segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Clark Gable, o masculino

Publicado no site da revista Alfa em fevereiro de 2011
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“As orelhas dele são grandes demais e ele parece um macaco” disse o chefão da Warner nos anos de 1930, Darryl F. Zanuck quando viu o teste de Clark Gable para o filme Alma no Lodo de 1931. Para Irving Thalberg da MGM, ele seria a salvação da lavoura, já que o estúdio carecia de um grande astro masculino. No final, Thalberg estava certo. William Clark Gable se tornou um dos maiores símbolos sexuais de sua época e é a sétima maior lenda masculina do cinema, segundo o AFI.
Existe também outra grande história sobre o ator, a de que ele quase faliu a indústria de camisetas regatas brancas nos EUA, por causa do filme Aconteceu Naquela Noite (1934). Explicando melhor, naquela época homens de respeito usavam a tal regata por baixo da camisa social e eis que no filme, o grande astro tira sua camisa e mostra o peito nu. Foi o bastante para todos os homens do planeta se virem livres da convenção no vestuário e muito dono de empresa ficou arrasado com a queda de vendas.
Gable era disléxico e ninguém sabia. Era o ator preferido de Adolph Hitler, que chegou a oferecer uma recompensa para quem o trouxesse vivo para a Alemnha. Também era admirado por Jerry Siegel e Joe Shuster que se inspiraram nele para criar seu Clark Kent. Quase foi escolhido para ser Tarzan nas telas, perdendo o papel para Johnny Weissmüller (que se tornou, aliás, o melhor de todos). Chegou a dar o único Oscar que ganhou para um garoto, fã seu, porque não ligava para o prêmio (o rapaz, anos depois, devolveu a estatueta para a família depois da morte de seu ídolo). Odiava Greta Garbo, por considerá-la esnobe demais e ela desgostava dele pois o achava mal ator.  E é lenda que ele e Vivien Leigh se odiaram durante as filmagens de E o Vento Levou. Ela apenas não suportava seu hálito.
Clark não queria trabalhar em E o Vento Levou. Nem mesmo ler o livro. Só que o diretor David O. Selznick precisava de um grande astro para ser Rhett Butler, depois que Gary Cooper recusou o convite, achava que o filme seria um fracasso. Chegou a dizer “fico feliz que será Gable e não eu que vai cair com o nariz no chão com esse filme”. Mais uma vez o destino fez com que a sorte batesse na porta do ator. O filme não só elevou sua carreira ao máximo quando do lançamento, ajudava-o nas quedas com seus relançamentos (o filme voltou às telonas em 1947, 1954, 1961, 1967, 1971, 1989 e 1998). O ator se tornou um grande amigo da atriz Hattie McDaniel (a primeira negra a ganhar um Oscar) e se recusou a ir no lançamento do filme em Atlanta já que, devido ao extremo racismo da cidade naquele tempo, ela não poderia entrar no cinema. Foi a contragosto, mas a amizade durou até o fim da vida dele.
Gable foi casado cinco vezes, mas o grande amor de sua vida foi a atriz Carole Lombard. Quando ela morreu em um acidente de avião em 1942, ele, para evitar o suicídio (ou provocá-lo) se alistou na Força Aérea e foi lutar contra os nazistas na Europa.  Participou de cinco missões (em uma delas seu avião foi atingido e viu morrer dois companheiros) e voltou aos Estados Unidos como major. Coincidentemente, quem assinou sua dispensa foi o Capitão Ronald Reagan, aquele que se tornaria presidente anos mais tarde.
Seu último filme foi Os Desajustados de 1961 (que também é o trabalho derradeiro de Marilyn Monroe). Graças a uma vida regada a whiskey e três maços de cigarro ao dia, sua saúde estava bem delibitada, mas durante as filmagens, ele se recusou a usar dublês nas cenas em montava a cavalo, ficava tenso com a demora entre uma cena e outra e a coisa foi demais para seu coração fraco. Morreu em 16 de novembro de 1960, sem ter visto o filme pronto.
Hoje faz 110 anos que Clark Gable nasceu. Ainda é um modelo de homem carismático, masculino, viril e elegante para muitos homens atuais. Doris Day definiu que seu efeito devastador sobre as mulheres vinham da combinação entre ele ser tão masculino como qualquer homem devia ser e tão um menino como um adulto podia ser. Já Joan Crawford afirmou que Gable “era um rei onde quer que fosse. Ele andava como um, ele se comportava como um e era o homem mais masculino que eu já conheci na minha vida”.  Já para ele, “as coisas que um homem tem que ter são a esperança e a confiança em si mesmo contra todas as probabilidades. Ele tem que ter alguns padrões internos que valham a pena de se lutar ou não haverá nenhuma maneira de trazê-lo em conflito. E ele deve estar pronto para escolher a morte antes da desonra, sem fazer muito barulho sobre o assunto”. Meu caro Gable, we give a damn!

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