quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Os Coen e o perigo da refilmagem

Publicado no site da revista Alfa em outubro de 2010
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Neste último fim-de-semana tive a chance de rever uma das melhores comédias inglesas de humor negro, Quinteto da Morte de 1955 com Sir Alec Guinness (ou o velho Obi-Wan da saga Star Wars) e um Peter Sellers em início de carreira, muito antes da série A Pantera Cor-de-Rosa.

A típica comédia inglesa vem tradicionalmente do teatro e assim a situação geral e o diálogo é que vão dar o tom do humor e não caretas ou piadas físicas. E Quinteto da Morte é um grande representante desse gênero justamente por reunir atuações soberbas com personagens e diálogos surreais. No roteiro de William Rose, que mais tarde escreveria o libelo anti-racismo Adivinhe Quem Vem para Jantar, cinco criminosos fingem ensaiar um quinteto de cordas na casa de uma doce viúva octagenária, enquanto planejam roubar o carro-forte de uma empresa. E para conseguir realizar o feito, tem de envolver a decana senhorinha no assalto. Depois, começam a se apavorar com a idéia de que devem eliminar a velhinha para não haver testemunhas e um a um dos bandidos passam a sofrer “acidentes”.

Reconheceu a história? É Matadores de Velhinha que os irmãos Coen realizaram em 2004. Ethan e Joel Coen são geniais. Conseguiram fazer coisas extremamente originais (em um mundo onde o novo no cinema americano significa efeitos especiais de vanguarda) com obras como Arizona Nunca Mais, Fargo, O Grande Lebowski, Onde os Fracos Não Tem Vez e recentemente em Um Homem Sério, mas erraram a mão ao refilmar essa história.

Tom Hanks está caricato, enquanto Alec Guinnes está tenebroso. O bando do professor G.H Door da nova versão não chega nem aos pés em carisma quando colocados ao lado da quadrilha de Professor Marcus do original. E não dá para nem se comparar as duas velhinhas. A inglesa é doce, gentil, íntegra e simpática, enquanto a americana é uma caricatura da mãe negra sulista. Mesmo a obra inglesa consegue fazer comédia até na trilha sonora, já que o bando “ensaiava” um minueto para cinco cordas de Luigi Boccherini e à medida que cada personagem vai “desaparecendo”, a música de fundo vai sendo tocada com um instrumento a menos.

A razão de minha preocupação em relação aos Coen refilmarem algo é que acabou de sair o segundo trailer de seu Bravura Indômita, nova versão de um dos mais consagrados filmes de John Wayne e o único que lhe deu um Oscar. O “Duke” fazia o delegado Reuben J. ‘Rooster’ Cogburn, durão, machão, bêbado e incansável perseguidor de criminosos, que é contratado por uma menina para encontrar o assassino de seu pai. A versão original tinha ainda Robert Duvall como o desafeto do homem da lei e Dennis Hopper em papel menor. Wayne, aliás, odiava Hopper por considerá-lo um comunistazinho barato e depois das filmagens chegou a persegui-lo com um revólver em punho pelo estúdio. Dennis, que também andava armado e adorava ameaçar quem passasse na sua frente, resolveu ficar escondido em um armário até o fúria do outro passar. Ele podia ser o cara mais agressivo do universo (e era), mas não dava para peitar John Wayne.

Na refilmagem, Cogburn é interpretado pelo sempre genial Jeff Bridges e Matt Damon, Barry Pepper e Josh Brolin também estão lá. Os Coen haviam dito que seu filme seria muito mais fiel ao livro de Charles Portis que o outro, mas pelo que vi no trailer, dá sensação de que nada mais fizeram do que copiar cenas de um clássico. Até mesmo a famosa sequencia da cavalgada do delegado em direção aos quatro bandidos, atirando como um louco, foi reproduzida fielmente. Enfim, é esperar o Natal chegar para ver. Até lá, sia meu conselho e assista o original. Com certeza você vai se divertir com John Wayne.

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