terça-feira, 9 de agosto de 2011

Rango, a animação mais adulta do oeste

Publicado no blog da revista Alfa em agosto de 2011
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Em 1989, os desenhos animados do cinema deram uma volta por cima quando a Disney lançou A Pequena Sereia. Era a época que Michael Eisner assumira a direção do estúdio e resolveu chacoalhar as coisas exigindo animações que agradassem tantos adultos como crianças. Para os pais era ótimo, porque você poderia levar seus filhotes e ainda rir com boas piadas ou situações. E assim, anos mais tarde, dá-lhe Robin Williams detonando cultura pop em Alladin, A Bela e a Fera concorrendo ao Oscar de Melhor Filme e todos os desenhos da Pixar serem geniais e abrindo caminho para outros estúdios.

Este ano de 2011 passou totalmente despercebida uma animação que trazia uma característica muito interessante: a maior parte dela era feita para adultos. E a explicação disso é muito simples, por trás está boa parte da equipe de primeira cinessérie de Piratas do Caribe. Estou falando de Rango, primeiro longa animado da Industrial Light & Magic de George Lucas, escrita e dirigida por Gore Verbinski (o diretor dos três primeiros Piratas), com roteiro de John Logan (Gladiador, Um Domingo Qualquer, O Último Samurai) e “estrelado” por Johnny Depp, Isla Fisher (a Becky Bloom), Bill Nighy (o Davy Jones), Harry Dean Stanton (que atravessou o deserto em Paris, Texas), Ned Beatty, Alfred Molina (o Doc Oc de Homem-Aranha 2), entre outros.

Rango é uma tremenda brincadeira em cima de faroestes (a começar pelo nome que emula um grande personagem do gênero, Ringo) e conta a história de um camaleão (Depp) que cai do carro da família que o cria e acaba em uma cidadezinha de animais no deserto de Mojave que sofre com o problema de falta de água. E aí, dá-lhe personagens totalmente surreais como o pássaro com uma flecha atravessada do olho esquerdo até o lado da cabeça, a menininha agressiva, a fazendeira que paralisa quando fica nervosa e, obviamente, o latifundiário cruel e seu bando.

E também há um desfile de citações para aqueles que, como eu, que gostam de buscar detalhes. Logo no começo, por exemplo, o réptil voa pela estrada e bate no pára-brisa do carro de Hunter S. Thompson, que escreveu Medo e Delírio em Las Vegas, cujo filme Depp participou. Depois vem referências a Chinatown (a tartaruga-prefeito é baseada no personagem de John Huston no clássico de Polansky), Apocalypse Now, Guerra nas Estrelas e, obviamente, uma série de westerns clássicos ou não, sem esquecer de um de seus deuses máximos: o velho e bom Clint Eastwood (imitado magistralmente por Timothy Olyphant de Deadwood e Hitman).

Aliado a tudo isso há uma trilha sonora ótima (Hans Zimmer com participação do grupo Los Lobos), com canções de matar de rir (interpretadas pelas corujas mariachi) com uma animação que é de um detalhismo fantástico e de beleza ímpar.  E, há muito humor negro e diálogos absurdos, o que o faz uma ótima pedida para um domingo modorrento, de preferência sem crianças (já estou avisando, elas vão achar um porre).

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