sexta-feira, 6 de março de 2009

CRÍTICA AO FILME WATCHMEN

Publicado no Terra em março de 2009
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Zack Snyder está de parabéns! Depois do retumbante sucesso de 300, adaptação da graphic novel de Frank Miller, mostrou que domina perfeitamente a tranposição de histórias em quadrinhos adultas para a telona. Watchmen - O Filme , que estréia sexta-feira (6) em todo o mundo, é uma adaptação fiel da também graphic novel apocalíptica, sobre um grupo de heróis obrigados a se aposentar - os Watchmen -, escrita em meados dos anos 80 por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons. Aliás, é louvável dizer que o diretor entende muito da complexa e sombria HQ, sabendo exatamente o que cortar e o que manter. A grande dúvida é: "Será que vai agradar àqueles que não são fãs da história?".

Visualmente, Watchmen - O Filme é um deslumbre. Os cenários desenvolvidos por Alex McDowell e sua equipe são reproduções fidedignas dos desenhos de Gibbons e mostram uma Nova York decadente e suja de 1985. Os efeitos especiais não são exagerados, nem soam falsos, casando muito bem com o desenrolar da história.

Outro ponto positivo para o filme é a sua trilha sonora variada e cheia de referências das décadas de 40 a 80, retratadas na história. Em quase três horas de duração, escuta-se desde Unforgetable, na voz de Nat King Cole, ao sucesso oitentista 99 Luftballons da alemã Nena, passando por Phillip Glass, KC and the Sunshine Band, Mozart, Janis Joplin e Bob Dylan, cuja música The Times They Are A-Changin costura a espetacular abertura do longa.

Outro detalhe genial são as inúmeras citações a pessoas e acontecimentos relevantes da história americana e mundial que podem passar desapercebidas. Personalidades reais, personificadas em versões mais novas, aparecem como extras em várias cenas como o mais famoso fotógrafo das ruas de Nova York na década de 40, Weegee; o grupo musical Village People, que aparece na frente da famosa boate Studio 54 (assim como Bowie e Jagger); o presidente americano John F. Kennedy, que cumprimenta o personagem Dr. Manhattan; o artista plástico Andy Warhol, o escritor Truman Capote e o ex-todo-poderoso da Ford nos anos 70, Lee Iacocca. Citações de filmes como Apocalipse Now (1979), Dr. Fantástico (1964) e até a animação japonesa Akira (1988) estão lá também.

Um ponto negativo (ou não), especialmente para quem não leu os quadrinhos, é que Watchmen não é um filme convencional de super-heróis. O ritmo é lento, com mais diálogos que cenas de ação (as poucas que têm, no entanto, são geniais) e de sexo. Também é denso, pesado e (muito) violento. Quem for ao cinema esperando uma pancadaria sem fim, vai se decepcionar.

É bom alertar também que não é um programa para se levar crianças. Já os adolescentes vão se identificar com a história e sairão de boca aberta, além de constatarem que seus pais curtiram uma história tão cool, quando eram jovens (como eles).

Entre os personagens principais, os Watchmen do título, os destaques vão para o tenebroso detetive Rorschach, interpretado pelo talentoso Jackie Earle Haley - que concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo pedófilo de Pecados Íntimos (2006) -, e o psicótico Comediante - papel de Jeffrey Dean Morgan, da série de TV Supernatural (Warnel Channel). Os dois trabalham com uma tremenda intensidade e naturalidade, incorporando os personagens perfeitamente.

Billy Crudup - de Quase Famosos (2000) e Peixe Grande(2003 ) - como o radiotivo (pelado) e azulado Dr. Manhattan e Patrick Wilson - também de Pecados Íntimos -, que faz o Coruja II, estão corretos e contidos em suas interpretações, mesmo porque seus papéis pedem isso.

As únicas "escorregadas" de Snyder foram a escolha de Matthew Goode - de Memórias de Brideshead (2008) - para dar corpo e alma ao milionário Adrian Veidt/Ozymandias, blasé e inexpressivo demais, e de Malin Akerman, para fazer Sally Júpiter/Espectra II. Malin, apesar das curvas adequadas à imagem da personagem original, provou ser apenas um rostinho lindo que só não compromete como coadjuvante de comédias românticas como Vestida para Casar (2008) e Antes Só do que Mal Casado (2007).

2 comentários:

Unknown disse...

Bem, já deu pra saber a escolha que vc fez, sobre amá-lo ou deixá-lo... Apesar de sua crítica ao filme ser alta, natural, esperada e compreensivelmente tendenciosa, foi, ao mesmo tempo, suscinta, realista e sóbria. Como já havia dito no outro blog, não conheço a história, os personargens e gadgets (é isso mesmo? - detalhes nerds), mas vindo essa crítica positiva, principalmente mencionando a fidelidade do filme em relação ao HQ, creio que o diretor fez um excelente trabalho. Ei, isso foi um elogio aos dois, ok? (a vc e ao filme)

Marcelo Tadeu disse...

Acredite ou não, meus filhos querem assistir, apesar de nunca terem visto, lido ou escutado sobre os quadrinhos... os caras são bons de divulgação.
Nesse "eu" vou levá-los!!!