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Segundo o IMDB, maior site de cinema do mundo, Pelé trabalhou em nove longas como ator. Eu só vi um e ainda por cima no cinema: Fuga para a Vitória de 1981. É um típico “sessão da tarde”, um John Huston infinitamente menor (pô, o cara nos deu O Falcão Maltês, Uma Aventura na Africa, O Tesouro de Sierra Madre e O Homem Que Queria Ser Rei), mas não deixa de ser um filme simpático, especialmente se você curte futebol.
A grande decepção que tive como um moleque de 14 anos é que nosso maior jogador não faz papel de brasileiro. Pelé era o Cabo Luis Fernandez, natural de Trinidad. Sei lá o que deu na cabeça de Huston para pensar em algo assim, mesmo porque, por incrível que pareça aos gringos, o Brasil também participou da II Guerra. Ou seja, nem nossa estrela podia ser nossa estrela.
Reza a lenda que o filme foi baseado em um fato real, mas se pesquisar na internet verá duas versões, uma que envolve prisioneiros de guerra em um jogo contra os nazistas e outra que diz que jogadores do Dynamo Kiev jogaram contra os “boches”. Em ambas as falácias, os germânicos perderam e os ganhadores foram fuzilados. De qualquer maneira, nas telonas a história era basicamente essa: oficial nazista (Max Von Sydow), entusiasta do esporte bretão, descobre vários grandes jogadores de futebol em um campo de prosioneiros e resolve fazer uma partida contra um time alemão. O que era para ser uma pelada entre inimigos em um campinho de várzea, vira uma arma de propaganda com direito a estádio em Paris e tudo mais e, ainda por cima, o time aliado tinha que perder ou virava chucrute.
Huston teve grandes sacadas ao fazer o filme. A primeira foi chamar 18 jogadores famosos nas décadas de 1970 e 1980 para figurar entre bons atores como Michael Caine. Havia, por exemplo o zagueiro inglês Bobby Moore, eleito o melhor jogador da Inglaterra nos 50 anos da UEFA. Já o argentino Osvaldo Ardiles, pasmem, fazia papel de argentino e não de alguém natural das Ilhas Pago Pago (a Argentina de Perón participou da Guerra?). Como aparentemente nenhum alemão queria vestir o uniforme com a suástica, o americano Werner Roth e o inglês Laurie Sivell atuaram no time nazista. Cada jogador imprimiu nas telonas algumas de suas marcas, como Pelé marcando um gol de bicicleta. Foi, aliás, o “Rei” que ajudou a coreografar todas as jogadas mostradas.
Um dos destaque do filme é Sylvester Stallone. O homem estava no auge naquela época e era um grande chamariz para fazer com que o pessoal da terra do Tio Sam assistisse um filme sobre “soccer”. Ele interpreta (na falta de palavra melhor) um militar que jogava futebol americano e quer porque quer participar do time para poder fugir durante o jogo. Acaba pegando o lugar de goleiro e obviamente faz o papel de herói. Só que o velho Sly acabou ficando com as grandes histórias por trás das telas. De início, ele se recusou a ter um dublê para as cenas de jogo. Como queria ele mesmo jogar e se recusava a ser treinado, conseguiu deslocar o ombro e quebrar uma costela na primeira cena que fez. Depois, ainda se achando um bom jogador, teve uma dividida com Pelé e ganhou um dedo quebrado. E mais, o cara exigia que fosse ele, o goleiro, que fizesse o gol da vitória (honra que ficou com Pelé, aliás). No final, Stallone afirmou que foi mais doloroso fazer esse filme do que a série Rocky.
Também vale lembrar outra grande ideia da obra: transformar a partida entre aliados e nazistas em uma batalha em campo, com direito a torcida e até mesmo resistência francesa na jogada. Se em Casablanca a guerra acontecia dentro do bar de Bogart com alemães cantando sendo sobrepujados por franceses gritando a Marselhesa, em Fuga para a Vitória, a arma era a bola, tão poderosa que vence até mesmo um juiz ladrão.
Pelé tentou continuar com sua carreira de ator, sempre sendo ligado ao futebol. Fez com Huston A Vitória do Mais Fraco, depois se aliou aos humoristas brasileiros em Os Trapalhões e o Rei do Futebol, fez o desconhecido Hotshots, onde treinava um americano no esporte e desde 1989, com uma participação em Solidão, Uma Linda História de Amor, não tenta atuar. Ainda bem. Porque é preferível que ele seja lembrado eternamente como o mestre dos campos de futebol, do que como um ator do nível de um Stallone.
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