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Se estivesse vivo, Roy Harold Scherer Jr. ou Rock Hudson como ficou conhecido, teria completado ontem 85 anos. Alto, bonito, simpático e charmoso, foi um dos maiores galãs e símbolo de masculinidade que já apareceu nas telas, apesar de sua vida secreta. Ele ficou muito popular nos anos de 1960 com suas comédias deliciosas e açucaradas ao lado de Doris Day e Tony Randall como Confidências à Meia-Noite ou Não me Mandem Flores e depois como Stewart McMillan na ótima telessérie policial Casal McMillan, que durou de 1971 a 1977. Só que não houve nenhum papel que tivesse o impacto e a força de seu Jordan “Bick” Benedict Jr. de Assim Caminha a Humanidade lançado em 1956.
Baseado na obra de Edna Ferber (que escrevera outra obra que se tornou sucesso nos cinemas, Cimarron) e dirigido por George Stevens (ele ganhou um Oscar por ele e também ficou conhecido por ter filmado a liberação -- real -- dos campos de concentração nazista), o filme ficou marcado por ter sido o último trabalho do ícone da rebeldia James Dean. Se você nunca assistiu, Giant - o nome original e não o exagero brasileiro -- narra a história da transformação do Texas, de suas enormes fazendas de gado nos anos 1920 para o pólo petrolífero dos Estados Unidos na década de 1950, focando em uma família, os Benedict. Mostra desde o casamento do fazendeiro texano Jordan com a nortista Leslie (Elisabeth Taylor, deslumbrante) até os primeiros anos de seus netos. No meio disso tudo, existe o empregado da fazenda, Jett Rink (James Dean), que vai dar muita dor de cabeça ao seu patrão. Enquanto nos faroestes ser homem era sobrepujar o outro atirando mais rápido, aqui a luta entre os dois rivais se dá através de poder e do dinheiro. Principalmente quando o que está em jogo é a atenção de Elisabeth Taylor
Em três horas e vinte de narrativa (que você não sente, porque é uma aula de cinema), vemos passar tipos maravilhosos e envolventes como Luz, a durona irmã de Jordan, interpretada por Mercedes MacCambridge; a filha rebelde do casal principal, Luz Benedict II (a maravilhosa Carroll Baker que era mais velha que Taylor); o filho que causa um desgosto danado ao pai Jordan ao se casar com uma mexicana (Dennis Hopper, 13 anos antes da psicodelia de Sem Destino) e o melhor de todos, o Tio Bawley (Chill Wills) que serve de consciência para todos os personagens e que tem as melhores sacadas do filme (por exemplo, quando Dean acha petróleo em seu pedaço de terra e esfrega isso na cara de Rock Hudson, o velho só faz um comentário: “Você devia ter atirado nele anos atrás. Agora ele é muito rico para ser morto”).
James Dean, aliás, especializara-se em personagens tão tristes e problemáticos como ele mesmo. Fez um filho rebelde em Juventude Transviada, outro filho com graves problemas paternos em Vidas Amargas e agora seu Jett Rink, baseado no magnata do óleo Glenn McCarthy, não foge à regra, com terríveis questões de autoridade, desafiando o patrão e, depois de rico, tornando-se seu maior concorrente. Dean era um ator do “método” de Lee Strassberg e do Actors Studio e apesar de discutir à beça com o ditatorial Stevens, imprime em Rink uma profundidade e força que são difíceis de se encontrar até hoje. Um dos destaques na formação do personagem é sua maneira de encerrar uma frase, movendo a mão de um lado para outro e olhando para o lado, que além de marcante, faz com que você saiba que, com isso, ele estava mandando seu interlocutor para um pouco mais longe que o Rio Grande. Já Hudson consegue fazer um Bick bronco, durão e ao mesmo tempo sensível e paternal, que vai descobrir que seu estilo de vida e de pensamento estão caindo em desuso à medida que a história se passa. Sua conclusão no final que seu neto mestiço (meio chicano, meio americano) parece ser mais esperto que o neto 100% americano é um divertido sinal dessa evolução.
Brilhantemente fotografado, Giant discute racismo, concorrência, política, amadurecimento, riqueza, rebeldia e transformação. O filme consolidou a carreira de Hudson e Taylor e transformou Dean (que morreu em um acidente de carro no fim das filmagens) em uma lenda. Mesmo se o estúdio tivesse dado seguimento à idéia original de colocar Grace Kelly, John Wayne e Alan Ladd nos papéis principais, ainda assim seria um filme fascinante. Apesar do custo de cinco milhões (contra dois do orçamento inicial) e de ter ficado um ano sendo editado, foi a maior bilheteria da Warner Brothers por décadas, sendo que essa marca só foi superada em 1978 com o lançamento de Superman -- O Filme. É um dos meus filmes favoritos e recomendo a qualquer um que queira ver como um homem de verdade pode ser.
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