quinta-feira, 23 de abril de 2009

Há 110 anos nascia o homem que chocaria o mundo com um livro

Publicado no Terra em abril de 2009
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Ele escreveu muitas obras literárias entre poemas, críticas, contos e novelas, mas um livro de seus livros conseguiu chocar o mundo, chegando a ser banido em alguns países para só depois ser considerado um dos maiores clássicos da literatura inglesa. Estamos falando de Vladimir Nabokov, que nasceu há 110 anos, em 23 de abril de 1899, e sua obra máxima, Lolita.

Nabokov era filho de um político e jornalista de São Petersburgo, na Rússia, e teve uma infância rica e confortável. Desde pequeno falava três línguas, russo, inglês e francês. Depois da revolução comunista de 1917, a família foi transferida para a Criméia e depois para a Inglaterra, onde Vladimir passou a estudar. Finalmente os Nabokov se estabeleceram em Berlim, onde seu pai foi morto, em 1922, por monarquistas russos. Com a ascensão dos nazistas, Vladimir fugiu para a França e depois, em 1940, aportou em Nova York, onde se tornou professor de literatura em várias universidades, além de trabalhar com entomologia (estudo de insetos).

Lolita foi escrito em 1953 durante as viagens que fazia com sua mulher para pesquisar borboletas, mas o livro correu o risco de nunca ver a luz do dia. Primeiramente Nabokov tentou queimar a obra, mas foi impedido por sua mulher. Depois o problema foi conseguir publicar o livro, nenhum editor queria se responsabilizar por uma história tão bombástica.

O livro conta a história do professor Humbert Humbert que, por ter perdido o amor de Annabel Leigh na pré-adolescência tem uma fixação por meninas novas. Ao alugar um quarto na casa da viúva Charlotte Haze, fica de quatro ao conhecer sua filha de 12 anos, Dolores, também conhecida como Dolly, Lola, Lo, ou Lolita. Para não se afastar de seu objeto de desejo, ele acaba cedendo aos impulsos sexuais de Charlotte e casa-se com ela. Acontece que ele mantinha um diário com seus sentimentos e quando Charlotte descobre a verdade ameaça denunciá-lo, mas ela morre atropelada. É o início de um relacionamento entre padrasto e enteada, onde ele a seduz o tempo todo. Nesse drama ainda aparecem personagens mais pervertidos e sociopatas como o "tio" da menina, Clare Quilty. Com uma linguagem inovadora, muitos jogos de palavra e duplos sentidos, o livro traz uma observação ácida da cultura americana. E introduziu ao mundo duas palavras que passaram a significar sedutoras menores de idade: lolitas e ninfetas (até então, ninfas eram apenas figuras mitológicas).

Por dois anos nenhum editor americano quis se responsabilizar pelo lançamento da obra, foi só em 1955 que Lolita apareceu nas livrarias graças à editora Olympia Press, de Paris. Toda a primeira tiragem de 5.000 exemplares foi vendida rapidamente e dividiu opiniões. O escritor inglês Graham Green o considerou o melhor livro de 1955, enquanto o jornal Sunday Express, de Londres, o chamou de "pura pornografia descontrolada". Funcionários da alfândega americana não permitiam que cópias chegassem aos EUA. A França o baniu por dois anos e o editor da versão inglesa perdeu o emprego por tê-lo publicado nas terras da rainha.

Lolita não é uma propaganda a favor da pedofilia, que sim, é um crime seríssimo (veja os recentes casos de estupros infantis no Brasil). Na realidade, Nabokov coloca seus personagens como degenerados e problemáticos. Narrado em primeira pessoa, somos convidados a todo momento pelo professor Humbert a desculpá-lo por sua "doença". Já Clare Quilty é mostrado como pornógrafo e realmente pedófilo e o final mostra que todos se dão mal. Até mesmo a pequena Lolita.

A obra teve duas adaptações cinematográficas, uma em 1962, dirigida por Stanley "2001" Kubrick, e outra em 1997, por Adrian Lyne, que nos deu também a obra erótica-chique 9 ½ Semanas de Amor, em 1986.

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