domingo, 22 de março de 2009

Hollywood comemora 70 anos de seu melhor ano

Publicado no Terra em março de 2009
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Todos os cinéfilos de carteirinha, fanáticos por cinema e críticos da sétima arte concordam que 1939 foi o melhor ano de toda a história do cinema. Foi neste ano que vimos surgir alguns dos maiores clássicos já assistidos.

Na época imperava o sistema dos estúdios, onde produtores reinavam absolutos sobre suas "criações" e mantinham diretores, atores e profissionais da área presos a contratos por longos prazos. Eles decidiam o que seria feito, como e por quem, e poucos astros tinham liberdade de recusar. Era a época das mãos de ferro de Louis B Mayer na Metro, Jack Warner na Warner Pictures, Darryl F. Zanuck na Fox, David Sarnoff na RKO e Adolph Zukor na Paramount, também conhecidos como os cinco grandes.

Em O Terceiro Homem (1949), Orson Welles diz uma frase que se encaixa perfeitamente na situação de Hollywood em 1939: "Durante 30 anos sob os Bórgias, a Itália conheceu a guerra e o terror, mas produziu Michelangelo, Da Vinci e a Renascença, ao passo que a Suíça teve 500 anos de paz, amor e democracia, mas produziu apenas o relógio-cuco". Em Los Angeles, apesar da ditadura dos cinco grandes, nunca se produziu tanta coisa de qualidade em 1939.

Começando por O Mágico de Oz. A obra de Frank L. Baum, escrita em 1900, foi transportada às telas magistralmente por Victor Fleming com a garota-prodígio Judy Garland como Dorothy, consagrou todos os envolvidos e também a canção Over The Rainbow, que é regravada até hoje. Com uma produção turbulenta, parte em preto-e-branco e parte colorida e um custo astronômico de 2,8 milhões de dólares, o filme faturou na época 3 milhões e entrou para os anais da história do cinema.

No Tempo das Diligências, de John Ford, trouxe o faroeste para outro patamar e consagrou um ator que se tornaria um dos grandes ícones do gênero: John Wayne. Contando a história de um grupo de pessoas numa diligência e seus dramas pessoais enquanto atravessam a belicosa região apache, o filme também mostrou Monument Valley, na divisa entre os estados de Utah e Arizona, como o local preferido para filmagens de westerns.

No campo da crítica social, A Mulher faz o Homem - nome idiota para Mr. Smith Goes to Washington - era uma comédia dramática estrelada por James Stewart e dirigida por Frank Capra, onde o astro interpretava um simplório alçado à condição de senador dos EUA que se vê diante da corrupção e do mar de lama que impera na capital americana. A cena em que ele discursa sem parar para escapar de um escândalo se tornou famosa e, em 1989, a Biblioteca do Congresso americano adicionou o filme no National Film Registry por sua "relevância cultural, histórica e estética".

Já os ânimos e desconfianças sobre o sistema de governo soviético encontraram graça e leveza no filme Ninotchka, com Greta Garbo como a comunista ferrenha em visita a Paris e Melvyn Douglas como o dandy que a leva para o mau caminho. Obviamente todos os socialistas no filme se rendem ao capitalismo e à boa vida.

Drama mesmo foi O Morro dos Ventos Uivantes, adaptação da obra de Emile Brönte com o maior ator sheakesperiano de todos os tempos, Laurence Olivier, e dirigido pelo sensacional William Wyler.

Vale ressaltar também que em 1939 vimos a primeira aventura do eterno vilão de filmes capa-e-espada, Basil Rathbone como Sherlock Holmes. Foi o mais perfeito detetive de todos os tempos, especialmente devido aos seus atributos físicos, muito parecidos com aqueles imaginados por Conan Doyle em sua obra literária. Rathbone faria ainda mais 13 filmes como Sherlocke Holmes.

Por fim, o maior de todos: 1939 foi o ano de E O Vento Levou, o filme que estreou a moda das superproduções, levou 10 Oscars (oito nas premiações tradicionais, um técnico e um honorário) e figura entre os dez melhores de todos os tempos. A saga da arrogante e lutadora Scarlett O¿Hara e sua relação de amor e ódio com o cínico Rhett Butler em meio à guerra civil americana encanta gerações até os dias de hoje.

E todas as lendas que cercam o filme são verdadeiras, a começar pelo fato de mais de 1.400 atrizes terem sido entrevistadas para o papel que acabou nas mãos da indiana de ascendência inglesa Vivien Leigh, na época amante (e depois esposa) de Laurence Olivier. Também não é mentira que ela e Clark Gable, que fazia Rhett, se odiavam e que ele comia cebola antes das cenas românticas para irritá-la. Foi o primeiro longa colorido a levar o Oscar de melhor filme e deu também o primeiro prêmio a uma atriz negra, Hattie McDaniel, como melhor coadjuvante. A produção custou pouco mais de 5 milhões de dólares para a MGM, mas quatro anos depois de seu lançamento, a renda obtida pelo filme nas bilheterias já superava 32 milhões de dólares. A frase final do filme, "Francamente, querida, eu não dou a mínima", foi escolhida como a melhor do cinema na votação da American Film Institute, na comemoração dos 100 anos da sétima arte em 1998.

Em 1939 nascia também Francis Ford Coppola, que 32 anos depois revolucionaria o cinema com O Poderoso Chefão, mas isso é outra história.

2 comentários:

Marcelo Tadeu disse...

Vai ter gente me xingando, mas dos citados só gostei de "No Tempo das Diligências", "A Mulher faz o Homem" , "O Morro dos Ventos Uivantes" e "Sherlock Holmes"... vou é ficar esperando a matéria da revolução do cinema 32 anos depois!!

Lou disse...

Não era o Pucci se não falasse de Poderoso Chefão, né? Saudade viu, vem almoçar comigo aqui no centro! Beijos