainda paga mais. Já se um homem conseguir fazer uma garota de programa ter um orgasmo, ele não precisa pagar.

6) Homens gostam de serem avaliados, COM NOTA e ver sua classificação na internet, por mais que ele se ache um cinco estrelas e ela dá dois ou três.

7) Não é que homem odeie discutir a relação. É que ele prefere fazer isso com a garota de programa, a R$ 300 a hora, ao invés de com a namorada, esposa ou terapeuta.

8 ) Se convidar a garota de programa para jantar, mesmo que vocês dois tenham um certo grau de amizade, a brincadeira vai custar o equivalente a dois programas.

9) O primeiro cliente a gente não esquece e ele não esquece da gente. Para ele você pode contar seu nome verdadeiro.

10) Nossos hermanos argentinos ainda fazem filmes infinitamente superiores aos nossos (vide Dois Irmãos, Nove Rainhas, Elza e Fred, O Segredo de seus Olhos etc); todos muito mais interessantes e estruturados, não importa o que a patrulha ideológica tupiniquim diga em contrário.

Mais maduro e sério deverá ser o filme baseado em “Filha, Mãe, Avó e Puta”, autobiografia de Gabriela Leite, a criadora da marca de roupas Daspu e que comanda a ONG Davida, que luta por direitos trabalhistas para as prostitutas. Para a revista VEJA, ela disse que gosta de Bruna, mas que a menina fez um livro de curiosidades, na linha de ‘O que eu fazia quando eu estava na zona’. Contar o que passa na cabeça, coração e alma das mulheres que vendem seu corpo e sua intimidade, sem sensacionalismo e plasticidade, seria, com certeza, um avanço para a luta da Gabriela. A direção será de Caco Souza e Vanessa Giácomo será Gabriela. Esperemos com fé.

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