sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Nunca houve um grupo como o Rat Pack

Publicado no site da revista Alfa em novembro de 2010
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Se os anos Kennedy ficaram marcados pelo glamour do presidente americano e sua Camelot, então os representantes máximos dessa época são os integrantes do chamado Rat Pack, liderados por Frank Sinatra. Na verdade o grupo original foi formado pelo ator Humphrey Bogart na década de 1950 e faziam parte Sinatra, Judy Garland e seu marido, Lauren Bacall, o agente de talentos Swifty Lazar, o escritor Nathaniel Benchley, o diretor George Cukor, o compositor Jimmy Van Heusen e os atores David Niven, Katharine Hepburn, Spencer Tracy, Cary Grant, Rex Harrison. Eventualmente o rei dos filmes “capa-e-espada” Errol Flynn, o cantor Nat King Cole, o ator Mickey Rooney e Cesar Romero ( o Coringa do seriado do Batman da década de 1960) apareciam por lá.

Existem várias versões do porque do nome (ninhada de ratos). Uma delas diz que quando Bogie voltou de uma passeio em Vegas com amigos, sua esposa, a mais que estonteante Lauren Bacall teria afirmado que eles pareciam uma ninhada de ratos. Outra lenda fala que o nome vinha do fato que em uma ninhada de ratos, os bichos se tornam beligerantes com qualquer outro roedor que tente entrar lá.

Com a morte de Bogart em 1957 veio a segunda e mais famosa geração do Rat Pack com Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis, Jr., Joey Bishop, Peter Lawford, e eventualmente as beldades Marilyn Monroe, Angie Dickinson, Juliet Prowse e Shirley MacLaine. Na verdade, o velho olhos azuis odiava essa denominação para seu grupo de amigos. Ele preferia que os chamassem de “o clã”, mas os jornalistas da época não lhe deram ouvido e a alcunha pegou até hoje. Na grande trindade do grupo cada um tinha um papel específico, perfeitamente ensaiado e interpretado e que acabou se confundindo com a persona dos artistas, ou seja, Sinatra era o líder duro e cruel, Dino era o alcoólatra e Sammy incorporava um negro judeu totalmente politicamente incorreto. Os três eram tão amigos que muitas vezes em Las Vegas, os luminosos mostravam “Hoje Dean Martin, talvez Sammy, talvez Sinatra”, pois a qualquer momento um deles poderia invadir o show alheio.

Peter Lawford, por ser cunhado de Kennedy, tentou aproximar o presidente de Sinatra, com resultados um tanto desastrosos. Eles haviam combinado que o cantor receberia o estadista em sua casa para um fim-de-semana regado a música e bebidas, mas Bobby Kennedy chiou alegando a ligação de Sinatra com a Máfia. O “séquito real” acabou indo para a residência de Bing Crosby e Lawford foi punido sendo cortado do grupo.

Os membros do Rat Pack trabalharam em 13 filmes juntos, mas o mais famoso, e que reuniu todo o grupo, foi o delicioso Onze Homens e um Segredo, a história de um roubo em Las Vegas com um dos finais mais surpreendentemente sacanas de todos os tempos, que a versão nova não teve coragem de fazer. Todos os cinco integrantes ainda fariam o faroeste Seargents 3 e, na fase sem Lawford, o musical Robin Hood de Chicago. A última vez que Frank, Dean e Sammy apareceram juntos nas telas foi em na comédia de corrida Quem Não Corre, Voa 2 de 1984.

Há cerca de três anos foi lançado um DVD com a única performance dos três gravada em um show de 1965 em Nova Orleans, Ultimate Rat Pack Collection: Live & Swingin, e é aí que você entende o espírito do bando. Eles cantam, bebem no palco e zombam um do outro todo o tempo, sem a mínima preocupação se estariam ofendendo esse ou aquele grupo social, já que Sammy fica constantemente tirando o maior sarro de ser negro, judeu e sua mãe ser latina. Ao final desse show, o icônico apresentador Johnny Carson despede-se da platéia dizendo “muito obrigado pela sua presença aqui esta noite mas saibam que nós nos divertimos mais do que vocês”. E fica claro que ele não estava brincando. Os caras curtiram muito se apresentar naquela noite.

Joey Bishop, foi o último sobrevivente do Rat Pack e morreu aos 89 anos no dia 17 de outubro de 2007 (Lawford faleceu em 1984, Sammy em 16 de maio de 1990, Dino morreu em casa na manhã de Natal de 1995 e Sinatra em 14 de maio de 1998 aos 82 anos). Com ele foi embora um estilo de vida único que aliava boa companhia, elegância, bom humor e, obviamente, as mulheres – que caiam à torto e à direito em seus braços – e muita bebida.

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