sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Bond que tinha medo de armas

Publicado no site da revista Alfa em outubro de 2010
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Ele era velho demais para o papel, não fez nenhuma cena de ação, nunca pediu um Vodca Martini e muita gente acha que fez do agente secreto uma piada, mas Sir Roger Moore, que completou 83 anos ontem, foi o ator que mais viveu James Bond, dentro e fora da série original.

Filho de um policial, Moore sempre quis ser um ator, mas a II Guerra atrapalhou seus sonhos. Nos anos 50, assinou um contrato com a MGM. Apesar de bonito, elegante, gentil e bom ator, não conseguiu emplacar nenhum sucesso no cinema e partiu para a TV em séries como Ivanhoé, The Alaskans e como o primo inglês de James Garner em Maverick. Em 1962, ganhou a fama como Simon Templar, na série O Santo, um ladrão que só rouba de criminosos ricos (e fica com o dinheiro) e acaba ajudando a polícia a prendê-los. O seriado durou sete anos e nesse meio tempo teve a chance de viver James Bond pela primeira vez na programa cômico inglês Mainly Millicent de 1964. Num sketch ele interpreta o famoso espião, que encontra a agente russa Sonia Sekova em resort e os dois ficam a todo momento achando que um quer matar o outro, quando na verdade estão ali em férias.

Depois que O Santo foi cancelado em 1969, Moore fez alguns filmes sem sucesso e logo emplacou mais um seriado na TV, The Persuaders, ao lado de Tony Curtis, mas o vício em drogas deste último acabou sendo fatal para o trabalho da dupla e finalmente veio o convite para ser James Bond.

Moore estava já com 45 anos quando apareceu na pele do agente de sua majestade em Viva e Deixe Morrer. E mais, sofria de hoplofobia ou medo incontrolável de armas. Mesmo assim, seu Bond era leve, sarcástico, elegante e sedutor, mais próximo do que o autor, Ian Flemming, imaginava. O próprio ator chegou a afirmar em uma entrevista que nunca conseguiria interpretar o assassino frio e cruel como Sean Connery fez e que trabalhava mesmo pelas risadas. Foram sete filmes como Bond, apesar de ter querido parar em 1981 com Somente para seus Olhos. Quando finalmente foi substituído pelo péssimo Timothy Dalton, Moore já estava com 58 anos de idade, ou seja, velho demais para o papel.

Roger voltaria várias vezes a emular James Bond, seja em paródias como em Quem Não Corre, Voa ou Cruzeiro das Loucas, seja em comerciais de TV ou programas humorísticos, mas nunca mais conseguiria um papel cinematográfico de sucesso. Em 1999, aliás, concorreu ao prêmio Framboesa de Ouro como pior ator coadjuvante em O Mundo das Spice Girls tendo Sean Connery como competidor (este pelo terrivelmente péssimo Os Vingadores). Nenhum dos dois ganhou.

Apesar do fracasso nas telonas, Roger Moore se tornou um bem-sucedido embaixador na Unicef, substituindo a atriz Audrey Hepburn. Seu interesse humanitário despertou ao filmar 007 contra Octopussy na India, onde teve contato com a miséria e as condições degradantes da população. Além disso, foi porta-voz do PETA na campanha contra a fabricação do foie-gras.

Aos 83 anos, está casado pela quinta vez (sua esposa é a multimilionária Kristina ‘Kiki’ Tholstrup) e mora em Valais na Suiça, e assim como seu personagem mais famoso, não perde a chance de se misturar aos amigos poderosos como os reis da Suécia e da Dinamarca. Ao grande Roger Moore, nós erguemos um brinde. Com Vodca Martini batida, não misturada.

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