sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Grace Kelly, a princesa e a plebéia

Publicado no site da revista Alfa em novembro de 2010
Link

Grace Kelly foi mais um arquétipo do que uma pessoa real. Era a imagem da típica garota americana idealizada nos anos 50: loura, bonita e de família rica. Na cabeça de todos, ela acabou realizando o sonho de qualquer adolescente, fazendo um príncipe se apaixonar e tornando-se princesa de um reino distante. Magra, rosto virginal e jeito frio e contido, contrastava com vulcões de sensualidade e corpos voluptuosos como Marilyn Monroe e Jane Russel. Em classe e elegância nas telas perdia apenas para Audrey Hepburn.

Acontece que Grace Patricia Kelly não era a mocinha santinha que o público consagrou. Tinha sim, classe, beleza e charme incomparáveis. Só que nos bastidores de Holywood, era muito conhecida por seu furor sexual, direcionado principalmente aos atores com que contracenava. Foi assim com Ray Milland quando fizeram Disque M para Matar; com Gary Cooper, o astro de sua primeira participação nas telonas, Matar ou Morrer; com Bing Crosby, seu par em Amar é Sofrer (que lhe deu um Oscar como a esposa de um cantor alcoólatra), com Clark Gable nos intervalos de Mogambo e com William Holden de As Pontes de Toko-Ri. Garota esperta, só escolhia os casados e como as personagens que interpretava, sempre os caras mais velhos que ela. E além desses, reza a lenda que teve noites de prazer e luxúria com David Niven (que teria consirado a mocinha como a melhor transa que teve na vida), Marlon Brando, Frank Sinatra e Tony Curtis.

Mesmo seu casamento com Rainier de Mônaco está longe de ser um conto de fadas. Na verdade, devido a um acordo assinado em 1918, o Príncipe deveria se casar ou o principado voltava a ser parte da França. Encalhado, resolveu procurar uma atriz para trazer mais glamour e mais turistas à sua terra. Como Marilyn não fazia bem o tipo princesinha, o nobre acabou direcionando seus esforços para outra loura. Kelly e Rainier se encontraram e três dias depois, o pedido foi feito com um detalhe desconcertante, a família dela pagou um dote de dois milhões de dólares a ele. O público pouco sabia desses arranjos, mas Alfred Hitchcok, que a dirigiu em três filmes, entre eles Janela Indiscreta (e ela nunca esteve tão deslumbrante como nessa obra) brincou: “fico feliz que Grace tenha conseguido um papel tão bom”. Seu casamento teve 600 convidados mais do que VIPs e foi assistido por mais de trinta milhões de pessoas pela TV e isso na década de 1950.

Ser princesa e atriz não combinava muito e Kelly abandonou o cinema para abraçar a realeza. Seu último filme foi a deliciosa comédia musical Alta Sociedade de 1956, refilmagem de Núpcias de Escândalo, com Crosby, Sinatra e Louis Armstrong. Apesar dos escândalos, Grace Kelly foi extremamente amada e admirada por seus parceiros da indústria do cinema. Ficou muito próxima de Cary Grant depois de contracenarem em Ladrão de Casaca e de James Stewart, que fez um discurso emocionado em seu enterro. Radicalmente antiracista, Kelly tornou-se grande amiga da icônica cantora Josephine Baker, depois que a última foi barrada no Stork Club de Nova York simplesmente por ser negra. Como princesa, fundou uma organização não-governamental de auxílio a crianças carentes. Grace Kelly completaria 81 anos hoje e mesmo 28 anos depois de sua morte em um acidente de carro, nunca perdeu a majestade.

Nenhum comentário: