sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Brooke Shields e A Lagoa Azul

Publicado no site da revista Alfa em novembro de 2010
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Não é para esnobar, mas ter sido adolescente nos anos 80 foi bom pacas em termos cinematográficos. Enquanto a molecada de hoje tem aguentar as caras e bocas do pessoal de Crepúsculo ou Harry Potter, cheio de gente boazinha, pura e com as mocinhas hermeticamente vestidas e meninos de peito de fora, nós tivemos A Lagoa Azul, o único filme romântico voltado a teens com nudez e sexo softcore, que este ano completou 30 anos. E mais, esqueça Kirsten Sterwart! Nós tivemos Brooke Shields!

A história, escrita em 1908 pelo irlandês Henry De Vere Stacpoole e já filmada em 1923 e 1949 (esta com Jean Simmons depois que Marilyn foi gongada) era a mais surreal possível. Caso você não se lembre, aqui vai: casal de crianças naufraga junto ao cozinheiro do navio e após a morte desse crescem sozinhas em ilha paradisíaca, para juntos descobrir o amor e o sexo. A direção era de Randal Kleiser que dois anos antes tinha conseguido levar hordas de adolescentes ao cinema com o musical Grease -- Nos Tempos da Brilhantina (quem cria esses subtítulos brasileiros, hein?). Ao procurar atrizes para a empreitada, o esperto diretor colocou uma condição básica: os protagonistas principais, quando “adultos”, trabalhariam nus. E aí viu pessoas como Kelly Preston (que apareceria pelada em A Primeira Transa de Jonathan de 1985), Linda Blair (de O Exorcista), Jodie Foster, Isabelle Adjani, Michelle Pfeifer, Daryl Hanna, Rosanna Arquette, Debra Winger e até mesmo uma das minhas preferidas, Jennifer Jason Leigh (que tirava a roupa a torto e à direito em clássicos como Picardias Estudantis e Conquista Sangrenta) caírem fora. Da parte masculina, John Travolta e Christopher “Superman” Reeve também não toparam o desafio e, acredite se quiser, Sean Penn não passou no teste.

Eis que surge a idéia de trazer a ninfetinha Brooke Shields, então com 15 anos de idade e um rosto de parar os trânsito. Em 1978, ela já havia chocado o mundo e feito a alegria dos pedófilos de plantão quando estrelou o filme Pretty Baby do francês Louis Malle, no papel de uma prostituta infantil num bordel na Nova Orleans de 1917. Nesta obra em questão, ela aparece como veio ao mundo, mas para A Lagoa Azul foi exigido um dublê de corpo, para o desespero do diretor. Mesmo nas cenas em que aparece sem camisa, seu cabelo foi colado aos peitos, para não ficar muito explícito. Para seu par foi escolhido o inexpressivo e sarado Christopher Atkins, depois que centenas de marmanjos disputaram a tapa a chance de ver de perto a srta Shields sem roupa. E nessas também existe uma história ótima. A atriz, já aos 15 anos, media 1,79m enquanto Atkins tinha 1,68m. Como a figura do macho heróico nunca poderia ser mais baixa que o da mocinha indefesa, tiveram que cavar trincheiras na areia para a menina parecer menor. Anos mais tarde, o rapaz disse em uma entrevista que ele trabalhou com a Estátua da Liberdade nas filmagens.

Filmado nas Ilhas Fiji e responsável pela descoberta de uma nova espécie de iguanas (isso é sério), A Lagoa Azul custou na época US$ 4,5 milhões e faturou mais de US$ 58 milhões só nos EUA, mesmo atacado por grupos conservadores como pornografia infantil. Não ganhou nenhum prêmio enaltecedor mas Brooke recebeu o de pior atriz no Framboesa de Ouro (e depois a obra entrou como um das 100 piores e mais divertidos filmes de todos os tempos na coletânea feita pelos organizadores). Apesar disso, a carreira da mocinha deslanchou e foi musa, por muitos anos, do jornalista Paulo Francis que não se segurava ao cantar odes a ela no programa Manhattan Connection. Rendeu uma versão pornô, The Pink Lagoon com Ginger Linn Allen, uma continuação em De Volta à Lagoa Azul (que mostrou Milla Jovovich ao mundo) e ainda foi esculhambado no excelente Top Secret (alguém também me explica, por favor, porque esse filme NUNCA foi lançado em DVD no Brasil?).

O filme estreou aqui em janeiro de 1981. Sei disso porque foi o primeiro filme com censura 14 anos que assisti (fui no dia do meu aniversário e na época os bilheteiros de cinema eram mais chatos e rigorosos, então imagine meus sorriso de alegria por poder entrar no cinema sem acompanhamento dos pais). Pode apostar que por um bom tempo aquela menina maravilhosa povoou meus sonhos.

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