domingo, 3 de outubro de 2010

Adeus, Tony Curtis, e obrigado!

Publicado no blog da revista Alfa em setembro de 2010
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Se você não sabe quem é Tony Curtis, morto ontem aos 85 anos de idade, então nunca assistiu à melhor comédia já feita segundo o American Film Institute, um dos melhores dramas sobre jornalismo sensacionalista e a uma das séries de TV mais charmosas e divertidas de todos os tempos. Mais do que isso, perdeu a chance de ver um dos homens mais simpáticos que surgiu nas telas.

Tony Curtis transformou a desgraça de sua vida pessoal em sucesso. Nascido Bernard Schwartz no Bronx, em Nova York, teve uma infância paupérrima e pautada por revéses como ter que passar semanas em um orfanato, pois seus pais não tinham condição financeira de sustentá-lo e mais tarde enfrentar a morte do irmão em um acidente de carro. Depois de três anos como fuzileiro naval, Bernard mudou seu nome para Tony Curtis e foi para Holywood em 1938. Bonito, charmoso e com uma forte e marcante voz, apareceu por dois minutos apenas no filme Baixeza de 1939 e causou tão boa impressão que foi convidado para um papel menor, mas importante, em Serras Sangrentas. A partir daí sua carreira deslanchou.

Estrelou, ao lado de Jack Lemmon e Marilyn Monroe,o hilariante Quanto Mais Quente Melhor (1959) de Billy Wilder, onde aparece vestido de mulher. Já com Burt Lancaster fez A Embriaguez do Sucesso (1957), um drama carregado onde interpreta um ambicioso e inescrupuloso assessor de imprensa. A nomeação para o Oscar veio com Acorrentados de 1958, onde ele e Sidney Poitier são dois prisioneiros, um negro e um branco, que, atados um ao outro, escapam de uma penitenciária e tem que lidar com o racismo que sentem para manterem-se vivos.

Depois de participações elogiadas em Spartacus (1960) de Stanley Kubrick, onde participa de uma cena – cortada na época de seu lançamento – com forte teor homossexual; e de O Homem que Odiava Mulheres (1968), a controversa cinebiografia de Alberto DeSalvo, um serial killer real que assombrou Boston, Curtis foi para a TV na deliciosa série The Persuaders (1971). Nela, viveu Danny Wilde um bon vivant americano que é arregimentado por um juiz aposentado para, ao lado do lorde inglês Brett Sinclair (ou Roger Moore antes da fase James Bond) prender criminosos ricos. Com diálogos deliciosos, sempre repleto de mulheres e belas paisagens e com uma das melhores aberturas e temas já feitos, o seriado só teve duas temporadas e acabou cancelado graças ao vício de Tony em álcool e drogas que o faziam atrasar a produção. O ator iria lutar para se desvencilhar desses vícios anos mais tarde e ainda veria um de seus filhos morrer de overdose em 1994.

Curtis fazia sucesso com as mulheres. Teve tórridos e divulgados affaires com Marilyn Monroe e Natalie Wood, casou-se seis vezes (uma delas com Janet Leigh de Psicose) e teve seis filhos, sendo a mais famosa Jamie Leigh Curtis, que estreou Um Peixe Chamado Wanda e True Lies.

Até sua morte ontem, ele se dedicava à pintura, seu maior hobby e a escrever. E até nisso teve sucesso. Alguns de seus quadros foram vendidos por US$ 50.000 e um deles está exposto no Metropolitan Museum of Art de Nova York. Apesar de todos os percalços pessoais, financeiros e profissionais que passou durante sua vida, ele amava viver. Quando completou 60 anos de idade disse “eu não estou pronto para descansar como um velho senhor judeu e ficar sentado na varanda ou andando de bengala. Eu ainda tenho uma porrada de coisas para viver”. E pode ter certeza que ele viveu.

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