sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Darín, o ‘artilheiro’ da Argentina

Publicado no site da revista Alfa em setembro de 2011
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Não adianta negar, a Argentina bate um bolão! Não estou falando aqui de futebol, mas sim do cinema dos amigos hermanos que, já faz um tempo, está dando um show de competência e técnica e, por mais que o cinema brazuca esteja tambem evoluindo, ainda está há anos-luz atrás de nossos vizinhos.

Um os grandes motivos para isso é um portenho de 54 anos de idade, filho de atores, que começou a trabalhar na TV aos 10 anos, foi ator de telenovelas e seriados cômicos, nunca abandonou o teatro e está nas produções argentinas de maior sucesso das telonas: Ricardo Darín. É ele que brilha em Um Conto Chinês, uma comédia fantástica que estreou na última sexta-feira. No filme, ele é Roberto, um homem amargo, metódico, solitário e mau humorado que, de repente, se vê cuidando de um chinês perdido em Buenos Aires e que não fala nenhuma palavra de espanhol. E é justamente a força de Darín e seu talento incrível de tornar palavrões como algo extremamente engraçado que fazem com que o filme se destaque entre as novas produções. Darín fala com os olhos, demonstra impaciência e desconforto, mas nunca descuida da nobreza de caráter de seu personagem. Por mais que ele seja muito desagradável, você se compadece de Roberto (e obviamente do chinês vivido por Ignacio Huang) e entende o que ele está passando eos sacrifícios internos que está enfrentando. Ao mesmo tempo, o filme nunca cai na comédia escrachada ou baixa. Na verdade, trata de vida e de destino e como lidamos com ela.

Um Conto Chinês também marcou a volta de Darín às comédias mesmo porque ele fez uma sólida carreira em dramas, como o excelente Nove Rainhas (2000), um dos melhores filmes sobre trapaceiros de todos os tempos. Mais uma vez o carisma do ator faz com que você não tenha total ojeriza de seu personagem, Marcos, um golpista que não hesita em tentar enganar nem mesmo aos irmãos. Nove Rainhas ganhou uma refilmagem americana, Criminal, que aqui ganhou o incrível título idiota de 171, mas não perca seu tempo e assista o original.

Em O Filho da Noiva de 2001, ele é Rafael, um cara estressado e workaholic que se vê num momento de revisão de vida, quando seu pai o ajuda a fazer uma cerimônia de casamento. O detalhe é que a noiva é sua mãe, acometida por Alzheimer. Você pode ter coração de pedra, mas tenho certeza que vai se emocionar com esse filme (apesar de nunca cair no piegas).

Em 2002, Darín apareceu em dois ótimos filmes. Em Kamtachtka, um garoto relembra de sua infância quando os pais estão em fuga, perseguidos pelo governo militar devido às suas convicções políticas e o pai (Darín) é um exemplo de resistência ao menino graças à maneira como joga “War”. Já em O Clube da Lua, o ator faz Ramón, que tenta a todo custo salvar um clube esportivo e social num bairro de Buenos Aires.

O grande trabalho de Darín é, sem dúvida, O Segredo dos seus Olhos. Terceira parceria com o diretor Juan Jose Campanella (que faz carreira nos EUA como diretor de seriados de TV como House e Law& Order), a obra ganhou, merecidamente, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e é, de longe, uma das melhores produções feitas para as telonas. Incrivelmente bem escrito e interpretado, O Segredo dos seus Olhos consegue unir comédia com drama, suspense com policial, romance com política sem nunca perder o ritmo e tem ainda um dos travellings mais impressionantes já feitos no cinema na cena do estádio de futebol. E tem Darín.

Finalmente vale destacar Abutres (2010), drama pesado e impressionante sobre advogados ligados a uma “máfia” que defende vítimas de acidentes de trânsito junto a seguradoras, mas embolsam a maior parte da grana. É Darín que vai servir como divisor de águas na história, ao lado da bela atriz Martina Gusman. E, tem uma cena final de deixar qualquer um de queixo caído.
Para terminar, vale uma nota crítica sobre a tradução ruim na legenda de Um Conto Chinês. Não dá para entender porque algumas coisas foram “cortadas” pelo tradutor, como por exemplo, nas explosões de raiva de Roberto se perde o fato que o personagem adora xingar as pessoas de ‘pedazo de boludo’ ou ‘pedazo de pelotudo’ , traduzido simplesmente por ‘babaca’. Nem há explicação para toda a vez que ele solta um PQP, a legenda traz “bosta”. De qualquer maneira, vale prestar atenção às frases de Darín e rir se deu mau humor.

Quanto a saber se a Argentina é melhor que o Brasil no futebol, na quarta-feira que vem, a gente conversa.

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