quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O triste fim de Monicelli

Publicado no site da revista Alfa em novembro de 2010
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Não é de se estranhar que Mario Monicelli, um dos maiores cineastas da Itália, tenha escolhido morrer se atirando da janela do hospital onde estava internado graças a um câncer de próstata, aos 95 anos. O homem que nos fez chorar de rir em 68 filmes, sempre dava um jeito de colocar alguma amargura ou tristeza em suas obras. Foi assim com o final trágico de Parente é Serpente, umas de suas obras mais populares no Brasil, focando no natal de uma típica família italiana, que se choca e desestabiliza quando os pais dizem que querem morar com um dos filhos. Brancaleone, um de seus personagens mais famosos, interpretado pelo sempre excelente Vittorio Gassman, que apareceu O Incrível Exército de Brancaleone e Brancaleone nas Cruzadas era pobre e louco de dar dó. E mesmo suas duas obras que mais gosto, os sarcásticos Meus Caros Amigos e Quinteto Irreverente tem conclusões tristes.

Monicelli trabalhou com os grandes nomes do cinema da terra da bota. Fez vários filmes com Totó, o chamado príncipe do riso das comédias dos anos de 1950 na Europa, trabalhou com Marcello Mastroianni em obras como Casanova 70 (a história de um sedutor que gosta de viver perigosamente) e As Duas Vidas de Mattia Pascal, com Renato Salvatori em Os Eternos Desconhecidos, Alberto Sordi em A Grande Guerra, e ainda com Monica Vitti, Anna Magnani, Giancarlo Giannini, Stefania Sandrelli, Vittorio De Sica, Sophia Loren, Gian Maria Volonté e Nino Manfredi, mas o creme de la creme é mesmo o grupo formado para os filmes do quinteto de amigos cinquentões cujo objetivo de vida é perturbar os outros e a si mesmo: Ugo Tognazzi, Adolfo Celi, Phillippe Noiret, Duilio Del Prete e Gastone Moschin (este fez o Don Fanucchi, de O Poderoso Chefão II).

Meus Caros Amigos de 1975 e Quinteto Irreverente de 1982 são talvez os dois filmes mais sacanas e de maior humor negro que alguém poderia produzir e são irresistíveis para homens que já aprontaram em turma. As coisas que esse bando de irresponsáveis aprontam, como ficar nas plataformas da estação de trem apenas para dar tapas na cara de quem pusesse a cabeça para fora do vagão ou fingir que são engenheiros para assustar turistas na Torre de Pisa, afirmando que ela vai cair são impagáveis.

Seu último filme foi Le Rose del Deserto de 2006, que dirigiu aos 91 anos de idade. Em 2003 gfez uma aparição simpática no filme Sob o Sol de Toscana, interpretando um velhinho que todos os dias colocava flores em uma imagem de Nossa Senhora. Injustamente foi nomeado duas vezes ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e cinco à Palma de Ouro do Festival de Cannes e e não ganhou nenhum desses prêmios, mas foi um vencedor recorrente nos Festivais de Veneza e de Berlim.

Ao mestre Mario Monicelli deixo minha homenagem através de uma frase de um de seus filmes: La supercazzula brematurata con scappellamento a destra come fosse antani. E grazie tanti!

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