Filmes de guerra se dividem geralmente em três categorias: aqueles que querem fazer propaganda velada (ou não) de alguma ideologia, cheio de heróis e vilões; os que querem denunciar o horror da guerra e o absurdo da matança e finalmente os filmes com revisão histórica, tentando bravamente contar o que realmente aconteceu.

Inspiradas pela Guerra do Vietnã, que já ia de mal a pior, quatro produções de 1970 resolveram revisitar conflitos antigos como forma de crítica e alerta e acabaram se tornando obrigatórios para qualquer homem de respeito assistir, pois envolvem ao mesmo tempo, coragem e loucura, exemplos de boas e más lideranças e tipos masculinos inesquecíveis.

Patton: a cinebiografia do mais controverso general americano deu a George C. Scott o Oscar de melhor ator (que ele não aceitou, nem foi receber) depois que Rod Steiger, Lee Marvin, Robert Mitchum e Burt Lancaster recusaram o papel e John Wayne foi “gongado” pelos produtores. Já na primeira cena, com o famoso discurso à frente da bandeira americana, somos apresentados à filosofia rígida do militar em relação aos soldados e aos inimigos (“nenhum bastardo ganhou a guerra morrendo pelo seu país. Ele ganhou fazendo com que o outro pobre e estúpido bastardo morresse pelo país dele”). É um grande exemplo do líder que podia até inspirar seus subordinados, mas não tinha limites em conseguir o que queria, fato que causava horror no alto comando. Em resumo, seu brilhantismo em estratégia foi totalmente ofuscado pela insanidade de suas atitudes. Um filme ideal para aqueles que querem conhecer o que um gerenciamento obcecado pode fazer com uma carreira de sucesso.

Mash: obra-prima de Robert Altman mostrando um hospital de campo na Coréia (mas obviamente remetendo ao Vietnã) e que consegue rivalizar com Dr. Fantástico de Kubrick como comédia de humor negro sobre uma guerra. Cínico, a começar pela música-tema, “Suicide is Painless” (suicídio é indolor, composta pelo filho de Altman, então com 14 anos de idade), o filme tem um desfile de tipos estranhos que tentam passar ao largo do conflito e fugir da insanidade que os cercam, como o certinho e radical major de Robert Duvall, a enfermeira “Lábios Ardentes” e os médicos vividos por Elliot Gould (o pai de Rachel em Friends), Donald Sutherland e Tom Skerrit, que no meio de mortos e feridos, arrumam tempo para se embebedar e jogar golfe. Fez tanto sucesso que acabou virando uma série de TV. Se você quer aprender como trabalhar bem, sem stress, esse é seu filme.

Ardil-22: outro grande exemplo de crítica aos horrores da guerra mostrando um aviador que tenta desesperadamente ser dispensado de seu batalhão alegando insanidade, enquanto vê seus colegas serem mortos. Com uma narrativa não-linear (mesmo porque dizem que o livro em que se baseou, o best-seller de Joseph Heller, foi escrito do final para o começo), o filme mostra a terrível burocracia do exército, as ordens superiores sem lógica e como algumas pessoas lucram no meio de um conflito sangrento. Com um elenco estelar (Alan Arkin, Orson Welles, Anthony Perkins, Martin Sheen e John Voigt) é ótimo para o homem que acha que tem alguma coisa errada com a direção da empresa em que trabalha.

Tora Tora Tora: apesar de alguns críticos o considerarem mais chato que campeonato de bingo, graças ao seu tom quase documental, o filme que aborda o ataque à Peal Harbor dá de 10 a zero na produção de 2001 com o nauseabundo Ben Affleck, especialmente na recriação das cenas da batalha (que lhe valeu o Oscar de efeitos especiais). Pela primeira vez, Hollywood resolveu mostrar as duas visões do conflito, já que a porção americana foi dirigida por Richard Fleischer e a parte japonesa por Kinji Fukasaku (depois que Kurosawa caiu fora). Até mesmo o roteiro foi escrito por um representante de cada país. Obviamente que muita gente na America torceu o nariz para a produção, um fracasso de bilheteria, considerando-a ofensiva por mostrar o despreparo militar e estratégico do país frente ao ataque, mas o filme foi um tremendo sucesso no Japão e serve de lição para mostrar que tudo na vida tem dois lados. Não só o do vencedor.