segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Afinal, quem tem a ‘Bravura Indômita’?

Publicado no site da revista Alfa em fevereiro de 2011
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Bravura Indômita é um grande filme. Já tinha sido em 1969 e agora volta com a mesma força. Não vou nem tentar comparar as duas versões para ver se esta ou aquela é que ganha como melhor. As duas tem suas qualidades como faroeste, como obra cinematográfica e, principalmente, como filme legitimamente masculino (aliás, como a maioria dos faroestes). Os Coen tiveram um cuidado tremendo para trabalhar o conceito da ‘coragem/resolução verdadeira’ (o “true grit” do título original) e questões como honra, ética, profissionalismo e, principalmente, força interior permeiam toda a história.

Na história, no final do século 19, no estado do Arkansas, uma menina de 14 anos (a excelente  novata Hailee Steinfeld) contrata um delegado federal durão, Rooster Cogburn (Jeff Bridges), para capturar o homem, Tom Chaney, (Josh Brolin) que matou seu pai e que estaria refugiado no bando de Lucky Ned Pepper. Na busca, acabam encontrando o policial texano LaBeouf  (Matt Damon) também atrás do fascínora.

A grande qualidade do filme é que, mais do que simplesmente mostrar pessoas com uma coragem sobrehumana e moral exacerbada, ele apresenta homens resolutos dentro de suas condições.  Se por um lado temos um homem da lei impiedoso, acompanhado de um texano metido, por outro vemos bandidos educados, tranquilos ou até mesmo pessoas que, na hora da morte, demonstram uma aceitação incrível de sua situação como, por exemplo, os condenados à forca. O bem e o mal parece ser definido apenas pelo lado da lei em que você faz parte. E todos parecem fazer o que tem que fazer, porque assim está escrito em suas descrições de cargo.

A única pessoa que foge à regra é a menina Mattie Ross. Ela é que, verdadeiramente, tem a ‘bravura indômita’ do título e exerce sua força interior de uma maneira invejável. Ela fixa seus objetivos, negocia dentro de padrões justos, julga os outros com maturidade e nunca se acovarda, nem mesmo nos momentos mais difíceis. Ela é mais dona da situação que os dois “heróis” da trama, o bêbado Cogburn (que posa mais de figura paterna) ou o soberbo LaBeouf (um possível interesse romântico, se ela tivesse mais idade). Os dois, aliás, são típicos “machos”. Acham que estão certos sempre, discutem sobre seus batalhões na guerra da secessão como torcedores fanáticos fazem hoje com o futebol, se envolvem em estúpidas provas de quem atira melhor e são extremamente manhosos. No final das contas, uma mulher acaba sendo “o homem da relação”.

Bravura Indômita não é um típico filme dos Coen, mas mostra algumas de suas melhores qualidades: fotografia impecável, artistas em interpretações incríveis (em especial Barry Pepper, numa ‘imitação’ incrível do jeito de falar de Robert Duvall, o Lucky Ned original) e uma história envolvente. Só que, com todo o respeito, eu nunca vou acreditar que eles só tenham visto o original de 1969 quando eram criança. Assista os dois e veja porquê.


O faroeste no Oscar

1930- Cimarron: baseado na obra de Edna Ferber (que também escreveu Assim Caminha a Humanidade) mostrando um jornalista no Oklahoma levou o Oscar de melhor roteiro, filme e direção de arte.

1940 – E o Vento Levou: um dos maiores épicos do cinema, focando no sul dos EUA desde pouco antes da Guerra da Secessão até o período de reconstrução, levou oito Oscars (filme, atriz, atriz coadjuvante, fotografia, direção de arte, diretor, roteiro e edição)

1990 – Dançando com Lobos: a ascensão e queda de Kevin Costner começou aí com esse épico sobre um soldado da cavalaria que, numa região inóspita, passa a conviver com índios e lobos. Levou as estatuetas de melhor fotografia, direção, edição, música, filme, roteiro e som).

1992 – Os Imperdoáveis: o canto do cisne de Clint Eastwood no western acompanha um pistoleiro aposentado tendo que realizar um último trabalho e deu um Oscar a Gene Hackman como ator coadjuvante e ainda ganhou Melhor filme, diretor e edição.

2007 – Onde os Fracos Não Tem Vez: verdadeiro faroeste nos tempos de hoje, o filme dos Coen mostrou o bandido de pior penteado na história do cinema e ganhou os prêmios de melhor direção, filme, roteiro adaptado e ator coadjuvante (o assustador Javier Bardem).

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