quinta-feira, 16 de abril de 2009

Há 120 anos nascia Chaplin, maior gênio da comédia dramática

Publicado no Terra em abril de 2009
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Falar de Charles Chaplin, nascido em 16 de abril de 1889, não é uma tarefa fácil. O genial diretor, roteirista, produtor, ator e humanista já foi cantado em verso e prosa e não é para menos. Até hoje sua obra é considerada moderna e avançada e seus filmes entraram para o Olimpo do cinema. Além disso, sua vida pessoal foi envolvida por escândalos e polêmicas, mais propriamente devido a dois fatores: suas convicções políticas e sua obsessão por mulheres.

Chaplin nasceu em Londres de uma família disfuncional. Seu pai era alcoólatra e a mãe, uma atriz frustrada e desequilibrada mentalmente. Sua infância paupérrima e cheia de dificuldades acabaram por lhe inspirar em seus filmes, especialmente no famoso vagabundo. Começou sua carreira nos teatros ingleses aos 5 anos de idade, cantando e dançando. Já por volta de 1910, participou da trupe de Fred Karno, onde se tornou amigo pessoal de um rapaz chamado Arthur Stanley Jefferson, que mais tarde conquistaria o mundo com o nome de Stan Laurel, e formaria com Oliver Hardy a dupla O Gordo & O Magro. Foi com Karno que Chaplin visitou os Estados Unidos em várias turnês, estabelecendo-se na América a partir de 1913.

Foi então descoberto pelo grande produtor de filmes mudos, Mack Sennet, que, apesar de não gostar do comediante, o contratou para suas famosas comédias mudas. O problema é que o ritmo frenético dos filmes de Sennet (famoso pelo Keystone Cops) não casava com a pantomima lírica de Chaplin, mas foi nessa companhia que o ator, aos 24 anos, criou seu personagem imortal: o vagabundo. O próprio Chaplin disse em sua autobiografia que o Carlitos (como foi conhecido no Brasil) era todo contraditório com suas calças largas, jaqueta apertada e chapéu coco, além, é óbvio, de ser um verdadeiro cavalheiro em trajes de mendigo.

A partir de 1915, Chaplin assinou contrato com várias produtoras diferentes que lhe davam total liberdade de criação e produção, mesmo porque os filmes dele vendiam muito. Foi aí que ele desenvolveu sua técnica: a total ausência de script (e sim situações previamente combinadas, mas com total improviso de sua companhia) e um rigor técnico que levava os atores à exaustão, dadas as inúmeras vezes que uma cena era refilmada. Foi através de uma dessas produtoras, First National, que o diretor passou a fazer filmes de longa duração, entre eles, o clássico O Garoto. Foi em 1919 que, junto aos super-astros do cinema mudo, Mary Pickford e Douglas Fairbanks e ao diretor de super-produções D.W. Griffith, fundou a United Artists Pictures para fugir do controle das grandes produtoras e dos financiadores inescrupulosos, lançando filmes como Gold Rush e O Circo.

Apesar do surgimento dos filmes falados, Chaplin ficou bastante resistente à nova idéia. Entretanto, conseguiu emplacar dois sucessos inesquecíveis e referências em comédias dramáticas: o tocante Luzes da Cidade e o maravilhoso Tempos Modernos. É interessante notar que, apesar de mudos, os dois filmes continham trilha sonora e efeitos sonoros. Tempos Modernos marca também a primeira vez que a voz de Chaplin é ouvida nas telas.

O primeiro filme falado dirigido, escrito e interpretado por ele foi O Grande Ditador de 1940. A obra era um ato de desafio a Adolph Hitler e Benito Mussolini, com Chaplin fazendo um papel duplo, o do barbeiro judeu e do ditador Adenoyd Hynkel da Tomania. A crítica ao nazismo, a exposição dos planos de Hitler e o retrato dos judeus perseguidos foram tão contundentes que ditadores reais da época (entre eles o espanhol Franco) o baniram dos territórios ocupados.

Seu grande fracasso cinematográfico foi Monsieur Verdoux de 1947, uma comédia de humor negro mostrando um assassino de mulheres ricas e fúteis. O filme foi visto como um libelo contra o capitalismo e Chaplin, que já tinha fama de esquerdista acabou pagando o preço de sua ousadia, sendo expulso dos Estados Unidos em 1952. Na realidade, havia partido em visita à Inglaterra para lançar seu filme Luzes da Ribalta, uma obra quase autobiográfica, e ao voltar seu visto de residência foi negado pelo chefão do FBI, J. Edgar Hoover. Acabou se mudando para Vevey, na Suíça, e só retornou à America em 1972 para receber um Oscar Honorário. Seus últimos filmes foram Um Rei em Nova York, uma sátira ácida ao american way of life, de 1957, e A Condessa de Hong Kong, estrelada por Marlon Brando e Sophia Loren.

Chaplin recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico em 1975, aos 84 anos de idade e faleceu dormindo em 1977. Em 1981, um pequeno planeta foi batizado pela astrônoma russa Lyudmila Georgievna Karachkina de 3623 Chaplin. Na constelação de Hollywood, porém, ele já era um sol.

2 comentários:

Marcelo Tadeu disse...

Parabéns pelos três excelentes textos!!
Assisti há pouco tempo a biografia de Charles Chaplin, vivido por Robert Downey Jr... Aprendi muito mais nestas linhas!!
E você disse que não é uma tarefa fácil escrever sobre Chaplin?!??... Fantástico o seu final ao falar da descoberta o planeta 3623 Chaplin.

Lou disse...

ADOREI! 'To terminando de ler a biografia "do rapaz". Fiquei impressionada quando ele narrou seus encontros com Einstein... beijos