sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Um lanterna verde demais

Publicado no site da revista Alfa em agosto de 2011
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Para quem lê HQs, o Lanterna Verde é um personagem bem bacana. Teve duas versões, uma com poderes mágicos criada em 1940 e outra, com poderes cósmicos em 1959. Nesta segunda, o portador do anel verde era um piloto de caças, Hal Jordan, que encontra um alienígena moribundo que faz parte de uma tropa interplanetária, os Lanternas Verdes. Jordan passa a combater o crime com a ajuda do anel energético que cria construtos com a força do pensamento. O personagem passou por inúmeras reformulações com o passar do tempo, indo de herói para vilão, para depois retornar ao seu papel de maior combatente da força esmeralda e um dos grandes best sellers da DC Comics nos últimos cinco anos graças a três sagas interligadas, ‘A Guerra dos Anéis’, ‘A Noite Mais Densa’ e ‘O Dia mais Claro’. Ou seja, o cara sempre foi jovem, intérprido, bom no que fazia e muito cool.


Era óbvio que, com o sucesso dos filmes de super-heróis, o personagem iria parar nas telonas de cinema e conquistar uma nova geração. Ao contrário da Marvel, sua maior concorrente, a DC Comics não tem muita sorte com esse tipo de transposição dos quadrinhos para a sétima arte. Teve Superman e Superman II no começo da década de 1980, que eram fantásticos, e depois a série irregular de Batman nos anos 1990, mas tirando o Homem-Morcego de Chris Nolan no século 21 (quando esse genial diretor resolveu deixar o super-herói mais próximo da realidade), o resto é um fiasco. Vidce a tentativa frustrada de levar a Mulher-Maravilha para uma nova série de TV, já abortada no piloto.
Então para se blindar, nada melhor do que chamar para a direção o homem que ressucitou James Bond duas vezes (com Goldeneye e Cassino Royale), Martin Campbell, investir em efeitos especiais deslumbrantes e ter no elenco um cara que, em poucos minutos, roubou a cena de X-Men Origens: Wolverine, Ryan Reinolds; bons atores como Tim Robbins e Peter Saarsgard (do ótimo Educação); o ‘Jose Lewgoy’ gringo Mark Strong (0 cara só faz papel de vilão como em Sherlock Holmes, Kick-Ass, Rock´n´rolla etc) e ainda a gracinha Blake Lively como mocinha do filme. Com essa fórmula não tem como dar errado, não é?

Deu. Lanterna Verde é chato, primário, irregular, sem ritmo e ótimo somente para aqueles que tem até 12 anos de idade. Para começar, existe uma coisa que todos deveriam ter aprendido com George Lucas e sua série recente de Star Wars: é impossível trabalhar bem na frente da tela verde. Se bons atores e atrizes, como Natalie Portman por exemplo, parecem robôs nessa situação, o que dizer de um cara medíocre como Reynolds? Seu Hal Jordan carece de carisma, é chato e óbvio e sua interpretação resume-se a duas caretas, uma séria e outra rindo.

Além disso, mesmo que o rapaz tivesse a força interpretativa de um Marlon Brando, nenhum filme sobrevive a um roteiro ruim e simplista e olha que o este tem quatro roteiristas. Por duas horas o que vemos é um desfile de clichês, como a cena do ‘treinamento do herói’ (porque todo sargento de treinamento tem que falar as mesmas frases, não importa a época, o filme ou o planeta?), cenas constrangedoras como a exposição das qualidades humanas no Conselho dos Guardiões (que me lembrou o final de outro péssimo filme dos anos 1980, Minha Noiva é un Extraterrestre) e coisas patéticas como os construtos idiotas que o herói usa para salvar pessoas (até mesmo um dos personagens do filme reclama). De resto são piadas sem graça (nem a tentativa de imitar o tom de voz do Batman funciona), não há nenhuma química no casal principal e no final, é uma oportunidade perdida de se fazer um grande filme com um grande personagem.

Uma vez, um editor de quadrinhos de heróis me explicou que um dos motivos do sucesso da Marvel foi ter personagens em que as pessoas pudessem se refletir. A trinca principal da DC era um alienígena, um multibilionário e uma mulher mitológica, enquanto na rival temos num menino nerd com poderes de aranha, um médico deficiente que ao bater sua bengala no chão se transformava em um deus nórdico e um bando de adolescentes que ao invés de espinhas, tinha superpoderes. Nas telonas, a Marvel parece ter um projeto para seus personagens, modernizando-os sem perder a essência e entendendo que o meio cinema é diferente do meio quadrinho. Ela, no geral, respeita sua mitologia e não desrespeita o público, fanático ou não. A DC parece não compreender a importância de suas criações no imaginário pop e os coloca já como perdedores nas telas de cinema (estranhamente nas animações isso não ocorre). Eles ficam sem personalidade e sem a força que tem nos quadrinhos.

Enfim, na sala mais densa, o Lanterna Verde não vai tornar seu dia mais claro, mas seguramente vai ganhar uma sequência (no final dos créditos tem a famosa cena adicional com Sinestro e um anel amarelo). Só nos resta agora aguardar para ver o que a dupla DC/Warner vai fazer com o Homem de Aço dirigido por Zack Snyder, aquele que conseguiu realizar um ótimo trabalho com as HQs 300 e Watchmen, mas patinou feio com Sucker Punch.

E, em tempo, Ryan Reynolds volta às HQs em 2013 como o mercenário falastrão Deadpool. Desta vez da Marvel.

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