sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O futebol americano no cinema

Publicado no site da revista Alfa em setembro de 2011
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Se você for analisar o esporte no cinema hollywoodiano, verá que os filmes sempre caem na mesma história, ou é sobre alguém que se destacou ou será sobre superação individual ou coletiva. E, na maioria dos casos, junta-se as duas coisas e cria-se uma cinebiografia para lá de romanceada e dela tira-se a lição de conquista e glória. Dos esportes coletivos que o americano tanto ama, o futebol se destaca por uma carreira cinematográfica invejável. Como os caras de lá já começam a se pegar na porrada nos campos universitários, o cinema consegue trabalhar o tema desde cedo.


Pegue por exemplo, The Freshmen, comédia de 1925 de um dos reis do cinema mudo, Harold Lloyd. Ele, que tinha um domínio físico incrível, faz um calouro na faculdade, vítima de maus tratos, que tenta ser popular. Sua saída? Entrar para o time de futebol americano da escola (e o cara filmou mesmo com o time da USC, durante o intervalo de uma partida real em Berkeley).

Em 1932, os indefectíveis Irmãos Marx dão um jeito de avacalhar com o esporte universitário em Os Gênios da Pelota onde Groucho é Quincy Adams Wagstaff, presidente da Huxley University que contrata Harpo e Chico para tentar transformar o time no vencedor do campeonato, com resultados hilários.

Já em 1940, uma cinebiografia iria ajudar um ator a ter sua imagem eternamente atrelada a heroísmo e fazer dele um dos políticos mais bem sucedidos do século XX. Era Knute Rockne All American, que contava a história do lendário professor e treinador da Notre Dame University, Knute Rockne, desenvolvedor de passes e estratégias imitadas até hoje pelos amantes do esporte. O lance é que lá pelas tantas surge um jogador incrível e extremamente talentoso, que se dedica arduamente ao sucesso do time e o cara contrai uma doença fatal e morre como herói no hospital. O personagem, George Gipp, foi interpretado por nada mais, nada menos que Ronald Reagan e sim, o ajudou muito nas campanhas futuras para governador e presidente dos EUA. Nada como um bom futebol, não é?

Outro retratado nos anos de ouro de Hollywood foi Jim Thorpe, um mestiço de índio e irlandês que venceu as provas de decathlon e pentathlon nas Olimpíadas em 1912, mas viu tudo ir por água abaixo quando suas medalhas lhe foram tiradas por algumas tecnicalidades. Na decadência, acabou se tornando técnico de futebol americano. O filme de 1951 tinha Burt Lancaster como Thorpe e continha filmagens reais dos feitos do esportista.

Esquecido por um tempo e vendo uma série de filmes feitos para a TV, o futebol americano voltou às telonas em 1974 com o divertidíssimo Golpe Baixo com Burt Reynolds. No filme, ele é um antigo quaterback cumprindo pena que é convencido pelo sádico diretor da prisão a formar um time para jogar contra os guardas. E aí o que se vê na tela é quase uma rebelião, numa disputa muitoi interessante de poder e corrução. Em 2005 tivemos uma refilmagem com Adam Sandler que até que é boazinha, mas não chega aos pés do original.

Dos anos 1990 temos três destaques: um é Rudy de 1993 com o “hobbit” Sean Astin fazendo um rapaz (o Rudy, óbvio) fraco no físico e nas notas que almeja chegar a jogador do Notre Dame (escolhido pelo site Sports in Movies, como o segundo melhor filme sobre futebol americano. O primeiro lugar foi feito para a TV). Jerry Maguire de 1996, tinha Tom Cruise como um empresário com crise de consciência que decide se tornar independente e representar apenas um atleta, o jogador de futebol amicano Rod Tidwell, interpretado por Cuba Gooding Jr. Este levou o Oscar de Ator Coadjuvante e nunca mais fez nada e o filme eternizou a frase “Show me the money!”. Já Um Domingo Qualquer de 1999, dirigido por Oliver Stone, mostrava os bastidores de um time, com uma presidente pressionando bravamente o técnico veterano que tem como problema um jovem talentoso e problemático como estrela do elenco. É mais ou menos uma junção da história recente do Flamengo com os técnicos que tiveram que enfrentar o Neymar, entende?

Nos anos 2000 tivemos uma avalanche de filmes sobre o esporte, praticamente com a mesma premissa. Em 2000 veio Duelo de Titãs (baseado em fatos reais, técnico negro treina time integrado numa época onde negros e brancos não se misturavam, dando um exemplo para a comunidade), Meu nome é Radio de 2003 (baseado em fatos reais, técnico treina rapaz com problemas mentais e o torna um exemplo para a comunidade), Tudo pela Vitória de 2004 (baseado em fatos reais, treinador em time pequeno de Odessa no Texas, dá o exemplo para a comunidade falida e racista), Somos Marshall de 2006 (baseado em fatos reais, depois que um acidente de avião dizima o time da universidade de Marshall em 1970, estudantes tentam conseguir que jogar no campeonato de 1971, dando uma lição para a comunidade), Um Sonho Possível de 2009, deu o Oscar a Sandra Bullock e adivinhe?  É baseado em fatos reais. E quer mais? Mulher rica ajuda rapaz pobre a se tornar estrela do futebol americano. E, por incrível que pareça, se torna um exemplo para a comunidade.

No fim das quantas, é um tema que não acabará tão cedo. Mas na minha opinião, o melhor filme sobre futebol americano ainda é Goofy Sports -- How to Play Football, o curta metragem da série de esportes do Pateta, onde a Faculdade de Taxidermia enfrenta o time da turma de Antropologia e o resultado final acaba sendo meio ponto a mais para o vencedor. Pelo menos aí você se diverte e a lição que fica é que a vida é surreal mesmo!

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